Sem perder um segundo sequer, o forasteiro se adiantou e cobriu a entrada com rocha maciça.

Ember parecia perdida, sem saber o que fazer, sem entender o que acontecia.

Kuzou reparou então nos buracos nas paredes e percebeu o seu significado. O mais rápido que podia, ele começou a tampá-los também. Na metade do trabalho, percebeu o quão fútil aquele ato era.

“Eles cavaram uma vez, podem facilmente cavar de novo.”

Começou a analisar as opções. Não eram muitas.

— Kuzou, me explica... — tentou ela mais uma vez, sem sucesso.

O dobrador de terra a pegou pelo pulso e a arrastou até uma das paredes. Ela se desvencilhou, irritada.

— Me larga, porra! Me explica o que está acontecendo! — gritou.

A parede da entrada foi abaixo, e centenas de rastejadores se infiltraram.

A menina travou de perplexidade.

— Me siga mantendo eles longe! — mandou o ex-agente, virando a garota para si.

Ele então começou a dobrar um novo túnel na parede, em subida. Ember obedeceu sem hesitar e correu para segui-lo.

O dobrador de terra cavava freneticamente, abrindo um grande espaço à frente e, quando possível, fechando a parte de trás. As paredes, no entanto, não eram páreas para os rastejadores. Eles as atravessavam como se fossem papel. Portanto, não demorou para que as criaturas os alcançassem.

Quando a última defesa caiu, porém, Ember não conseguia se mexer.

As criaturas pularam em cima dela.

Uma nova parede de rocha saiu do solo e esmagou os insetos mais próximos contra o teto. Os fluidos que espirraram encharcaram a menina.

— Medo de insetos, sério?! — soltou Kuzou, incrédulo. — Como você pretende ser independente desse jeito, deixando os outros fazendo tudo?!

A garota levantou a cabeça. A parede caiu, e mais insetos vieram. Outra parede veio, esmagando mais rastejadores. Dessa vez, a dobradora de fogo desviou do banho nojento.

— Prove-me do que você é capaz! — incitou ele.

Outra parede. Mais insetos. Outra parede.

— Prove para Rohan do que você é capaz!!! — berrou.

Quando a parede veio abaixo, chamas preencheram o túnel.

Não faltava muito para o sol se pôr. O céu já apresentava aquele tom alaranjado tão adorado pelos casais. Yan calculava no máximo vinte minutos até o anoitecer. Ele mal podia esperar pelas estrelas.

Levantou e foi ver o enfermo.

Rohan encontrava-se deitado no chão, sob a sombra da tenda. O nômade não tinha esperanças de conseguir locomover o Gigante nem que fosse por centímetros, portanto, infelizmente, não pôde preparar um leito de fato. Na verdade, só de levantar alguns dos membros para os curativos, ele já sentiu uma enorme pontada nos braços. Quando terminou, ficara deitado sentindo os “músculos” pulsarem, incapaz de mexer um dedo.

Agora o colosso se via coberto de ataduras, e respirava de forma profunda. Yan não era nenhum mestre das artes curativas, mas tinha um conhecimento básico de primeiros socorros adquirido com os monges. Não se comparava às habilidades dos dobradores de água, óbvio, principalmente porque ele não dobrava água. Entretanto, quando viu Rohan desabando, ele não podia simplesmente ficar parado sem fazer nada. E pensar que um homem daquele tamanho podia ser derrubado.

A habilidade daquele mercenário era assustadora. Ele derrubara um gigante com apenas duas investidas bem localizadas e bem pensadas. Nenhum movimento dele fora desperdiçado, ele desarmara a todos. O único que fora capaz de atingi-lo...

“...Kuzou. Se o mercenário aparecer aqui, estamos perdidos. Kuzou era o único que podia enfrentá-lo. Nada de Rastejadores também. E ainda temos comida aqui nas mochilas. Espero que as criaturas tenham ficadas satisfeitas com aquele cretino.”

Rohan então grunhiu e abriu os olhos. As estrelas que invadiam o céu violeta o receberam.

— E como está, grandão? — perguntou Yan, trazendo um cantil.

— Ótimo, e você? — disse o gigante, após molhar a garganta.

