A Mensageira

Capítulo 13 - O que é isso?


O melhor é não pensar muito nisso. Magia negra, família verdadeira, novo namorado... É muito para assimilar ao mesmo tempo. Sabe o que eu quero? Curtir o Thiago, isso sim.

Guardo os livros e volto para meu quarto, onde acho Thiago dormindo. Aproximo-me dele e passo as mãos em seus cabelos, tirando-os de sua face. Acho que ele já deve ter treinamento para esse tipo de situação, porque, mais rápido do que nunca, ele segurou minhas mãos e prendeu-as ao lado do meu corpo. Quando viu que era eu, se acalmou e ergueu mais o tronco, se posicionando melhor.

-Ellie, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

Não. Nada. Ainda. Levei meu corpo mais para frente e rocei meu nariz no dele, indicando o que viria a seguir. Quando ele tentou se inclinar, eu soltei minhas mãos e prendi seu rosto, dizendo que ele deveria ficar quieto. Ele me obedeceu, mas levantou-me pelos quadris e nos colocou na cama, onde teríamos mais espaço. Então se inclinou para a cabeceira e me deixou continuar o que eu estava fazendo. Beijei de leve as maçãs de seu rosto, tentando memorizar cada parte dele. Minhas mãos foram ao seu abdome, pouco abaixo de seu peitoral. Ele era extremamente forte e definido (como se eu nunca me lembrasse disso só de olhar para ele).

Sem me demorar mais, levei meus lábios à sua boca, a qual ele trouxe para mais perto sem hesitar. Thiago me beijava com uma intensidade até mesmo superior à minha. Mordi sua boca um pouco, sem nem sequer pensar nisso. Então ele me puxou mai para si, esquecendo qualquer sinal de que deveria ficar quieto. As mãos dele ficaram na base de minha coluna e em meu pescoço. Ele realmente sabia fazer uma garota obedecê-lo. Dessa vez tive o dobro de dificuldade, mas consegui levar minhas mãos ao seu pescoço e acariciá-lo. Sei que esta é a parte onde ele prefere carinho porque as “ondas de sensações” são mais nítidas só de eu tocá-lo ali.

Ele me virou de lado na cama e foi um pouco para cima de mim, apoiando-se nos cotovelos para que eu não sentisse seu peso sobre meu corpo. Thiago estava mais quente do que o comum. Afastei meu rosto do seu em busca de ar e pude ver que suas bochechas estavam coradas. Deve ser pela temperatura. Quem mandou a Austrália ser tão quente? Olha para mim: falando de clima enquanto um cara como Thiago está beijando meu pescoço. Calma Ellie. Respira: um, dois, três...

-Thiago... Vamos parar por aqui. –Falo, antes de perder as estribeiras e não poder mais dizer nada. Ele dá mais uns beijinhos de leve em meu pescoço e decide parar. Ele se ergue, encosta na cabeceira e me puxa para o entre suas pernas, encostando minha cabeça e minhas costas em seu peito.

-Posso saber o motivo de você me atacar durante a noite? –Thiago ri.

-Na verdade, pode sim. Eu estava na biblioteca, pesquisando sobre meus pais...

-Seus pais?

-É. –Percebo que eu nem falei com ele sobre isso. –Eu sonhei com minha mãe, ela era mesmo uma Clemendon. Seu primeiro nome era Clarisse. Então eu quis saber mais sobre ela e fui à seção de livros que achei útil.

-Ellie, tem uma coisa que eu não te falei. –Thiago pareceu nem prestar atenção nessa última parte. –Os Clemendon quase sempre estão ligados a coisas proibidas para nós, Grandes. Eles...

-Trabalham com magia negra. Eu sei Thiago.

-Sabe? Desde quando?

-Desde hoje de madrugada. Foi uma das razões de eu decidir parar de pesquisar. Eu percebi que era demais para um dia e decidi vir para o quarto. Aí eu me lembrei que tinha um namorado lindo guardado perto da minha cama e decidi me aproveitar disso. –Virei-me um pouco para ele e beijei sua bochecha. –Fiz mal?

-Não. Pode se aproveitar quando quiser. Ellie. –Ele me abraça e beija minha cabeça. –Mas agora você precisa dormir. Amanhã começam os Jogos.

