Fuck you, fuck you, fuck you
And all we've been through
I said leave it, leave it, leave it
There's nothing in you
And did you hate me, hate me, hate me, hate me so good
That you just let me out, let me out, let me out
Of this hell when you're around
Let me out, let me out, let me out
Hell when you're around
Let me out, let me out, let me out

–Damien Rice, Rootless Tree

Umas das perguntas que me veem a mente a é: “Pra quê? Por quê? Eu!”. Tantas outras pessoas poderiam estar agora ocupando meu espaço aqui na terra, fazendo algo útil, salvando vidas, ensinando crianças, ajudando os mais necessitados, mas não! Eu tive que vir no lugar deles, apenas para ser um peso, para não fazer nada útil, ser verdadeiramente um peso morto, uma vírgula errada em um texto, uma bola no meio de tantos quadrados.

Analisando minha vida e sua inutilidade, foi assim que passei minhas quarenta e oito horas enquanto estava enfiada dentro de um tronco qualquer de uma árvore, tentando desesperadamente fugir do frio que tomava de conta da floreta lá fora. O dia fora fácil aguentar, os raios solares que penetravam por entre as copas das arvores carregadas de neves, serviam para me esquentar, e quando chegava à noite, queria desesperadamente poder voltar para aquela maldita cabana, voltar para a maldita da Kate e poder me esquentar.

Tive novamente aquele pesadelo, que me assombrava por meses, e a sensação de acordar e perceber que você está ali, vivendo o seu tão temido pesadelo é a pior de todas as coisas, nesse caso a morte não passaria de um simples arranhão.

Minhas quarenta e oito horas já estavam acabando, partindo agora para as setenta e duas. E o que eu queria neste momento era apenas que alguém pusesse um fim nisso. Já aguentara de tudo nessa vida, a perda de um amor, a depressão, a amargura da vida e agora, a morte!

Sempre tive aquela ideia besta de que se um dia eu fosse morrer, quando estivesse preste a dar o meu ultimo suspiro, uma luz alva apareceria para mim e alguém sairia de lá, me estenderia à mão e dissesse que finalmente, tudo, tudo quanto é dor teria o fim. Ou a imagem de um anjo negro, segurando uma foice, e me arrastando para inferno. Mas não, minha ideia estava errada, não de que iria morrer, mas depois do ultimo suspiro. Nada de luz, mão ou de anjos vestido de preto segurando uma foice, nada disso. O que tinha era branco por ali era apenas a neve, tão gelada e tão atraente, tão linda e tão maldita.

Tremendo, rangendo os dentes, não sentia meus pés, minhas pernas, e já começara perder a sensibilidade das mãos. Podia sentir ela me chamar, sussurrando meu nome “Diana, Diana” quase como um canção. Sabe quando vão tirar um curativo e você pede pra ser rápido e preciso, pois não quer sentir a dor, assim mesmo é a morte, você quer que seja rápida, para não sentir dor, para que ao menos no seu fim, você possa ter paz!

Encolhida, dentro de um tronco, neve caindo, um frio denso, e uma voz! “Não! Por favor, não” Uma voz familiar. Recostada com a cabeça, prestes a ter o meu fim, e um anjo da morte, ou a mão da luz veio me salvar. Estava cansada demais, fechei meus olhos e dormi. Tive paz.

*JOHN*

“Cadê ela? Vamos seu bando de incompetentes, achem-na, eu preciso da minha Diana, não parem de procurar, eu quero ela viva”

“Chefe, já está tarde, já fazem mais de dois dias que ela está nessa floresta, e nenhum sinal, nada, você ainda tem esperança de encontra-la viva?” Diz Pedro, eu braço direito.

“Eu espero que sim Pedro, eu não posso me permitir perder Diana novamente, de novo não, sua segunda perder seria demais para mim” – Digo enquanto uma lágrima desce pelo meu rosto.

Depois de horas, e horas procurando, nada! Não achei absolutamente nada que pudesse me dar uma dica de onde Diana estava. Desejava com toda minha alma, que estivesse segura, em um lugar quente, protegida dessa neve. Mas a parte racional do meu cérebro dizia o contrário, que ter esperanças era algo inútil. Metade de mim esperava não encontrar Diana, outra metade tinha esperanças. E foi quando alguém veio correndo ao meu encontro.

