A Noiva Cadáver

Sempre a dama de honra, nunca a noiva.


Sempre a dama de honra, nunca a noiva.

Diga, minha cara, o coração ainda se desilude depois que ele para de bater?

Tudo o que ela podia fazer era olhar o casal sorridente sobre o altar. O casamento de seu amado se realizava ali, á sua frente e, apesar de seu título, ela não era a noiva. Não, e nunca seria. Ela era a dama de honra.

Ela fechou os olhos antes de jogar o buquê de rosas azuis que segurava. Tipo de rosas que só podiam ser encontradas lá em baixo. Lá em baixo pode ser o purgatório, ou até o inferno. Mas com certeza é a terra dos mortos.

Todos os mortos estavam presentes, junto com seus parentes e familiares vivos. Abraçados, feliz. Mas a noiva cadáver não. Ela segurava o buquê, de olhos fechados. O cabelo azulado um tanto seco, pedaços de pele faltando em todo o rosto e em todo o corpo, mesmo assim esbelto. Ela tinha um aspecto meio estranho. Os olhos eram marrons, de uma cor linda, mas macabra. Os requícios de pele que restavam nela eram brancos demais. Os ossos eram meio amarelados. Emily era completamente macabra. Emily era uma noiva cadáver.

Seu coração não batia, ela não tinha pulso, não respirava. Seu olho direito caia ás vezes por causa da lagarta que habitava dentro dela, e o noivo que era pra ser agora seu marido seria de outra.

Ela queria ter um coração pulsando sangue, queria perder o fôlego com um beijo recebido de seu amado. Queria poder ao menos respirar. Queria ser bela, ter de novo a pele bronzeada e o cabelo preto brilhante. Queria ter os olhos normais e sem olheiras negras, queria ter a pele completa e normal, como era antes. Mas não podia. Nunca mais poderia voltar a viver. As coisas nunca mais voltariam ao normal.

As pessoas tinham pena dela. Ela não queria pena. Tinha uma aparência meio gótica, mas podemos dizer que todos os mortos que agora estavam na terra tinham essa aparência. Até mesmo o cachorro que ela tinha dado de presente de casamento para o marido. Marido que agora estava se casando com a outra. Agora Emily era a outra.

Sempre a dama de honra, nunca a noiva.

Seus olhos olhavam triste para o noivo de aspecto normal e terrivelmente humano! Mesmo se sentindo egoísta, ela queria que ele estivesse morto, e ao seu lado. Ela queria nunca ter fugido com aquele Lord que a fez de boba e a matou, destruindo assim sua vida. O que ela queria era casar com alguém que a amasse de verdade, ter filhos e viver uma vida normal. Ver os filhos com cabelos escuros e olhos do mesmo tom sorrindo pra ela e brincando com o pai.Agora se quisesse ter um marido ele estaria morto, e os filhos só se adotasse um ou os dois gêmeos mortos. Tinha pena deles, mesmo eles sendo crianças felizes e sorridentes. Porque não importava o quão feliz estivessem, estavam mortas.

Mesmo assim, ela ainda sonhava em se casar. E queria que Vitor fosse seu marido. Queria viver mesmo que depois do até que a morte os separe. Ela queria que a morte os uni-se.

Ela finalmente abriu os olhos e fitou tristemente Vitor. Ele sorria de forma alegre, não podia estar mais feliz.. Se casaria com a mulher que estava prometida ele, e que ele amava. Mesmo que quem o amasse mais fosse Emily. Vitória não sabia o que era amor, não sabia o tamanho do amor que Emily sentia. Mas se sentia mal por tirar Vitor dela, mesmo que nunca fosse renegar Vitor agora que ele era somente dela.

Emily piscou algumas vezes, e depois encarou Vitória. Ela sorria. Igualmente vitoriosa. Enquanto Emily tinha o olhar angustiado e um sorriso triste e de desgraça no rosto. Emily se virou em direção á porta de igreja, ainda infestada por mais de cem mortos, embora alguns estivessem se ocupando em matar o cara que a desgraçou. Ela sorriu, por fim.

Tiirou uma faca debaixo do vestido. Pra quem já estava morta e indo ao inferno, que mal teria?

Emily segurou o buquê em uma mão e a faca em outra. Ninguém ainda tinha visto a faca que ela segurava, a não ser a lagarta, que estava sobre o crânio que criava o Buffet. Ela tinha os olhos arregalados, e não teve tempo nem de avisá-los antes que Emily jogasse o buquê. Seria uma cena linda, se ela fosse a noiva. Ela sorriu de forma cínica e um tanto sádica, se virando e atirando a faca em direção ao casal abraçado. Vitória estava á frente, e Vitor atrás dela, a abraçando. A faca atingiu em cheio o coração de ambos. Pode ver o sorriso deles virar em uma careta triste e morta, e a pele deles ficando tão branca – azulada como a dela. Era uma visão para seus olhos. Não podia se sentir mais feliz.

-Recém chegado! – uma das mortas disse.

Vitória era fraca, pensou que não resistiria e não sobrariam nem seus ossos. Mas ela estava ali, firme, sentada em um dos bancos enquanto se contorcia até que a morte a tomasse por completo. Mas longe de Vitor.

Emily se virou sorrindo e começou a andar em direção á Vitor. Ela pegou a aliança que estava na mão caída de Vitória. Brincou com ela entre os dedos, e olhou para Vitor.

Ela o beijou. Ele pegou temendo a aliança de sua mão, e colocou em seu dedo anelar. Ela o beijou de novo, mesmo tendo o olhar de medo no rosto de Vitor. Ele, agora, era dela. E ninguém o tiraria de Emily. Finalmente, a dama de honra virou a noiva. Mesmo que fosse a noiva cadáver.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.