A Lenda do Dragão de Gelo

Capítulo 9 - Imortalidade


Capítulo 9 - Imortalidade

O crepúsculo já se formava no céu quando Eleinor e seu grupo decidiram retomar sua trilha para chegarem ao castelo. O caminho próximo a encosta era íngreme e estreito, era possível ver, mesmo com a fraca luz do sol, que ainda lutava para manter-se no céu, o resto de cadáveres que em vão tentaram passar por aquele local, a pequena cabana de Aerus agora já era vista com dificuldade, e a torre se encontrava majestosamente erguida sob o mar de nuvens que se situava logo abaixo deles, Bergonie, durante o longo caminho de descida resolveu contar de forma breve a lenda daquele_lugar.

A torre já havia sido a casa de uma bela princesa, que misteriosamente foi encontrada morta em seus aposentos, acredita-se que ela havia se suicidado por causa de um amor proibido, e por isso não tinha encontrado o descanso eterno, em algumas noites, os sinos da mesma torre, tocavam para ver se com o som de suas badaladas conseguiam, mesmo que mínimo fosse, amenizar o coração sofrido e amargo da princesa. Diana ficou chocada com a história, mesmo que contada de forma simples e objetiva, ela sabia que Bergonie havia escolhido minuciosamente suas palavras, pois tal lenda na realidade era bem mais severa.

Vários dias se passaram, e o silêncio se encontrava durante todas as horas, a descoberta de que o inimigo esteve perto deles havia surpreendido a todos do grupo. Aerus possuía total vantagem da situação, pois ele sabia aonde iam e o que faziam, Eleinor sempre se perguntava se o dragão estaria mesmo no castelo, já que este conhecia todos seus planos.

A aurora finalmente se mostrou no céu, de forma pálida e tímida, o grupo finalmente havia descido das montanhas, e agora observavam uma escura e densa floresta a sua frente, as árvores se mostravam de forma bêbada e muitos fungos cresciam em seus troncos, tornando o local bastante antigo, ao longe, no horizonte, conseguia-se avistar o castelo que se escondia entre as copas das árvores, quando Bergonie falou:

— Esta floresta é conhecida por confundir a beca dos seres mortais, aqui nada funciona, os sentidos são inúteis, portanto, não confiem em nada que vejam ou ouçam.

— E como pretendes que andemos por essas terras? — indagou Eleinor.

— Não me perguntem, eu apenas sei o caminho, mas acredito que Diana nos ajudaria bastante.

— E eu? Poderei fazer alguma coisa? – perguntou Ghor com um certo tom de arrogância.

— Apenas guarde sua força Ghor, nós sabemos muito bem que um anão em uma floresta é apenas um peso morto.

Ghor olhou revoltado para Bergonie, mas sabia que ele estava correto, pois não conhecia nada sobre as florestas.

— Acho melhor entrarmos nesta floresta agora! Assim poderemos utilizar a luz do dia, pois creio que durante a noite a trilha seria facilmente perdida. — disse Eleinor.

— Isso não será possível, pois como Bergonie disse, eu conheço essas florestas – disse Diana arrumando seu arco – mesmo que aqui fora o sol esteja em seu ponto mais alto no céu, para nós, lá dentro será como uma eterna noite, muitos morrem de desespero por não enxergarem a luz do dia novamente.

— Então o que você nos aconselha?

— Como tivemos um caminho bastante difícil até agora, é melhor descansarmos e buscarmos alimentos, aproveitando que ainda é de manhã, ao anoitecer partimos.

— Concordo com Diana — disse Bergonie. — Ela sabe o que fala.

O grupo se separou durante algumas horas para arranjar os mantimentos necessários para a viagem, quando o sol se enfraquecia, Diana os guiou para dentro da escura floresta. Lá dentro, como Bergonie havia os alertado, os sentidos não funcionavam, Eleinor já havia perdido a conta de quantas vezes foi necessário chamar por Ghor, para que este não se perdesse. O vento que corria ligeiramente entre os galhos secos emitia um som parecido com um grito de desespero, que fazia com que os ossos do corpo tremessem, era possível ouvir sussurros e berros, e de vez em quando, olhos famintos que os observavam, aves negras cruzavam o caminho a toda hora a lado de criaturas bizarras.

