FELICITY SMOAK

Abri meus olhos ao escutar o estrondo de algo se quebrando, meu coração disparando, todo o meu corpo subitamente em alerta. Olhei para o lado em busca de Oliver, mas logo notei que eu estava sozinha cama. Alarmada ergui meu tronco, minhas mãos indo rapidamente em busca do meu celular que sempre ficava por perto na mesinha ao lado, toquei na tela ansiosa por ver as horas.

04:15 da madrugada.

Isso não era bom, Oliver havia ido para um jantar que envolvia Isabel, e agora ele ainda não havia voltado. Eu só podia imaginar como a noite havia terminado. Ao escutar novamente o som típico de algo se quebrando, deixei os pensamentos de lado e me levantei.

Era melhor eu dar prioridade a um possível ladrão entrando em conflito com alguém da casa, depois eu pensava na possibilidade de Oliver ter cometido a estupidez de ter transado com Isabel novamente.

“Chame-me de estúpido.”

Oh, como eu ia.

Mantendo meus passos mais suaves possíveis, e tendo o cuidado de abrir a porta lentamente olhei pelo corredor tentando ver se havia alguém nele. Mas não, o som não havia soado como se fosse próximo, então provavelmente tudo estaria livre.

Eu estava pensando se deveria ir em direção ao som, ou aos quartos das crianças quando a porta mais próxima se abriu e Thea saiu carregando um vaso. Segurei um grito em resposta e ignorei o fato que também havia erguido minha mão que não segurava nada além do meu mísero celular. A encarei sem humor.

— O que foi isso? – Perguntou preocupada.

— Eu não sei. – Respondi. – Eu estava descendo para checar.

— Onde está Ollie? – Thea sussurrou.

— Provavelmente perdido em algum lugar entre as pernas de Isabel Rochev. – Murmurei azeda. Ela me lançou um olhar condescendente.

— Eu falei para você ir com ele. – Recriminou-me. Pisquei incrédula.

— Oh, agora eu tenho que ficar sobre o ombro de Oliver, um homem adulto. – Falei quase deixando minha voz se elevar. – Para evitar que ele faça algo que obviamente ele só estava esperando uma desculpa para fazer?

— Não foi isso que eu quis dizer. – Falou se endireitando. Ao notar que ela abaixava os braços, fiz o mesmo com o meu a livrando da grande ameaça que era eu jogar o celular em sua cabeça.

— Seu irmão faz isso, Thea. – Reclamei. – Eu traço limites, e ele vai lá e transa com a vadia sedenta do pau dele, por que quer me punir. – Ela recuou surpresa com meu ataque. – Ele é egocêntrico, e arrogante, um imbecil como todos os outros homens que precisam ter seu ego masculino constantemente amaciado. Por que assim como seus malditos paus, estes egos são minúsculos. – Thea piscou em silêncio. - Você quer saber? Ela que seja feliz com Oliver, quando eu sair daqui eu não poderei ficar menos surpresa se descobrir que no final Oliver Queen casou com Isabel Rochev por que ele simplesmente não consegue ficar sozinho.

— Felicity. – Chamou-me, mas ignorei seu tom de alerta.

— O quê? – Perguntei cruzando meus braços, a possibilidade de ser atacada sendo até mesmo esquecida. – Eu sinto muito, ele é seu irmão. Mas ele toma todas as decisões estúpidas. Ele dirigi a porcaria de uma empresa multinacional, e não consegue dirigir o próprio pênis. Hoje mesmo criou todo um cenário hipotético onde eu estou grávida de outro homem, feliz e pediu que eu o escolhesse. E agora ele está transando com Isabel? De novo? Eu nunca vou me casar, com ele, nem com ninguém, eu serei muito feliz sem ter que me preocupar constantemente em viver sob as expectativas de um homem que só pensa em me engravidar.

— Felicity... – Thea voltou a falar, mas parou de repente. – Espere, Ollie quer te engravidar?

— Não, de onde você tirou isso? – Perguntei franzindo o cenho.

— Você acabou de dizer...

— Ela está nervosa. – Escutei a voz masculina atrás de mim. – Quando ela fica nervosa ela fala muito, coisas sem nexos, e que provavelmente irá se arrepender depois. – Virei-me para encarar Oliver, seu rosto tenso. – Eu não estava com Isabel. – Falou simplesmente.

— Grávida de outro homem? – Thea repetiu confusa.

— Ela distorceu tudo. – Oliver continuou. – Eu falei que ela poderia ter sua própria família, no futuro, mas eu já me arrependi.

— Ela já tem uma. – Thea falou.

— Foi exatamente o que eu diss...

— Vocês dois. – Apontei de um para o outro. – Parem!

— Eu só estou dizendo...

— Nada. – A interrompi. Meu olhar caiu sobre Oliver, estando prestes a indagar se ele sabia a razão de todo aquele barulho quando minha atenção caiu em sua mão, mas precisamente o sangue que gotejava dela. – Você está ferido. – Murmurei indo até ele, minha mão indo até seu antebraço. – O que aconteceu?

— Eu. – Respondeu. Inclinei minha cabeça tentando entender. – Perdi a cabeça, quebrei alguns objetos na biblioteca.

— O quê... Por quê? – Questionei surpresa.

— Eu só vim chamar vocês, precisamos conversar. – Seu olhar caiu em Thea. – Vamos para a biblioteca, não quero conversar sobre isso em um corredor.

— Sua mão... – Comentei.

— Eu cuido disso depois. – Falou tocando meu braço levemente. Deixei-me ser levada por seu toque gentil, e descemos as escadas em silêncio, eu podia notar a tensão em seus ombros quando ele tomou a frente e abriu a porta da biblioteca, e quando entramos percebi o que ele havia dito, sobre ter perdido a cabeça. Havia cacos de vidros por todo o chão.

Eu não queria pensar no que levou Oliver fazer isso, mas mesmo antes que eu pudesse elaborar uma pergunta, eu já sabia a resposta. Apenas Megan faria algo para irrita-lo assim. Oliver estava no limite, desde que havia descoberto toda a verdade, havia descoberto sobre as traições, ele ainda não havia reagido, não para valer, sim era óbvio que estava irritado, mas ele ainda não tinha processado tudo, não realmente. Voltei meus olhos para Oliver que parecia extremamente casando, derrotado. Como se exigisse muito de si, o vi caminhar até a cadeira caída no chão, logo atrás da escrivaninha e a erguer antes de se sentar sobre ela, seu corpo grande se jogando sobre ela, largado, seu pescoço apoiando-se no encosto, seus olhos fechando-se por alguns segundos, uma mão indo até a lateral da cabeça.

