PV Edward

- Está tentando dizer que ela não virá?- eu disse ao telefone de minha cozinha à primeira hora da manhã seguinte.- Ela é sua funcionária e você deve ordenar que ela venha! Ou providencie outra pessoa!

Fabiana Neymam procurava ser gentil, mas sua postura era firme.

- Sinto muito, Sr. Cullen. Infelizmente os comentários já se espalharam. Não posso obrigar ninguém a limpar sua casa ou cozinhar para o senhor.

Olhando para o verdadeiro caos instalado em minha cozinha, eu tentei procurar um argumento imbatível para convencer a Srta. Neymam.

- Eu entendo, mas isso não muda o fato de que temos um contrato...

- Um contrato em que o senhor se compromete a propiciar condições de segurança para o trabalho.- ela disse me interrompendo.- E meu advogado me garantiu que ratos, morcegos e infestações de aranhas são violações claras. Além do mais, a Sra. Kent não se demitiu. Ela está doente.

- Ouça, Srta. Neymam, até onde eu sei, menopausa não é exatamente uma doença; portanto, essa não é uma razão plausível para mulher não vir trabalhar.

Tia Enne ficou calada por alguns segundos e suspirou.

- Sabe Sr. Cullen?- ela disse, com muita dignidade.- Não conheço seu irmão, mas começo a entender por que sua noiva preferiu ficar com ele. Com licença, o outro telefone está tocando. Tenha um bom dia.

Eu mal acreditei quando ela desligou.

Durante alguns segundos, senti vontade de mandar tudo às favas, liguei para Helena e pedi para ela providenciar uma reserva em um dos hotéis. Lá os empregados tomariam conta dos garotos e eu poderia trabalhar em paz. Mas respirei fundo, sufoquei as emoções e me esforcei a considerar a situação de um ponto de vista racional.

Assim que consegui, percebi que este ultimo acontecimento era mais uma inconveniência do que uma calamidade. Afinal, a Sra. Rosenclay, minha governanta, voltaria das férias em duas semanas e meia. Embora eu não tivesse muita experiência em dirigir uma casa, isso não devia ser muito diferente de gerir um negócio, algo que eu fazia tão naturalmente quanto respirar.

A primeira coisa que eu devia fazer era organizar. Avaliei uma vez mais o caos ao meu redor, só que, dessa vez, mentalmente comecei a fazer uma lista. Limpar a cozinha era o primeiro item. O segundo era fazer uma busca metódica na geladeira, no freezer e na dispensa e proceder à compra de alimentos congelados.

Ben escolheu exatamente aquele momento para entrar na cozinha, seguido por Erik e Mike. Arrastando os pés, com os cabelos especados e os rostinhos ainda inchados de sono, os três ocuparam os bancos que se alinhavam ao longo do balcão coberto de azulejos.

- Bom dia, papai.- os três me cumprimentaram bocejando.

- Bom dia. É bom que vocês estejam acordados. Temos muito o que fazer.

- Oba! Vamos passear de barco?- Erik entusiasmou-se.

- Bella poderia vir junto.- Ben acrescentou ansiosamente.- Ela sabe tudo sobre barcos e...

- Não.- eu balancei a cabeça.- Estou pensando em outra coisa. A Sra. Kent não virá, por isso teremos que cuidar de tudo sozinhos. Vamos começar deixando esta cozinha em ordem. Então iremos ao mercado fazer compras.

- Ok.- concordou Mike amigavelmente.

Ben e Erik, ao contrário, olharam desanimadamente para mim.

- Agora? Mas acabamos de acordar.- reclamou Ben.

- Ainda nem comemos nada.- emendou Erik.

Ben meneou a cabeça, concordando.

- Quando Bella estava aqui, ela sempre fazia o café da manhã para nós. Era muito bom. Depois nos levava para passear. Íamos à praia empinar papagaios ou ao aeroporto para ver os aviões subir e descer.

Eu estreitei os olhos.

- Bem, hoje não tem praia. E quanto ao café da manhã...

Droga não havia nada em casa. Bella esgotou meu estoque tentando parecer exemplar. Mas eu não haveria esmorecer. Peguei três pratos e servi os restos de pizza que trouxemos do Pizza Fritza.

