Pov. Lucy

Estávamos todos na sala de estar conversando, quando de repente ouvimos o som da campainha. Me levantei do sofá e fui atender.

Antes mesmo de abrir a porta já sabia quem era.

Oscar e sua cara de cachorrinho abandonado estavam diante de mim. Quando ia fechar a porta na cara dele, ele impediu colocando o pé no batente.

—Preciso falar com vocês, é importante.

—Na minha casa você não entra - meu pai apareceu atrás de mim.

Quando Oscar o viu, recuou um pouco tirando o pé da porta e dando uns passos para trás.

—Aqui fora então? - Pediu - Por favor Daniel.

Eu e meu pai nos encaramos curiosos de o porquê ele viria até aqui falar conosco. Daniel saiu a frente e nossa família foi atrás.

Oscar ficou no gramado enquanto ouvíamos ele da varanda.

— Lauren te mandou aqui, não foi? - Minha mãe perguntou.

—Mais ou menos. Eu não estou mais com ela - disse dando de ombros - Lauren fez coisas que passaram dos limites desta vez.

—Só dessa vez? - Perguntei revirando os olhos.

—Porque acreditaríamos em você? - Tyler perguntou.

—Porque tenho como provar - Oscar colocou a mão no bolso e de lá tirou um papel que entregou ao meu pai. - Está aí. O aviso dela.

Meu pai abriu o papel surrado e leu rapidamente.

—O que fala aí? - Minha mãe perguntou estreitando os olhos para o papel.

—Isso é verdade? - Meu pai perguntou balançando o papel.

Oscar deu de ombros e fez uma cara esquisita.

—Infelizmente.

—O que diz ai? - Foi a minha vez de perguntar.

Estava ficando preocupada.

Então ele leu novamente em voz alta para que todos pudéssemos ouvir.

—"O ocorrido da noite passada vai voltar a acontecer se vocês não devolverem meu colar. Eu vou matá-la e a qualquer um que se colocar no meu caminho."- Disse lendo o papel.

—O que houve noite passada? - Tyler olhou Oscar desconfiado - Espero que ela não tenha feito nada com a garota. Se não, você já sabe, não é?

Ele encolheu os ombros ao ver o olhar do meu irmão para ele, entendendo o que Tyler queria dizer. Aquilo estava muito estranho pra mim.

—Eu é que não vou ser o mensageiro, mais tarde com certeza saberão. Só quero que entendam que estou do lado de vocês. - Respondeu.

—Acha me engana Oscar? - Perguntei descendo os degraus da escada. - Eu sei o que está acontecendo aqui, vocês não vão conseguir. Lauren quer nos colocar medo, mas desculpe, não vai rolar, sei que foi ela que te mandou aqui. Não sei o que estão tramando, mas eu a conheço melhor do que você. Então se afaste dela e da minha família, ou você sabe aonde isso vai dar.

—Lucinda acho que você não está entendendo. Eu não estou com ela e mesmo se estivesse, sua irmã sempre consegue o que ela quer, é tudo uma questão de tempo. - Disse convicto. - Bom, eu avisei, fiz a minha parte, depois não digam que não tentei cooperar...

No mesmo momento em que ele falava, Elizabeth apareceu no meu campo de visão. Ela estava visivelmente fora de si, seu rosto estava corado, sua respiração acelerada e seus olhos vermelhos.

Seu punho estava cerrado, enquanto ela andava olhando para Oscar como se ele fosse uma presa.

Foi quando ele percebeu sua presença, e olhou diretamente para ela. O olhar de Elizabeth ferveu quando eles se encararam.

Pegando todo mundo de surpresa, principalmente Oscar, ela correu até ele e o atingiu com um soco que o fez bater as costas em um muro e cair sentado. Junto com ele cairão os restos de concreto ao seu redor.

Ele com certeza não esperava por aquilo. Ele estava tão surpreso, que ficou parado olhando para ela enquanto ela caminhou até ele.

O que é você? — Ele perguntou assustado, vendo a menina que minutos atrás ele pensava que era uma humana qualquer, agora o encarava com os olhos rubis e tinha acabado de arremessa-lo com um soco pelo meu gramado.

O seu maior pesadelo - afirmou o pegando pelo pescoço, desde então ninguém moveu um só músculo. Estávamos em choque. - O que fez comigo?

Você sabe o que eu fiz.

Naquele momento ela o largou o deixando cair no chão. Meu irmão apareceu vendo a mesma cena que nós, antes que Elizabeth pudesse tomar uma atitude ele voou na direção deles pegando Oscar pelo braço e destruindo uma mureta com o corpo do coitado.

O que estava acontecendo aqui?

Voltei à realidade quando vi a família Cullen aparecer para o show também. Oscar gritava de dor ao ser afundado no chão de concreto da nossa garagem.