— Indestrutível, ô cacete, hein? — brincou o dobrador de ar.

O outro conseguiu produzir uma risada fraca. Com grande esforço, e ignorando as exclamações do nômade, ele se sentou. Olhou em volta e reparou nas ataduras.

— Muito obrigado por me tratar, mestre Yan — sussurrou, não completamente desprovido de dor. Ele tentara ficar de joelhos para fazer uma mesura, mas falhou.

“Nem mestre do ar eu sou, para de ser tão educado”

— Disponha. Não fiz um bom trabalho, mesmo.

O colosso conseguiu rir com mais vivacidade daquela vez.

Eles decidiram comer, mas não sem receio dos insetos. Por mais aterrorizante que fossem, eles precisavam alimentar-se.

A noite chegou, e com ela, o frio.

Por mais tentado que o nômade estivesse em fazer uma fogueira para se aquecer, uma vozinha em sua cabeça (bem parecida com a de Kuzou, por acaso) lhe falava que aquela era uma péssima ideia na situação em que se encontravam.

Então ambos se contentaram a se enfiar em muitas camadas de lã e algodão, e deixar a lua iluminá-los.

No silêncio, os sons da Grande Divisão se revelavam. Sons sinistros produzidos pelos ventos cruzavam os corredores de pilares de pedra e os gritos das criaturas ecoavam. No entanto, os outros sons combinados com esses transmitiam, curiosamente, calmaria e relaxamento.

— O que você quis dizer mais cedo? — indagou Yan, quebrando a melodia do canyon.

O gigante demonstrou confusão.

— Antes de desmaiar, você comentou algo sobre a Ember — explicou o nômade.

Demorou um pouco, mas ele conseguiu lembrar-se.

— Ah, sim. O que tem?

— Oras, o que você quis dizer? Aproveite para completar agora.

— Quis dizer que ela não é tão horrível como vocês podem pensar.

Yan percebeu a emenda que ele fez na frase. O “vocês” quase ficara no singular.

— Só isso? Simples assim?

— Simples assim — enfatizou Rohan.

O dobrador de ar não ia ceder tão fácil.

— Pensei que vocês não se conheciam previamente. Como então você sabe tanto sobre a personalidade dela? — interrogou ele.

“Kuzou ficaria orgulhoso”, gabou-se, mentalmente.

— Nem vocês a conheciam antes. Como então vocês sabem tanto sobre a má personalidade dela?

“Ai”

— Eu simplesmente não julgo alguém assim de forma tão superficial — continuou o gigante. — Já vi casos assim. Ela provavelmente só está nervosa.

— A primeira impressão é a que fica... — tentou se justificar o nômade, sem realmente acreditar no ditado.

— Se fosse assim, eu ainda acharia o senhor ingênuo e dependente.

“Ai, de novo. Dois a zero pra ele”

— Peço desculpas pela honestidade — disse Rohan, rindo.

Yan preferiu não insistir no assunto. O gigante era mais sabido do que aparentava. Subitamente, a lembrança de Kuzou contando para ele sobre a mentira da pedra lhe atingiu.

“Será que eu posso confiar em qualquer um deles?”

— Você parece ser bom em julgar as pessoas — soltou o nômade, de modo involuntário.

— Acho que sim.

— Espero que esteja errado sobre o Norkka, então, senão estamos ferrados — Yan mudou de assunto.

O rosto de Rohan mudou. A descontração e alegria se transformaram em uma carranca.

— Ele fugiu, não foi? — perguntou.

“Ah é, ele já tinha caído na Grande Divisão quando Norkka debandou.”

— Não exatamente... — começou o nômade, recordando de algo.

Yan podia jurar que vira o informante berrando algo para Kuzou antes de fugir. E como o ex-agente não fora atrás dele, julgava que era porque ele tinha um plano. Apesar de que eles estavam meio sobrecarregados para persegui-lo, mesmo se quisessem.

— Sua incerteza confirma. Aquele vigarista fugiu — cuspiu o colosso.

A reação que o “vigarista” causava nele deixou o arqueólogo curioso.

— Qual sua história com esse cara? Por que você desgosta tanto dele?

— Motivos não faltam.

