Minha conduta questionável e meus modos descuidados não deixavam transparecer minha preocupação por Emma; e o que deixava-me ainda mais aborrecido era o parentesco que o patife compartilhava com Watson. Pelo visto, ela correu demasiado perigo indo até a 221B e carregarei isso sempre na memória. Depois de muito corrermos, avistamos um homem sair de sua carruagem e ajudar uma dama de vestido verde claro a descer; os dois usavam um broche que - se minha visão não falha - era da cor do sangue. A carruagem havia parado em frente a uma elegantíssima mansão e um velho saiu para recebê-los; suponho que a presença da dama não era vista com estranheza pelo senhor.

— Que fazer, Watson? - Antes que eu terminasse de falar, meu amigo tirava seu chapéu e ia dirigindo-se até onde estava a carruagem; revirando os olhos, o acompanhei.

— Está pensando em tocar a campainha, oferecer-lhe serviço médico e convidá-lo a um passeio? - Palavras minhas repletas de sarcasmo ornadas com um sorriso da mesma maneira.

— Apenas estou pensando em um meio de adentrar a mansão à noite, às 20:00 em ponto.

— Você sozinho?

— Holmes, por Deus! É a vida de tua amiga que está em jogo, e é meu irmão! - Ótimo, atraindo atenção desnecessária.

— Você não precisa tomar a frente, John.

— Sim, preciso, Holmes. Eu o quero preso, assim como você o quer mas nega-se a admitir.

Eram raras as situações em que Watson estava com a razão, infelizmente esta era uma delas. Obviamente eu o queria preso, entretanto, prisão era ainda pouco para aquele salafrário. O que eu daria para pôr minhas mãos nele... Calmamente, claro. - Está muito bem, vamos. - Pude perceber que meu amigo arqueou uma sobrancelha, mas oh... Quem se importa? Aproximamo-nos do portão pesado de ferro, porém achamos melhor entrar pelo muro do jardim, certamente a mansão possuía um. Depois que escalamos o muro, ajeitamos nossas roupas e John agachou-se para dar uma olhada no recém adquirido ferimento no joelho; Passos fizeram-se ouvir, escondemo-nos atrás de uns arbustos então. A porta branca abriu-se gentilmente e respirei aliviado quando Emma revelou-se, tão linda iluminada pela lua... Minha nossa, Holmes, onde está com a cabeça? Meu lado racional repreendia meu lado mais fraco, que constantemente escondia-se, no entanto, nem meu lado racional possuía a capacidade de resistir à presença de senhorita Borough.

Creio que ela veio para caminhar um pouco sob o luar, por entre as flores coloridas e variadas que aqui haviam; e isso seria tão normal se a Emma que eu conheço fosse uma mulher sentimental. De fato, a considerei sempre como uma versão feminina de mim mesmo e talvez seja por isso que é tão parecida com Adler e tão importante para mim, porém não são suas habilidades que fascinam-me, é sua essência, ela pode muito bem demonstrar vulnerabilidade, em maior proporção que eu ou meu irmão, mas com menos frequência que Watson. Faço comparações com pessoas que me são importantes pois, é de teu conhecimento, leitor, que por mais que meu trabalho exija contato com outros seres humanos, procuro evitá-lo e não sou do tipo que faz amigos facilmente.

Esperei que ela chegasse mais perto de nós e somente assim permiti que ela tomasse conhecimento de nossa presença e ao contrário do que imaginei, ela surpreendeu-se. - Sherlock? Senhor Watson? Como podem...