PARTE 1:

Pov. Nícolas

—É uma péssima ideia. - Disse convicto.

—Você vai ter que encontra-la uma hora ou outra, e eu já disse que iria apresenta-los - Lucy disse animada.

Ela estava certa de que me apresentaria a Elizabeth hoje, e meus problemas estariam resolvidos.

Ela não tinha noção do que poderia acontecer, e na real nem eu tinha, por isso preferia ir embora da cidade do que ter que encarar isso agora.

—Vamos deixar para uma próxima - disse dando meia volta, mas ela se pós na minha frente no mesmo segundo.

—Nada disso, não seja covarde, não é como se você já não a conhecesse.

—É, só que ela não sabe disso - disse revirando os olhos. Lucy me ignorou, como ela sempre fazia.

Já era o dia seguinte e encontramos Tyler no caminho para o refeitório.

Tyler como sempre vivia em seu próprio mundo, no planeta das mulheres, ele estava mais preocupado com as 3 meninas que ele estava namorando ao mesmo tempo, do que com meu dilema.

Entramos no refeitório e eu queria fazer Lucy desistir dessa história.

Elizabeth estava lá com sua família, os três estavam distraídos numa mesa distante das outras, encostada na janela enquanto tomavam café. Liza, estava de costas para mim, com o rosto focado em um caderninho de desenhos onde ela rabiscava coisas sem nexo.

—Vamos embora Lucy.

—Qual o problema cara? - Tyler finalmente saiu do mundo da lua, eu dei de ombros não muito a fim de falar.

Lucy nos guiou até a mesa deles e começou a jorrar palavras como ela sempre fazia quando estava ansiosa.

—Bom dia pessoal, como está o primeiro dia de vocês? - Ela perguntou e Nessie respondeu primeiro.

—Estou adorando, na verdade não vejo a hora de sair para conhecer a cidade toda.

—Vamos marcar isso aí - Lucy disse apontando pra ela como se já fossem super íntimas - Como eu estava dizendo ontem a Elizabeth, esses são meus irmãos e gostaria de apresenta-los a vocês. Este é Tyler - disse apontando para ele que só deu um sorriso amigável, não muito interessado no que estava acontecendo. - E este é meu irmão Nícolas. Esses são, Jacob Black, Renesmee e Elizabeth Cullen, os novos alunos.

Renesmee e Jacob nos olharam sem muita empolgação, mas de forma educada nos cumprimentaram.

—É um prazer conhece-los, Lucy falou de vocês a noite inteira. - Eu disse.

Até então Elizabeth estava imersa em seu caderno de desenhos, quando ela me ouviu falar seu pescoço foi virando lentamente até me encontrar.

A expressão que eu encontrei no seu rosto não foi a que eu esperava.

Definitivamente não foi.

Ela estava com os olhos arregalados como se estivesse vendo um fantasma, sua respiração parou quando nossos olhos se encontraram. Ela ficou tão tensa quando me viu que o lápis que estava em sua mão quebrou partindo em dois, e ela continuo olhando para mim.

Eu retribui seu olhar preso naquela expressão sem saber o porquê daquilo. Sabia que isso não tinha sido uma boa ideia.

—É melhor a gente ir Lucy - eu sussurrei pra ela - Temos aula.

Lucy se despediu e nos saímos do refeitório, com Elizabeth petrificada nos encarando até sumirmos da vista dela.

Eu não entendi a sua reação, durante todos esses anos fiquei imaginando o dia em que nos encontraríamos de fato. Mil e uma possibilidades existiam na minha cabeça, mas o que aconteceu hoje nem de longe passou por meus pensamentos.

Eu esperava que ela fosse ficar indiferente ou algo do tipo, mas ela se assustou quando me viu, diria até que ela teria gritado se não tivesse tantos humanos por perto.

—O que você fez com aquela garota? - Tyler perguntou.

—Ele não fez nada - Lucy respondeu por mim vendo meu estado catatônico, eu não tinha condições de responder ninguém agora.

—Porque temos que conversar com aquele pessoal? - Perguntou.