Antes que ele pudesse continuar, no entanto, uma enorme carcaça caiu entre eles. Ambos pularam de susto, ignorando o cansaço e a dor.

Era um cadáver fumegante de um rastejador.

Eles olharam para a direção de onde o corpo viera.

“Estava bom demais para ser verdade”

O céu estava púrpura quando eles finalmente chegaram à superfície. A lua e as estrelas já apareciam, chegando pelos cantos para roubar a posse do sol.

Kuzou fechou a passagem, e, sem trocar uma palavra, ambos se afastaram, exaustos.

Sentaram não muito longe para descansar. O lugar não tinha sido meticulosamente escolhido por suas vantagens ou proteções. Eles só queriam repousar.

Ember, logo que sentou, abraçou os joelhos. E assim ficou. Kuzou preferiu uma posição mais confortável, encostando-se em um dos massivos pilares do canyon.

O silêncio, no entanto, se perpetuou, até depois de o sol desaparecer por completo e a lua tomar o céu. Incomodado, o ex-agente decidiu se mexer, fazer algo de útil. Abriu sua mochila e retirou alguns alimentos simples, de consumo imediato. Percebeu que estava faminto. Deu duas mordidas enormes no bloco de queijo, saboreando com a boca cheia, sem se importar com a voracidade que aparentava. A carne seca servia de complemento, mas a força que exigia do maxilar era exaustiva demais. Sem delongas, ofereceu à garota.

A dobradora de fogo olhou-o nos olhos. Parecia que ia recusar, quando, ligeira, surrupiou o queijo da mão dele. Sem mudar de posição, começou a dar pequenas mordidas nas pontas. Kuzou sorriu. Ela virou o rosto.

Desistindo, o dobrador de terra voltou a se reclinar contra a rocha e começou a triturar a carne seca.

E assim ficaram, no silêncio desconfortável, pelo que pareceram horas, mas eram apenas minutos.

— Desde... desde quando você sabe?

Kuzou foi pego de surpresa. O silêncio se prolongara por tanto tempo que parecia inquebrável. E a última pessoa que ele esperava ser capaz de quebrá-lo era ela. Como ele sempre odiou a inatividade, quando a garota sussurrou, ele estava se concentrando nos sons da Grande Divisão, atrás de pistas dos arredores, além de pensar nos planos futuros.

O ex-agente reparou quanta força de vontade fora necessária reunir para ela ser capaz de perguntar. Seus olhos mostravam receio, vergonha, vulnerabilidade e, acima de tudo, raiva por ter demonstrado tudo isso. Apesar de distraído na hora, ele também não deixou passar a falha na voz dela.

— Desde que você sentou conosco à luz da fogueira — respondeu, cuidadoso.

Ember havia se aberto pela primeira vez, ele não podia deixar uma chance daquelas escapar. Tinha de ser cauteloso, mas acima de tudo, respeitoso. Como ele agiria dali em diante poderia transformá-la numa amiga, ou fechá-la de vez no desgosto que ele sabia que sentia.

Portanto, após responder, ele ficou em silêncio. Ela demorou para quebrá-lo.

— Quero te xingar por ficar espionando as pessoas com suas habilidades de agente secreto. Mas não sou tão idiota como vocês pensam. Sei que sou espontânea demais, óbvia demais. Um erro, claro.

Quando ela terminou, afundou mais sua cabeça entre os joelhos.

Kuzou tinha de admitir, lia ela como se fosse um livro com letras gigantes. Mas isso era ele. Tinha sido treinado para ler as pessoas mais difíceis, e ela não era. Mas pessoas normais não entenderiam, vide Yan, com suas suspeitas baseadas em uma mão levemente queimada.

Decidiu, então, ser honesto.

— Longe de ser um erro.

— Claro que é! — cortou ela, impedindo ele de continuar. — Todo mundo sabe o que penso, como sou! Sou facilmente manipulável e influenciável...

— Você preferiria ser como eu? — agora fora a vez dele de interromper. — Minhas ações só trazem desconfiança e medo para cima de mim. Vocês dois são o exemplo disso.

A menina pareceu se sentir culpada. Sem saber o que dizer, ela ficou quieta.

