A Lagarta

Chora Margarida


Lana analisava a capa bem trabalhada do livro de seu amigo - Lewis - quando um baque interrompeu seu pensamentos.

A Lagarta - os outros começaram a chamá-la assim também - estava deitada em seu alto sofá, no centro de sua extensa biblioteca. Lewis havia substituído o tal sofá por um cogumelo em seu livro.

O barulho era oriundo da batida violenta de porta. Marta, uma de suas empregadas, entrou na biblioteca afobada e tropeçando.

Ela se vestia sempre de forma leve e colorida, como muitos também faziam na Floresta. Lewis apelidara estas pessoas de Flores.

Lana sentou-se e largou o livro, de sobressalto. Deixava sempre claro que não gostava de ser interrompida. Deveria ser muito urgente para Marta ter entrado daquela forma...

O que não a tranquilizava nem um pouco.

Só quando Marta caiu no chão que Lana pôde ver o porquê de a garota estar bufando tanto: havia uma faca cravada em suas costas.

Um choque de susto passou por sua espinha. Lana desceu rapidamente as escadas e ajoelhou-se perto de Marta.

"Aguente, aguente." Sussurrava, começando a usar sua magia para curar a ferida.

Porém, não teve muito tempo. Tinha conseguido apenas retirar a faca da carne de Marta quando dois guardas vermelhos invadiram a biblioteca.

"A Rainha Victoria está te convocando agora ao palácio... Lagarta."

Sentiu uma pontada de raiva. Apenas seus amigos podiam chamá-la assim. Por mais que, inevitavelmente, agora todos os reinos do País a conhecessem por esse nome...

Os guardas não esperavam por uma resposta. A puxaram pelos braços, arrastando-a.

"Eu vou!" Exclamou, soltando-se. "Eu vou.

Assim que curar minha criada."

Os guardas trocaram olhares, tentando decidir se deixariam que ela o fizesse ou não.

"Por favor. Será rápido, prometo." Disse a Lagarta, calmamente, enquanto materializava uma fumaça azulada que saía de suas mãos. Ao entrar em contato com o ferimento de Marta, o alívio era imediato.

Assim que terminou de curar, aproximou sua boca do ouvido de Marta. "As Flores estão bem?" Sussurrou.

Marta virou o rosto para cima. Estava vermelho de tanto chorar.

"Eles invadiram a Floresta."

Os soldados, vendo que o trabalho já havia sido feito, arrancaram Lana do chão e a levaram consigo.

"Eles invadiram a Floresta!" Foi o último grito de Marta que ouviu antes de ser jogada dentro da carruagem.