—Porque são meus amigos agora e queria que vocês o conhecessem. - Lucy explicou e Tyler soltou uma risadinha olhando pra mim.

—Amigos? Bom, não foi o que pareceu segundos atrás.

Eu cerrei os punhos e encarei Tyler com toda a frustração que eu estava sentindo nesse momento.

—Muito energia negativa por aqui - ele disse passando a mão no meu rosto. - Vou ir fazer o que faço de melhor.

—Ser um idiota? - Perguntou Lucy.

—Não, ir ver minha namorada de número 3 - ele sorriu - Ou é a número 2, eu não me lembro mais.

Eu respirei fundo quando Tyler saiu, Lucy parecia me analisar meticulosamente enquanto eu andava pelo jardim totalmente calado.

—De uma coisa é certa meu irmão - ela disse colocando a mão em meu ombro - Esse encontro ficou bem claro que você não é um estranho para ela.

[...]

Pov. Liza

O primeiro dia de aula tinha tudo para ser perfeito, se não tivesse sido trágico.

Pensei que Lucinda tinha desistido de aproximar nossas famílias, mas não, ao acordar fui tomar café com Jacob e Nessie. Estava tudo indo bem e eu estava focada nas minhas primeiras aulas.

Como todo primeiro dia de aula com lugares cheios de pessoas, estava tentando distrair minha mente desenhando em meu caderno, para não lidar com o bombardeio de sentimentos alheios. Se eu não olhasse para eles era mais fácil de me concentrar, nos próximos dias iria melhorar.

De repente um cheiro invadiu o refeitório, não era bem um cheiro, era mais uma sensação muito familiar. Eu escutei Lucy se aproximar e algo que raramente acontece, aconteceu.

Minha mente começou a ter devaneios, era como seu eu estivesse entrando em um tranze, ser sensitiva as vezes fazia isso comigo e eu sabia que eles estavam ali falando, podia ouvi-los e sentir suas emoções, mas minha mente estava longe, quando eu escutei:

—É um prazer conhece-los, Lucy falou de vocês a noite inteira.

Foi como um despertar para mim.

Aquela voz, eu já ouvi aquela voz antes. Meu coração estranhamente disparou e eu virei minha cabeça para encontrar o dono daquela voz.

Quando eu o vi foi como se o mundo tivesse parado de girar e minha mente dado pane.

Ele tinha olhos azuis como os de Lucy, azuis de um jeito que eu nunca havia visto na minha vida.

Aquele cabelo preto dele o fazia parecer um anjo sombrio, cada detalhe, cada maldito detalhe do seu rosto era um terreno conhecido por mim.

Eu o conhecia, aqueles olhos, eu já os tinha visto antes...

Eu podia jurar que conhecia esse garoto e o jeito que ele estava me olhando, como se a gente realmente se conhecesse. Minha mente afundou em um desespero que não sei explicar, meu corpo estava tremendo e eu não conseguia parar de olha-lo, por que algo na minha cabeça me dizia que era ele.

— É ele o que? - Murmurei devaneando.

É ele. Você o conhece. Ele não é um estranho. Vocês já se conhecem. Você já sonhou com esse rosto e já viu esse rosto antes.

Era isso que minha mente dizia.

—Isso é loucura - murmurei enfiando o rosto em minhas mãos.

Os detalhes daquele rosto, você sabe quais são, aquela voz já falou no seu ouvido antes...

—Ah - arfei em conflito com minha própria mente.

—O que está acontecendo com ela? - Ouvi Jacob perguntar.

Eu levantei minha cabeça para responde-lo, mas imagens sem nexo e desfocadas estavam passando diante dos meus olhos, como visões, do passado, do futuro, não sei.

Não soube identificar o que era na hora, mas doía.

—Ai! - Eu me encolhi no lugar com a mão na cabeça. Minha cabeça latejava como se algo quisesse sair de dentro dela. Era muita informação e sentimentos que eu não compreendia e nem sabia da onde vinham, se eram meus ou de outra pessoa. - Ai que dor! - Eu gemi tão alto que pude ver pessoas de outras mesas nos encararem.