Eu sabia sem precisar perguntar, que uma forte dor de cabeça já o dominava.

— Você bebeu? – Thea perguntou o analisando cuidadosamente, os braços cruzados. Ele acenou negativamente. – Então você apenas enlouqueceu? – Questionou. – É melhor você ter um bom motivo para resolver quebrar a casa em plena madrugada, quando seus filhos ainda estão dormindo.

Oliver apoiou o braço na mesa, o dedo indicador massageando sua cabeça, seu olhar para Thea me assustando. Ele não a enxergava, não como costumava fazer. Oliver sempre encarou Thea com carinho, com provocação. A forma como Oliver encarou Thea naquele momento era como se ela significasse nada para ele.

— Talvez eu apenas queira fazer uma reforma neste lugar. – Apontou para a destruição. – Talvez eu deva também tirar o lixo para fora. – Deu de ombros. – Afinal você nunca foi capaz de fazê-lo.

— Oliver... – O chamei, temendo ao pensar em sobre quem exatamente ele estava chamando de lixo.

— Se tem algo para me dizer apenas diga Ollie. – Thea o encarou confusa. – Não lido com charadas, especialmente nesse horário.

— Oh certo, peço desculpas por interromper seu sono. – Murmurou com frieza. – Você sempre dormiu bem certo? Nunca perdeu o sono quando seu casamento virou a bosta que é hoje. – Movi-me inquieta ao perceber que Thea sentiu o impacto daquelas palavras. – Ou quando descobriu que a mulher ao seu lado não é Megan. – Pisquei surpresa. Eu não havia dito nada a Oliver, nunca o contei que Thea já sabia. Conversei com Thea e pedi que o quanto antes ela falasse com o irmão seria melhor, para evitar que ele sentisse traído por ela. – Você escondeu isso de mim, e ainda assim não sentiu remorso, eu relevei, eu não me importei, por que esperei o momento em que você mesma viesse a mim, me contasse por que escondeu isso, “Ela deve ter suas razões.” Eu pensei.

— Ollie...

— E seja qual for essas malditas razões, deve fazer sentindo. – Sorriu friamente. – Afinal eu sou seu irmão, e você não faria nada para me magoar de propósito, e é Felicity. – Seu olhar caiu sobre mim. – Eu compreendi o porquê apenas abraçar a ideia de tê-la como cunhada invés de Megan. – Seu olhar caiu sobre Thea novamente. – Então eu a perdoei, ainda que não houvesse feito nenhum pedido, eu a perdoei.

— Oliver. – Murmurei caminhando até ele. Sua atenção se fixou em mim, cada passo que dei, capturou completamente sua atenção. – O que aconteceu? Por que está atacando Thea se diz que a perdoou? – Parei em sua frente, a necessidade de tocar seu rosto, de tentar de alguma forma acalma-lo me dominando.

— Eu vi Megan hoje. – Falou de repente. – Por alguns míseros segundos achei que fosse você. – Confessou. – Pensei que se aproximaria e diria que acabou se atrasando para o jantar, então eu fui até o seu encontro. – Fiquei tensa diante isso. – Eu percebi que não era você, eu não sei ao certo o porquê, eu só sabia que aquela não era você.

— Mas você foi até ela. – Thea falou, parecendo nesse momento temer de alguma forma chamar a atenção para si. Oliver obviamente estava irritado, sabíamos agora que era por ter visto a esposa que o traíra, que fugira até de sua própria identidade para se afastar do casamento. Mas também sabíamos que de alguma forma, ainda que não soubéssemos a razão em si, Oliver também estava irritado com a irmã.

— Eu parei. – Respondeu por fim, mas ainda não a encarando. – Eu não podia dar meia volta, por que o grupo que havia ido comigo sabia que eu ia cumprimentar minha esposa, e ela estava em seu campo de visão. Eles a viram antes mesmo que eu. – Explicou. – Mas eu não queria, não podia falar com ela, não fingindo que era você, e não sem explodir. – Assenti apenas pelo ato em si. - Então eu fingi ter encontrado um conhecido, inventei um nome e o falei alto.

— Megan escutou sua voz. – Deduzi. Ele assentiu.

— Quando olhei em sua direção novamente, ela já caminhava apressada se afastando. – Continuou.

— Você deu a Megan a oportunidade de fuga? – Thea o perguntou confusa.

— E a segui. – Respondeu finalmente a encarando. – A vi entrar em um carro e ir embora.

— Você a deixou ir. Simples assim? – Thea se aproximou. Observei a mandíbula de Oliver se mover, como se trincasse os dentes, seu olhar era gélido, era como se ele pudesse queima-la unicamente usando gelo.

— Eu cometi a estupidez de segui-la. – Respondeu. – Queria saber onde se esconderia, eu não queria fazer nada que a impedisse de tentar uma troca na festa de Bruce. – Respondeu. – Então me mantive afastado, por que embora eu quisesse muito acabar com tudo ali mesmo, eu queria ver até onde ela iria. Segui o carro até outro hotel, a observei entrar nele, e sem saber muito o que fazer me mantive no carro. Eu não estava bem. – Seus olhos voltaram a prender os meus. – Eu sabia que não estava bem, então fiquei no carro, até que minha cabeça entrasse nos trilhos, até que pudesse decidir com calma, se eu entrava no hotel, ou se voltava para casa.

— Você decidiu voltar. – Falei.

— Não. – Negou. – Eu decidi que não queria mais jogos, pois eu não sei como joga-los, não quando é ela que determina as regras, eu decidi entrar no hotel e acabar com aquilo tudo, mas eu não pude. Quando estava prestes a abrir a porta vi um carro se aproximar, o carro me era familiar, fiquei paralisado, e apenas observei quando ele saiu e entrou no hotel.

— Ele. – Repeti. – Ele quem?

— O amante dela. – Deu de ombros. – Eu devia ter imaginado que ela ia se encontrar com um quando a encontrei mais cedo. – Seu olhar caiu sobre Thea. – Eu só não poderia imaginar, que seria seu marido.

