Eu olhei para a janela assustada e era ele, Nathan, o amor da minha vida. Ele me olhava com um sorriso como se estivesse se divertindo. Suspirei e abri a janela.
– O que você está fazendo? - perguntei em um sussurro. A última coisa que eu queria, era que minha mãe descobrisse que tinha um garoto no meu quarto.
– Eu avisei que vinha, lembra?
– Eu achei que você estivesse brincando.
– Então, eu não estava. Posso entrar ou não?
– Claro. Entra. - ele pulou a janela para dentro do meu quarto em um completo silêncio, o que foi um alívio.
– Eu vim aqui para conversar, afinal eu não sei nada sobre você. A não ser o fato de que ama o mesmo livro que eu de poesia. - eu sentei no sofá debaixo da minha janela e ele sentou no mesmo sofá do lado oposto.
– Tudo bem, o que quer saber?
– Você estuda na mesma escola que eu há quanto tempo? - eu fui pega de surpresa com essa pergunta. Fiquei em silêncio por um tempo.
– Há cinco anos. - falei e ele arregalou os olhos, surpreso.
– Cinco anos? Como eu nunca tinha te visto antes? - isso poderia ter me magoado, mas depois de um tempo parou de me incomodar.
– Ah, talvez porque eu sempre sento na frente e passe a maior parte do tempo escondida das pessoas...
– Por que faz isso?
– Não sei, prefiro assim. Acho que é o único jeito de ser eu mesma. - Nathan me encarava com imensa atenção, como se eu fosse a coisa mais interessante do mundo.
– Como assim?
– Veja você: ama poesia e nem pode dizer isso aos seus amigos. Eu tenho apenas uma amiga, a Charlotte. E ela não é do tipo de pessoa que julga. - ele pareceu considerar a minha resposta, embora parecesse constrangido não desviou os olhos dos meus.
– Você me acha um idiota?
– Não, acho apenas que não tem opinião própria. - ele riu e eu o segui. Ficamos apenas rindo por um tempo.
– Obrigado, Jessie. Você é muito gentil.
– Eu sei, eu sei. - o estranho disso tudo é que eu estava muito confortável conversando com ele.
– Perguntas rápidas. - falou e eu assenti. - Música preferida?
– Acredito que a música reflete aquilo que está sentindo. Não tenho uma música preferida, dependendo do dia vou de Beatles a Demi Lovato.
– Cor preferida?
– O laranja meio rosado do pôr do sol.
– O que fazer no tempo livre?
– Ler e ouvir música.
– O que você costuma ver na TV?
– Séries, sempre.
– Animal de estimação?
– Não gosto muito de animais, me julgue. - ele riu e continou.
– Lugar preferido?
– Qualquer lugar que tenha uma xícara quente de chocolate e silêncio para ler.
– Cidade ou bairro preferido?
– Visitei o Brasil uma vez e o Rio me encantou.
– Lugar que você sonha em conhecer?
– Itália, mas não consigo escolher uma cidade específica.
– Acho que está bom por hoje. - falou e eu sorri.
– Não vou fazer esse mesmo interrogatório com você. Talvez amanhã.
– Tudo bem, antes que eu vá embora, você pode ler a sua poesia preferida daquele livro?
– Claro. - levantei e peguei o livro que ainda estava em cima da cama. - Eu vou ler Respostas.

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"O que afinal é se apaixonar?
Um meio de escapar da vida?
Um sentimento que entorpece os sentidos?
Um revirar de estômagos?
Silêncio!

Como de fato me apaixono?
Em apenas olhares trocados?
Em um encontro a luz da Lua?
Em mãos entrelaçadas?
Silêncio!

Pensar nisso faz com que seja falso?
Falar sobre isso torna menos verdadeiro?
Olhar pra você faz com que seja real?
Não, Não, Sim."



