A Mensageira

Capítulo 1 - Introdução


Não sou uma garota temperamental. Não mesmo. Mas, essa viagem é INSANA! Pela primeira vez, não consegui o que queria com meus pais. Quando minha mãe me disse: “Helena, nós vamos viajar para Sydney, na Austrália!”, eu devia saber que não seria uma boa idéia. A frase já começou mal. Helena. Helena é muito formal. Ellie. Esse é o jeito certo de começar uma conversa sem me tirar do sério. Eu tenho problemas com mudanças, principalmente quando são para o outro lado do mundo. Eu sou muito certa, até chata ás vezes. Sou metódica, gosto de tudo como sempre foi. Vivo na mesma casa desde que nasci, ou quase. Ta legal, desde os quatro anos. Tenho aulas particulares desde os meus cinco anos, com os mesmos professores. Sou superdotada, mas nunca me preparam para isso. Dois meses na Austrália! Com minha mãe, meu pai, e meus irmãos mais novos. Um terror, uma sentença de morte. Dois meses é muito tempo!

Sem meus professores (que quase sempre faziam o que eu queria), sem minha casa, as aulas de piano, violão, violino, yoga, pilates, natação, latim, grego, italiano, inglês, árabe, francês, espanhol, hipismo, sem os horários da minha agenda... Os horários! Tudo ia mudar! Só com essa viagem aposto que já perdi o tempo de olhar notícias adolescentes e atualidades, fazer máscaras de beleza e até de meditar! “Olá, espinhas de estresse!”

Ah, pelo menos tenho minha seleção de músicas relaxantes. Agora estou escutando Roberta Sá, “Interessa”. Isso me relaxa. Adoro a voz dela, a melodia... Ah, quando ouço essa música penso em um casal perfeito, com uma casa branca com varandas e portas de vidro de correr. “De manhã me dá um beijo, quando sai para trabalhar. Adivinha meu desejo, traz...”

-Ellie, tente pelo menos fingir que está querendo interagir conosco. –Repreendeu mamãe.

-Oh, desculpe minha indelicadeza, Catharina. De que você gostaria de falar? Ah, já sei! Vamos falar sobre o quanto meu traseiro dói de ficar sentada neste avião! Ou sobre como essa viagem foi uma idéia perfeita, logo após o colégio dos seus filhos expulsar ambos! Ou até mesmo, sobre...

-Pare agora Helena! Só porque você não gostou da viagem, que mal começou, você não tem que encontrar defeitos e motivos para acabar com essa experiência. Você sabe que todo ano nós viajamos para um lugar novo, e este ano escolhemos a Austrália! Você não pensa nas novas oportunidades, nos GAROTOS...

-Pára mãe! Eu não quero conhecer ninguém, ta legal?

-Ellie, você tem dezesseis anos. Nunca namorou e nunca teve nada perto disso. Estuda sozinha e só socializa com seus professores de cinqüenta anos e conosco! Isso não é normal!

-Desculpe-me, mas eu me perdi. Quando foi que a conversa passou da viagem para a minha vida particular?

-Ellie, eu sou sua mãe. E estou dizendo, se você não se socializar com pessoas novas nessa viagem, diga ‘adeus’ ás suas aulas particulares e ‘olá’ ao colégio particular.

-O QUÊ? Mãe, isso é tão...

-Não discuta com sua mãe, Ellie. –Como é que até meu pai entrou na conversa?

-É Ellie, não discuta com sua mãe. –Falaram os gêmeos, em coro. Odeio Matheus e Henrique. São duas pestes! Nunca deviam ter nascido! E, cada dia menos, me obedecem como deveriam.

Respirando... 1, 2, 3... “Tira essa bermuda que eu quero você sério...” Eu amo Kid Abelha.

Tudo bem. Hora de pensar. Como eu vou fazer amigos na Austrália, se nem nos Estados Unidos eu consigo? Odeio aquele país. Nasci no Brasil e me mudei para lá aos quatro anos, antes dos gêmeos nascerem. Nunca me enturmei. Nunca fiz amigos da minha idade. E gostava da minha vida assim. Mas, agora, tenho que arrumar um novo amigo. Em dois meses. É um tempo muito curto!