Thea pareceu prender a respiração. E eu fiquei em dúvida se eu realmente deveria estar entre eles nesse momento, em dúvida a quem socorrer quando ambos pareciam precisar de ajuda.

— Diga-me speedy, você sempre soube que seu marido fodia minha esposa?- Oliver inclinou sua cabeça a analisando. – Sua lealdade para com alguém que só te via como um saco de lixo realmente foi maior que para comigo?

— Oliver. – Murmurei em advertência. –É melhor vocês dois conversarem com mais calma, amanhã.

— Você sabia também. – Encarou-me decepcionado. – Que eu era traído dentro da minha própria casa, com meu cunhado. E não me disse, não se importou em dizer sobre os outros, mas manteve Alex para si.

— Eu não podia. – Falei. – Não era meu dever contar.

— Era meu. – Thea falou assentindo. – Mas eu não conseguia, desculpe.

— Não conseguia. – Repetiu se erguendo. – Não conseguiu contar sobre a troca. Não conseguiu me contar mesmo após ela ter dito que eu já sabia, e não conseguiu contar sobre Alex e Megan. - Oliver parou em frente a Thea. – Covarde.

— Oliver pare. – Falei.

— Ela sabia que eu o mataria. – Falou sem me encarar. – Ela o protegeu. O colocou acima de mim, mesmo após tê-la tratado não mais que um objeto.

— Não foi isso. – Thea negou.

— Vai dizer que foi por amor? – Perguntou em tom rígido. – Por ele? Por mim? Eu duvido que ame alguém além de si mesma.

— Oliver já chega. – Falei puxando seu braço.

— De todas as traições, a sua é maior. – Oliver gritou fazendo com Thea recuasse, seus olhos enchendo-se de lágrimas. – Eu sou seu irmão, eu merecia o mínimo de respeito e você não me deu isso. Você preferiu mantê-lo em seu quarto, enquanto era a cama da minha mulher que ele aquecia.

— Eu estava com vergonha. – Thea respondeu. – Eu me senti menos que nada, ele mexeu com minha mente, e quando transou com ela, disse que foi seduzido, que não voltaria acontecer, ele me fez pensar que eu era a culpada, fez com que parte de mim concordasse com isso, eu me afastei do meu casamento e mereci ser traída, eu o afastei, eu ocasionei isso.

— Thea, não. – Meneei a cabeça em negativa. – Ele estava errado.

— Eu sei disso, agora. – Falou respirando fundo. – Mas eu pensei que eu era a errada, e que tinha que lidar com as consequências, escondi de você por vergonha e a odiei em segredo, mais do que isso achei que duvidaria de mim, e quando finalmente caí em mim, eu não quis isso para você Ollie. Não queria que sentisse humilhado em sua própria casa. É uma merda. – Murmurou tremente. - Felicity chegou e eu sabia que não havia como Megan continuar após armar dessa forma para você, eu pensei que ele poderia ir embora, e que você jamais teria que lidar com esse tipo de sentimento.

— Eu não me importo se cada canto dessa merda de casa serviu para Megan foder com Alex. – Oliver falou. – Eu me importo com o fato de que você, entre todas as pessoas, escondeu isso de mim. – Murmurou lhe dando as costas.

— Ollie...

— Vá embora. – Falou sentando-se pesadamente sobre a cadeira novamente. – Mais tarde discutiremos sobre o que Alex pode estar passando para Megan, se ele sabe sobre Felicity, se de alguma forma ele pode ter percebido o quanto eu sei e se isso foi passado para Megan. – Esfregou seu rosto. – Por agora eu apenas não consigo olhar para você.

Thea me encarou lançando um olhar de mágoa e arrependimento. Ela amava seu irmão, não queria ter causado nenhuma dor, ela queria continuar protestando, tentar convencê-lo, mas ela sabia que nesse momento ela não seria escutada, não como queria. Havia um apelo em seu olhar, um que interpretei rapidamente “Não o deixe sozinho.” Assenti a acalmando.

— Eu sinto muito Ollie, eu sei que não significa nada agora. – Falou. – Mas eu realmente me arrependo. Desculpe. – Murmurou antes de girar nos deixando a sós ao fechar a porta atrás de si.

Oliver encostou sua cabeça contra o encosto da cadeira, seus olhos se fechando, bloqueando-me.

— Eu não sou uma boa companhia agora. - Falou sem abrir os olhos.

— Engraçado. – Falei passando por entre os cacos. – Por que era exatamente o que eu queria agora, uma péssima companhia. – Seus olhos se abriram.

— Eu estou falando sério. – Advertiu.

— Eu também. – Assenti. – Tudo o que eu queria quando acordei, era um macho irritadiço, amargurado e precisando de carinho. – Oliver sorriu. Foi mínimo, mas ainda assim foi algo.

Ele tornou a fechar os olhos, como se mantê-los abertos exigisse muito.

— Você está com dor. – Falei parando ao seu lado.

— Logo tomarei um remédio. – Respondeu descartando minha preocupação.

— Não, Oliver. – Falei o surpreendendo ao me sentar em seu colo. – Você está com dor. – Repeti. Ele inclinou sua cabeça com curiosidade, seus olhos não conseguindo ocultar aquela dor. – Você disse que não se importa, que a única coisa que Megan machucou foi seu orgulho, mas você está mentindo.

— Eu nunca a amei. – Falou com a voz rouca. – Ela não consegue me machucar.

— Você pode não ter lhe dado seu amor. – Falei acariciando seu rosto. – Mas certamente lhe deu sua confiança, respeito, carinho. Ela jogou tudo isso, brincou com tudo isso, não deu valor. E agora, mesmo quando a odeia, você se machuca, por que você sabe, assim como eu, que se importa, que merecia mais.

— Merecíamos. – Assentiu. – Nós dois. – Pisquei tentando compreender a quem ele se referia exatamente, quando sua mão foi até meu rosto. – Eu e você.

— Eu não posso dar o que você quer Oliver. – Falei.

— Você já me deu. – Respondeu. Não quis questionar, não quis saber exatamente ao que ele se referia, então apenas deslizei meus dedos pelo seu rosto, e levei minha mão ao seu pescoço, meus olhos não conseguindo quebrar aquele contato, acariciei seus cabelos junto ao colarinho da camisa, e com uma respiração profunda me entreguei a necessidade inquietante e urgente de abraça-lo. Envolvi seu pescoço e ocultei meu nariz em seu pescoço, precisando do seu cheiro.

