A Mensageira

Capítulo 17 -Noivo?


-O que você quer? –Pergunto, virando-me de costas. Por que, dentre as 7 bilhões de pessoas que poderiam me encontrar aqui, Andrew tinha que ser o escolhido? Se tem uma coisa que eu não quero fazer agora é falar com ele.

-Eu sei como é ficar assim. –Andrew se senta do meu lado. Permissão morreu no dia em que ele nasceu. Educação foi junto. –Eu cresci com uma família adotiva na Alemanha, então Marcus me achou e me levou para a Rússia, a base de operações especiais. E eu soube que eu era um Hanburg, e você, uma Clemendon. Estamos destinados a ficar juntos. As duas linhagens mais puras de Grandes.

-Você se importaria em não falar sobre isso agora? –Ponho minha cabeça entre os joelhos, tentando acalmar meu organismo para não vomitar na frente dele. –Eu quero dar um tempo nessa coisa de Grande. Eu sou Ellie, não Helena Clemendon. Meu sangue pode ser o que ele quiser, mas eu me conheço suficientemente bem para te garantir que eu não nasci para nada extraordinário.

-O simples fato de você ter a alma da Mensageira não te diz nada? –Olhei para ele com aquela cara “Vou te matar”. –Tudo bem, desculpe. Qual é sua comida favorita?

Bela mudança de assunto.

-Por que a curiosidade?

-Porque eu quero te levar para comer. Eu sei que ainda nem são sete da manhã, mas você deve estar cansada de correr como louca, e eu quero comer alguma coisa. Minha moto está ali atrás, vamos?

Olho para a cara dele. Esse cara tentou me matar, deu encima de mim, liberou meus poderes, confessou ser meu noivo e agora está aqui. Ele tem que sofrer de dupla personalidade. Mas minha barriga já está me incomodando. Claro, eu teria que ingerir uma garrafa de hidrotônico, mas eu ainda assim comeria. E já estava de bom tamanho.

-Panquecas, omelete com bacon e uma taça de sorvete de baunilha. E eu estou sem dinheiro. E quero beber muito café. –Levanto-me, limpando aquele macacão. –E, talvez...

-Uma nova roupa. Entendi. Vamos? –Andrew me oferece a mão, e eu pego. Andamos até a moto. –Quer guiar?

-O que? Não. Eu não sei dirigir. –Afasto-me.

-Eu estarei atrás. Vem, medrosa. –Andrew subiu na parte de trás e eu me assentei. Ele começou a me explicar o que era cada coisa.

-OK. Acho que já consigo. –Digo depois de uns minutos.

Surpreendentemente, eu consigo sem problemas. Andamos até o centro dessa cidadezinha. Achamos uma lojinha com roupas frescas e entramos. Vou aos vestidos.

-Não. Você não vai querer usar vestido hoje. Aqui. –Fomos aos shorts. Andrew pegou um short jeans claro tamanho 38. –Veste esse e coloca uma blusa. Eu vou ver uma bermuda e uma camiseta. Venho aqui em dez minutos.

-Como sabia que eu visto 38?

-Eu sei mais do que você pensa. –Ele riu. Eu olhei para ele, ainda esperando uma resposta. – Minha irmã tem mais ou menos sua forma, só que tem menos curvas e mais gordura. Ela tem doze anos.

Andrew tem irmã? Nunca pensei nele como um cara de família. Será que ela já vivia com ele na casa adotiva? Vejo uma blusa branca colada e escolho uma blusa xadrez para combinar. Visto as duas e vejo que ficou bom. Refaço minha trança embutida e vou encontra Andrew, que já está com uma bermuda e uma blusa que deixa bem claro o quanto ele faz academia. O corpo dele é quase tão bonito quanto o daquele ator... Taylor Lautner. E o rosto compensa mais.

-Tudo bem? –Andrew diz. Percebo que estou olhando demais para ele. Desvio o olhar e vou até os tênis. Havia um puma lindo, do meu tamanho. –Este é bonito. –Ele aprova.

Coloco e vejo que ficaram bons. Vamos ao caixa e Andrew paga por tudo.

-Eu te pago tudo depois. Prometo. –Digo meio envergonhada por depender dele para tudo.

-Não se preocupe. Este será o primeiro presente de muitos, Ellie. –Vamos á moto. Não acredito que ele disse isso. Ele realmente planeja uma união a longo prazo. Sento-me no lugar do motorista e Andrew sussurra em meus ouvidos. –Por falar nisso, pode olhar o que já é seu.

