A viagem até a escola foi em completo silêncio. Assim que o Jesse parou o carro na frente da escola, eu dei tchau para ele e desci do carro.

- Suzannah, precisamos conversar. – Jesse, disse ao sair do carro e vir atrás de mim.

- Não precisamos. – Eu, disse andando para a entrada da escola.

- Claro que precisamos. – Ele disse, me puxando pelo braço e me virando de frente para ele.

- Eu já deixei tudo muito claro. – Eu, disse me libertando do seu aperto. – Seremos amigos agora.

- Eu não quero ser seu amigo, quero ser mais do que isso. – Ele disse.

- Então não será mais nada. – Eu disse. – Por que só isso podemos ser.

- Suzannah... – Ele tentou falar, mais eu o impedi.

- Estou atrasada. E não se esqueça da reuniãozinha de hoje. – Eu, disse me virando para poder entrar na escola.

Como eu não conseguia dizer mais nada, eu andei para dentro da escola e fui na direção do banheiro feminino.

Eu entrei no banheiro, mas não havia ninguém lá, o que era um milagre. Porque sempre havia uma ou outra menina se maquiando ou até mesmo focando, mais isso não vem ao caso. Depois de eu ter a certeza de que não tinha ninguém, eu me comecei a chorar descontrolavelmente.

- Porque está chorando?

- Que susto! – Eu gritei colocando a mão no peito.

Eu me virei para olhar quem havia chegado, então eu congelei, era o fantasma que estava no meu quarto ontem à noite. Ele não havia mudado em nada, estava com a mesma roupa e com o mesmo penteado, óbvio.

- Desculpe. Mais porque você está chorando? – Perguntou ele.

- Por nada. – Eu, disse enxugando as lágrimas. – Afinal, o que você está fazendo aqui? Você não disse que viria depois da aula?

- Eu sei que umas mulheres choram por nada, mais você não parece se encaixar nesse perfil, então você não estava chorando por nada. – Deduziu ele. – Eu estou aqui para te ver. – Disse ele.

- Sério? Não podia esperar até a tarde? – Perguntei desconfiada.

- Não. Estava com saudades. – Mais era só o que me faltava. Acabei de ter com o meu namorado, por causas de ciúmes. Tem outro cara que gosta de mim e faz de tudo para provocar. E agora, tem um fantasma que está atrás de mim. Sério? Será que eu entendi direito?

- Ok. Tenho que ir para a sala de aula. – Eu, disse ligando a torneira para poder lavar o rosto, que estava vermelho devido ao choro. – Se não eu começo a chorar novamente.

- Certo. – Então ele desmaterializou-se.

Eu lavei meu rosto e segui para a sala de aula.

Eu percebi que o professor já estava na sala de aula, então me apressei á entrar.

- Com licença. – Disse indo me sentar em uma carteira, mais como a vida é muito boa, a única carteira restante era ao lado do Paul.

- Chegando atrasada, néh? – Paul, sussurrou no meu ouvido assim que me sentei ao seu lado.

- Nem havia percebido que tinha chegado atrasada. – Disse com sarcasmo.

- Que isso, ta mal humorada? Somos amigos agora, não precisa me dar patada. – Ele disse, parecendo magoado.

- Hoje eu não estou em um bom dia, então é melhor nem falar comigo, a não ser que goste de levar patada. – Eu disse. Ele só revirou os olhos e me deixou em paz.

Eu tentei prestar atenção no que o professor dizia, mais não tinha como eu tirar o Jesse da minha cabeça. Ele era o meu oxigênio, sem ele eu morreria sufocada, mas o Jesse tinha que saber que eu não sou mulher de ter só amigas, que eu também tinha amigos, e eles me ajudam tanto quanto as mulheres.

Eu teria que parecer forte na frente do, Jesse. Nada de choro e nada de ficar de cabeça baixa, porque, bola pra frente que atrás vem gente.

Eu ia seguir a minha vida em diante, com ou sem o Jesse, disso eu tinha certeza.

- Suzannah, acorda. – Disse Paul, me tirando dos meus devaneios.

- Eu não estou dormindo. – Eu disse séria.

- Então me explica o motivo de todos terem saído menos você? – Indagou ele.

Eu olhei ao redor, e não havia mais ninguém, então o professor já devia ter liberado todos, para poderem ir para suas respectivas salas.

- Eu estava pensando. – Eu, disse me levantando e pegando meu material, que eu por sinal nem havia mexido ainda. – Vamos agora. – Eu disse, e saí andando na direção da porta.

- Obrigada Paul, por me acordar. – Ele disse, fazendo uma péssima imitação da minha voz.

Eu segui na direção da minha próxima aula. Quando cheguei à sala de aula, o professor de francês estava parado na porta me olhando, com um olhar nada amigável.

- Salut professeur. Je peux entrer? – (Oi professor. Posso entrar?) Eu disse em francês, para ver se acalmava a fera.

