A Love That Hurts - CIP

Capítulo Único - Um Amor Que Machuca


Scorpia podia sentir o corpo formigar em expectativa. Claro, ela também sabia que se sentiria mal depois, mas no momento esse "detalhe" era irrelevante.

Felina tinha falado pelo comunicador há alguns minutos que queria vê-la "naquele lugar" em meia hora. Já fazia algum tempo que havia um "aquele lugar" em todas as locações nas quais precisavam ir em missão. Às vezes ele servia apenas para conversarem como pessoas normais e Felina desabafava sobre coisas que a estavam deixando frustrada ou simplesmente se permitia rir e brincar sem a pose de durona e debochada. E às vezes era algo a mais.

Scorpia gostava desses momentos mais que quaisquer outros na vida, amava conhecer esse lado mais leve e doce de sua gata selvagem. Fazia achar que todo o resto valia a pena.

O problema era que todo o resto era o que tinha na maior parte do tempo. Todo aquele deboche, cinismo e obsessão por controle e aprovação. Todo o desdém que Felina demonstrava ter com seus sentimentos, fazendo quase questão de maltratá-la na frente dos cadetes e outros capitães da força. Esse resto a fazia refletir se aqueles momentos eram o bastante.

Esse conflito interno atormentou sua cabeça por todo o caminho até um semicírculo de pedras altas naturalmente moldado pela natureza no topo da montanha onde montaram a base temporária d'A Horda, mas ao chegar lá se esforçou para limpar a mente. O que não era uma tarefa fácil já que ali era um lugar escondido que Felina encontrou quando estava explorando os terrenos mais elevados dali, como a gata selvagem e ousada que era. Ou seja, o ambiente era vazio, calmo e silencioso, a oficina perfeita para pensar no enorme tsunami de sentimentos que tanto a deixava mal.

— Oi, Scorpia. — Felina surgiu de repente, interrompendo suas divagações.

— Ah. Oi, gata selvagem. E aí? Como tá o seu dia hoje? — perguntou com seu jeitinho tímido enquanto olhava para a garota que fazia seu coração disparar.

— Prestes a ficar melhor. — Felina respondeu com um sorriso malicioso.

Aquelas palavras causaram uma revoada de borboletas dentro no estômago de Scorpia, pois a fizeram entender que esse era um dos dias em que haveria "algo a mais".

Felina sentou no colo da outra capitã da força, não se dando tempo para olhar o sorriso apaixonado e bobo dela ou acabaria pensando no quanto era fofo e ali não era lugar para pensar, ali era onde tudo o que atormentava sua mente se esvaia e ela não pensava em absolutamente nada. E o lugar não era a formação rochosa que as escondia do restante do esquadrão d'A Horda, e sim os braços, ou melhor, as garras de Scorpia. Aquela garota animada e espalhafatosa era seu único ponto de equilíbrio, a única pessoa que a fazia se sentir em paz mesmo que só por alguns minutos e no resto do tempo esse tornado de empolgação a deixasse louca de tão irritada.

Quando estavam assim tudo parecia desaparecer.

Felina não era muito de perder tempo, então logo as duas estavam vestindo apenas as roupas íntimas e deitadas no chão de terra, beijando-se com intensidade.

Foi necessário uma breve pausa para que ambas pudessem respirar e nesse momento seus rostos se afastaram alguns centímetros e elas puderam se olhar diretamente nos olhos.

— Eu te amo. — a confissão escapou dos lábios de Scorpia antes que ela pudesse pensar se era uma boa ideia expor aquilo.

Felina pensou em rir e dizer "como você é idiota", mas logo notou que isso era o tipo de coisa que costumava dizer para Adora. E quando dizia isso o que queria dizer na verdade era "eu também te amo". Constatar isso a deixou em pânico e a forma como reagiu não condizia em nada com o que estava sentindo naquele momento.

— Porque você tem sempre que cortar o clima sendo melosa desse jeito? — respondeu finalmente em um tom que misturava deboche e irritação.

— Eu… Me desculpa, eu não quis… — Scorpia começou a se desculpar mesmo sem saber o que dizer, mas foi interrompida por uma voz que vinha de uma camisa jogada no chão.

"Capitã da Força Felina, o Hordak quer te ver imediatamente na sala de comando."

Felina se esticou para pegar o comunicador preso no tecido e responder que já estava a caminho, então se levantou bem depressa e vestiu o uniforme de volta, tentando amenizar a selvageria de seu cabelo passando as mãos nele, depois se virou para Scorpia com superioridade e ordenou friamente.

— Vista-se e volte ao seu posto. Mais tarde terminaremos isso. Talvez.

Scorpia a observou ir embora sem sequer olhar para trás, então recolheu suas roupas e sua dignidade do chão enquanto sentia os primeiros soluços de choro subirem por sua garganta. A resposta para seus devaneios de quarenta minutos atrás estava ali: aquilo não era o bastante. Talvez fosse a hora de deixar tudo isso para trás e ir embora.

O problema era que ficar ali machucava o seu coração, mas pensar em desistir de Felina o dilacerava. Não parecia haver uma solução porque de um jeito ou de outro aquele era um amor que machucava.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.