- Que tal?- eu perguntei, ansioso.

- Legal!

Eu senti as energias renovadas, e era disso que eu precisava passar as próximas duas horas e quarenta minutos. Foi quando demorei para faze-los terminar de comer, trocar de roupa, arrumar suas camas e ajuda-los a limpar a cozinha, algo que, sozinho, eu teria feito em vinte e cinco minutos.

- Bom trabalho! Agora só falta colocar o sabão na máquina.

Ben correu e abriu a porta sob a pia.

- Posso colocar papai? Por favor. Eu já vi Sra. Rorenclay fazer isso mil vezes.

- Claro. Vou trocar a camisa.

Revitalizado com minha manhã bem-sucedida, eu subi a escada de dois em dois degraus. Afinal, eu não estava me sentindo tão mal.

Chegamos ao mercado à uma e meia. Eu levei os garotos para dentro e os instrui a ficar por perto. Depois, peguei um carrinho e apanhei cereais, pão e leite, antes de ir para a ala de alimentos congelados.

Em dado momento, Ben me puxou pela manga.

- Papai?

- Sim?

- Eu e os manos podemos dar uma olhada no tanque das lagostas?

Eu olhei na direção que Ben indicou e contemplei as criaturas de longas antenas.

- Sim, mas não toquem em nada, certo?

- Certo?

Com isso, os três saíram correndo, os mais velhos na frente e o mais novo esforçando-se para alcança-los.

- Ora, cuidando da alimentação da família?

Meu corpo se retesou todo ao ouvir enrouquecida de Bella.

- O que você está fazendo aqui?- eu indaguei, me voltando em sua direção.

Ela arregalou os olhos com meu tom de voz brusco.

- Espero não estar atrasada.

- Atrasada para o quê?

Bela empinou o nariz, numa expressão zombeteira.

- Para pegar uma carona de volta para casa. Quando Ben me ligou...

- Espere um momento. Ben ligou para você? Quando?

Dessa vez Bella pareceu intrigada.

- Há cerca de uma hora.

Ou seja, exatamente quando eu subi para trocar a camisa.

- Por quê?

- Para saber se eu estava precisando de algo aqui do mercado. Quando expliquei que estava trazendo meu carro até o mecânico, ele me pediu para esperar e depois voltou ao telefone, dizendo que você se prontificou a me dar uma carona de volta. Então pensei... parece que ele não falou com você, falou? Ah, bem... então não se preocupe, ok? Tenho certeza de que um dos rapazes da oficina poderá me dar uma carona.

Eu me senti hipnotizado por aquele par de olhos castanhos.

- Esqueça.

Bella empertigou-se.

- Como?

- O portão está trancado.- eu respondi.- Você não poderia entrar. Além disso, não há problema algum em lhe dar uma carona.

O cavalheirismo falou mais alto. Se, por um lado, ela estava sensual demais para minha paz de espírito, por outro foi gentil com os meus filhos e nos deu uma carona até a pizzaria. O mínimo que eu poderia fazer era retribuir o favor.

- Obrigada.

- Não precisa agradecer.

- Ben me cotou que a Sra. Kent deixou você na mão. Pelo que estou vendo, parece que ela não vai voltar tão cedo.

Eu peguei aleatoriamente outro prato congelado.

- É verdade.

- Tenho que admiti que fiquei surpresa quando Ben me disse que vocês estavam vindo ao mercado fazer compras. Imaginei que, numa situação destas, você abandonaria a casa e levaria as crianças para um de seus hotéis.

Eu não gostei do rumo que a conversa estava tomando.

- Será que não percebeu que o mundo mudou muito desde os tempos em que você e eu éramos crianças? Mulheres estão ganhando a vida como repórteres, e homens fazem papel de mães. Os tempos mudaram.

- Com certeza. Meu pai jamais entrou em um mercado.

- Ele não fazia o gênero caseiro, suponho.

- Não mesmo.

Algo no tom de voz de Bella indicou à mim que havia uma certa mágoa naquelas palavras.

- Ela também é repórter?

