- Olá Jesse! – Disse Paul, como se nada tivesse acontecido.

Do que eu estou falando, nada aconteceu, nada aconteceu.

Jesse estava com um rosto sombrio, e a sua cicatriz estava branca, quando eu digo branca, é branco mesmo.

- Jesse, o que faz aqui? – Eu perguntei.

Eu dei uma ajeitada na minha roupa e olhei para o Jesse, para ver o que ele iria responder.

- Eu vim falar com você. – Ele olhou de mim, para Paul, com um olhar que não era muito de felicidade, e continuou dizendo: - Mas pelo visto você está ocupada. E então, ele se virou e saiu porta a fora.

- Vocês não estão namorando, não é? – Perguntou Paul, para mim.

- Não. – Eu disse.

- Então, porque o ataque de ciúme dele?

Se as chances já não eram boas de eu e Jesse, nos reconciliarmos, imagina agora?

- Desculpe Paul. Mais eu preciso ir atrás dele. – Eu disse.

- Claro. – Disse Paul, com um olhar triste.

(...)

Então, aqui estou eu, parada na frente do edifício, onde Jesse mora.

Eu cheguei até a guarita, do edifício.

- Olá. – Eu disse para um senhor barrigudo, que estava sentado numa cadeira de balanço dentro da guarita. – O senhor sabe me dizer se o senhor Jesse de Silva, do 212 está em casa? É que eu preciso falar com ele. – Eu disse, tentando deixar a voz bem melosa, mais a voz que saiu da minha boca, parecia mais um pedido de socorro, do que uma voz melosa.

- Ele acabou de chegar, a senhorita é o que dele? – Ele perguntou para mim.

- Namorada. – Eu disse. Duvidando um pouco das minhas próprias palavras.

Eu vi o senhor pigarrear um pouco, e dizer:

- Pode subir.

- Obrigada.

Então, quando eu me afastei um pouco da guarita eu ouvi o porteiro falar bem baixinho:

- Eu sei que errado, mais ela merece saber.

O que, que eu mereço saber?

Eu deixei meu pensamento vagar um pouco e então, quando eu cheguei à porta do apartamento dele eu parei. Será que eu entro direto, ou bato na porta? Na minha casa, o Jesse chegou sem bater, porque na casa dele eu deveria bater?

Mais eu nunca tinha vindo na casa do Jesse, será que seria falta de educação chegar entrando? Eu pensei mais um pouco e então resolvi bater.

Bati três vezes na porta e então fiquei esperando que ele viesse abrir. Eu esperei uns 30 segundos e então a porta se abriu. Mais quem estava parado na porta, não era quem eu esperava.

- Oi, quem é você? – Perguntou uma mulher, que aparentava ter uns 22 anos. Tinha os cabelos ruivos e cacheados, estava com um vestido preto curto, e de pés descalço.

- Aqui é o apartamento do senhor Jesse de Silva? – Eu perguntei. Vai que eu tenha errado de porta. Nunca se sabe.

- É sim...

- Quem está ai na porta, Pri? - A voz de Jesse a interrompeu.

- Uma moça de uns 16 ou 17 anos. – Disse essa tal de Pri. Meu sangue já estava saltando das aveias, qualquer coisinha que ela dissesse podia-me fazer pular em seu pescoço. – E ela quer falar com você, amor.

Perai, um momento. Amor? Nessa hora eu entrei casa adentro, atrás do Jesse.

- Suzannah? – Disse ele ao me ver.

- Não, minha avó. Parece que você está mais ocupado do que eu, não é mesmo?

- Suzannah...

- Não, não precisa falar mais nada. Nós não estamos namorando mesmo, não é? Somos somente amigos, então eu te desejo muita sorte em sua vida sentimental, até mais.

Então eu saio do apartamento dele, e sem pensar eu peguei o telefone, e disquei o primeiro telefone que me veio a cabeça.

- Paul, tem como você vir me buscar aqui no apartamento do Jesse?

(...)

- Pode chorar Suze. Você precisa deixar seu lado sentimental um pouco livre. – Eu estava deitada no colo do Paul chorando e ele fazendo carinho em minha cabeça e me consolando.

Nós estávamos na sala da casa dele. Quem via essa cena, dele sentado no sofá e eu deitada com a cabeça em seu colo, podia até pensar que éramos namorados.

Nunca pensei que o Paul fosse tão sentimental assim, ele cuidava de mim, como se eu fosse algo quebradiço, que por qualquer coisinha poderia estar em pedaços. E o pior, é que com a cena que eu presenciei umas horas antes, eu poderia muito mesmo, ser algo quebradiço agora.

- Eu... Não entendo – Eu disse entre soluços – Ele não... Me ama mais.

- Você que terminou com ele, não foi? – Paul, me perguntou.

- Sim.

- Então você não precisa ficar chorando. – Ele passou as pontas dos dedos em meu rosto, enxugando as lágrimas. – Você é livre, e ele também é.

Quando Paul pronunciou aquelas palavras, parecia que o chão ia desabar diante dos meus pés. Paul tinha razão, eu que fui à idiota da história, eu havia terminado com o Jesse. E agora ele podia seguir a vida dele e eu a minha.

Mais se o Jesse ainda me amasse, não era uma separação besta que ia fazê-lo cair nos braços de outra, ou ia?