— Desculpa... — sussurrou ela, finalmente.

— Não precisa se desculpar. Vocês têm bons motivos — suspirou o ex-agente. — Realmente sou perigoso se ver por esse ângulo. Mas veja a parte boa: estou do lado de vocês — tentou brincar, desajeitado.

Ember encarou-o.

— E se eu quisesse enganar vocês, as minhas atitudes seriam contra produtivas, todo mundo suspeita do cara sério com um passado sombrio — continuou Kuzou. — Se eu quisesse ser um vira-casaca, o jeito mais eficaz seria ser... bem... como você.

Foi quando ele percebeu o significado que poderia ter essas palavras para ele. Ele não a estava acusando. Mas antes que ele pudesse se corrigir, a menina começou a rir.

— Acabei de descobrir coisas em que você é péssimo: consolar as pessoas e fazer brincadeiras — zombou ela.

Kuzou então sorriu, escondendo o alívio.

— E se eu for uma agente secreta, hein? Infiltrada para pegar vocês? — divertiu-se.

— Então, parabéns, você é bem melhor que eu. O Dai Li mataria pra ter alguém como você. — Ele entrou na brincadeira.

— Bem, eu com certeza sou melhor que você comendo, você parece um animal.

— Força do hábito, eu acho.

A verdade era que, quando se está em uma missão de alta periculosidade e com a comida escassa, você não tinha tempo para ficar sendo chique. A classe era um luxo que não se podia ter, a não ser que preferisse encarar a morte mais cedo. Ele realmente ficara mal-acostumado, mas era algo de todo ruim.

— Fiquei surpreso como justamente você tem tanta classe para comer — riu-se ele.

A dobradora de fogo pareceu hesitar quando ouviu isso. No entanto, algo distraiu a atenção dele antes que tivesse a chance de perguntar.

Um clarão iluminou um pedaço do horizonte de tons alaranjados.

Atraída pelo olhar dele, Ember olhou justo a tempo de ver outro clarão transformar a noite em dia por alguns segundos.

— Mas o que... — soltou a menina.

Kuzou a interrompeu com seus movimentos. Ele levantou, botou a comida de volta na mochila com uma pressa desenfreada, e a agitou para levantar.

Então ambos começaram a correr o mais rápido possível até o “show de luzes”.

Rohan já estava caído derrotado quando eles chegaram. Ember deu um grito de aflição e correu até o gigante. Yan enfrentava o inimigo sozinho, mas também já parecia nas últimas. Seu corpo demonstrava queimaduras, principalmente nas articulações. Ele estava ajoelhado, tentando se levantar.

O mercenário pairava sobre ele, como um anjo da morte.

O grito da dobradora de fogo alertou o inimigo da chegada deles, mas mesmo assim ele não fora rápido o suficiente para escapar completamente dos pedregulhos. Kuzou jogara muitos.

— Está bem, meu amigo? — disse o ex-agente, pondo a mão no ombro do nômade.

— Fa... F-fant... fastástico — cuspiu ele, com grande dificuldade.

Kuzou passou a mão do amigo por sobre os ombros e o ajudou a andar até perto dos outros dois. Chegando lá, permitiu ao parceiro desabar.

O dobrador de terra então se virou para o atacante, já recuperado. Ambos se aproximaram lentamente, analisando um ao outro.

— Qual o seu nome, mercenário? — berrou.

O caçador de recompensas não se dignou a responder.

— Nunca matei alguém cujo nome eu não soubesse. Essa é a diferença entre nós dois.

O dobrador de fogo pareceu se irritar. Contudo, não atacou, apenas olhou quem se aproximava.

Ember se prostrou ao lado do ex-agente.

— Tem certeza disso? — inquiriu ele, apenas para ela ouvir.

Os olhos da garota respondiam tudo.

— Ótimo — sorriu ele. — Você sabe porque perdemos da última vez, certo?

Ela anuiu.

— Trabalho em equipe. Ser independente não quer dizer ser solitária.

Ember sorriu.

O mercenário, tendo avaliado as ameaças, atacou.

Uma parede de rocha subiu e interrompeu sua investida. Ele simplesmente saltou por cima, pronto para o ataque.