—Daniel faça alguma coisa! - Minha mãe pediu sem ar, ao perceber o que Nícolas ia acabar fazendo.

Liza correu para dentro da floresta e toda sua família veio ao nosso encontro, tentando entender o que estava acontecendo.

—O que houve? - Edward perguntou.

—Lucy! Me ajuda aqui! - Meu pai gritou.

Nícolas estava fora de controle.

Ele ia mata-lo daquele jeito. Meu pai e Tyler não estavam dando conta deles sozinhos.

Corri até lá e me coloquei entre os dois, justamente na hora em que Nícolas ia ataca-lo novamente. Ele travou na hora, quase me atingindo.

—Saia da frente Lucy - pediu entre dentes, me empurrando para longe.

—Chega Nícolas! - Gritei e ele parou no lugar. - Eu sei que agora você quer arrancar a cabeça desse idiota. Mas Elizabeth precisa de você. Ela precisa de você. - Falei passando a mão em seu rosto. Sua respiração estava desregulada e ele tinha um olhar assassino enquanto olhava Oscar no chão. - Eu e Tyler vamos terminar isso.

Provavelmente Nessie já deveria ter contado tudo a sua família, eles nos observavam atônitos sem saber o que fazer.

—Vai logo. - Mandei.

Ele deu uma última encarada em Oscar estirado no chão, e foi para dentro da floresta.

[...]

Pov. Liza

Eu não sabia para onde ir, só queria arranjar um buraco e me enfiar dentro dele.

Eu corria tanto que nem sabia mais aonde eu estava. Se não me engano, já estava em algumas montanhas na divisa de Hanover com outra cidade.

Começou a cair um temporal e eu achei uma tenda abandonada. Eu me abriguei da chuva ali, totalmente destruída por dentro, deixei meus sentimentos saírem para não entrarem mais.

Eu não choro, eu nunca chorei, e nem é agora que eu vou começar com essa palhaçada de ser humana. A propósito nunca vou deixar de ressaltar como essa é a parte que eu mais odeio em mim.

Minha parte fraca. Frágil.

Se eu não fosse humana, isso não teria acontecido. Porque eu nunca teria sido dopada e tocada por um homem que não conheço.

Mas pode ter certeza que se alguém não mata-lo, eu mesma farei, e que se dane a minha alma. Não vai ser a primeira vida que eu tiro.

Eu estou mais preocupada é com a minha dignidade que agora está no lixo, e eu tenho que ergue-la novamente.

Que isso, eu sou Elizabeth Cullen eu não perco, eu não choro, eu não sinto dor.

Então é melhor eu começar a voltar a ser eu mesma, se não todos passam por cima de mim e eu não vou deixar isso acontecer. Nada do que houve hoje e na noite passada vai acontecer novamente. Lauren não vai ter o controle da minha vida.

Eu vou apagar da minha memória esse evento infeliz de ontem e me forçar a voltar ao normal. Até porque, agora todos já devem saber que eu não sou mais uma humana comum.

Me assustei quando a porta da tenda foi aberta e Nícolas entrou todo ensopado pela chuva.

Eu me levantei e fui até ele, aliviada por vê-lo. Não sabia que queria ele aqui, até ele aparecer.

—Liza, me desculpa - Pediu me abraçando e me deixando molhada também.

—A culpa não foi sua...

—Sim. Foi sim, por favor, me perdoa... - ele pedia.

Eu me soltei dele e olhei em seus olhos e pude ver que ele estava tão arrasado quanto eu.

—Nícolas, a culpa não é sua. - Insisti o encarando. Suas feições estavam duras.

—É. - ele sussurrou com o olhar perdido e se afastou de mim - Não percebe? O meu dever é te proteger Elizabeth, e eu não soube fazer isso. Olha o que aconteceu com você.

—Você sabe cuidar de mim melhor do que eu mesma, pelo que eu sei, você já faz isso a muito tempo. E olha só, eu estou viva, aqui com você.

— Está machucada - Falou passando seus olhos pelo meu corpo como se procurasse algo de errado.

—Estou ótima.

—Não finja para mim. Eu sinto você, eu vejo. - Ele apontou para os meus olhos rubis que denunciavam meu descontrole.

Eu não estava aguentando mais esse homem se culpar na minha frente.

—Para. - Disse indo até ele - A droga da culpa não é sua, nem de ninguém. A culpa é MINHA. Sou uma humana. Há coisas que ninguém podem impedir de acontecer comigo. É a pior parte de mim...

—Nunca mais diga isso. Nem de brincadeira. - Falou voando até mim e tampando minha boca com a mão.