— Ela me machucou. – Demorei apenas alguns segundo para compreender. - Thea. – Oliver esclareceu.

— Por que você a ama. – Falei. Apenas senti o movimento, concordando. – Você a machucou também Oliver.

— Eu não consigo pedir desculpas, não agora. – Falou.

— Está bem. – Falei. – Vou te obrigar a isso depois. – Suspirei afastando-me apenas o suficiente para encara-lo. – Vamos. – O chamei. – Eu vou cuidar disso. – Apontei para sua mão ainda manchada de sangue e então vamos para a cama. – Ergui-me. Oliver inclinou a cabeça o mais leve toque sugestivo em seus olhos. – Não falei disso. – Ele descartou meu tom com um sorriso e se levantou acompanhando-me. Subimos as escadas em silêncio, eu ainda podia senti-lo tenso, encontrar Megan e descobrir sobre Alex e ela exigiu muito dele. Saber que sua irmã já sabia então... – O que você vai fazer? – Perguntei abrindo a porta do quarto, Oliver passou por mim, seu olhar confuso.

— Sobre o que exatamente? – Perguntou se sentando sobre a cama. – Megan, Alex ou Thea?

— Thea é sua irmã, ela o ama e adora, vocês literalmente sempre estiveram juntos, vocês vão ficar bem. – Falei me afastando apenas para ir ao banheiro pegar o kit de primeiros socorros, eu, no entanto não deixei de pegar a revirada de olhos que Oliver deu. – Você sabe que sim. – Falei quando voltei. – Ele ergueu as sobrancelhas. – Eu sei, você se sente traído, e sei que as coisas vão ser difíceis, mas vocês precisam um do outro, eventualmente, não agora, vocês vão ficar bem.

— Então é sobre...

— Megan é claro. – Falei sentando-me ao seu lado. – Você não vai dar nada além de indiferença a Alex. – Ele me encarou incrédulo. – Você não quer ser preso por ter batido em alguém como Alex, você não quer as crianças sendo privadas da companhia do pai por isso, e você deve isso a Thea.

— Eu devo? – Perguntou surpreso.

— Oliver você assistiu sua irmã ser abusada emocionalmente por seu cunhado e não fez nada quanto a isso. – Falei em tom duro. – Você pode não ter sabido nada com relação a Megan, mas sabia das outras mulheres, e até onde eu sei, você nunca sequer ergueu um dedo contra ele, fazer isso agora por que uma das mulheres é a sua, é hipocrisia.

— Thea sempre soube que era traída, com Megan é diferente. – Protestou. – Eu falei inúmeras vezes quão ruim era esse casamento.

— E isso significa por si só que a defendeu? – Perguntei tomando sua mão com brusquidão. – Você fez como maioria daquelas pessoas que falam que se não é seu assunto, não deve se intrometer, se ele alguma vez a tivesse machucado fisicamente...

— Ele estaria morto, bem agora. – Oliver me cortou a mera sugestão mexendo com sua cabeça, segurei sua mão com mais força impedindo-o retirar, ele soltou um gemido de dor, e soltei a mão com um pedido de desculpas baixo, me concentrei em limpar a ferida.

— Esse é o problema, se a ferida não está exposta, as pessoas tendem a pensar que doí menos. – Murmurei deixando meus olhos em sua mão. – Minha mãe, ela teve dois namorados enquanto cresci. – Falei. – Ela mal fala sobre meu pai, eu só sei que ele foi embora quando cheguei. – Levantei meu rosto, meus encontrando os seus. – Acho que era muita responsabilidade para ele. – Sorri. - Homens tem a escolha de decidir o que é muita responsabilidade para vocês, enquanto nós mulheres apenas precisamos aceitar. Diga-me Oliver, quando você passou a ser pai solteiro, qual foi a reação?

— Eu não sei como responder a isso. – Falou com o cenho franzido. – Sempre me trataram muito bem, e as crianças, eu sempre tive muito apoio. – Deu de ombros.

— Isso por que ser pai solteiro traz a ideia romântica do pobre coitado. – Respondi. – Se você não sabe fazer algo as pessoas suspiram e dizem “pobrezinho, tendo que lidar com tudo isso sozinho.” Com mulheres é diferente. Há julgamentos, como se junto com o bebê viesse um manual, você escolheu isso, agora assuma. Não há circunstâncias, e quase sempre não há espaço para erros, tudo gira em torno de como você não sabe cuidar direito do próprio filho. – Terminei de limpar o corte e o cobri. – Emfim, sendo mãe solteira, com um ex marido fujão, minha mãe por incrível que pareça não desistiu do amor.

— Isso é...

— Arriscado. – O cortei sentando-me ao seu lado. – O primeiro namorado depois do meu pai, era o tipo idiota que chegou na minha casa colocando os pés sobre o sofá e pedindo que ela trouxesse uma cerveja. Não durou mais que uma semana, ela disse que já trabalhava servindo os outros, não precisava fazer o mesmo quando chegasse em casa. Eu pensei que isso significaria que ela não tentaria novamente, não me entenda mal, eu estou falando sobre relacionamentos, e não casos. – Fiz uma careta. - Por mais que odeie a ideia de imaginar minha mãe tendo uma vida sexual, ela nunca escondeu isso de mim.

— O segundo namorado foi melhor? – Perguntou curioso. Assenti.

— Por um tempo. – Sorri. – Ele foi perfeito, ele a fazia feliz, fazia rir. Ela estava completamente apaixonada, ele passou a passar mais tempo em nosso apartamento do que no próprio. E ele me tratava bem.

— O que aconteceu?

— O relacionamento durou quase um ano. – Falei. – E quanto mais tempo ele passava com a gente, mais ele revelava como era. Ele não gostava da forma como ela sorria para o carteiro, ou como ela se vestia quando ia sair com as amigas, e ele passou a odiar quando ela me colocava a frente de suas necessidades. Ele se tornou possessivo, e sua língua passou a se tornar solta. Então o cara educado, que aparentemente me adorava passou a dizer coisas como “Você tem sorte por alguém te querer.” a minha mãe. Em uma briga estúpida ele disse isso, disse que ninguém se aproximaria dela por que ela tinha uma filha. E que ele poderia ter quem quisesse, mas estava com ela. Ele deixou claro que naquela relação, ela era o problema. Ela brigou com ele, e disse que não precisava dele, e que jamais escolheria um homem acima de sua filha, e ele bateu nela.

