PV Bella

Devo estar sonhando! Pensei, contemplando encantada o pai dos meninos. O irmão mais velho de Emmett era um pedaço de mau caminho... rude e mal-humorado, mas ainda assim...

Com calça de linho cor de areia, camisa branca e gravata de seda em tons dourados, não era simplesmente encantador. Era perfeito.

Não havia uma única mecha de cabelo fora do lugar. O rosto perfeitamente barbeado evidenciava o queixo quadrado. Até mesmo as mangas arregaçadas, que revelavam antebraços fortes e branquinhos, pareciam ter dobras milimetricamente calculados para terem a mesma medida.

Edward Cullen era a personificação da elegância masculina e por, algum estranho impulso, quanto mais eu olhava, mais eu queria atira-lo ao chão e desalinha-lo da cabeça aos pés.

Isso só para começar.

“ Ei, garota”. Pensei. “ O que diabos está acontecendo com você?”

Ainda estava boquiaberta quando ele cruzou os braços e perguntou bruscamente, fuzilando-me com os olhos cor de mel:

- E então?

- Eu... Eu...

“Ora, que ótimo. Estou gaguejando como uma idiota.”

Ben que Deus o abençoe, veio em meu auxilio.

- Paiê!- gritou o garoto, desesperado.- Você não vai chamar a polícia, vai?

O desespero de Ben me distraiu o bastante para me controlar.

- Está tudo bem, meu doce.- eu murmurei, recuperando minha voz.- Pode deixar que eu trato disso.

Entregando Brutus a Mike com muito cuidado. Eu respirei fundo, erguendo-me aprumei os meus ombros e estende a mão.

- Oi, meu nome é Isabella Swan.

O olhar de Edward flutuou do meu rosto para meus curativos nas pernas. Somente depois de alguns instantes ele reagiu e apertou a minha mão, acenando brevemente com a cabeça.

- Srta. Swan.

O calor daquela mão contrastou fortemente com o tom glacial de sua voz.

Ele aguardou, com crescente impaciência, até eu me dar conta de que ele queria explicações.

Foi quando eu me indignei. O que ele estava pensando? Que eu me joguei pelo duto da lavanderia para roubar suas meias? Que levei o furão junto como um álibi? Ergui a cabeça e o enfrentei.

- O furão de Mike entrou no duto da lavanderia. Eu me inclinei para tentar pega-lo e perdi o equilíbrio quando um dos garotos esbarrou em mim.- Com um traço de aspereza, acrescentei.- O resto você já sabe.

- Sim.- ele respondeu, estreitando os olhos dourados para mim.- Isso responde uma pergunta. E a outra?

Exasperada com a atitude agressiva dele, eu também o fuzilei com o olhar.

- Qual é a outra pergunta?

- O que esta fazendo na minha casa? Onde esta a Sra. O’ Connel?

Que tipinho mais arrogante! Eu pensei. Um dia ainda o farei engolir essa rispidez toda.

- São duas perguntas...

- Ora, por favor...

Ben galantemente colocou-se em minha defesa.

- A Sra. O’ Connel se demitiu papai.

- Como?- os olhos dourados dardejaram para seus filho.

- Ela se demitiu.- repetiu Ben.

- Quando?

O garoto deu de ombros, visivelmente indiferente aos detalhes da questão.

- Sei lá... anteontem, talvez?

- Na verdade, foi um dia antes disso.- eu imformei.

- Há três dias? Por que ninguém me telefonou?

Ben olhou sério para o pai.

- Eu telefonei. Pedi para você me ligar de volta.

Para minha surpresa Edward ficou na defesa.

- Você tem razão, não me deram o recado. Mas isso não explica por que...

- A Sra. O’ Connel era muito chata.- interveio Erik.- Ela gritava muito.

Mike concordou com uma expressão solene.

- É verdade. Ela chamava a gente de filhotinhos do diabo papai.

Ao ouvir isto, Edward emudeceu e estreitou os lábios.

Tia Enne que se cuide, avalirei, porque, a menos que eu estivesse enganada, assim que a manha chegasse cabeças iriam rolar.