—Digo sim. - Tirei sua mão da minha boca - E digo mais, eu odeio ser uma humana, ou ser uma vampira impulsiva, assassina e inconsequente. Eu sou uma verdadeira diaba. Quer uma lista de qualidades? Eu não tenho. Uma lista de defeitos, posso te dar vários. - Soltei tudo de uma vez. Ele me encarou fazendo uma cara de quem ia me matar. - Para ser sincera, eu não sei o que você viu em mim.

Ele soltou o ar que estava segurando e me encarou soltando um riso de raiva.

—Quer saber o que eu vi em você? - Perguntou e eu não respondi. Apenas cruzei os braços. - Nunca em toda a minha existência eu conheci um ser tão teimoso, impulsivo, petulante, arrogante, que se acha a dona da verdade. A dona da razão, antissocial, antipática, masoquista, agressiva e sim inconsequente. Não, eu nunca nem cheguei perto de conhecer alguém assim, além de você. - Eu o encarei pasma. - Mas também, nunca conheci alguém que finge que não se importa com a família, e mesmo assim daria a própria vida por eles. Ou mataria por eles. Que se importa com a vida humana a ponto de ir contra sua própria natureza para não matar um. Elizabeth Cullen, seu lado humano é o que mais amo em você. Seu lado vampira impulsiva também, porque te faz uma pessoa perigosa, bem sexy. - Me olhou mordendo os lábios - Você é perfeita sendo as duas, você é perfeita do jeito que você é. Foi isso que eu vi em você.

Eu estava sem ar, absorvendo tudo que ele falou pra mim, enquanto me encarava com seus diamantes azuis brilhantes.

Mesmo com toda aquela declaração, eu ainda não queria ele se martirizando por minha causa.

—Para de se culpar - pedi sussurrando.

—Só se você parar também.

Nícolas era difícil, ninguém nunca falou as verdades assim pra mim como ele fez, sem medo de me machucar. Estava aprendendo que ele tinha uma personalidade e tanto. Mesmo me amando, como eu sabia que ele amava, ele conhecia meus defeitos e falava sobre eles como quem fala sobre o sol.

Ele sabia o quão horrível eu podia ser, e ele não se importava com isso e nem omitia o que achava disso.

Como eu pude viver tanto tempo sem ele?

—Tá bom - eu cedi sabendo que não tinha como argumentar com ele - Não foi nossa culpa. Foi só um dos eventos horríveis que eu vou pôr na minha coleção. Feliz?

No mesmo momento ele quebrou a distância me abraçando. Seus braços me envolverão de um jeito, que eu me senti como uma joia preciosa guardada a sete chaves.

Eu encostei a cabeça em seu peito molhado, controlando minha respiração e os meus pensamentos.

—É melhor eu leva-la de volta para Dartmouth. Sua família está preocupada. - Ele sussurrou em meu ouvido.

Eu respirei fundo.

Queria só por um minuto que nada disso tivesse acontecido, assim não teria que lidar com a família Cullen ao voltar para a faculdade.

—Não sei como vou explicar tudo para eles. - Disse perdida e levantei o rosto o encarando - E aquele cara?

—Lucy e Tyler cuidaram dele pra mim. - Falou depositando um selinho em meus lábios - Esqueça isso.

Depois disso, saímos da cabana. Algum tempo depois estávamos de volta a Dartmouth, eu já podia sentir a presença da minha família no campus.

Nícolas se despediu me dando um beijo. Ele parecia relutante em me deixar ir.

—Vai pra casa. - Eu disse.

—Não, vou ficar aqui. Não vou deixar que mais nada aconteça a você. - Disse beijando minha testa.

Eu não ia debater com ele. Eu sabia que não ia ganhar.

Fui andando até a entrada da escola e dela podia ver todos da minha família, parados no campus, o olhar deles era de pena e eu odiava aquilo.

Renesmee foi a primeira a tentar vir falar comigo, mas eu ignorei a todos e entrei na faculdade indo direto para meu quarto.

Quando abri a porta, aquele cheiro, aquele maldito cheiro, ainda estava impregnado lá...

Minhas roupas ainda estavam jogadas no chão. Eu não esperava ver aquela cena novamente. Fechei a porta violentamente com os olhos fechados. Encostei na parede e respirei fundo.

Certo eu não vou entra ali de novo. Preciso superar, eu sei, mas não tem que ser agora.

Quando abri os olhos, minha mãe estava parada na minha frente. Seu olhar distante e preocupado denunciava que ela tinha muitas intenções na sua cabeça que só ela conhecia.

Ela veio e me abraçou, e eu retribui sem dizer uma única palavra.

—Hoje você dorme no meu quarto. - Ela pegou minha mão me guiando pelo corredor.

Quando chegamos no seu quarto, ela não tocou no assunto, porque sabia que eu não queria falar. Me emprestou uma roupa para dormir, e depois saiu do quarto pra conversar com meu pai.