— Filho de puta. – Oliver murmurou fechando o punho.

— E esta é a reação que maioria das pessoas tem. – Falei. – Após eu falar da agressão, ela passou por todo um relacionamento abusivo e só passa a importar, quando há agressão.

— Eu não...

— Não é diferente do que aconteceu com Thea. – Falei. – Alex a diminuiu, a menosprezou e a culpou. E eu posso afirmar que sim a agressão é horrível, deve ser punida e jamais justificada, mas nada deve ter doído mais em minha mãe, do que sua filha ter presenciado isso.

— Eu sinto muito. – Oliver segurou minha mão.

— Ela ainda acredita no amor. – Sorri. – Ela está doente, e só tenho tido como conversar com ela por ligações. Mas ela sempre deixou claro que é isso que ela quer para mim. – Respirei fundo tentando controlar minha voz, eu não queria pensar em minha mãe, não agora. – Eu tenho tido razões para acreditar que não existe, não tanto quanto ela é claro, mas é ela que me faz acreditar. Ela que passou por tanto, me faz acreditar em um sentimento tão frágil e inacreditável, algo tão intangível. Não dê as costas para Thea, Oliver, ela precisa que alguém a faça acreditar na simples ideia do amor.

Oliver me encarou sério, seu olhar ainda magoado, mas assentiu. Levei minha mão ao seu rosto lhe dando novamente conforto.

— Essa é a primeira vez que você fala dela. – Observou.

— Eu precisaria de todo um livro para falar sobre Donna Smoak. – Sorri.

— Por que você não a visitou? – Perguntou curioso. – É obvio que você ama sua mãe, e apesar de tudo, você poderia ter ido quando descobriu sobre Isabel. Você poderia tê-la visitado. – Seu rosto inclinou como se tentasse ler no meu a resposta.

— Eu tenho medo. – Confessei. – De como ela vai estar quando eu chegar. Eu tenho medo de que seja a última vez que a veja. - Meneei a cabeça. - Eu não tenho coragem o suficiente para lhe dizer adeus.

— Todas essas são razões para ir vê-la. – Falou. – Onde ela acha que você está? O que ela pensa que você está fazendo?

— Eu estou cuidando da casa e das crianças de um viúvo muito, muito rico. – Falei. Oliver me lançou um olhar exasperado. – Não deixa de ser verdade. – Defendi-me.

— Eu estou confuso. – Oliver murmurou. – E Megan?

— Eu obviamente não falei sobre isso.

— Não. – Meneou a cabeça. – Sua mãe nunca falou sobre Megan? Sobre você ter uma irmã?

— Não. – Neguei me erguendo. Oliver repetiu o gesto, me acompanhando. – E isso é algo do que não quero falar, até onde eu sei Megan é uma mulher muito parecida comigo, nada mais. Vamos dormir.

— Felicity...

— Eu não posso lidar com tanta coisa se ainda nem deu 05:00h da manhã. - Protestei. – E eu imagino que você também precise de um descanso, então, deite-se. – Ordenei apontando para o colchão. Oliver apenas seguiu me encarando, cenho franzido. Com um suspiro me aproximei dele o surpreendendo a levar minhas mãos para sua camisa. Vestia apenas a camisa branca, calça e sapatos, imagino que as outras peças estavam jogadas no escritório. Ainda sentindo o peso do seu olhar em mim, desabotoei a fileira de botões sem silêncio, e empurrei sua camisa pelos ombros. – Não se anime, sabemos que de alguma forma, você ia acordar sem. – Falei me afastando. Oliver tentou ocultar seu sorriso, mas pude vê-lo em seus olhos, ignorando-o voltei para cama e sem hesitar me deitei sobre ela. O escutei andar pelo quarto abri o guarda roupas, indo e voltando do banheiro, e mesmo com meus olhos fechados senti quando a luz foi desligada, senti mais do que escutei quando ele foi para a cama e deitou-se atrás de mim.

Não houve protesto, sequer surpresa, quando o senti em minhas costas, sua respiração em minha nuca, sua mão alcançando a minha e a segurando mesmo após ter me puxado contra si.

— Não se anime. – Murmurou contra meu ouvido. - Ambos sabemos que terminaríamos assim.

OLIVER QUEEN

Ajustei o nó da gravata, sentindo-a mais apertada do que deveria.

Mas não era a peça que me sufocava. Eram meus pensamentos, eles estavam cheios e tumultuosos. Olhei-me no espelho, a imagem impecável, elegante, alguns diriam sedutora, me irritando. Eu agi mais de uma vez como que estivesse ansioso para encontrar Megan, jogar um pouco do seu jogo, fazê-la pensar que estava vencendo e virar o tabuleiro ao meu favor. Mas não era assim, eu sentia que não importava como esse jogo terminasse eu sairia como perdedor.

Eu apenas queria estar livre da presença de Megan, da ameaça de sua volta, da necessidade de vingar sua fuga, suas traições. Eu queria criar um pequeno quarto, um no qual eu pudesse voltar no tempo em que eu não sabia que minha mulher havia contratado uma sósia para se passar por ela, voltar ao tempo em que eu achava que minha mulher estava mudando. Um quarto onde Felicity fazia parte da família, e isso estava bem, era certo.

Agora uma possível volta de Megan não me deixava ansioso, me deixava temeroso. Por que agora eu temia perder Felicity. E eu sentia que era isso que ia acontecer nessa festa. Megan faria a troca, e eu perderia contato com Felicity. Talvez ela mesma aproveitasse a oportunidade para fugir.

— Eu poderia assoviar. – Meu foco mudou ao som de sua voz. Eu já não encarava meu reflexo, meus olhos mudaram para encarar Felicity que havia entrado no quarto. – Mas eu não sei. – Sorriu. Virei-me deixando minha total atenção nela, assimilando em seus cabelos, o vestido justo, deixando pouco a imaginar, mas desafiando-me a não fazê-lo, a maquiagem que invés de ocultar defeitos, fora usada para destacar suas melhores qualidades, seus lindos e expressivos olhos, seus lábios que pareciam feitos para serem beijados.