Congelo no meu lugar. Será que nada passa despercebido pelo olhar dele? Eu tenho certeza que ele falava da hora em que eu encarei a camisa dele. Tenho certeza.

-Não entendi. –Finjo.

-Você também tem um corpão. Vamos? –Ai que vergonha!

Vamos em silêncio a uma cafeteria. Sentamos à uma mesa mais afastada, com uma vista linda para um porto. Olho o cardápio e constato que poderia comer tudo o que está ali. Para começar, um cappuccino com muito chantilly, uns ovos mexidos com bacon e uma porção de panquecas. A última vez que eu havia comido foi no café da manhã de ontem, há quase 24 horas. A atendente chega e Andrew pede o mesmo.

-Você gostava de viver nos EUA? –Andrew pergunta.

-Era bom. Eu vivia para aprender e fazer o que quisesse, mas eu tinha menos contato com as pessoas. Não fazia falta na época, mas agora eu percebo o que estava perdendo.

-Nenhum namorado?

-Nada nem perto.

-Então você não havia beijado ninguém antes do Thiago? –Agora ele parece nervoso. Eu brinco com isso ou não? Sim, definitivamente.

-Não. Mas não se preocupe, Thiago é um ótimo professor. O jeito que a língua dele...

-Tá bom, pode parar. –Andrew diz, me fazendo rir. Esse ciúme era doentio.

-Ei, eu já tinha beijado outros caras sim, só nunca namorei. E nunca mais vou namorar. –Acrescento, bebendo o café.

-Tem razão, não namoraremos antes de casar. –Andrew diz, apesar de ter entendido que eu apenas me referi ao fato de que não teria outro homem na vida.

-Eu não me casarei com outro homem que não seja Thiago. Ele é a pessoa certa para mim. Eu o amo. –A comida chega e eu como um pouco das panquecas.

-Só não sei qual é a graça dele. –Andrew dá uma garfada em seu bacon.

-Isso é porque você não é mulher. Ele é lindo, gentil, carinhoso, tem pegada... E, além de tudo, você tem essa teoria maluca que o Thiago me roubou de você.

-Quer esses tomates dessa omelete? –Pego os tomates da omelete de Andrew e passo meu bacon para ele. Essa coisa é muito salgada. –Obrigado. Eu só acho que nós dois faríamos um casal bem melhor.

-É uma questão de opinião. Quer o resto dessas panquecas? –Andrew pega o resto das panquecas, para que eu termine minha omelete em paz. Eu pedi muita comida.

-Sabia que você não conseguiria comer tanto assim. Mas, como você pode comparar sem ter me namorado?

-Eu só sei que nada é melhor que o Thiago, ok? E o que você quer? Uma chance? –Bebo o resto do café e peço uma água.

-Exatamente. Dê-me o dia de hoje para te provar que eu posso ser melhor que ele. –A água chega. Andrew entrega o cartão para a atendente.

-E se você não conseguir? –Bebo água e ofereço para Andrew, ele puxa a garrafa e bebe um pouco.

-Eu paro de te encher o saco sobre ele.

-E tenta ser meu amigo? –Ele devolve a garrafa e eu bebo mais água. Que calor é esse?

-Claro. Trato?

-Trato.

-Ótimo, vamos comprar roupas de banho. –Andrew se levanta e me puxa.

-Para que?

-Quer velejar sem roupas de banho?



Velejamos até uma ilhazinha na costa. Andrew me ensinou tudo o que havia para saber sobre barcos.

-Venha. –Ele desce e me ajuda. –É melhor deixar os sapatos e a blusa aí. Vem.

Fico apenas de short e saio. Mal piso na areia e Andrew já me carrega e me leva para a água.

-Andrew! Que brincadeira de mau gosto!

Ele me ignora totalmente e vai para onde a água bate em sua clavícula, me afundando ali e me dando um caldo. Embaixo da água, eu tento sair de seus braços, mas ele me prende ao seu peito e fica um tempo lá.

Quando eu bato em sua barriga, desesperada por ar, ele sobe à superfície, mas ainda não me larga. Percebo que já estamos em uma parte muito mais profunda, uma vez que os pés dele não se encostam à areia. Passo os braços ao redor do pescoço dele.