Eleinor observava tudo com cautela, ele ainda se encontrava relutante sobre a localização de Aerus, pois este poderia aparecer a qualquer momento para matá-lo. O grupo já havia perdido a noção do tempo dentro da floresta, e seus corpos cansados já lhe pregavam peças quando ao longe encontraram uma pequena cabana situada em uma clareira, ao chegarem lá à primeira coisa que fizeram foi observar o céu e logo perceberam que a lua encontrava-se elegantemente em seu pico.

A cabana possuía características bem incomuns, seu telhado alto pontiagudo guardava inúmeras casas de aranhas, sua parede era coberta por grandes pedras e musgo. Havia apenas uma janela e porta, e uma cadeira de balanço, que conforme movimentação, um desprezível ranger de madeira era ouvido, quando Ghor deixou sua voz ser ouvida.

— Aquela senhora poderá nos dizer quanto tempo falta para chegarmos ao castelo!

E mesmo antes de proibirem tão ato, ele já se encontrava perto da senhora; ao aproximar-se, ele percebeu que a velha era muito magra, seus poucos cabelos brancos cobriam seu rosto gasto pelo tempo, suas mãos tremiam e seus pequenos pés empurravam a cadeira para frente e para trás. Ghor não possuía modo algum, e foi logo levantando a vós:

— Ô velha, o castelo é aqui perto?

A velha se manteve calada, apenas empurrando a cadeira e emitindo o barulho de ranger de madeira.

— Você me escutou?

— Não fale assim com ela Ghor. — falou delicadamente Diana — Deve ser difícil morar neste lugar sozinho principalmente para alguém da idade dela. Por favor, senhora poderia informar se o castelo se encontra nestas proximidades?

O silêncio continuou e a velha nem levantou seus olhos.

— Ora, velha surda — reclamou ela. — Vê se você consegue algo Bergonie!

Bergonie se aproximou da velha e perguntou.

— Senhora, eu sei que você é uma bruxa, não viemos causar nenhum mal, mas poder-nos-ia informar se o castelo se encontra muito distante?

A velha nada fez, nem um músculo sequer se moveu.

— As bruxas quando chegam nessa idade não fazem nada além de observara vida passar, vamos embora, não podemos perder tempo com ela.

— Espere um pouco Bergonie, deixe-me tentar convencê-la.

Quando Eleinor se aproximou da senhora, ela vagarosamente levantou a cabeça e abriram seus olhos, ela era cega e seus olhos pareciam enxergar até o mais profundo segredo da pessoa, seus braços levantaram com dificuldades tremiam com força, ela apontou para Eleinor e deixou sua voz rouca e fraca ser ouvida.

— Faça bem suas escolhas para não ter um trágico destino...

Após terminar tais palavras, um estrondo foi ouvido, e logo perceberam que o castelo não se encontrava tão distante dali, e sabiam também, que Aerus estava lá, pois era possível ouvir seus rugidos a distância.

O grupo correu e a pequena imagem da velha bruxa na cadeira de balanço desaparecia junto à escuridão da floresta.

Após uma vasta caminhada de silêncio Eleinor dirigiu sua palavra ao mago.

— O que será que aquela bruxa quis dizer com aquilo?

— Ela é uma vidente Eleinor, e tudo que ela fez foi ler o futuro.

— Isso significa que morrerei na luta contra Aerus?

— Tudo dependerá de suas escolhas, nem nós, sábios, podemos prever o futuro.

Quando perceberam, já haviam chegado ao castelo que se encontrava totalmente destruído e em chamas, e lá ao fundo, Aerus estava sentado, em sua forma de Humano observando o grupo chegar.

Ele se levantou e foi andando em direção deles, por onde o cavaleiro andava, is se formando um caminho de gelo e seus olhos se encontravam totalmente desprezíveis.

— Vejo que vocês me encontraram cedo — disse ele sorrindo sarcásticamente.

— Por que você não fugiu Aerus? — gritou Eleinor.

— É verdade Eleinor, eu não disse a vocês o porquê me juntei ao grupo. Foi apenas para conhecê-los melhor — disse Aerus, continuando a sorrir — Eu não fugi porque queria juntar o útil ao agradável, afinal Eleinor, seu objetivo é o mesmo que o meu, a única diferença é que tenho que matá-lo.

Aerus deu um berro e seu corpo começou a se modificar e tomar forma de dragão, duas gigantescas asas rasgaram-lhe as costas, seus olhos ficaram enormes e espinhos cresceram por todo seu corpo, um tom azul cobria-lhe todas as escamas. Eleinor estava paralisado de medo. Aerus realmente era Bonechill, o Dragão do Gelo.