Por mim.

— Eu poderia assoviar. – Murmurei. – Mas prefiro dizer que você está ainda mais linda esta noite.

Ela sorriu, e pareceu genuinamente sem graça com o elogio.

— Um homem que sabe como elogiar uma garota. – Murmurou se aproximando. – Precisamos mais desses.

— Apenas minha garota. – Murmurei fazendo com que ela hesitasse um passo, seu sorriso se foi, e eu me arrependi do que havia dito, não por que não me sentia daquele jeito, eu me sentia, mas por a fez recuar, e erguer paredes, Felicity chegara a essa casa com o pensamento de partir, e cada vez que eu falava algo do tipo a confundia, eu sabia disso. Eu não queria confundi-la, brincar com seus sentimentos. Era confuso para mim, sentir-me dessa maneira com ela, quando não pude sentir o mesmo com Megan, mas eu não poderia dizer isso para ela, não como eu queria, por que ela jamais acreditaria. E eu estava preso nisso. – Então... – Murmurei tentando mudar de assunto. – Você acha que acontecerá hoje?

— Eu não vejo por que não. – Falou cruzando os braços. – Honestamente seria um desperdício para ela não fazê-lo. Até onde ela sabe você pegou seu amante a beijando, o casamento anda com dificuldades, por sua traição com Isabel, pelo o que aconteceu com Adrian. – Deu de ombros. Fiz uma careta lembrando-me de Adrian a beijando. – Megan é negligente, mas não é estúpida, ela sabe que não há como eu manter por muito tempo, ou salvar milagrosamente tudo. Ela já deve está imaginando que eu possa talvez ceder a pressão, contar tudo. Não podemos esquecer que não sabemos exatamente o quanto ela sabe, não depois desse reencontro com Alex. – Assenti concordando. – Megan é dramática, ela poderia entrar em contato comigo, marcar um lugar e fazermos a troca quando você não estivesse por perto, mas é uma festa a fantasia, ela pode fazer melhor. – Sorriu divertida.

— Por quê você está sorrindo? – Perguntei estranhando.

— Somos tão diferentes. – Meneou a cabeça. – É difícil acreditar que consegui levar tão longe.

— Deve ter me achado um estúpido. – Falei tentando soar leve, mas falhando, eu realmente me sentia um estúpido.

— Não, Oliver. – Negou, e dessa vez não fiz nenhum comentário idiota que pudesse impedir sua aproximação, ela veio até mim, suas mãos indo até meu rosto e me surpreendendo com o contato. Seu perfume me cercando. – A situação toda é extraordinária demais para ser imaginada.

Eu não tinha certeza disso, sim era algo surreal de se imaginar, mas Thea não demorou muito em descobrir certo? Eu fui cego, eu preferi assim. Mas não queria contradizê-la, e certamente não queria perder seu toque, então apenas assenti em concordância. Pude ver que não acreditou, mas ainda assim sorriu.

— Precisamos ir. – Murmurei ainda que não estivesse ansioso por isso. Ela se afastou e imediatamente senti a ausência do calor de sua pele em contato com a minha.

— Você acha que as crianças já estão dormindo? – Perguntou hesitante. Franzi o cenho, não compreendendo sua pergunta. As crianças geralmente dormiam após um de nós dois os colocarmos para dormir. Eu não havia ido, eu pensei que ela faria isso, a não ser...

— Você quer se despedir. – Observei. – Enquanto eles estão dormindo.

— Essa pode ser a última vez que eu vou vê-los. – Respondeu sua voz mostrando o sentimento de perda. – Eu preciso me despedir, mas não quero assustar as crianças, por isso estava esperando por eles irem dormir. – Esclareceu.

— Não será a última vez...

— É mais certo que seja Oliver. – Interrompeu-me.

— Eu não gosto disso. – Protestei. – Não precisamos ir hoje, e caso Megan entre em contato, apenas diga que eu cancelei tudo.

— Por que você quer adiar isso? – Indagou cruzando os braços. – Precisamos desse movimento dela. – Lembrou-me. – Oliver...

— Eu não quero que você vá. – Falei a interrompendo. Ela piscou surpresa pelo meu tom. – Quantas vezes eu terei que dizer até que entenda? Eu não quero que você vá, Felicity. – Ela respirou fundo, como se tentasse encontrar uma maneira de falar comigo.

— Você mal me conhece. – Falou por fim. – Você não me conhece Oliver. – Repetiu. - E sim, eu entendo a atração, e eu não vou negar que não é recíproca, mas Oliver, você não gosta de mim. Não da forma que acha que gosta. Eu sou igual a ela, mas gosto de pensar tenho mais qualidades que ela, e isso está bagunçando sua cabeça, e você, você está bagunçando a minha. – Confessou.

Queria protestar, queria ir contra o que dizia, mas parte de mim se perguntava se de fato ela não tinha razão. Talvez eu estivesse apenas confuso, talvez eu estivesse me deixando levar por uma melhor versão da minha esposa.

— Felicity. – A chamei, embora não soubesse ainda o que iria dizer.

— Eu gosto de você. – Falou. – E eu adoraria ter conhecido antes, mas isso não aconteceu. – Ela deu de ombros. - Então, eu tenho que lidar com os fatos, e o fato é: Você é um homem casado, com muitos problemas, e eu sou uma camareira desempregada que tenho os meus, tudo que eu almejo é uma vida tranquila, longe dessa confusão, e enquanto eu me prender a você, a sua família. Eu não a terei. Desculpe, Oliver, mas é a verdade.

— Entendo. – Murmurei colocando minhas mãos nos bolsos da calça e evitando a todo custo desviar seu olhar do meu.

— Nós devemos ir. – Falou e eu assenti concordando, não tendo mais o que dizer, não quando ela estava tão determinada e certa sobre o que falou.

As crianças não estavam dormindo, o que a impediu de se despedir como queria, ela sorriu, um sorriso completamente forçado, e beijou suas testas, não podendo dizer nada sem que se entregasse, apenas os abraçou, ela foi capaz de esconder as lágrimas de Lexi, mas quando foi a vez de William, eu pude ver uma pequena ruptura, Will a encarou confuso e questionou, e Felicity apenas fingiu estar com dor de cabeça, diminuindo tudo com mais um de seus sorrisos forçados, com um último abraço ela saiu do quarto. E após eu fazer o mesmo a esperei no carro após ela ter pedido que aguardasse ela retocar a maquiagem.