-Por favor, não pare de bater os pés. –Andrew me mantém grudada á seu peito, com as mãos em minha cintura.

-Eu nunca te colocaria em perigo, Ellie. Pode relaxar. –Afrouxo a pressão de minhas mãos em seu pescoço, mais calma. O sol está forte, uma vez que estamos no meio da tarde. –Quer boiar?

-Não me lembro muito bem como é.

-Fique na horizontal. –Separo meu corpo do dele e fico na horizontal na água. –Relaxe.

Andrew me guia e eu acabo boiando por um tempo, de olhos fechados. Então sinto suas mãos em meus pés, me puxando para baixo. Afundamos na água e Andrew tenta me prender. Não dessa vez, amigo.

Acabo girando e chegando ás costas dele, onde passo minhas pernas por sua cintura e meus braços por seu ombro. Andrew emerge.

-OK. Desisto. –Ele tenta soltar minha coxa de sua cintura.

-Desiste mesmo, perdedor?

-Desisto. –Ele ri e eu me solto, nadando até ficarmos um em frente ao outro. Então ele me prende novamente junto de si. Percebo que estou gelada, e ele também. –Ellie, tudo bem? Você está como um picolé.

-Deve ser uma coisa momentânea. Uma corrida até a areia?

Andrew já nada rapidamente e eu vou atrás. Com muito esforço, consigo alcançá-lo, e chegamos ao mesmo tempo.

-Quem ganhou? –Andrew arfa, deitando-se de costas.

-Eu. –Minto, tentando acalmar minha respiração.

-Sua mentirosa. –Andrew se vira para mim. –Deu empate. –Então ele faz cócegas em mim. –Admita!

-Não! Eu ganhei!

-Admita! –Ele aumenta as cócegas até eu desistir.

-OK! Foi empate! –Andrew pára, ajoelhando-se ao meu lado. Eu levanto meu tronco.

-Melhor.

-Quer escalar? –Pergunto.

-Claro. Vem logo! –Ele se levanta e me puxa.

Corremos lado a lado.



A tarde foi realmente muito boa. Voltamos para o porto ensopados, e Andrew pega a moto. Eu me diverti muito esta tarde. Mas, ainda assim, não senti como se fôssemos namorados, mas sim... Irmãos. Não me parecia realmente que Andrew era algo além de um irmão para mim. Era natural conversar com ele, me divertir, mas nada além. Quase tive ânsia de vômito toda vez que ele insinuava que deveríamos nos casar.

Chegando à escola, Thiago estava parado no portão, me esperando. Quando me viu, veio correndo para mim. Eu saí da moto e corri para ele, pulando em seus braços e enrolando minhas pernas em sua cintura.

-Ellie, eu não te encontrei. Fiquei aqui te esperando o dia inteiro...

-Shhh... –Dou um selinho nele. –Estou aqui agora. –Dou mais um selinho. –E morri de saudades de você.

Thiago me beija e introduz sua língua em minha boca. Como eu senti saudade desse gosto. Thiago tem um sabor fresco único, que me parece quente ao mesmo tempo. O cabelo dele é macio, como eu nunca vi antes. A boca dele parece se moldar perfeitamente à minha, e o corpo dele foi feito para se encaixar ao meu. Adoro admitir que fazemos um belo casal. Ele se afasta e encosta nossas testas.

-Eu te amo. –Ele sussurra.

-Eu te amo mais. –Dou mais um selinho e desengancho minhas pernas da cintura dele. –Andrew, este é Thiago, meu namorado. Thiago, Andrew me ajudou muito hoje.

-Oi. –Diz Thiago, apertando a mão de Andrew.

-Oi. –Andrew aperta a de Thiago.

-Hoje vai ter um jogo de futebol. Quer entrar no meu time?

-Claro. –Andrew sorri para mim.

Ele e Thiago vão conversando e eu só fico abraçada ao meu namorado. Esses dois podem ser amigos.

“Ele não é má pessoa”. Falo para Thiago em meus pensamentos.

“Não. Não é, meu bem.” Thiago responde.

Sinto como se tudo estivesse certo. Andrew já é como um irmão para mim, enquanto Thiago é meu amor.

-Gente! –Lizzie vem correndo em minha direção. –Venham, por favor!

-O que foi Lizzie? –Pergunta Thiago.

-É o Will! Ele está passando mal! Ellie, acho que ele precisa muito de ajuda!


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.