- Você não vai acreditar: ele é um pesquisador genético. Meticuloso, metódico, dedicado. Nunca consegue se lembrar de um aniversario, mas pode falar horas seguidas a respeito de uma sequência de DNA.

Eu fiquei surpreso.

- Isso deve ter sido muito difícil para sua mãe.

- Não creio.- respondeu ela secamente.- Ela também é cientista genética e se dedica ao trabalho tanto quanto meu pai. Eu os amo muito, mas reconheço que são uns fanáticos no que diz respeito ao trabalho.

Eu fiquei em silêncio. Isso significava que ela teve uma infância muito solitária.

- Então quem cuidou de você?

- Empregadas, babás, professores. Às vezes, os amigos de meus pais. Mas já na adolescência passei a cuidar de mim mesma.

- Nenhum irmão ou irmã?

- Não.- Bella assumiu um ar melancólico.- Deve se por isso que gosto tanto de Benjamin, Mike e Erik. Eles brigam, mas sempre estão prontos para defender uns ou outros. É lindo observar isso.- ela olhou em volta.- Afinal, onde eles estão?

Eu apontei para a seção de frutos do mar.

- Estão lá, olhando as lagostas.

- Sozinhos?

- Sim, sozinhos. E antes que você diga alguma coisa, estou de olho neles, portanto estão perfeitamente seguros. E não estão tocando em nada. Está vendo? Lá está Mike, ao lado do tanque. E Ben está ao lado dele, conversando com Erik..., ei, o que diabos Erik está fazendo?

- Ora, parece que ele está... ah meu Deus! Parece que ele está soltando a tampa do dreno!- Bella disse correndo em sua direção.

Eu fiquei paralisado por segundos, antes de reagir e correr atrás dela. Com as pernas mais longas, rapidamente a ultrapassei.

- Erik!- eu berrei.- Não toque...

Advertência chegou tarde demais. Com um barulho terrível, a água começou a escapar pelo dreno aberto. Eu tentei parar, mas derrapei no chão escorregando e deslizei na direção do tanque. Cheguei a tempo de receber o impacto da água bem em meu rosto.

Ninguém abriu a boca no caminho de volta, pois todos sabiam que era melhor não desafiar a minha ira.

Não que eu não tivesse razão. Além de estar molhado dos pés à cabeça e cheirando a peixe, tive que pagar quatrocentos dólares pelo prejuízo.

Para aumentar minha ira, ao perguntar ao meu filho de seis anos por que ele tinha feito aquilo, ele respondeu:

- Sei lá, papai! Foi Ben que me disse para fazer.

Quando eu me voltei para meu primogênito, ele tentou explicar.

- Bem... é que eu fiquei imaginando se toda aquela água escaparia por um buraco tão pequeno.

Mas o pior ainda estava por vir. Na hora de pagar tudo, eu percebi que tinha deixado o talão de cheques em casa. Então, apesar de ter dinheiro o suficiente para pagar minhas compras, precisei aceitar a ajuda de Bella.

Ao acionar o controle remoto para abrir o portão, eu já conseguia ver a situação com algum humor, mas continuei com o cenho fechado, para manter os garotos sob controle.

- Se ninguém se importar.- eu disse friamente.- Gostaria de me livrar destas roupas molhadas.

- E as compras?- Bella perguntou.

- Por que não espera um minuto até eu voltar?

- Boa ideia. Vou ficar no carro, tomando conta dos garotos.

- Boa sorte.- resmunguei entre os dentes.

PV Bella

Enquanto Edward se dirigia à porta de trás da casa, eu tinha vontade de rir, vendo-o caminhar ruidosamente com os sapatos ensopados. Mas, ao me lembrar de como ele agiu dignamente no mercado, me contive.

- Bella?

Eu me voltei na direção de Ben e dos irmãos.

- Sim?

- Você acha que papai vai nos perdoar algum dia?

- Claro que sim, apesar da tolice que vocês fizeram.- eu procurei manter o olhar grave.- Tolice de Erik ao abrir o dreno e tolice sua ao encoraja-lo a fazer isso. Alguém poderia ter se ferido.

Ben meneou a cabeça.

- Meu pai quase se machucou.