Não pude deixar de ter um pouco de compaixão por Edward Cullen, talvez ele não fosse assim tão ruim. Pensei. talvez estivesse com dor de cabeça, ou muito cansado.

- Muito bem.- ele disse, por fim, olhando para mim e para os garotos com uma ponta de suspeita.- Alguém gostaria de explicar por que a Sra. O’ Connel disse aquilo? Ou por que ela se demitiu?

Infelizmente, mike entendeu ao pé da letra.

- Eu!- Prontificou Mike.- Foi por causa de Ike e Spike, papai. A Sra. O’ Connel estava com medo delas.- ele se voltou pra o irmão mais velho.- Lembra? Ela gritou bem alto quando... Ai! Papai, o Ben me beliscou!

Ben revirou os olhos inocentemente.

- Eu, hein?

A voz de Edward elevou-se para fazer-se ouvir em meio à discussão.

- Quem são Ike e Spike?

- Não importa!- Ben apressou-se em dizer.- O que importa é que havia alguém aqui para cuidar de nós, para que nada de errado acontecesse conosco, certo?- ele olhou ansioso para o pai.

- Sim, claro, mas...

- Então você deveria ficar feliz porque Bella estava aqui e cuidou muito bem de nós. Ela nos fez lavar as mãos. E comer a verdura antes da sobremesa. E... e ela até nos ajudou a concertar a casa na árvore.

- É verdade!- confirmou Erik com entusiasmo.- Você precisa ver como está agora, papai! Bella ajudou agente a colocar uma porta de alçapão. E nós fizemos um como fazer um monte de coisas legais.

Esquecendo-se que estava zangado, Mike reforçou o entusiasmo dos irmãos:

- Ela nos ajudou a fazer uma bandeira preta de piratas. Tem uma caveia, ossos e...

- Esperem um pouco!- Edward pressionou a testa, como se estivesse com dor.- Eu só quero esclarecer algo: a Sra. O’ Connel demitiu-se porque estava com medo de Ike e Spike, e a tia Enne mandou você para substitui-la?

- Não...- eu comecei.

- Sem chance!- Cortou Ben.- Bella é legal!

Edward entendia cada vez menos.

- E o que o fato de ser legal tem a ver com tudo isso?

- Foi o tio Emmett que mandou Bella.

- Emmett?

- Estou hospedada na cabana dele.- eu intervi.- Você não recebeu a carta dele?

Edward balançou a cabeça, negando, e eu suspirei. Foi o que bastou para Ben interferir novamente na conversa.

- Sabe, papai, Bella não tem casa, nem família. Ela vive sozinha. Não tem marido e nenhum filhinho. – ele olhou para o pai com o canto do olhos para certificar-se de que estava obtendo toda a atenção necessária. E suspirou.- E antes ela tinha um emprego; agora, não tem mais. Então o tio Emmett disse que ela poderia vir aqui e ficar na cabana dele.

Eu olhei para Ben, sem saber o que dizer: essa é boa! Com umas poucas palavras bem colocadas, ele conseguira me descrever como uma desempregada sem teto.

- Espere um pouco...- eu comecei.

- Ela conta histórias.- Erik tomou a palavra orgulhosamente.- Sobre amazonas que comem lagartos.

Céus, o que mais me faltava? Além de tudo serei considerada lunática.

- Sinto que os garotos estão lhe passando uma impressão errada.- eu me apressei em esclarecer.- Eu certamente conto história, mas é porque sou uma...

A voz de Edward sobrepôs-se à minha:

- Você não é da agência de babás?

- Não. Eu...

- Você só está aqui porque conhece meu irmão?

Eu já estava perdendo a paciência por ser constantemente interrompida:

- Não no sentido bíblico.- eu expliquei algo me dizia que era importante deixar isso bem claro.- Mas sim. Emmett e eu somos amigos. Colegas. Trabalhamos juntos, e...