Mas Ember estava esperando por ele. As chamas dançaram, e o atacante voltou ao chão, evitando. Antes que ele revidasse, Kuzou estava atrás dele. Seu punho envolto em pedra acertou o inimigo nas costelas, jogando-o para frente. O homem levantou-se em questão de segundos, relâmpagos chiaram em seus dedos. Mas a cortina de labaredas o cobriu vindo dos céus. As chamas se dissiparam, com o inimigo intacto. A garota aterrissou logo quando o raio passou entre eles, os separando.

Era o que o mercenário queria. O fogo voou em ambas as direções.

A dobradora de fogo simplesmente as desviou.

— Kuzou! — berrou ela, desesperada.

O caçador de recompensas sorriu ao ver o chão negro onde antes estivera um homem. Então, virou-se para a garota.

— Não acredito que você caiu nessa — disse uma voz abafada.

Atrás do atacante, encontrava-se o que parecia ser um Golem de pedra de tamanho humano.

Os socos que se seguiram esvaziaram todo o seu ar, e a postura do inimigo desapareceu. Chamas explodiram, mas Kuzou estava bem protegido por baixo da armadura de rocha. O mercenário cambaleou, tentando se afastar. Quando Ember veio por trás, no entanto, ele voou, incendiando tudo a sua volta.

Rápido e impassível, o ex-agente cobriu os dois amigos caídos ao longe. A dobradora de fogo foi jogada longe, mas evitou as chamas. Um relâmpago arrancou parte de seu ombro de rocha. O segundo teria arrancado seu “capacete”, se ele não tivesse feito um muro de terra para si. O dobrador de fogo pulou por cima da parede e continuou atacando, impossibilitando o dobrador de terra de reconstruir sua armadura. Ligeiro e voraz, seus ataques foram rapidamente destruindo a armadura, até que finalmente um dos relâmpagos atingiu o homem por trás da pedra. Esse caiu, e o que restava da armadura se desfez.

A sombra do mercenário o cobriu.

— Azulon — disse ele, impassível. Sua voz era grossa e rude. O dobrador de terra arregalou os olhos.

Ember chegou com toda a força e calor, mas o inimigo apenas desviou e a agarrou pelo pulso.

Ele sorriu. Ela também.

— Agradeço pelo nome. Agora me sinto menos...

O pilar de terra acertou-o na coluna.

—... CULPADO! — berrou Kuzou, quando o mercenário foi atirado longe.

O atacante era rápido, mas a garota foi mais.

Chegou por trás, no meio do ar, e fez um tufão de fogo com as mãos. O caçador não teve tempo de reagir.

Atingiu um dos pilares gigantes e caiu no chão, ferido. Entretanto, se levantou, furioso.

Logo sua expressão mudou.

Kuzou estava em pé, firme, com ambas as mãos esticadas para o ar. Seu rosto demonstrava esforço, e seus músculos estavam tensionados. O mercenário reparou no chão tremendo. As mãos não estavam apontadas para o ar, estavam apontadas para os...

— Eu vou me lembrar, Azulon. — sibilou Kuzou, encarando-o.

Os dois colossais pilares de terra a sua frente tombaram.

O dobrador de fogo tentou fugir do caos rochoso que se formou ante a queda dos pilares. E conseguiu escapar. De um.

O segundo demoliu o que parecia ser todo o horizonte do canyon. O ex-agente sabia que, na escala da Grande Divisão, aquilo era insignificante, mas não deixava de ser impressionante. A nuvem de poeira chegou neles, forçando-os a tampar o rosto.

Correram até a cúpula que protegia os amigos, e entraram nela.

Ember começou a rir. Kuzou não conseguiu segurar, e acompanhou a garota.

Então pegaram seus amigos — o gigante foi posto novamente em um leito de pedra — e partiram, o mais rápido que podiam.

Tinham um longo caminho pela frente. A Grande Divisão ainda estava em seu caminho, e percorreriam outra metade do reino da terra até o seu destino.

“Me encontrem em Gaoling!”

Nenhum deles sabia para aonde iam, exceto ele.

Kuzou sentia que eles não reagiriam bem à notícia, mas teriam bastante tempo para isso depois.

“Uma coisa de cada vez”