- Bien sûr. Plus sera la dernière fille. – (Claro. Mais será a última vez mocinha.) Disse ele.

Eu entrei, e fui me sentar ao lado de um menino loirinho.

Como era de se esperar, eu não prestei atenção em nenhum minuto da aula, a não ser quando eu levo uma bolada de papel nas costas. Eu me virei para ver quem tinha jogado a bola de papel, então vi a Cee Cee, me olhando e fazendo um gesto com a mão, para que eu abrisse o papel. Eu peguei o papel e me virei para frente, para poder ver o que tinha no papel.

Pode me contar tudo! Não esconda nada, NADA! O que ouve para você ficar assim abatida? Não me diga que o Paul te beijou e o Jesse descobriu! Você é uma cachorra mesmo, como pode deixar o Paul te beijar? Ah, não ! Você beijou o Paul, não ao contrário, foi isso né ? Agora você está sem coragem de contar para Jesse, pode deixar que eu o engano, pode deixar.

Ela é louca? Porque só pode. Como que através de uma folha de papel, ela chega em todas essas conclusões ? E o pior é que nem uma é verdade. Eu peguei a mesma folha que ela tinha escrito, e comecei a escrever:

Não aconteceu nada disso. O Paul não me beijou e nem eu beijei ele. E eu não estou abatida, é impressão sua.

Eu amassei a folha e atirei nela. Não deu um minuto e a folha acertou a minha cabeça. Eu abri o papel e comecei a ler:

Desculpe. Mas com certeza aconteceu alguma coisa. E você vai me contar.

Só o que faltava. Eu peguei a caneta e comecei a escrever:

Não vou não.

Eu embrulhei o papel e me preparei para arremessá-lo...

- Algum problema Srta Simon? – Perguntou o professor.

Ele devia estar bravo, pois não estava falando em francês.

- Não. Nada. – Eu disse.

Ele avançou na minha mão e tirou o papel de lá.

- Tem certeza? – Perguntou ele.

- uhumm. – Eu engoli em seco.

Ele esticou o braço esquerdo na direção da porta, e fez um sinal para que eu saísse.

- Vai adorar conversar com o diretor. – Disse ele, com o braço na direção da porta.

Eu peguei meu material e fui em direção à porta.

- Eu acompanho a Srta até lá. – Disse ele, vindo atrás de mim.

Mais que Merda! Porque será que eu só me meto em confusão? Eu não faço nada de mais. E o pior seria agüentar o Padre Dom, no meu ouvido, me enchendo o saco. Ele vai querer saber o motivo de eu ir pra sala dele e o porque de eu ter escrito aquilo no papel, porque eu já tinha a absoluta certeza de que ele iria ler o bilhete.

Nós já havíamos chegado à sala do Padre Dom, o professor se postou na frente da porta e começou a bater, então ouvimos uma voz dizer.

- Pode entrar.

Entramos na sala, e o Padre Dom estava sentado na sua cadeira atrás da mesa, assim que ele me viu, ele olhou para o professor de um jeito que dizia: “o que foi que ela aprontou?”, o que não me surpreendeu em nada, já que desde sempre, eu me meto em confusão.

O professor começou a explicar tudo o que havia acontecido, não deixou nem um detalhe. O Padre Dom, só escutava, sem dizer uma só palavra. Quando o professor concluiu tudo o que tinha para dizer, o Padre Dom pediu que ele se retirasse e me deixasse, então começou a enxurrada de perguntas.

- O que ouve? - Começou ele.

- Nada. – Mentir para um Padre poderia me custar alguns tijolinhos no céu.

- Suzannah, eu te conheço.

- Se me conhece, então porque pergunta? – Eu o indaguei.

- Sei que aconteceu alguma coisa. Você já não é assim faz tempo.

- Eu não posso negar o que eu sou. – Eu, disse cruzando os braços diante do peito.

- Suzannah, diga a verdade. – Pelo o tom de voz dele, ele não estava pedindo, ele estava mandando.

- Não aconteceu nada. E a propósito, os fantasmas da foto viram hoje aqui na escola, para conversar comigo, com o Paul e o Jesse. – Quando eu disse o nome do Jesse me deu um aperto no peito, parecia que faltava algo dentro de mim. Talvez quando eu deixei o Jesse, ele tenha ficado com algo de mim, o meu coração.

- É só por isso que você está assim? Não aconteceu mais nada?

- Nada. – Engoli em seco.

- Você e o Jesse, estão indo bem?

- Claro.

- Suzannah, não me esconda nada, ouviu bem?Nada. – Disse ele.

- Sim. – Disse tentando parecer calma.

- Ótimo. Agora vá.

- Ah, só mais uma coisa.

- O que?

- O senhor sabe os nomes deles?

- Dos fantasmas? – Não, dos 3 porquinhos.

- É. – Disse impaciente.

- Me deixa ver. – Ele abriu uma gaveta da mesa dele, e retirou de lá de dentro um papel, ele deu uma olhada e então disse: - Jonata, Jeferson e Patricia.