“Chefe, eu achei ela, eu achei”.

“Onde? Cadê ela? Me leve até ela agoraa!” Dou a ordem.

Quando chego ao local onde Diana fora encontrada, meu coração se apertou e me perguntei internamente, como poderia ter deixado aquilo acontecer a ela. Eu que lhe jurei amor eterno, que jurei lhe proteger, cuidar, dar carinho, proteger. O cenário era deplorável, Diana estava suja, devido ao contato com o tronco podre da arvore onde ela foi encontrada. Suas roupas estavam rasgadas, e para fugir do frio cobriu-se com folhas que deve ter encontrado pelo caminho que andou até chegar ali.

“Rápido seus idiotas, a tirem daí, está frio demais. Você veja se ela está respirando”.

Enquanto a estão tirando de dentro do tronco, verificam se ela esta respirando, para meu alívio, ela está. É como estivessem tirando uma estaca dentre meu peito, o meu amor, minha razão de viver, meu ar, minha vida, está viva.

“Tragam o carro e cobertores, tirem-na dai, a levem para a casa, já estou indo, tenho que fazer uma coisa” Digo dando a ordem para meus empregados.

“Certo chefe.” Diz Pedro.

***

Estou de volta à cabana. Um arrepio percorre minha espinha, meu subconsciente diz para eu não entrar, porém, minha parte insana fala mais alto. Eu entro.

Uma cama desarrumada, garrafas vazias jogadas no chão, e perto da lareira quase apagada, uma poça de sangue, o sangue de Kate. Uma lagrima, a enxugo rapidamente, não é hora e nem momento para arrependimentos.

Dando uma vistoria na cabana, encontro um pacote em cima da lareira, com remetente a mim. O abro, uma câmera filmadora e um bilhete, era de Kate.

“Meu amado John, se você está lendo esse bilhete é por que já não estou mais presente, antes que veja ao vídeo quero que saiba que, eu realmente a amei, amei com todas minhas forças, bem que você me disse que “é simplesmente impossível não conseguir ama-la”, e como você tinha razão. Eu amei Diana, e ainda a amo, assim como amo você.

De sua eterna “ferrugem”

Kate”

“O que essa maldita vez?!” Só consegui pensar nisso. Retiro a filmadora de dentro do pacote, a ligo e ...

“Aquela filha da puta maldita, eu deveria ter arrancado o coração dela e dado para os lobos, malditaaa” Grito com todas as minhas forças, não acreditava no que acabara de ver, não, ela não fez isso, eu confiei nela, como ela pode ter feito isso. Mereceu morrer. Larguei a filmadora ali mesmo e fui embora, não terminei de ver o vídeo, não consegui, meu estômago estava embrulhado. A raiva era tamanha que mataria qualquer um que visse agora.

***

Chego à casa grande e vou diretamente para o quarto de Diana, entro no quarto e lá estava minha doce e amada Diana, aaah como ela era linda até mesmo dormindo, tão plena, tão suave, parece finalmente tivera encontrado paz, paz para todo aquele tormento que passou. Se tivesse o poder de parar o tempo, ali seria o momento ideal, pausaria o mundo eternamente ali naquela cena, onde Diana estava em paz, e novamente era minha, só minha. Aproximo-me da cama, sento-me ali perto e lá fico, observando, admirando, idolatrando. Um anjo. Aquela distância estava me consumindo tão rápido como o fogo consome palha seca. Diana estava ali, tão perto e tão longe, queria poder tê-la em meus braços, beija-la e ama-la tão intensamente que o universo pararia apenas para nos observar.

Depois de horas ali sentado, olhando Diana querendo desesperadamente que ela acordasse. Um movimento, seus olhos “tintilharam” ameaçaram se abrir, esperei como se espera um gol, mas nada, só isso mesmo. Aproximo-me, toco sua pele de leve, tão suave quando um pêssego, tão perfeita como uma noite estrelada. Apenas observa-la não fora o suficiente.

Seus olhos se abrem.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.