Assim que Valéria saiu do saguão, foi direto à procura de Davi, ela só foi encontrá-lo no corredor dos quartos, mexendo em seu telefone.

–Davi.- chamou ela, furiosa.

–Oi Valéria.- ele respondeu, sorrindo.

–Pode ir tirando já esse sorrisinho do rosto!- falou ela.

–O que houve?

–Como assim "o que houve"? Tá tirando com a minha cara?

–Não Valéria, o que foi?

–Não pense que eu não sei o que você fez.

–E o que eu fiz.

Valéria explodiu.

–Eu sei que você estava de olho numa menina. Ficou olhando pra ela feito um apaixonado ou interessado nela!- ela berrou não muito alto pra não chamar atenção.

–O quê? Que menina?- Davi também se alterou.

–Eu sei lá, só sei que era uma garota bem alta, você encontrou com ela não sei como e ficou olhando pra ela feito um apaixonado.

–Espera ai, em primeiro lugar, eu não encontrei com ela. Acontece que ela tropeçou e eu fui ajudá-la a se levantar. Em segundo lugar, não era uma garota mais alta que eu, era uma garota da minha altura. E em terceiro lugar, como você pode achar que eu olhei com interesse pra ela se você nem ao menos estava lá?- Davi disse, agora mais calmo.

–Eu posso não ter visto, mas alguém me disse e me contou.

–Aposto que foi o idiota do Quico. Ah, mas ele vai se ver comigo!

–Não, não foi o Quico.

–Foi quem então?

–Ah, um homem que está aqui no navio, ele disse que viu tudo e foi me contar.

–Que homem?- Davi estava ficando sem paciência.

–Não sei, eu não perguntei o nome dele.

–E você acreditou em um desconhecido? Que homem é esse?

Valéria ficou pensando por alguns segundos, tentando lembrar de como esse cara era.

–Ah não sei, não perguntei o nome dele e nem prestei atenção no rosto dele.- ela respondeu.

–Então eu vou descobrir, nem que leve o dia todo!- Davi disse, saindo dali e pisando duro, sem deixar Valéria falar.

No dia seguinte, os passageiros ainda estavam reclamando da falta de comida do navio, mas Chaves, Botijão, Jaime e Laura ainda se recusavam a dizer que foram eles, pois sabiam que as consequências seriam ruins pra eles. Como o capitão do navio não se intimidou e nem tomou nenhuma providência, os passageiros estavam ameaçando nunca mais andar naquele navio e avisar outras pessoas para não avisarem também.

–Sabe o que eu estou achando? Que quem acabou com o estoque de comida foi aquele louco que ficava contando besteiras por aí.- disse um homem e Carmen ouviu.

–Desculpe, mas o que ele falou para o senhor?- perguntou ela.

–Que esse navio aqui é o Titanic reconstruído. Encontraram uma parte dele e fizeram esse outro. Mas isso é impossível.- respondeu o homem.

Fazia sentido, uma mentira dessas era algo que tinha a ver com o homem misterioso, mas tudo acabou quando apareceu um homem com um chapéu cinza, um casaco verde escuro um pouco grande pra ele e óculos.

Todos recuaram, pois nunca o viram lá antes.

–Boa tarde pessoal, eu sou o Detetive Severiano Espíndola e vim aqui atrás de um homem chamado Alonso, alguém conhece?- perguntou o homem.

–Detetive? Como assim?- perguntou um segurança do restaurante do navio enquanto as crianças só ouviam tudo.

–É. Sou um detetive, olha aqui.

O segurança examinou um pouco o documento do detetive, depois o devolveu.

–E por quê o senhor está correndo atrás desse homem?- quis saber o segurança.

–Ele é um homem procurado por muitas pessoas. Dizem que ele entrou nesse navio disfarçado de marinheiro, mas ele não é bem isso.

–Mas esse cruzeiro já está em alto mar faz dias, se ele entrou aqui no dia que todos aqui embarcaram, como o senhor veio procurá-lo somente agora?

–É porque eu vim aqui apenas para tirar umas férias, porém, enquanto descansava, meu assistente disse que muitas pessoas estavam enfurecidas pelas mentiras insanas que um homem contava. Então, eu vim procurar por ele.

–Bom, boa sorte em sua procura.

–Obrigado.

Então, o detetive passou a vasculhar, procurando Alonso por todo navio. Ele procurou quarto por quarto, nos banheiros, no saguão, no restaurante, em todos os lugares.

Quando ele já estava prestes a desistir, ele já ia retornando a seu quarto quando ele percebeu que ainda haveria um jeito de encontrar Alonso, pois o capitão talvez soubesse onde ele estava. Então, sem perder tempo, ele foi até o local onde o capitão estava e bateu na porta.

–Entre.- disse uma voz lá dentro.

Assim, quando ele entrou, viu dois homens, eles eram fisicamente diferentes um do outro, mas ele não conhecia o rosto de nenhum deles. E agora? Qual deles seria o capitão? E será que um deles saberia onde estava o homem que tanto procurava?

–Ér... com licença.- falou o detetive.

–Pois não.- disse o capitão da esquerda, que era o verdadeiro capitão.

–É que eu recebi uma queixa dizendo que um homem louco entrou aqui no navio clandestinamente. Então, eu vim capturá-lo, mas não o encontro em lugar nenhum.

–Ah, se é isso, não precisa ficar preocupado.

–Por quê? O senhor o viu?

–Vi sim.

–Onde ele está?- o detetive encheu-se de esperança.

–Calma, não precisa ficar com medo.- falou o capitão.

–Não estou com medo, estou ansioso.

–Mas não precisa ficar, ele não faz nada.

–Como sabe?

–Sabendo.

Severiano ficou desconfiado daquilo, como o capitão poderia ter tanta certeza que Alonso não era perigoso, embora louco? Será que aquele à sua frente era o tal Alonso? Só podia ser.

–Então venha comigo.- disse Severiano, algemando o capitão.

–Ei, o que o senhor está fazendo?- perguntou o capitão, aflito e confuso.

–O senhor sabe o que estou fazendo.

–Mas por quê?

–Cale a boca e venha.

E então, o detetive saiu de lá com o capitão algemado. Alguns passageiros que não sabiam como era Alonso, achavam que o capitão era mesmo o tal louco e aplaudiam, outros ficavam na dúvida, mas deixaram passar. Mas como será que vai ficar o navio e o cruzeiro agora sem o capitão no comando?