Como que eu me deixei chegar a esse ponto? Como eu pude separar-me de Jesse, ele era o homem ideal para mim, ou não era?

- Você acha... Que o Jesse nunca me amou? – Eu perguntei para Paul.

- Claro que ele te amou. – Paul disse.

Eu não sabia se acreditava no que ouvia ou no que sentia. Será mesmo que Jesse me amou, ou tudo não passou de falsidade?

Jesse não seria capaz de fazer isso comigo, seria? Todas as vezes que ele dizia que me amava, será que era de coração ou era puro fingimento?

Minha cabeça estava em um turbilhão de perguntas e respostas.

E foi pensando nessas perguntas e respostas que acabei adormecendo no colo do Paul.

(…)

- Acorda dorminhoca. – Eu senti uma mão passando no meu rosto e tirando o meu cabelo dos olhos.

Eu abri os olhos bem devagar, para tentar me acostumar com a claridade, e então eu enxerguei o Paul, me olhando.

- Oi, que horas são?

Eu perguntei me sentando na cama. Ops, eu disse cama? Eu me lembro de estar no sofá da sala, deitada no colo do Paul, e não em uma cama.

- São oito horas. – Disse Paul.

- Já oito da noite. Andy e minha mãe devem estar preocupados. – Eu disse me levantando da cama.

- São oito da manhã. Você dormiu aqui em casa.

- O QUÊ? – Eu dei um pulo enorme, ao ouvir isso. – Você não pode ta falando sério. – Ele começou a rir do meu estado de pânico e então disse:

- Não se preocupe. Ontem eu percebi que você não queria acordar, então eu te peguei no colo e te trouxe até aqui. Depois eu liguei para a sua casa e falei com sua mãe, e expliquei tudo o que tinha ocorrido e então ela disse tudo bem.

Eu não sabia nem o que dizer. Só o fato de minha mãe ter me deixado dormir na casa de uma pessoa do sexo oposto, já era de abalar qualquer um. Paul percebeu que eu não conseguia dizer nada e então ele perguntou:

- Suze, ta tudo bem?

- Eu ainda estou digerindo o fato de minha mãe ter me deixado dormir na casa de uma pessoa do sexo oposto. – E então ele começou a rir.

- Suze, deixa de manha, e senta ai logo. – E então eu fiz o que ele disse, me sentei na cama novamente. – Olha o que eu fiz pra você. – E então ele me entregou uma bandeja cheia de coisas deliciosas: Iogurte, suco, pão, bolacha, etc.

- Você fez? – Eu perguntei, duvidando.

- Sim. – Eu o olhei e ergui a sobrancelha em duvida. – Ta bom, ta bom, eu pedi para a Jandira fazer.

- Quem é Jandira? – Eu perguntei, tomando um gole de suco.

- A empregada. – Disse ele.

Como é bom ter dinheiro. Não precisa nem fazer o café da manhã, os outros fazem pra você.

- Deve ser bom, ter alguém que faça comida, que limpe as coisas pra você néh? – Eu disse, tomando outro gole de suco.

- Nem tanto. Enjoa não ter nada pra fazer. – Ele disse, dando de ombros.

E assim foi o meu café da manhã, ficamos conversando sobre coisas banais, e quando eu acabei de tomar café da manhã eu pedi para ele me levar em casa.

- Obrigada, por cuidar de mim. – Eu disse entrando em casa. E então a minha fixa caiu. – Que dia é hoje?

- Sexta.

- Ai, não acredito. Eu faltei aula de novo. – Eu disse com um ar de decepção na voz, mais ao mesmo tempo com um ar de felicidade. Vai entender…

- O que alguns dias seriam na vida de quem nunca falta aula? – Perguntou ele.

- Muita coisa. Eu tinha prova, sabia. Pra falar a verdade, eu e você tínhamos prova hoje. – Eu disse.

- Isso não é problema.

- Como não? – Eu disse em duvida.

- Suze, Suze, você que com todos os meus anos de experiência em faltar aula, eu não ia arrumar uma boa desculpa para faltar aula? – Disse ele, em tom brincalhão.

- Então, mestre em faltar aula, qual será a desculpa de nós dois faltarmos à prova? – Eu disse no mesmo tom brincalhão.

- Nós dois sofremos um acidente de bicicleta. – Disse ele.

- Que? Você tem certeza do que você esta dizendo?

- Olha o nosso atestado médico. – Ele disse tirando um papel do bolso. – Nós dois estávamos andando de bicicleta, e então caímos em uma poça de lama. Aí, umas pessoas viram e acharam que a gente tinha se machucado e nos levaram ao médico, então nós ficamos La até o horário de aula.

- Ta, e como iremos provar que caímos de bicicleta? Não temos nenhum arranham. – Eu disse o óbvio.

- Como eu mesmo disse, as pessoas acharam que a gente tinha se machucado.

- E quando foi o nosso “acidente de bicicleta”? – Eu perguntei, fazendo o sinal de aspas no ar.

- Hoje de manhã, antes da escola. – Disse ele. – Nós resolvemos acordar cedo para andar de bicicleta e então caímos. Fim. – Disse ele, sorrindo.

- Só você mesmo para inventar uma história dessas.

- Obrigado. – Disse ele.

Então eu me despedi dele, e fui achar algo para fazer. Já que eu não tinha ido na escola mesmo.