Acordo antes dele e me levanto com cuidado para não acordá-lo. Vou para a cozinha e encaro a garrafa de vinho aberta na geladeira, considero toma-la, mas não seria uma boa ideia. Então pego o suco de laranja, um pote de geleia e coloco duas fatias de pão na torradeira.
“Peter está aqui.” Minha cabeça lateja.
Suspiro.
Não queria ter que lidar com isso, com ele, com essa situação.
Pego as torradas e me sento no balcão. As pessoas sempre tem recaídas com o ex, não tem? É normal. Não precisa significar nada.
Quando ele acorda não conversamos sobre ontem. Meus primos também não dizem nada, Amber deve ter proibido eles de perguntarem sobre a gente, ela sabe que é complicado.
Então saímos para almoçar mais tarde, vamos até um restaurante italiano e conversamos sobre como estão as coisas na Austrália enquanto comemos. É como se nada tivesse mudado, tudo parece igual aos últimos anos.
E estou feliz por isso.
Jogamos conversa fora o resto do dia, Walter faz piadas idiotas, Amber reclama do tempo ameno a cada vinte minutos e discutimos sobre assuntos aleatórios como alguma notícia bizarra que Chris vira no twitter ou alguma série nova que tem uma história ridícula.
À noite depois do jantar, Peter está sério e quase não fala mais comigo.
Quando todo mundo já está ficando cansado, ele me pergunta se deveria ir embora, que iria para um hotel sem problema algum. Mas peço para que ele fique, porque tivemos um dia bom, estávamos nos divertindo, não era estranho. Então dormimos juntos outra vez.
E pelo resto da semana.
Todos os dias saímos com meus primos, vamos a um museu, a um restaurante novo que Walter descobrira no TripAdvisor, a uma exposição de esculturas a céu aberto...
Peter e eu não desgrudamos um do lado do outro por nenhum minuto, mas não falamos sore isso. Não falamos sobre voltar ou sobre o término. É como se nada tivesse acontecido.
Então sábado chega e não fazemos nada, meus primos precisam arrumar as malas para pegar o voo à noite.
Peter volta ao ar sério dele, fica quieto o dia todo e eu também não digo nada, até que depois de almoçarmos ele me diz que provavelmente iria embora hoje. Eu assinto sem saber o que falar ou como agir.
Ficamos no meu quarto, cada um em um canto, ele lendo um livro e eu tentando ler outro, mas não consigo me concentrar. Então me deito na cama e fico encarando o teto, ele me olha por um momento e se senta ao meu lado.
— Precisamos conversar, não é? – ele me pergunta.
— Acho que sim.
— Seria melhor se você começasse. Eu não sei o que dizer.
— Eu também não sei.
Viro de lado na cama e o encaro:
— Foi uma semana incrível.
— Eu sei...
— Foi como se nada tivesse mudado... Foi como se estivéssemos na Austrália ainda.
— Eu sei...
— Mas nós terminamos, Peter. O que estamos fazendo?
Ele se deita e me olha:
— A gente pode voltar... Você sabe disso.
— Mas a gente vai conseguir? Com cada um em um continente diferente?
— Nós podemos tentar pelo menos.
Envolvo minhas mãos nas dele e ficamos deitados em silêncio.
Como se termina um relacionamento tão longo como este? Como se supera uma pessoa que esteve ali presente por tanto tempo? Como eu descubro a coisa certa a se fazer?
Sinto-me perdida. Tão perdida quanto poderia estar.
— Eu quero que nós dois possamos ser felizes – sussurro quebrando o silêncio, porque é a única coisa que tenho certeza.
— Eu sou feliz com você, Liz... Nós fomos felizes nos últimos anos, não fomos?
— Claro que fomos.
Aperto mais meus dedos contra os dele.
— Mas desde que eu vim para cá não tem sido o mesmo – continuo. – Você não está mais feliz, Peter.
— Não importa.
— Importa. Importa mais do que tudo.
— Eu te amo – ele diz com os olhos tristes e isso parte o meu coração.
—Eu também te amo... Mas isso é o suficiente? Você tem certeza que quer continuar desse jeito? Eu te magoei muito vindo pra cá.
Ele não responde.
— Peter, você não gosta daqui, você não gosta dos meus amigos, você não gosta de nada que faça parte do meu mundo em Nova York... Eu ainda sou a mesma pessoa que eu era em Sidney, mas eu tenho esse mundo, essas pessoas e elas são importantes pra mim. Não é ideal, nada aqui normal, mas é parte de quem eu sou.
— Não é que eu não goste dos seus amigos. O jeito como a Blair se importa com você... E a Serena e o Nate... Eu sei que eles devem ser pessoas incríveis. E a Megan e o Philip, eu gosto deles também. Eu só não queria que você precisasse continuar amiga do Chuck.
— Por quê?
— Porque ele gosta de você, todo mundo sabe disso. Ele é completamente apaixonado por você... E eu acho que você também é por ele.
— Isso não é verdade.
— Não? Então você está me dizendo que não sente nada por ele? Que você não o beijou naquela noite?
— Peter...
— É sim ou não, Liz. Se não estou feliz, é porque não somos mais os mesmos desde que você veio pra cá. E não é só porque estamos longe um do outro ou porque eu não gosto do mundo que você faz parte, é porque eu vejo você se distanciando, é porque eu vejo o modo como vocês se olham, é porque eu vejo você amando outra pessoa... Eu também quero que nós dois sejamos felizes. Eu quero que você seja feliz. E por mais que eu não ache que ele é ideal para você, por mais que eu ainda te ame e não queira ir embora, essa é a sua decisão. Só sua... Então, eu preciso que você me diga que não sente nada por ele, que aquele beijo não significou nada, que nós podemos superar isso. Porque se nós continuarmos mentindo, nenhum de nós vai conseguir ser feliz. E, Liz... Eu realmente quero ser feliz de novo.
Uma lágrima escorre do meu rosto e cai no travesseiro.
— Eu sinto muito, Peter... Eu juro que se eu pudesse escolher, as coisas seriam diferentes. Eu nunca quis te magoar.
Ele passa a mão pelo meu rosto e beija a minha testa:
— Está tudo bem. Em algum momento as coisas vão ficar bem. A gente vai voltar a ser feliz, só não um com o outro.
—x-
Ele vai embora e dessa vez sou eu quem fica.
Não consigo evitar de me sentir mal durante a semana seguinte. Términos são sempre difíceis eu acho.
Na sexta eu me encontro com B e S e nós três bebemos até o dia amanhecer, sem nos importarmos com mais nada.
No sábado, elas me chamam para uma festa qualquer de algum amigo do Nate e todos nós vamos. Chuck e eu apenas conversamos e pedimos shots um para o outro.
No domingo todos nós almoçamos no Empire e jogamos conversa fora.
Estamos tentando ficar bem, nos apoiando uns aos outros. Não ficando sozinhos.
Talvez as coisas voltem a melhorar assim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.