-Amanhã? Já? –Minha voz sobe uma oitava.

-É. Mas fica calma. Todos podem usar poderes. Para você será ainda mais fácil. Dorme meu bem. –Thiago saiu de trás de mim e me deitou. Ele ia se levantar da cama, mas eu segurei sua mão.

-Aonde você vai? –Pergunto quase adormecida.

-Não vou fugir Ellie. Só vou dormir no colchonete. –Ele ri e tenta se soltar. Não deixo.

-Essa cama é grande o suficiente para caber duas pessoas, e eu valho por meia. Vem.

Puxo a mão dele para mim e arredo para o lado. Thiago me puxa para seu peito e dorme um segundo depois. Eu não fico muito atrás.

Acordo com um selinho e mãos acariciando minha cintura.

-Pode abrir os olhos. Eu sei que você acordou Ellie. –Thiago diz. –Anda. Abre os olhos, Bela Adormecida.

Abro meus olhos de leve, recebendo uma forte luz no rosto. Ponho o braço na frente até perceber que Thiago se moveu para ficar entre mim e o Sol.

-Lizzie virá aqui em cinco minutos e disse que quer te ver de banho tomado. Ela quer te maquiar e fazer seu cabelo.

-Lizzie é louca. –Ponho o travesseiro no rosto.

-Isso é porque você não viu nossos uniformes desse ano. Lizzie desenhou. Parecemos mais super heróis que qualquer outra coisa. Só falta a capa.

-Capa é brega! –Lizzie entra, com um macacão de couro preto cheio de rasgos em áreas que eu preferia que ficassem cobertas, como coxa e cintura. –Gostou? A sua é assim também, seu cinto também é preto, mas seu broche é vermelho, para homenagear o fogo. Eu represento a água, o Will, o ar, e o Thiago, a terra. Você tem um broche em chamas no peito esquerdo. Lindo, não é?

-Vai com calma, Lizzie. Eu acabei de acordar. –Ponho as mãos na cabeça.

-Calma nada! Thiago, o Will está no quarto dele. Vai lá se arrumar. Ellie, banheiro.

Levanto-me e Thiago me dá um selinho antes de sair.

Depois de um banho, maquiagem à prova d’água e um rabo mais complicado que cabelo de noiva, eu ponho o macacão e botas de salto (é, salto. Mas sem preconceitos, eles são mais grossinhos para me ajudar a correr. Valeu Lizzie, isso realmente ajuda MUITO). Olho-me no espelho e me lembro de uma única vez na qual me senti tão bonita assim. Na festa da Melanie, quando o Jake morreu. Esse macacão dava volume aos lugares certos e me acentuava mais. O cabelo destacou meus olhos. Parecia que o broche nasceu em mim, de tão bonito que ficou. Lizzie estava perfeita, como sempre. Mas meu macacão... Tinha mais cortes do que o dela, mas não era indecente. Lindo.

Os meninos entraram e eu vi mais um pouco da perfeição. Will usava um macacão com uma abertura no peito que ressaltava cada músculo dele. Thiago, bom... Estava “Thiago”. Lindo, sedutor... Perfeito na produção. No espelho gigante do quarto, podia ver que parecíamos super-heróis.

Ao entrarmos na arena com Joe, todos ficaram boquiabertos. Cada Casa tinha direito a fazer uma roupa para si, mas nenhuma ficou minimamente bonita como as que Lizzie fez. A da Casa do Ar estava estranha. Havia penas para todo o lado. Mas nem de longe estava tão estranha quanto a da Casa da Terra, que fizeram uma roupa de lama. A do fogo parecia apenas exibir os corpos dos lutadores, enquanto a da água escondia demais. Fomos às nossas cadeiras com vista panorâmica da arena e vi a luta começar. Ar X Fogo. Uma coisa ficou bem clara para mim. Uma não, duas. As pessoas do fogo eram verdadeiros assassinos e Cam sabia como lutar. Por um momento, pensei ter visto a boca dele balbuciar: “Estou te esperando”, mas decidi não pensar nisso. Eu tenho que confessar, estou com medo que eles cheguem a final conosco.

Então eu o vi. Um adolescente, perto de um homem de terno que estava na ala do Conselho. Ao ver o rapaz loiro, meu coração saltou. O que é isso que eu estou sentindo?