Quando ela voltou estava mais calma, e parecia ter erguido uma nova parede em defesa. Evitei encara-la enquanto sentávamos lado a lado dentro do carro, a tensão quase palpável, e as vezes que arrisquei encara-la, só conseguia observar seu perfil, por que ela mesma evitava me encarar, concentrando-se apenas nas ruas que passávamos.

— Sua irmã já está aqui. – Murmurou quando paramos. Diggle veio dirigindo e esperava que saíssemos do carro, olhei na direção que ela havia dito e notei que Thea saia do seu próprio carro, seu olhar altivo quando nos encarou. Ela apenas acenou brevemente, resultado ainda de nossa briga. – Achei que ela não viria.

— Ainda não conversei com ela após nossa briga. – Confessei. – Eu sei que você queria que eu pedisse desculpas, mas não consigo. – Deixei meu olhar cair em Felicity que me encarava atenta, seu cenho franzido, possivelmente em desaprovação. – Não depois de ter escondido a verdade sobre Alex. – Ela abriu a boca, talvez vindo outra vez em defesa de Thea, mas a interrompi. – Depois converso com Thea. – Prometi. – Agora devemos focar em Megan. – Felicity virou-se completamente para mim. – A partir de agora temos de ter cuidado como falamos.

Era algo que já havíamos conversado antes, tão logo entrássemos na festa, eu devia esperar que a qualquer momento Megan fizesse a troca. Eu não poderia chamar por seu verdadeiro nome em nenhum momento, não até ter certeza que ela, Felicity, falasse comigo abertamente.

Felicity voltou assentir concordando.

— Deveríamos ter alguma espécie de código. – Falou por fim. – Algo que Megan não saberia talvez? – Sondou.

— Eu não consigo imaginar nada do tipo. – Falei tentando pensar em algo. Felicity me analisou por alguns segundos, estudando-me.

— Como é o relacionamento de vocês dois? – Questionou-me.

— Eu não vou falar sobre isso com você. – Neguei-me. Ela sorriu com malícia.

— Você dormiu com Isabel, por que teria vergonha de falar sobre sua esposa comigo? – Trinquei os dentes, não esperava que ela trouxesse Isabel novamente, mas Felicity claramente estava tentando colocar uma distância entre nós dois, que forma melhor que isso, do que trazendo minha traição?- Oliver...

— Está bem. – Concordei. – Mas você já sabe a resposta, nosso relacionamento era mais sobre sexo. – Não a encarei, não queria ver sua reação a isso. – Fora isso erámos corteses um com o outro, normal. Eu acho.

— Nada de toques? – Sugeriu. A encarei confuso. – Gestos de carinho? – Pensei em como a própria Felicity agia perto de mim, ainda que inconsciente ela sempre acabava me tocando, no ombro, um breve segurar de mãos, ou sua mão indo ao meu rosto tentando me acalmar, ela sempre me tocava.

— Ela não é como você. – Neguei, isso fez com que ela sorrisse, não carinhosamente, mas com diversão. – Ela não é de segurar a mão, ou abraços. Todos os seus toques tem um contexto sexual. – Reafirmei.

— Então será isso. – Assentiu. Para minha surpresa sua mão segurou a minha. – Quando tiver dúvida sobre quem sou, segure minha mão, caso eu solte imediatamente...

— Você é Megan. – Brinquei. Ela tornou a sorrir e então soltou minha mão.

— É melhor saímos do carro. – Falou levando sua mão oposta ao trinco da porta, mas tornei a segurar sua mão a impedindo.

— Felicity... – Comecei, queria ter a oportunidade de conversarmos melhor sobre nós dois, e devido a tendência de como a noite terminaria, era melhor que acontecesse enquanto eu ainda tinha certeza de quer era ela que estava ao meu lado.

— É Megan. – Interrompeu. A encarei surpreso. – A partir de agora é Megan, lembre-se querido, está na hora de colocarmos nossas máscaras. – Falou antes de colocar sua máscara, e sair deixando a porta aberta. Diggle esperava pacientemente que eu fizesse o mesmo.

Fechei meus olhos, e tomei meu tempo, eu odiava isso. Apenas vê-la interpretando Megan assim me deixava desconfortável. O que eu faria quando tornasse a encarar a verdadeira Megan?

— Você não vem? – A escutei me chamar mais uma vez, e assenti concordando antes de eu mesmo colocar minha máscara. Saí do carro com uma nova resolução em mente, tão logo Megan fizesse seu movimento, eu iria a encurralar, acabaria com esse jogo, e a pressionaria pelo divórcio.

Ofereci meu braço para Felicity que hesitou o encarando com interesse antes de envolver o seu com o meu, o calor do seu corpo aproximando-se do meu. Entramos no grande salão juntos e cumprimentamos com um pequeno aceno alguns conhecidos. Era engraçado como todo mundo achava que usar alguma máscara esconderia sua identidade, quando na verdade, as vezes gritava o contrário. Cada máscara escolhida, ao menos das mulheres, revelava sua personalidade, os homens eram mais discretos, mas ainda assim a ideia de um pequeno objeto ser capaz de tornar irreconhecível uma pessoa, era ridícula para mim.

— Lá está Bruce Wayne. – Felicity murmurou apertando meu braço levemente para chamar minha atenção. – Deveríamos conversar com ele?

— Eu queria encontrar Thea primeiro. – Confessei. Não estava pronto para pedir desculpas, mas precisava deixa-la alerta com relação a Megan. – Mas seria estranho não irmos até o anfitrião. – Murmurei enquanto aproveitava para pegar duas taças de champanhe e lhe oferecer uma, ela aceitou com um sorriso pequeno, a levando imediatamente aos lábios. Franzi o cenho enquanto a observava sorver a bebida com um pequeno gole. Felicity não tinha o costume de beber, ela havia bebido na última festa e logo em seguida na boate, e por consequência tinha acabado revelando seu segredo para mim. Ofereci a bebida mais por aparência, achando que ela não aceitaria, agora eu temia que ela tornasse a ficar bêbada, e com a possibilidade de Megan aparecer, não queria ter que me preocupar com ela estando vulnerável. Ao perceber que eu a observava, ela sorriu.