- Por favor, desculpe-me.- ele passou a mão pelos cabelos.- Entendi tudo errado. Pensei... ora, o que pensei não importa. Devo-lhe os meus agradecimentos. Se você não estivesse aqui...- ele parou, enfiou a mão no bolso e tirou algumas cédulas de um maço preso com clipe de ouro.- Aceite, por favor. Creio que isto paga o seu tempo e a sua preocupação.

Eu o fitei, depois o dinheiro, e novamente encarei-o procurando não me sentir insultada.

- É muita gentileza sua, mas não.- eu enfiei as mãos nos bolsos posteriores de meu short para enfatizar minhas palavras.- Ficar com seus filhos foi um prazer.- eu olhei enternecida para os meninos.- Eles são bárbaros, e eu me diverti muito.

Edward arqueou as sobrancelhas ao perceber a minha atitude obstinada.

- Eu insisto. Você merece.- Obviamente irritado ele examinou atentamente o banheiro em que se viam tapetes amontoados em um canto e toalhas esparramadas sobre o balcão. Depois, voltou-se para mim.- Pode deixar que, daqui para diante, tomo conta de tudo.

- Mas papai!- os três garotos protestaram em uníssono.

A voz de Erik ergue-se sobre as demais:

- Bella prometeu nos mostrar como se prepara comida em cima de uma fogueira.

Edward retesou o maxilar.

- Esta noite, não.- ele determinou, com firmeza.- Tenho certeza de que a Srta. Swan não vê a hora de voltar para sua cabana e desfrutar suas férias.- seu olhar oscilou entre o rosto ansioso do filho e o meu.- Certamente você poderá ficar lá o quanto desejar.

Que oferta mais generosa, eu pensei, principalmente porque a cabana pertencia ao irmão. Contudo a mensagem sutil já fora passada. Eu não era bem-vinda em sua casa.

- Mas, papai!- repetiu Ben.- Nós queremos que Bella fique. Gostamos de ficar com ela. Nós...

- Ei, Ben, não se preocupe com isso.- eu intervir tentando diminuir o desespero do garoto. Afinal, não era culpa dele se o pai tinha a graça social de uma barracuda ferida.- Faremos isso outra hora.

- Mas...

- Faz muito tempo que o pai de vocês não fica em casa e aposto como ele não vê a hora de passar um bom tempo só com vocês.

Eu sorri brandamente para Edward, e não foi difícil observar que atingiu meu objetivo.

- Vou pegar minhas coisas e volto já para a cabana.

Eu me dirigi a porta, mas a voz de Edward me interrompeu.

- Espere! Não está se esquecendo de nada?

Dizendo isso, ele estendeu-me o maço de notas.

Ora, ora, quer dizer que ele estava determinado a reduzir minha amizade com os garotos a uma simples transação comercial? Bem, se era assim, Edward Cullen irá aprender um pouquinho mais sobre sutileza e boas maneiras.

- Quanto?- eu perguntei, com as mãos na cintura.

Ele retraiu-se

- Quanto o quê?

- Quanto você esta oferecendo?

Visivelmente surpreso, ele respondeu:

- Trezentos e cinquenta.

- Oh...- eu me aproximei e tirei as notas de sua mão.- Eu valho muito mais do que isso. Dê-me quinhentos e não se fala mais nisso.

Justiça seja feita: ele me entregou o restante do dinheiro sem reclamar, mas seu olhar enviesado demostrou que eu fiz mais um ponto.

- Muito obrigada.- eu disse, embolsando o dinheiro.

- É isso ai papai!- gritou Ben com um ar solene.- Ela vale mais porque ganhou um Bolitzer.

Eu caminhei na direção da porta.

- Foi um Pulitzer, Ben.

- Ei espere!- pediu o garoto, emparelhando comigo.- Vou ajuda-la a fazer sua mala.

- E eu posso carrega-la.- disse Erik.- Sou bem forte.

- Esperem por mim, esperem por mim!- Gritou Mike, determinado a não ser deixado para trás.- também quero ajudar!

Um sorriso terno iluminou o meu rosto. Eram garotos formidáveis.

- Obrigada, rapazes.

Senti Edward me fulminar com o olhar enquanto sai.