Apesar do olhar solene do garoto, eu senti que algo estranho passava naquela cabecinha.

- Ele está dando tudo de si para cuidar de nós, mas não é fácil porque é sozinho. Acho que é por isso que estava tão triste quando saímos da piscina ontem.

- Ele estava triste?- eu indaguei surpresa.

- Ela estava triste?- Erik repetiu.

Ben olhou sugestivamente para o irmão, forçando-o a corrigir o que disse:

- Ah, é...- ele meneou a cabeça vigorosamente.- Ele estava sim.

- É verdade.- Ben prosseguiu.- Muito triste. O tio Emmett diz que, desde que a mamãe foi para o céu, papai tem estado muito sozinho e por isso precisa de alguém para...

- Benjamin!

Todos os quatros, eu e os garotos nos assustamos quando a voz de Edward reverberou dentro do carro.

- O-Oh!- disse Ben, apreensivo.- O que eu fiz dessa vez?

- Vocês fiquem aqui dentro.- eu ordenei aos três.

Saltando do carro, corri na direção da cozinha.

- Edward, o que aconteceu?- eu perguntei, para em seguida perceber que a cozinha estava coberta de espuma.

Mas o que me deixou sem ação foi perceber que Edward já tinha tirado quase todas as roupas.

- O que diabos você está fazendo aqui?

- Eu vim... ajudar.

- É mesmo?- ele vociferou.- Ora, eu não preciso de ajuda.

- Eu... percebi.

Ele ergueu uma das sobrancelhas escuras.

- O que está querendo dizer com isso?- ele inquiriu.

- Nada. Eu só... bem... quando eu vi...

- Que inferno! Isso não pode estar acontecendo comigo!

Para minha surpresa total, Edward me encarou longamente e atirou a calça ao chão, com um gemido frutado.

- Você quer olhar? Pois bem, então sinta-se a vontade. E se gostou tanto do que viu, que tal isto?

Com dois passos ele se aproximou me tomou nos braços. Em seguida, antes que eu pudesse tomar fôlego, me beijou sofregamente na boca.

Foi divino. Gemendo de satisfação, eu me ergui nos pés, abraçando-o e colei meu corpo ao dele.

A sensação foi a mais erótica que eu já experimentei. Era deliciosa. Era incomparável... era...

Edward repentinamente estremeceu e se afastou, como se eu estivesse dando choques.

Despreparada, eu me senti estonteada, com os joelhos frouxos.

Ele se aproximou e segurou meu cotovelo.

- Droga!- disse ele rispidamente.- Isto é... eu não quis dizer isto... oh droga! Não sei o que aconteceu comigo! Acho que foi... isso tudo.- virou-se, fazendo um gesto em direção do mar de espuma em sua cozinha.- Que inferno! Olhe para isso!

- Bem, tente ver o lado bom da coisa. Pelo menos agora você não vai precisar usar sabonete em seu banho.

PV Edward

Respirando fundo para apagar da memória as sensações suscitadas ao me lembrar de Bella em meus braços, eu tomei coragem e desci, depois de um banho demorado.

Eu não sabia exatamente o que esperar ao entrar na cozinha, mas certamente tive uma surpresa. O chão estava impecável, as compras guardadas e a lava-louça vazia. Os garotos estavam sentados e quietos ao balcão, colorindo figuras. Completamente sós.

- Onde está Bella?- eu perguntei, depois de ter vasculhado casualmente a sala de refeição e a sala de jantar.

Ben ergueu o rosto.

- Ela já foi para casa.

- Já foi?

- Foi. E deixou um bilhete para você.

O garoto apontou para uma folha de papel sobre o balcão. Eu me aproximei e peguei o papel.

“ Edward,

Obrigada pela carona. Como os garotos estavam com fome, já descongelei alguma comida e coloquei no microondas. É só ligar. Espero que goste.

Bella.”

Ora, ora... a mulher maravilha ataca novamente e nem me deu a oportunidade de mostrar como eu estava despreocupado com o que aconteceu havia pouco.

- Ela disse o que descongelou para o jantar?

- Sim.- Ben pegou o lápis e voltou ao trabalho.- Ensopado de peixe.

Eu perdi o apetite.