Assim que terminei de ler, Nathan ficou me encarando por um tempo. Talvez porque o final seja propício, talvez porque combinasse com o momento, de qualquer forma esse momento durou mais do que deveria e menos do que eu gostaria.
– Boa noite, Jessica. - ele se inclinou em minha direção e beijou a minha bochecha.
– Boa noite, Nathan. - ele voltou para seu quarto pela árvore, acenou levemente e fechou a cortina.
Deitei na minha cama e adormeci quase imediatamente, antes que eu pegasse no sono pensei em Nathan e nos seus olhos penetrantes. Naquele momento percebi que não conseguiria me livrar desse menino com muita facilidade, nem se quisesse.
>>o
Assim que terminei de me arrumar para a escola, abri a cortina e vi Nathan arrumando a bolsa carteira. Tentei não olhar pra ele, afinal percebi ao longo da noite que se ele queria a minha amizade não seria a minha paixão que ia interferir. Mas ele me viu, bateu na janela para que eu olhasse pra ele. Abrimos a janela ao mesmo tempo.
– Jessica, está indo pra escola?
– Vou comer alguma coisa e vou.
– Quando estiver indo, bate aqui em casa?
– Tudo bem.
– Ótimo! Até alguns minutos.
Desci as escadas com um sorriso no rosto, minha mãe já estava sentada na mesa comendo waffles com mel e deixou o meu cereal na tigela.
– Bom dia mãe.
– Bom dia filha, dormiu bem?
– Sim e você?
– Muito bem. Quer carona para a escola?
– Não precisa, eu marquei com o Nathan.
– Ótimo. Tenho que ir agora, não esquece de trancar a porta.
– Pode deixar.
Terminei o meu café da manhã mais rápido do que o normal e me ajeitei para bater na porta de Nathan. Respirei fundo e saí de casa. Toquei a campainha e esperei, o homem que abriu a porta era muito parecido com o Nathan, tinha os mesmos olhos penetrantes, a mesma cor do cabelo, as feições...
– Bom dia. - falou ele. Tinha a voz melodiosa, mas ao mesmo tempo firme.
– Bom dia, eu sou... hum... amiga do Nathan. - falei e ele sorriu.
– Ah claro, só um minuto. Pode entrar. - falou e eu obedeci.
– Jessica? - chamou Nathan da ponta da escada.
– Cheguei muito cedo?
– Não, eu que estou atrasado. Espera aí, eu já estou descendo.
Antes que eu pudesse responder, Samantha saiu da cozinha e veio ao meu encontro com um sorriso.
– Jessica, quer comer? - perguntou.
– Não, obrigada, Mrs. Gilbert.
– Tem certeza, querida?
– Tenho sim, eu já comi.
– Tudo bem. Creio que não conhece o meu marido. David essa é a Jessica, ela é menina que mora ao lado.
– É um prazer conhecê-la.
– Igualmente.
– Pronto, finalmente podemos ir. - Nathan descia as escadas com um sorriso. Ele estava lindo como sempre com uma blusa branca, jaqueta preta, calça preta e sapatênis marrom. (Ele amava aquele sapato).
– Então vamos. Até mais, Mr. e Mrs. Gilbert.
– Até mais, Jessica.
Eu saí da casa dele apreensiva, não estava acreditando que ia pra escola com ele. Sim, Nathan Gilbert estava me levando para a escola.
– Jessica, você se importaria se fossemos de carro?
– Com certeza não.
– Ótimo. - esperei alguns minutos enquanto ele tirava o carro da garagem. Eu estava ficando cada vez mais animada com essa situação.
>>o
– Nós temos aula juntos hoje? - perguntou enquanto andávamos em direção á escola.
– Sim, praticamente todas. - falei e ele sorriu.
– Como eu não tinha percebido você antes?
– Ei, esquece isso. Já passou.
– Tudo bem, eu vou compensar. Seremos ótimos amigos.
– Espero que sim. - ao ouvir isso dele, entrei em uma discussão interna. "Só amizade?" "Relaxa, Jessica, amizade já é alguma coisa!"
Passamos o resto do caminho em silêncio, eu encarava a janela e tentava imaginar um dia em que eu não estivesse apaixonada pelo garoto ao meu lado. Um dia em que eu conseguiria estar ao seu lado sem sentir nada além de conforto.
– Jessica? Ei, Jessica?
– Ah desculpa, o que disse?
– Eu perguntei o que estava pensando.
– Em nada específico. - falei tentando não denunciar a verdade na minha voz.
– Não parecia ser isso, você encarava o vidro com frustração.
– Não é nada, de verdade. - voltei a encarar a janela.
– Um dia vai confiar em mim para contar? - perguntou quase em um sussurro, eu sorri e respondi no mesmo tom sem olhar pra ele.
– Um dia.
>>o
