Becky’s POV

A última coisa de que me lembro, foi de sentir alguma coisa atravessar meu abdômen. Lembro de uma dor agonizante, quase insuportável. O local onde a bala atingira queimava, ardia e sangrava muito. Lembro de ter tentado dizer algo a Jimmy, mas qualquer esforço fazia com que meu corpo estremecesse, doesse de uma forma absurda. Eu apaguei.

Jimmy’s POV

O hospital nunca parecera tão assustador. Quando chegamos, estava quase vazio, exceto por alguns pacientes que caminhavam feito zumbis acompanhados de enfermeiras.

Que eu me lembre, nunca havia estado na ala de cirurgia daquele lugar e algo me dizia que eu não gostaria de voltar ali. Na sala de espera, Matt e Val estavam sentados em um sofá, imóveis. Syn e Zacky haviam ido comprar alguma coisa para comer e Johnny havia ido ao banheiro. Eu andava de um lado para o outro da sala, impaciente.

Minha mente não se acalmava de jeito nenhum. As imagens do sangue de Becky em minhas mãos continuavam a se repetir em minha mente. Tudo vai ficar Jimmy, tudo vai ficar bem.

–JIMMY! – Ouvi uma voz, Jane vinha vindo em minha direção acompanhada de um homem alto, de cabelos castanhos grisalhos e olhos castanhos acolhedores. Matt e Val se levantaram.

–J-Jane – Não conseguia olhá-la, eu fitava o chão. De certa forma, o que acontecera fora culpa minha.

–Jimmy... – ela tinha dificuldade em falar e tremia. O rapaz a abraçava. – O que... O que aconteceu? Vai... Vai ficar tudo bem? Cadê a Rebecca? Eu quero vê-la! – ela quase gritava.

–Jane, calma – disse o rapaz.

–Não Peter! Eu quero ver minha filha! Isso é culpa sua Jimmy! Foi... Foi só ela sair com você e olha o que aconteceu – ela chorava feito uma criança – Tudo culpa sua! Quando ela namorava o Daniel... Estava tudo bem! – Ai, essa doeu.

–Sra. Johnson – era Matt – Jimmy não tem culpa do que aconteceu, ele foi desarmar aquele filho da... Aquele desgraçado. Foi um acidente. Jimmy estava...

–Não me venha defender seu amigo! Foi tudo culpa dele – ela soluçava – Minha filha... Minha Rebecca... – ela murmurava.

–Sra. Johnson eu... Não foi culpa minha. Eu estou tão preocupado com a Becky quanto a senhora!

–Ah eu imagino! – ela gritou.

–Venha Jane – disse o tal Peter a ela – Vamos você está nervosa, vamos pegar uma água – a segurou pelo braço e se afastou, observei os dois até desaparecerem de vista.

–MAS QUE PORRA! – Matt gritou.

–Matt, isso é um hospital – disse Val.

–Ela nem sabe o que aconteceu – Vi que Matt estava se controlando para não gritar outra vez – Fica falando essas merdas! Você tentou defender a filha dela, caralho! Que culpa você teve se a bala acertou a Becky? Nenhuma! Que filha da puta! – Eu ainda fitava o nada – FALA ALGUMA COISA REV!

–Foi minha culpa – consegui dizer.

–AH, ATÉ VOCÊ?! NÃO FOI SUA CULPA! MAS QUE MERDA! – ele se jogou no sofá, irritado.

Eu me sentei no sofá lentamente, meu corpo pesava. Vi três formas se aproximando, eram Zacky, Syn e Johnny. Val se sentou ao meu lado, colocando a mão em meu ombro.

–Jimmy, não foi culpa sua, tudo bem? Não foi mesmo, acidentes acontecem – ela deu um sorriso leve. Fitei seus olhos castanhos por um instante. Eram aconchegantes e sinceros. Ela me abraçou e depois, se sentou ao lado de Matt.

A voz de Matt, Syn, Zacky e Johnny xingando indignados a sra. Johnson soavam distantes para mim. Logo, tudo o que conseguia pensar era se os médicos conseguiriam fazer a cirurgia a tempo.

Becky’s POV

A dor cessou. Abri os olhos lentamente e olhei à minha volta. Tudo era branco. Eu estava deitada no chão, mas ele não era frio. Nem quente. Era só... um chão. Me levantei atordoada e me olhei. Eu estava com roupa de hospital, descalça e com tubos finos nos braços, daqueles que se usa para tomar soro pela veia, ou tirar sangue.

Passei a mão em meu abdômen e ele estava normal. Não havia nenhum sinal de que eu fora baleada. Caminhei lentamente, sempre à frente. Não sabia para onde estava indo. Só sentia que devia seguir em frente. Tudo continuava branco. Sem relevo e sem sinal algum de que havia alguma coisa naquele lugar.

–Eu estou... Morta? – sussurrei.

–Ah não, só anestesiada – disse uma voz. Apertei os olhos, vasculhando o local à minha volta, procurando de onde viera aquela voz, mas não vi nada.

–Quem disse isso? – perguntei.

–Ah, você não se lembra de mim? Você sonhou comigo uma vez – Sonhei com... Jimmy?

–Jimmy?

–Que menina esperta! – Ouvi uma risada. Apertei os olhos mais uma vez e vi uma figura alta de aproximando. Usava um terno branco, seus cabelos negros caídos e seus olhos azuis brilhando.

–Como vai Rebecca? – eu não acreditava no que via.

–Que palhaçada é essa? Mas o quê...

–Você não respondeu minha pergunta garota – ele disse sorrindo.

–Estou... Bem, eu acho. Jimmy... Mas... O que é isso?

–Isso... É tipo sua consciência – ele sorriu outra vez.

–O quê? Fala sério...

–Acredite se quiser. Ouvi dizer que é isso que acontece quando as pessoas estão anestesiadas em uma mesa de cirurgia – ele deu uma gargalhada trovejante.

–E... Por que você está na minha consciência? – perguntei.

–Oras! Você não para de pensar em mim!

–O quê?! Eu sonhei com você UMA vez...

–Eu não entendo por que você está me tratando como um estranho Becky! Sou tão Jimmy quanto o Jimmy que vive com você.

–Ah não, você é uma versão sonho do Jimmy! Nem vem com essa.

–Ah, tanto faz. Mas então, o que quer fazer nesse tempo em que está anestesiada? – eu hesitei um momento.

–Hmm, o que foi aquele meu sonho? Com a sua morte? Vai ser...

–Ah, o tempo de anestesia acabou! Que pena! Vejo você na próxima Becky! – ele se aproximou de mim, me deu um beijo na testa e desapareceu. Procurei por ele, mas tudo estava branco e vazio outra vez. Senti uma dor me invadir. Meu abdômen. Caí no chão.

O branco foi se dispersando como névoa, tudo foi ficando colorido outra vez. Ou quase. Quando me dei conta, estava deitada em uma cama confortável. Podia ouvir uma música suave ao fundo. Abri os olhos lentamente. A cama era de frente a uma televisão fortemente segura em um suporte na parede. O quarto era claro. Havia uma grande janela à esquerda com cortinas brancas, uma mesa na minha direita onde havia flores e, do outro lado, um aparelho medindo minha freqüência cardíaca.

–Que bom que acordou – antes que eu perguntasse, senti lábios suaves beijarem minha testa. Jimmy me fitava sorrindo.