Eu fiquei sozinha por uns minutos.

Fui até a janela e ele estava lá. Encostado numa árvore observando minha janela. Sorri ao vê-lo, e ele sorriu de volta.

—Então eu não estava errado - Edward disse entrando no quarto. Pus a mão no peito com o susto e me afastei da janela. - Sobre ele. Estão mesmo juntos?

—É, acho que sim.

—Ele é um Filho da Lua Elizabeth, me mostre sua marca.

Eu até poderia ter fingido que fiquei surpresa, ao ver que meu pai já sabia sobre ele e sua família. Mas não, Edward tem muitos anos aqui nesse planeta, duvido que exista algo que ele não conheça.

Se ele não sabe, é porque provavelmente não existe.

Eu levantei a blusa e ele viu parte da minha marca na cintura e suspirou.

—Devia ter me dito naquele dia que ele era um Filho da Lua, mesmo eu já sabendo no momento em que o vi. - Eu engoli em seco e não disse nada - Eu sinto muito pelo que houve com você...

—Ta tudo bem pai. Já foi resolvido.

—Vou estar de olho em vocês dois, você é o meu bebê e quero conhece-lo oficialmente já que estão juntos mesmo. Eu não posso mata-lo porque estão ligados em um Elo, igual sua irmã com aquele cachorro de estimação e o inprinting...

—Pai, por favor - eu disse exasperada - Esse assunto agora não, pelo amor de Deus.

Minha mãe entrou no quarto logo em seguida e trocou olhares entre meu pai e eu.

—Eu vou caçar. - Ele disse saindo do quarto.

Bufei deitando na cama da minha mãe e ela se deitou ao meu lado como costumava fazer quando eu era pequena.

Me embolando nas cobertas e fazendo carinho no meu cabelo até eu dormir.

[...]

Pov. Nicolas

Minha cabeça estava cheia. A única coisa que eu queria agora era proteger Elizabeth, provavelmente todos sabem sobre nós, e que ela também não é inteiramente humana.

As coisas estão mais perigosas do que antes. Eu não posso bobear com a segurança dela.

—Como estão as coisas? - Meu pai perguntou se aproximando, enquanto eu olhava a janela onde Liza estava dormindo.

—Por enquanto está tudo bem.

—Seus irmãos deram um jeito em Oscar. Esquartejaram.

Eu suspirei aliviado. Queria eu ter feito isso.

—Mas ele tentou fugir, achamos que ele pode ter mandado alguma mensagem a Lauren.

—Já imaginava - disse encostando a cabeça na árvore e fechando os olhos cansado. - Lauren já deve saber sobre Elizabeth.

—Filho - ele pôs a mão em meu ombro. -Ela está solta por aí, pronta para atacar. Mas não esqueça, ela ainda é sua irmã. Está perdida, confusa e sozinha a tempo demais. Ela não quer o colar pelo poder dele, e sim por que é a última coisa que ela tem de lembrança da mãe de vocês.

Daniel nos amava como seus próprios filhos. A ligação dele e do meu pai era muito forte, quando meu pai morreu ele se sentiu responsável e cuidou de nós três.

Ele amava nos três igualmente. Tanto eu, Lucinda, quanto Lauren. Para ele não importa o quão horrível ela seja.

É a filha adotiva dele.

—Não me faça escolher entre Elizabeth ou Lauren. Você sabe qual vai ser minha escolha.

—E todos vamos apoia-la - ele garantiu - Só estou pedindo para ser menos severo com ela. Ela é sua responsabilidade também, assim como você cuida da Lucinda.

—Há - deixei escapar um riso de raiva - Já me esforcei demais para tentar ajudar Lauren. Ela matou minha mãe e depois ficou com remorso? Ela que lide com as escolhas que fez. Eu só tenho dó dela...

—Porque?

—Porque agora que todos sabem sobre a Liza, ela vai saber se defender sem mim. - Então eu o encarei e sorri - Se Lauren chegar perto dela, vai ser muito interessante ver uma briga entre as duas.

Meu pai viu o brilho nos meus olhos e sorriu também.

—Sua irmã é uma Filha da Lua muito antiga, não sei não - ele provocou - Mas, não vou negar, a primeira impressão que tive da Liza é que ela me assustou. Então não vou subestima-la.

Eu ri imaginando a cena do meu pai vendo a Liza pela primeira vez com os olhos vermelhos, quase matando outro vampiro no quintal da casa dele.

—Leve-a em casa, sua mãe quer oficializar, já que agora todos sabem que vocês estão juntos.

Eu gostava disso.

Finalmente, não do jeito que eu queria ou sonhei a vida toda, mas eu e Elizabeth estávamos juntos e livres para não ter que esconder isso.