Capítulo 16 – Mayday Parker

­— Vocês não se cansam de correr não? — Pergunto aos gêmeos Allen, Donald e Dawn, quando finalmente desaceleraram o ritmo, permitindo que eu os acompanhasse para onde o pai de ambos, Barry Allen, havia nos mandado esperá-lo.

Céus, de onde eles tiram tanto fôlego?

— Não temos culpa de você andar tão devagar... – Dawn zomba da minha cara enquanto Don abre cordialmente a porta do pequeno café para nós passarmos.

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Conhecemo-nos por acaso, quando eu tentava entender o que havia acontecido comigo e onde me encontrava. A primeira coisa que me veio na cabeça foi adentrar na biblioteca pública da tal “Central City” a fim de acessar a internet e averiguar minhas opções. Porém, no momento em que mencionei minhas intenções à bibliotecária que cuidava do local, a mesma disse que não poderia permitir que eu fizesse tal coisa, pois não estava registrada no banco de dados da cidade.

E é óbvio que resolvi fazer a coisa mais burra que se podia decidir na hora, como sempre faço quando me sinto desesperada.

Notei que um garoto muito ingênuo deixara o laptop em cima de uma das mesas do lugar para procurar um livro localizado numa estante distante de onde se encontrava. Andei rapidamente para perto da máquina, constantemente estudando os olhares das pessoas que me rodeavam. No momento em que percebi que não era observada por ninguém, raptei a máquina e andei apressadamente para as entranhas da biblioteca, buscando entre suas estantes velhas e mofadas alguma proteção.

Uma vez sentindo-me segura, tomei a liberdade de acessar o Google e ter minhas tão desejadas respostas. Aparentemente eu me encontrava em Central City, uma cidade (em tese) tão grande e famosa quanto minha Nova York, com uma taxa alta de criminalidade, perdendo apenas para Gotham City, Metropolis, Star City e Washington DC.

Consegui pesquisar somente mais algumas informações pouco úteis para a minha causa antes de ser abordada por uma voz desconhecida.

— Com licença — levantei rapidamente a cabeça, deparando-me com o garoto que havia deixado o laptop na bancada. – Mas acho que esse computador me pertence.

— Ah é? Eu não sabia, desculpe-me – menti, envergonhada, sentindo minhas bochechas pegarem fogo. – Eu precisava acessar a internet, mas a bibliotecária não me deixou usar um computador público.

O garoto era da minha idade, com cabelo castanho claro cuidadosamente penteado pra trás, evidenciando seus olhos caramelo levemente esverdeados. Algumas sardas que tinha no rosto branco deixavam-lhe com feições infantis. Seu olhar esboçava-me certa desconfiança, mas não esperava algo mais amigável, afinal, querendo ou não admitir, eu o havia roubado.

— Então posso tê-lo de volta? - Senti algumas lágrimas indesejadas brotarem em meus olhos. Limpei as malditas imediatamente antes de entregar a máquina ao seu respectivo dono. — Você está bem?

Sua pergunta me surpreendeu.

— Não está com medo de eu te roubar de novo? – Questionei-o num tom falho.

Inicialmente, o garoto limitou-se a sorrir.

— Você mais parece um cachorro perdido a uma criminosa de alta periculosidade. – E sentou-se ao meu lado.

— Uau, isso é o que eu chamo de “ver o bom lado das pessoas” - uma das sobrancelhas do garoto se levanta, e percebo que ele não compreendeu meu comentário. – Eu nunca sentaria ao lado de uma pessoa que me roubou.

Novamente meu comentário o faz sorrir.

— Acredite, eu sei reconhecer ladrões e afins quando me deparo com um – garante-me o garoto num tom firme, estreitando os olhos enquanto avalia meu rosto. – Agora vai me dizer o que aconteceu com você? Não estava brincando quando falei que parecia um cachorro perdido.

Como eu estava sem qualquer rumo e objetivo, querendo desesperadamente a ajuda de alguém, resolvi confiar no garoto que gostava de conversar com estranhos que lhe roubavam as coisas. Não entreguei tudo o que tinha acontecido, apenas os pontos essenciais, deixando de lado informações muito pessoais ou irrelevantes para o momento.

— Espera ai, então você simplesmente surgiu do nada aqui em Central City? -Assenti com a cabeça. – Ok... Precisamos pensar em como vamos mandá-la de volta pra casa.

— Pera, então você acredita em mim? – Perguntei-lhe, pasma. Ou ele era ingênuo demais, ou apenas louco mesmo. Que tipo de pessoa racional acredita nas palavras de um estranho que alega vir de outra dimensão?

Espera, por que estou resmungando? Eu deveria é estar agradecendo.

— Eu não sei como são as coisas no seu mundo, mas nesse aqui, essas coisas fazem parte da minha rotina – ele se levantou num salto, esticando a mão para mim. – Meu nome é Donald, mas pode me chamar de Don.

