A Jornada Para o Último Céu

Capítulo 134 - Receptáculo do Mal


Alguns Anos Atrás

“Aquele era eu? Por quê não me lembro disso? Como eu fui parar ali?”

“ - Pai, eu já posso comer?”

“O que meu pai está fazendo ali com aquele livro? Essa sala, eu nunca a vi antes! Mesmo onde morávamos, não havia um lugar assim.”

“A cada segundo que eu começava a notar os detalhes naquela sala, mais meu coração ia acelerando, comecei a sentir pavor, mesmo não me ‘vendo’ ali, sentia de alguma forma meu coração bater violentamente, eu queria acordar logo, mas não sentia que isso era um mero sonho ou uma ilusão do demônio.”

“ - Só mais um pouco, Huo-Lei, tudo vai estar terminado.”

Meu pai sorriu gentilmente.

O mesmo sorriso que me lembro, virtuoso e com coragem.

Ele era uma pessoa que sempre admirei, alguém que me deu forças pra continuar mesmo com os percauços dessa vida. Ele não me abandonou e também acolheu Jia-Li, me treinou e me fez ser o homem que sou hoje, devo tudo a ele, mas por quê então…Ele está com um livro do culto demoníaco em mãos?

“ - Você não vai precisar mais se esconder, pequeno Huo.”

Ao dizer isso, eu o vi fechando o livro e escrevendo algo em um pergaminho.

Ele se aproximou da cama onde eu estava deitado e colocou um amuleto em um pedaço de papel no meu pulso esquerdo.

O meu eu daquela idade começou a gritar e espumar pela boca, meus olhos viraram e eu me contorcia na cama, meu pai me segurava para que eu não caísse e ficava ma pedindo para aguentar.

“ - Aguente só mais um pouco, vai ficar tudo bem.”

O QUE DIABOS!?

Eu tentei gritar com ele, tentei me comunicar, mas ninguém ali me via.

Aquilo era uma lembrança, eu tinha certeza disso, uma lembrança que eu havia de alguma forma esquecido, mas que agora, foi desbloqueada.

“ - Pai, posso comer peixe quando terminar?”

Depois de alguns segundos em estado de convulsão, o meu eu criança finalmente se acalmou, mas seu nariz começou a sangrar, meus olhos pareciam vermelhos e lacrimejando.

“ - O que você quiser!”

Meu pai retirou o selo do meu pulso e conjurou algo com a boca, uma aura azulada foi vista da palma de sua mão, ele a levou até minha testa e eu adormeci.

“ - Desculpe por te pedir pra se esforçar tanto, pequeno Huo.”

Ele respirou fundo e abriu o livro novamente em uma página negra, eu me aproximei naquele estado etéreo e consegui ler o que havia na página.

“Conjuração demoníaca.

1º Passo: Infusão de sangue demoníaco.

2º Passo: Liberação dos selos

3º Passo: Invocação de uma entidade tier C

4º Passo: Junção do receptáculo e da entidade

5º Passo: Selamento da entidade e criação do selo umbilical

6º Passo: Sacrifício

“O que era isso? O que diabos isso significava? Não, não tem como.”

“Ei, pai, isso não é real né?”

Meu pai sorria satisfeito lendo aquela página e riscando o quarto passo com uma pena com tinta.

“Não tem como, não tem como, não tem como, NÃO TEM COMO!”

Eu queria fugir, queria sair dali, mas eu estava imóvel, como se algo mantivesse meu espírito lá.

PARA COM ISSO!

“Meu pai…Meu pai? Ele nem é meu pai. MAS… O que é isso tudo? Ele não é assim!”

VAI SE FODER!!!

Ele não era esse tipo de pessoa.

Isso é uma maldita ilusão não é? Mas essa marca no meu pulso…Eu ainda tenho até hoje. NÃO OLHE NÃO OLHE NÃO OLHE

Eu vi aquela marca que havia ficado após ele retirar o selo, era uma pequena marca retangular que ainda permanecia, mesmo que apagada, em meu pulso esquerdo.

Não tem como…

“Meu pai era membro da seita demoníaca.”

Tudo que disseram…era real.

Pelo que eu e minha irmã lutamos até hoje?

O que ele fez comigo?

No que ele me tornou?

Eu queria negar, queria pensar que aquilo era uma ilusão do demônio, mas me lembrei de tudo. O que bloqueava minha memória havia desaparecido.

Dor, medo, desespero, frio, raiva, rancor, ódio, ressentimento, angústia.

Maldição…Eu sou uma maldita cobaia.

Nunca estive vivo por vontade própria. Tudo foi orquestrado pelo meu ‘pai’ e a seita demoníaca.

Agora eu entendo o porque consigo usar todos os selos.

Originalmente, eu não podia, acho que ninguém do murim consegue, não de maneira natural.

Meu pai me usou para um experimento, ele colocou várias almas demoníacas em meu corpo e fez com que eu liberasse todos os selos. Não sei como isso é possível, talvez essas almas sejam de pessoas falecidas do murim e elas tinham os selos antes de se tornarem demônios.

Eu ouvi algumas histórias, de que almas que morriam estando impuras se tornaram demônios.

Mas por quê ele fez isso? Por quê ele me usou!? Por quê eu era um ‘ninguém’? E minha irmã? Ele tinha objetivos pra ela?

Eu não posso perdoá-lo… E pensar que todos esses anos tentei o defender na seita do céu prateado, passamos por todas essas merdas por causa dele.

Mujang já sabia? Quem mais sabia? Por quê ele tentou me proteger então?

Quem matou meu pai sabia disso? E se sim, o fez por qual motivo?

Eram muitas as perguntas, mas nada mudava o fato de que meu pai não era quem eu imaginava. Eu não conseguia mais continuar assistindo aquilo.

Depois que meu pai saiu daquele quarto úmido, minha consciência ficou escura.

“Por quê eu deveria voltar à realidade? Ainda me restam motivos?”

Eu não sabia o que eu era e por que existia, eu tinha sabe-se lá quantos demônios selados dentro de mim.

Talvez o império me ‘queria’ por conta disso?

Eu devia tirar minha vida agora mesmo, se eu fui mesmo um experimento para a seita demoníaca, se eu morrer, irei arruinar os planos deles.

Mas Jia-Li…

O que acontecerá com minha irmã? O que vai acontecer com ela quando eu morrer?

Até agora eu sempre me certifiquei de cuidar dela, prometi protegê-la não importa o que acontecesse.

“Vingar meu pai e descobrir sua morte” - Mesmo que isso já tenha se destruído pra mim, eu não vou deixar Jia-Li.

Mesmo eu sendo um demônio ou o próprio imperador demoníaco, eu irei ficar vivo enquanto eu tiver a Jia-Li.

Eu vou sobreviver, maldito pai.