E se um cometa caísse agora? Matando essas pessoas hipócritas e falsas, fazendo-as queimar, agonizar de dor. Aposto que seus gritos seriam ouvidos do outro lado mundo. Uma bela visão. Não faria questão de sobreviver, um problema a menos na terra. Um "cutucão" em meu ombro me fez acordar, fazendo com que saísse de meus insanos pensamentos. Era Kate, ela veio me avisar de que a reunião havia começado.

"Diana, ô Diana, acorda! Vamos a reunião já começou" Diz Kate quase perfurando minha pele.

"Ai, tá louca? Desse jeito tu vais acabar deixando um buraco no meu ombro" Falo um pouco alterada. Porra, doeu.

"Desculpa, não sabia que a senhorita é ‘super sensível’". E além do mais eu estou aqui faz um tempo te chamando para avisar que a reunião já começou e você tá ai viajando na maionese" Kate diz em meio a risos.

É, eu realmente estava viajando, só que, não na maionese.

Eduardo está em pé de frente para o quadro de dados, estava analisando os gráficos e sua face expressava uma feição nada satisfeita. Ele resmungava alguma coisa com Elson - o chefe de Eduardo.

"Muito bonito dona Diana, atrasada como sempre, a reunião começou há uns vinte minutos. Onde é que você estava? Aff, não importa, vamos retomar. Onde paramos?" Eduardo fala irritado.

"Foda-se você e sua reunião idiota Eduardo, adoraria vê-lo queimar". Penso.

A reunião continua. Eduardo reclama de lá, reclama de cá e nada é resolvido.

"Não! Esses números estão errados, Kate refaça os cálculos"

"Eduardo, eu já refiz esses cálculos mais de dez vezes e todas as vezes os resultados foram os mesmos... Assim você quer zombar de minha inteligência." Diz Kate irritada com a situação.

"Não Kate isso não pode está certo, porque se estiver, nós estamos com um sério problema em nossas finanças, isso não pode estar certo. “A preocupação na voz de Eduardo é notada, isso não é um bom sinal.

Enquanto Eduardo e Kate batiam cabeça com os problemas que a empresa vinha enfrentando, seu Elson, que é o "manda chuva" o "todo poderoso chefão da porra toda" aparentava não se preocupar com a crítica situação que sua empresa se encontrava.

De repente ele se levanta, anda até o centro da sala, Eduardo e Kate que estavam discutindo se calam e observaram aquela figura. Um senhor de uma aparência séria, seu olhar era firme, sua postura ereta como se estivesse em posição de sentido, seus cabelos grisalhos. Um verdadeiro general.

"Chega, esse assunto já está esgotando minha paciência e me dando muitas dores de cabeça. Corte gastos, demita um quarto do pessoal e esse problema de "dinheiro" será resolvido." Diz Elson e sai.

Todos que estavam na sala ficaram boquiabertos com tal decisão. E cochichos foram ouvidos, podia-se ver o desespero no olhar de todos que estavam ali.

"O-o quê? Co-como assim?! Seu Elson volta aqui, nós temos que ..." Eduardo sai atrás do chefe.

A reunião termina.

Estava sentada na minha mesa, preenchendo alguns formulários e lembrando do ocorrido mais cedo quando recebo um SMS, era de Kate.

"Diana estou na sacada do último andar, você poderia vir aqui? - K"

Chegando no último andar lá estava Kate, seus cabelos estavam soltos e balançando com o vento, ela estava debruçada sobre a plataforma de ferro. Me aproximo. Kate tinha um olhar pensativo e distante, ela observava a paisagem cinza. Pergunto qual o motivo da mensagem.

"Kate? Oi, você me mandou uma mensagem, do que se trata?" Digo.

"Os suicidas, mesmo os que planejam a morte, não querem se matar, mas matar a sua dor." Diz Kate.

"Reconheço essa frase, ela é de Augusto Cury certo?"

"Sim, é dele mesmo."

"E porque a recita? Estás com algum problema?" Pergunto preocupada, nunca tinha visto Kate daquele jeito, triste, amargurada. Algo estava acontecendo e tinha certeza de que não era nada relacionado a reunião agora mais cedo.

"Sabe Diana, você é minha única amiga, mesmo não conversando muito com você ou trocando confidencias, mas eu a vejo como uma amiga, uma irmã. Sinto que posso confiar em você e por alguma razão a qual não sei lhe explicar. Eu só confio."

Quando Kate terminou não sabia como reagir, ou o que falar, fiquei ali paralisada e com um olhar de surpresa olhando aqueles olhos grandes e negros envolto por sardas.

"Ka-Kate ..." Balbucio seu nome, mas sou cortada instantaneamente.

"Espera, não terminei."

"Tudo bem, continue"

"Não sei se você reparou, mas eu e Eduardo estamos em crise, brigamos quase todos os dias e por motivos "bestas" se eu digo algo que ele não gosta isso vira motivo para brigas. Você deve ter percebido hoje na reunião, as coisas estão tensas entre nós."

Oi? Como assim?! Kate e Eduardo juntos? Por essa eu não esperava. Parece que alguém acabou de enfiar uma estaca nas minhas costas.

"E como eu já disse, sinto que posso confiar em você. Precisava desabafar, essa situação está acabando comigo, já não como direito há três dias, vivo angustiada com medo de falar algo errado que possa provocar uma nova briga. Eduardo não é uma pessoa ruim, em momentos de plenitude ele se torna a melhor das pessoas, fica atencioso, carinhoso. Mas esses momentos são inconstantes e isso está me desgastando e nosso relacionamento já está por um fio. Já fiz de tudo para salvar, mas todas as vezes foram em vão ... Já não sei mais o que fazer Diana, já não aguento mais." Diz Kate em meio as lágrimas, e essa cena foi de partir o coração, como alguém ousa fazer isso com uma pessoa que não teria coragem de matar uma formiga, Kate não merece tal sofrimento, a raiva que tinha de Eduardo só fez aumentar de pois dessa confissão.

"Kate, se você não está aguentando mais, a decisão mais sábia a se fazer é terminar o relacionamento, já que ambos os lados não estão satisfeitos. E para evitar uma dor ainda maior." Digo, com o intuito de tentar ajudar, não sou a pessoa mais certa a dar um conselho.

Kate me abraça e chora em meu ombro. Sinto suas lágrimas escorrerem por meus braços, seu cabelo escarlate voando ao vento e deles exalam um cheiro doce, um cheiro que deixaria qualquer pessoa sã, louca. E permanecemos assim por um tempo, um longo e reconfortante abraço. Passados alguns minutos Kate para de chorar, enxuga algumas lágrimas que ainda rolam em sua face, e abre aquela boca, mostrando aquele lindo e devastador sorriso. Um sorriso que muitos morreriam ou matariam só para tê-lo. Ver Kate sorrir confortou minh’alma.

“Obrigada Diana, sabia que podia confiar em você, obrigada de verdade.” Diz Kate, não mais chorando agora sorrindo.

“Ora, não é isso que amigas fazem?” Sim, eu aceitei o rumo que minha vida estava levando, se o destino quer que eu tenha amigos, terei, contanto que esses amigos resumam-se apenas em um, ou melhor, uma. Kate.

Um beijo na bochecha e um sorriso de agradecimento, Kate se vira e vai embora. Eu fiquei ali pensando no que acabara de acontecer. Definitivamente minha vida estava melhorando, ou, é só mais uma peça que o destino está me pregando. Não se pode confiar no destino.