— Donald tipo o pato? – Tentei fazer uma piada, mas quando vejo que Don não esboça nem um projeto de sorriso, limito-me a engolir seco e abafar o caso. – Eu sou a May, mas todos me chamam de Mayday.

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A irmã gêmea de Don, Dawn Allen (cujo nome eu preferi não fazer nenhum comentário infeliz), nos encontrou quando o primeiro tentou contatar o pai, sendo ela a atender o telefone do Sr. Allen.

— Quanto tempo o pai disse que iria demorar? – Don pergunta a irmã, que em resposta, sorri maliciosamente.

— Engraçado você colocar “pai” e “demorar” numa mesma frase, mano. - Don não deixa de sorrir de volta, captando uma piada interna da qual não tenho conhecimento. – Não se preocupe, ele disse que só iria acabar uns negócios no laboratório antes de nos encontrar.

— O que vão querer? – Perguntou-nos o atendente com uma evidente cara de tédio quando finalmente chegou nossa vez de pedir.

— Um cappuccino grande, um mocca branco médio, dois cookies de chocolate... – Dawn olha de relance pra mim. – Vai querer alguma coisa?

A principio pretendia recusar, contanto, o pensamento em poder colocar alguma coisa pra dentro do estômago era tentador demais para ser posto de lado.

— Tem muffin de cranberry? – Solicito meio sem graça. Se eu estou ganhando comida e atenção após roubar um laptop, imagina o que eu ganharia se tivesse pegado a carteira junto?

— E um muffin de cranberry. – Dawn encerra o pedido, já pegando algumas notas de dez dólares no bolso da frente de sua calça de couro. Ao contrário do irmão, que está bem arrumado como um representante da categoria nerd, Dawn parece mais uma roqueira em ascensão, com sua maquiagem escura e roupas coladas.

— Não se esqueça do meu expresso – uma voz masculina pediu, fazendo nós três nos voltarmos para a figura de um homem alto e esguio com os cabelos e barba do mesmo tom castanho que têm os gêmeos Allen. Pelo jaleco e o resto que veste, julgo ser um cientista ou algo do gênero. – E do meu croissant de queijo.

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— É, eu não tenho a menor ideia do que está acontecendo – Conclui Barry Allen, o pai de Don e Dawn, enquanto beberica seu expresso e come um pedaço do croissant. Contei minha história mais uma vez, mas agora para Dawn e Barry, esperando (em vão) que pudessem me ajudar. – Talvez a Zatanna tenha uma noção do que possa ser.

— Já falou com mais alguém? – Inquiri o filho ao pai, parecendo estar realmente interessado no assunto, ao contrário de Dawn, que se limita a devorar o cookie de maneira voraz.

Barry Allen anuiu.

— Vamos nos encontrar em Gotham, na casa do Bruce. Ele tem um dos seus amigos também, pelo que eu sei. – Ele diz pra mim. – Sabe quantos de vocês estão aqui?

“Ele tem um dos seus amigos”, Barry Allen disse. Será que esse um é o Luke?

Não respondo de imediato, pois minha boca está lotada de muffin de cranberry, deliciando-se com o sabor incrivelmente bom do doce.

— Não tenho a menor ideia – respondo com a boca semicheia, dando meu melhor para não cuspir em ninguém. – Sin atacou de repente, não tive tempo de contar...

— Deixa pra lá. Vamos ver isso em Gotham. – Dawn me interrompe, sem paciência. – E quando é que nós vamos?

— Vocês estão prontos? - Rebateu Barry Allen o tom entediado da filha numa voz calma.

— Como assim “prontos”? – Don verbaliza meus pensamentos.

— Para ir, claro. – Esclareceu o Sr. Allen com um sorriso no rosto. – Até parece que vamos gastar dinheiro com passagens aéreas.

Enquanto os dois filhos expõem sorrisos brincalhões nas faces, eu me limito a levantar a mão timidamente.

— Er, se não vamos de avião, então vamos de carro?

Barry Allen nada diz, mas Dawn fez questão de me lançar um olhar explicito de dó, como se dissesse: “coitada, será que ela pensa antes de falar?”.

— Mayday, você se lembra do que eu disse sobre nossa dimensão ter de tudo? – Perguntou-me Don, preenchendo o incômodo silêncio. – Nós temos super-heróis aqui também.

— É mesmo? E onde eles estão?

— Ora, está olhando pra três deles. – Barry Allen revela orgulhoso, pousando as mãos nos ombros dos filhos. – Melhor irmos agora, meninos. O quanto antes resolvermos esse problema, melhor. E temos que mostrar pra Srta. Parker o que somos capazes de fazer.

Não sei se é a cara que Dawn faz pra mim ou o fato de eu ter praticamente engolido meu muffin sem mastigar, mas tenho a sensação de que vou vomitar meus órgãos pra fora antes de chegar a Gotham City.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.