— Eu não posso enfrentar essa noite sem um pouco dessa maravilha. – Ergueu a taça em um brinde. Assenti concordando, ainda inquieto. – Vamos, temos que cumprimentar o tão apaixonado casal. – Falou um resquício de amargura. Senti-me culpado mais uma vez por tê-la colocado na defensiva, sem qualquer protesto a segui, a situação toda ainda me incomodando.

Deixei a sensação de lado quando paramos em frente de Bruce Wayne e sua esposa Selina. Ela sorria cordialmente, embora seu olhar para Felicity não tenha sido de boas vindas, era algo que eu não percebia antes. A reação das mulheres quando estavam em frente a Megan, quando o percebia achava que era apenas algo semelhante a inveja feminina. Megan era linda, e só por que outras mulheres se sentiam inseguras quando perto dela, eu não deveria duvidar de sua fidelidade e caráter, certo? Como eu estava enganado.

— Sr. Queen. – Bruce Wayne me cumprimentou com um aceno discreto, seu olhar caiu em Felicity com hesitação, - Srª Queen. – Ela lhe dirigiu um sorriso divertido em resposta, respondendo a sua cautela.

— Sr. Wayne. – Retrucou, quando seu olhar caiu na esposa ao lado seu sorriso ampliou. – Selina. – Pisquei diante o cumprimento íntimo, quase uma provocação. Tão Megan que me fez encara-la confuso. Selina apertou os lábios em resposta.

— Espero que gostem da noite. – Bruce murmurou, notei que segurava a mão de sua esposa tentando acalma-la.

— Tenho certeza que sim. – Falei, levando minha própria mão a de Felicity, precisando do toque, lembrando-me que havia sido ela mesma a sugerir o gesto. Não era de confirmação que eu precisava já que nem havíamos nos separado ainda, mas apenas do conforto em saber que ela ainda estava ali. – Embora eu ache que terei que incomoda-lo mais tarde, negócios. – Confessei. Bruce sorriu, enquanto Selina revirava os olhos.

— Vocês CEO’s e suas manias de estarem sempre trabalhando. – Reclamou. – Eu o deixo para você Sr. Queen, mas só após ele me dar minha dança. – Advertiu.

— Eu não sonharia em tira-lo antes disso. – Brinquei. – Até por que, eu não acho que conseguirei fugir da minha própria dança também. – Encarei Felicity.

— Não pensem que seria tão fácil. – Respondeu, seu rosto inclinou-se para o casal a nossa frente. – Na verdade, eu acho que agora seria um bom momento.

— Não vamos segura-los aqui. – Selina respondeu. – Leve seu marido para a pista Megan.

— E você não se esqueça de levar o seu. – Retrucou. – Ou outra o fará. – Piscou, fazendo com que Bruce ficasse tenso e Selina tornasse a apertar os lábios em sinal de irritação. Eu fiquei perplexo, a vergonha e confusão me dominando. Senti sua mão puxando a minha e caminhei junto a ela automaticamente, enquanto tentava compreender o que havia acontecido.

Felicity não agia assim, não importa o quanto ela quisesse colocar distância entre nós dois. O que ela fez agora, fez para me humilhar. A percepção me chocou e irritou. A encarei incrédulo percebendo que de fato ela havia me levado para o salão onde outros casais já dançavam, percebi Thea movendo-se pela lateral, tentando se aproximar, mas fixei minha atenção a mulher em meus braços.

— O que foi aquilo? – Perguntei enquanto a puxava para mim, meu braço a rodeando, uma mão segurando a sua. – Você estava provocando Selina.

— Você viu o jeito que ela me encarou. – Respondeu vagamente. Tentei observar seu rosto, mas ela o ocultou ao me abraçar mais intimamente, sua mão buscando meu pescoço e puxando meu rosto para a curva de seu pescoço, distraindo-me. Fechei meus olhos, sentindo seu cheiro, minha mente voltando para mais cedo quando fez o mesmo na biblioteca, quando ela tentou me confortar quando conversávamos sobre Megan, voltei para o momento em que estávamos nos trocando no quarto, e suas mãos tocaram meu rosto quando tentou me tranquilizar mais cedo.

Foi quando percebi.

O perfume era diferente.

Este era mais picante, mais sedutor, enquanto o outro era floral, suave e delicado.

E foi tentando não solta-la imediatamente, ou demostrar em meu gesto a náusea que me provocava. Que entendi que não era apenas o perfume que era diferente, mas também a mulher.

Não era Felicity que me abraçava.

Era Megan.

A apertei enquanto tentava controlar minha ira, sabendo que eu não poderia explodir no meio de tanta gente eu tentei respirar fundo. Tentei me controlar, buscar por algo que me trouxesse calma. Mas era difícil quando a cada respiração o perfume se mostrava mais denso, mais forte, e enquanto eu não havia percebido antes, tudo se tornava tão claro, desde seu silêncio prolongado no carro, os sorrisos de diversão quando brinquei que ela era Megan ao segurar sua mão, até as provocações feita a Selina. Era irônico como eu a diferenciei tão facilmente na outra noite de Felicity, mesmo distante, e agora foi preciso estar próximo para reconhecê-la. Ela não era Felicity, ela era Megan. E agora enquanto a raiva e a confusão me dominavam, apenas um pensamento me mantinha controlado, apenas um pensamento me deu a calma o suficiente para afrouxar o aperto em sua cintura, e encara-la com aparente tranquilidade.

— Por um momento pensei que havia pisado em seu pé. – Comentou alisando uma ruga imperceptível em meu casaco. – Algo o preocupa? – Balancei a cabeça em negativa, incapaz trazer palavras em minha boca. – Bom. – Sorriu deixando de lado sua aparente preocupação comigo.

— Eu só tenho algumas dúvidas. – Confessei.

— Quais? – Franziu o cenho.

— Quando exatamente vocês trocaram? – Ela inclinou sua cabeça recebendo minha pergunta com um olhar calculista. – E onde ela está?

Por que esse era o único motivo por trás do meu controle.

Felicity.

Megan sorriu.

Longe de estar preocupada com o que eu disse, ou de se sentir ameaçada.

— Senti sua falta, meu querido. – Sua mão deslizou até encontrar a minha, eu a soltei de pronto. Percebendo sua zombaria no gesto. – É uma pena você não sentir a minha.