Com um forte impulso, o dragão bateu suas asas, e rugindo atacou o grupo, quando Bergonie gritou:

— Vocês três se escondam!! Nenhum de vocês será capaz de derrotá-lo nesta forma! Fujam!! Eu o prenderei aqui! Nenhum homem foi criticado a escolher a vida do que a morte! FUJAM!!

Ghor e Diana pegaram com força nos braços de Eleinor que se encontravam paralisados.

Uma feroz batalha foi travada, o dragão era poderoso demais e utilizava de seu gigantesco corpo como arma de guerra, quando este falou:

— Você sabe que com este corpo velho não poderá me vencer Bergonie, afinal conheci todos seus truques de magos.

Bergonie já se encontrava totalmente sem forças, mal conseguia manter-se em pé para sua voz ser ouvida pelo dragão.

— Aerus eu sei que você já se cansou da vida que leva, e está lutando já sabendo que esta é sua última batalha, pois isso lhe darei um último presente, pois também sei que minha hora chegou.

— Diana, acerte a cabeça do dragão, pois agora sua flecha está encantada. Ghor dê suporte para Eleinor chegar até os inimigos Eleinor, arranque-lhe o coração, pois a lâmina de sua espada também se encontra encantada — Bergonie fez uma breve pausa e olhando para Eleinor, disse — ...Eleinor, por favor, faça sua escolha sabiamente sobre seu destino...

Logo Aerus soltou um raio de gelo que tirou a vida de Bergonie.

O Dragão agora olhava concentrada aos guerreiros, pois sabia que se fosse acertado por uma de suas armas seria seu fim.

Diana soltou um grito, não podia acreditar que Bergonie havia morrido diante se seus olhos, Eleinor segurou em seus braços e disse:

— Não podemos deixar Bergonie morrer em vão, atire contra a cabeça do inimigo, nossas armas agora podem perfurar até o mais forte aço.

— Não sei como pude me apaixonar por um monstro como você — mas enquanto ela observava o rosto do dragão, avistou que suas feições eram bastante tristes. Diana sem relutar atirou a flecha em direção ao dragão, que nada fez para desviar-se.

Uma das flechas acertou a testa e com seu encanto transformou-lhe novamente em humano, Ghor puxou o braço de Eleinor e gritou:

— Agora é nossa vez! Darei-lhe cobertura!! Arranque o coração daquele dragão.

Ghor foi limpando o caminho para Eleinor que veio correndo logo atrás, quando ele avistou Aerus, que se encontrava imobilizado devido à magia do falecido Bergonie empunhalou sua espada com força.

— Morra Dragão do Gelo! Dai-me sua Imortalidade!

Aerus mesmo muito machucado olhou fundo nos olhos de Eleinor e proferiu tais palavras:

— Faça bem sua escolha Eleinor, pois esta será sua maior sina.

Eleinor sem pensar duas vezes perfurou o peito de Aerus.

O Tempo agora havia parado para Aerus. Uma fraca brisa bateu-lhe o rosto, pensou consigo mesmo “Aqui termina a História de Aerus, o último Dragão de Gelo, que cansou de viver sua vida.”, Não se ouviu mais nada.

A batalha havia terminado, a manhã já radiara no céu e finalmente puderam relaxar. O coração de Aerus ainda pulsava na mão de Eleinor, Diana olhando para ele falou:

— O que você fará com o coração? Irá receber a Imortalidade do Dragão?

— Que ser humano na face da terra não deseja a imortalidade, Diana?

Eleinor segurou o coração e bebeu o sangue, obtendo assim a Imortalidade.

Muitos anos se passaram e o tempo havia chegado aos seus amigos. Eleinor estava ao lado de Ghor quando este veio a falecer, estava ao lado de Diana em sua despedida as Terras Imortais, ele viu sua esposa e filhos morrerem de velhice, seus netos e suas futuras gerações também. Apenas com o passar dos séculos Eleinor pode compreender o peso da Imortalidade e da falha escolha em obter, as palavras da velha Bruxa começaram a fazer sentido.

Tudo que se sabe sobre ele atualmente, é que continua vagando pelas terras junto ao vento... E nunca mais foi visto em nehuma Era deste mundo...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.