- Sabe me dizer qual é qual?

- Sim. A menina é claro que se chama Patricia, o rapaz de olhos cor de meu é Jonata e o de olhos verdes, é o Jeferson.

- Obrigada. Tchau.

Então o rapaz que me beijou, se chama Jonata, hmm interessante.

Eu saí da sala do Padre Dom, e fui direto para a sala de aula. Assim que cheguei lá, o professor me olhou com cara de nojo, e disse para que eu me sentasse. Eu fui para a minha carteira, e esperei que ele dispensasse a gente.

Não demorou muito, e o professor nos liberou.

Os restos das aulas foram à mesma chatice de sempre, nada que se pudesse aproveitar.

Na hora do almoço eu me juntei a Cee Cee e a Adam, que estavam sentado em uma mesa, comendo um tipo de pudim, que pelo o jeito a Cee Cee, não estava gostando.

- Oi. – Disseram os dois ao mesmo tempo.

- Oi. – Eu disse.

- Quer um pudim de leite? – perguntou Adam.

Cee Cee, me olhou assustada e fez um sinal com o dedo, para que eu não aceitasse.

- Quem foi que fez? – Eu perguntei.

- Eu. – Disse Adam. Agora eu entendia o motivo de ela não querer que eu comesse.

Adam cozinha igual a cara dele, mais como a Cee Cee era namorada dele, ela tinha que comer tudo o que preparava. Mais como ela era uma amiga e tanto, ela sempre me avisava, antes de eu comer qualquer coisa feita por ele. Sorte minha ter uma amiga assim, e azar dela ter um namorado desse.

- Não, muito obrigada. – Eu disse tentando mostrar indiferença.

- Agora pode me contar tudo! – Berrou Cee Cee.

- Não aconteceu na... - Quando eu ia terminar a frase, meu celular começou a tocar, salva pelo o gongo, ou não, porque assim que eu olhei o visor eu vi que era o Jesse, então era atender ou não atender.

- Não vai atender? – Perguntou Adam.

- Vou, eu acho. – Eu disse com celular nas mãos.

Eu optei por atender o celular, porque senão tinha que dar uma desculpa muito boa, do por que eu não atendi o celular.

- Alô? – Eu disse.

- Oi meu amor! – Disse o Jesse.

- A ligação ta ruim. Vai cair a ligação. – Eu desliguei o celular, e me virei para Cee Cee, dizendo: - Ops, caiu a ligação.

- Quem era? – Como essa menina é curiosa.

- É um guri que está correndo atrás de mim, e eu disse que não o quero. – Vocês estão de prova que eu não menti.

- Mais você gosta desse menino?

- Claro que não. – Eu engoli em seco.

- Claro que gosta. Estou vendo nos seus olhos. – Disse ela. – Você está assim, porque você não quer contar para o Jesse, que você gosta de outro guri. – Concluiu ela.

- Não é isso. – Então o meu celular tocou novamente. E para variar, era o Jesse.

- Alô? – Eu, disse depois de atender ao telefone.

- Eu sei que não caiu a ligação. – Disse ele.

- Sério? Então se prepare porque em menos de 5 segundos o telefone ira cair novamente. 1, 2, 3, 4 e... – Desliguei.

- 5. – Adam e Cee Cee, começaram a rir da minha performance ao telefone e eu sem querer comecei a rir também. Será que eu o estava esquecendo? Não pode ser. Ao mesmo tempo em que eu quero esquecer eu não quero.

Burra, burra, burra, como ser idiota Suzannah! – Eu gritei mentalmente, para mim mesma.

- Suze, você uma idiota. Como pode brincar com o sentimento do menino. – Disse Cee Cee.

- É Suze, ele deve ser legal. – Disse Adam.

- Ele é um amor. Mais não me merece. – Eu disse seca.

- Acabou de confessar que você gosta desse tal menino! – Cee Cee, me acusou.

- Não sonha, ta? – Eu parecia que tinha uma pedra entalada na minha garganta, e se eu tirasse ela de lá, com certeza eu iria jogar na cabeça da Cee Cee, ô se ia.

- Sei. – E então o assunto morreu ai.

Jesse não ligou mais, o que me deu uma angustia, porque eu queria ouvir a voz suave dele.

Depois desse pequeno detalhe, a irmã Ernestina apareceu e mandou todos para a sala de aula, e eu como uma boa aluna tive que obedecer.

Como pode você passar um dia inteirinho na escola e odiar cada minuto? Pois é, isso é possível. As aulas são uma droga, Cee Cee não está convencida sobre a minha história do “menino” que gosta de mim. E mesmo eu tentando não transparecer derrota, todos vêem que eu sou uma derrotada, e me perguntam o que aconteceu.

Mais como eu já sou profissional nesse ramo, eu apenas fiz o que eu faço melhor, menti, e em todas as vezes eles acreditaram.