—Liza! - Renesmee estava ao meu lado no mesmo segundo, Jacob já a ajudava a me levantar.

Não sei quantos segundos ou minutos tudo isso durou, mas eu já estava sendo levada ao meu quarto enquanto imagens se repetiam na minha cabeça.

[...]

Estava deitada na minha cama, com uma bolsa de gelo sobre minha cabeça para aliviar a dor. Renesmee me olhava atenta em cada movimento que eu fazia.

O telefone dela já havia tocado umas 6 vezes.

—Atende - pedi - Esse som está piorando minha dor de cabeça.

—Depois - ela desligou o celular jogando-o em sua cama - Vamos conversar primeiro.

Eu já imaginava que fosse Alice ou meu pai ligando, pois ela claramente deveria estar tendo visões minhas agora.

—Vá para a aula Nessie, eu já estou melhor.

—Fazia tempo que você não tinha uma dessas coisas - ela gesticulou para mim - O que desencadeou isso?

"Uma dessas coisas" no caso, é as dores de cabeça.

Alice tinha visões do futuro, e que eram subjetivas, se as escolhas mudassem as visões mudavam também.

Eu sou sensitiva então se sou atingida por emoções que estejam carregadas de lembranças ou algo do tipo, as vezes vejo imagens. Nem sempre do futuro, as vezes do passado ou suposições. Isso me dava dores de cabeça e só aconteceu cerca de 3 vezes contando com essa, durante toda a minha vida.

—Eu não sei, mas já estou bem - Disse sentando e colocando a bolsa de gelo na mesinha.

—Elizabeth - falou me fazendo olha-la - Quando os Roller chegaram você entrou em transe. Você começou a falar sozinha e depois a gritar de dor. Você não viu a sua expressão. Alguma coisa aconteceu ali.

—Sim aconteceu, mas não sei o que foi. - Admiti.

Ela se levantou da cama pensativa e depois parou na minha frente.

—São os Roller? Eles são perigosos?

—Não - Respondi me levantando também - Ness relaxa, eu não sei o que aconteceu hoje, mas te juro que estou bem. E quanto aos Roller, não se preocupe, não sinto nada que me dê um alerta sobre perigo.

—Você tem certeza?

Não.

—Claro que tenho.

—Vou ligar para tia Alice, ela deve estar preocupada - avisou pegando o celular. - Hoje tem a fogueira de iniciação das aulas, então descanse para hoje à noite.

Renesmee saiu do quarto e eu afundei na cama com minha cabeça latejando. Aquele rosto não saia da minha mente e eu estava prestes a ter um surto, pois não sabia o que estava acontecendo comigo.

Eu vim para cá pra tentar ser normal, e não é o que está rolando desde que coloquei os pés em Hanover.

Minha garganta ardeu me lembrando de que eu precisava caçar, e aposto que respirar ar puro iria me fazer um bem danado. Então pulei a janela do meu quarto que dava para a parte de trás da escola. Segui caminhando por uma trilha longa que ligava a faculdade a uma floresta de árvores secas.

O ar puro me ajudou a dispersar meus pensamentos. Mas isso só durou alguns minutos. Ainda faltava tempo pra festa começar e eu não queria voltar pra faculdade agora. Então depois de caçar, me dei o luxo de explorar a floresta e correr para aliviar minha mente.

A vista de Hanover era bem diferente de Forks. Forks era sempre molhada e cheia de terra, as árvores sempre em um verde intenso. Aqui em Hanover as florestas tinham muitas pedras e as árvores tinham muitas flores e um cheiro bom, havia muito mais prezas aqui do que em Forks, isso me agradou muito e me fez passar o tempo.

Só que a noite caiu tão rápido que eu nem percebi e acho que já nem sabia mais em que parte da floresta eu estava.

Nessie ia me matar pelo atraso. Então fui caminhando sem pressa e tomando cuidado com as pedras traiçoeiras quando uma luz bem distante chamou a minha atenção.

Eu fiquei curiosa e fui seguindo a luz fininha por minutos até ela se tornar um grande clarão. Na verdade, era uma casa, uma grande mansão escondida no meio da floresta.