Chegamos na escola um pouco atrasados, mas o estacionamento ainda estava cheio. Respirei fundo e abri a porta do carro. Os olhares que recebi foram extremamente engraçados, eu não precisava ler mentes para saber o que todos estavam pensando: "O que essa garota estranha está fazendo com o Nathan?"
– As pessoas estão olhando pra gente? - perguntou o Nathan e eu sorri.
– Acho que sim. Isso tudo só porque eu estava no mesmo carro que você. - Nathan chegou perto do meu ouvido e sussurrou.
– Imaginem se elas soubessem que eu estive no seu quarto ontem a noite. - eu ainda estava rindo quando cheguei ao meu armário.
– Te vejo na sala? - perguntou e eu assenti.
Minha nuca estava quase fervendo de tantos olhares que eu sabia que me encaravam, mas a minha alegria era tanta que nada poderia estragar.
– Jessie, que entrada! - falou Charlotte atrás de mim.
– Eu apenas vim no mesmo carro que ele.
– Sim, eu sei. Mas as pessoas fazem especulações, imaginam coisas.
– Eu sei, não é instigante?
– Defina instigante. - eu apenas revirei os olhos.
– Eu disse para você que esse ano ia ser diferente.
– Parece que você teve uma explosão de sorte, garota.
– Isso também me surpreende. Que tal irmos para a aula agora?
– Você que manda. - e antes de ir embora, Charlie sussurrou no meu ouvido. - Mrs. Gilbert.
Assim que eu entrei em sala, avistei o meu lugar desocupado. Mal coloquei a minha bolsa na cadeira e já ouvi a voz que abriu o meu sorriso.
– Você realmente senta na frente. - Nathan estava sorrindo, embora seus amigos estavam olhando pra ele com ar de curiosidade, confusão e dúvida.
– Achou que eu estava mentindo?
– Não eu só não acreditei. - eu ri e ele voltou para o seu lugar.
>>o
– Acha que Nathan é legal sempre ou quer alguma coisa? - perguntei para Charlotte depois de um dia inteiro de gentilezas da parte dele.
– Eu acho que ele é realmente legal, o que é estranho. Porque eu sempre achei que ele fosse um idiota.
– Ele faz o estilo, não faz?
– Na verdade faz sim. Quando ele passou a gente na fila do almoço realmente me conquistou, estou amando essa sua nova amizade.
– Obrigada, estou feliz também.
Estávamos saindo da última aula, Charlotte me parou e ficou de frente pra mim como se quisesse me contar algo realmente sério.
– Jessie, você me promete uma coisa?
– O que foi?
– Promete pra mim que você vai parar de gostar dele? - eu a encarei sem entender.
– Como assim? Você mesmo disse que ele era legal.
– Eu sei o que eu disse. A questão não é se ele é legal ou não e sim, se você vai se magoar.
– Charlie, eu...
– Jessie, você é minha melhor amiga. Nathan te vê como uma amiga e eu não quero que você tenha grandes expectativas. Porque com grandes expectativas vem as grandes quedas.
– Eu prometo que farei o possível para não ter esperanças. - ela me avaliou, talvez para encontrar alguma mentira.
– Okay, confio em você. - antes que eu pudesse responder, Nathan veio correndo na minha direção.
– Jessie, você já está indo?
– Estou sim.
– Então vamos. Está lembrando do nosso combinado?
– Claro que sim. Estava esperando você.
– Ótimo, agora vamos. - falou Nathan e saiu andando sem esperar para saber se eu estava o seguindo ou não.
– Então é isso, Charlie. Nos vemos amanhã.
– Jessie, pensa no que eu falei, tá?
– Eu já prometi, lembra?
– Estou falando sério, Jessica.
– Eu sei, Charlotte. Eu vou pensar. - saí antes que ela pudesse responder.
Nathan estava me esperando dentro do carro e sorriu quando eu entrei como se eu fosse extremamente especial (porque ele tem que ser tão atraente?).
– O que aconteceu? - perguntou ele.
– Charlotte estava me contando algo.
– Era sobre mim? - eu ri.
– Você se acha mesmo alguém muito importante, né? - foi a vez dele de rir.
– Isso não é exatamente uma resposta. - eu apenas dei de ombros.
– Então, Nathan, o que vamos fazer hoje especificadamente?
– Vamos esvaziar as caixas que colocamos ontem no meu quarto.
– Uau, estou muito animada.
– Você aceitou, lembra?
– Já me arrependi. - era mentira, mas ele não precisaba saber disso.
– Ah não fala assim, vai ser divertido. Você vai ver.
– Arrumar o seu quarto? Me diz como se isso pode ser divertido? - Nathan olhou pra mim com um sorriso de canto de boca (preciso registrar: meus miolos se derreteram e formaram uma coisa só). Eu mal podia esperar.

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