Onde será que eu já vi isso antes?

Fiquei observando e parecia não ter ninguém ali, mas as luzes estavam acesas e ela era tão grande e bem iluminada. Como uma bela construção dessas poderia estar escondida assim no meio do mato?

—O que está fazendo aqui?

Eu soltei um grito.

Olhei para trás e o garoto de hoje cedo estava me encarando com as sobrancelhas erguidas, ele estava vestindo somente uma calça e um tênis, seu braço estava sujo de sangue e com uma cicatriz como se ele tivesse sido ferido e acabado de curar, ele estava sem camisa, que essa por sua vez estava na sua mão toda rasgada.

O que aconteceu com ele?

Ele estava um trapo e mesmo assim eu não conseguia parar de olha-lo.

—Desculpe, não quis te assustar - disse me olhando como se eu fosse ataca-lo. - O que está fazendo aqui?

—Me diz você - retruquei.

Ele deu alguns passos em minha direção, trocando olhares da casa para mim.

—Eu moro aqui - e então ele sorriu. Um sorriso pequeno, mas que iluminou seu rosto todo. - Agora vai me dizer o que está fazendo na frente da minha casa?

Eu engoli em seco morrendo de vergonha. É, hoje não era meu dia.

—Acho que me perdi.

—Aqui não é um bom lugar para se perder - disse fechando o sorriso. - Espero não estar sendo inconveniente ao dizer isso, mas não fique andando sozinha por Hanover. Não é um lugar seguro.

Eu deixei escapar um sorriso involuntário.

—Eu sei me cuidar.

—Existem coisas por aí que você não conhece. E acredite, não vai querer conhecer.

Eu engoli em seco de novo. Ele falava como se eu fosse uma criança inocente e ele um ser sábio que conhecia tudo.

Eu sei me cuidar, sabia o que estava fazendo.

Ele continuou me olhando e eu deixei o orgulho de lado me lembrando do ocorrido de hoje de manhã.

—Hoje de manhã não fui muito educada, peço desculpas pelo que aconteceu. - Disse - Sou Elizabeth Cullen.

Ele me olhou de cima a baixo com uma expressão incompreensível em seu rosto, como se fosse engraçado pra ele eu me apresentar.

—Nícolas Roller.

Eu estendi a mão e ele quebrou a distância entre nós dois e a tocou.

Nossas mãos se encaixaram como duas peças de um quebra-cabeças, eu senti e ele também.

A mão dele era quente e macia e estava suja de sangue, mas aquele toque, a minha mente me dizia que eu também já conhecia, que aquelas mãos já me tocaram antes, o que fez com que eu me afasta-se assustada.

—Preciso ir - falei colocando a mão no bolso da blusa - Desculpe invadir sua propriedade...

—Quer ajuda para achar o caminho de volta?

—Não - Respondi com pressa - Eu consigo sozinha, obrigada.

E nesse segundo eu já estava correndo como uma fugitiva pela floresta. Meu coração completamente estranho, acelerado e eu podia sentir meu rosto queimando.

Na verdade eu estava sentindo muitas coisas agora que eu não entendia.

Eu olhei minha mão suja do sangue que estava na mão dele, e me peguei suspirando.

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PARTE 2:

[...]

—Dá próxima vez, me avise quando for caçar - Renesmee reclamava por conta do meu sumiço.

Já tinha tomado banho e trocado de roupa. Estávamos indo a fogueira de iniciação as aulas, Jake já nos esperava lá em baixo.

—Virou minha babá agora?

—Esqueceu o que houve hoje de manhã? Fiquei preocupada.

—Eu já disse que esta tudo bem.

A ignorei e fui descendo as escadas. Hoje estava uma noite calorosa então apostei em um vestido preto que realçava minhas curvas, e coloquei um salto que ajudou a me deixar sexy. Meu cabelo estava aquela bagunça longa e cheia de volume que eu tanto adorava, aquelas ondas castanhas estavam do jeito que eu gostava.

No pé da escada, estava Jacob nos esperando com uma cerveja em mãos.

—Pensei que estavam se arrumando para um casamento, que demora - ele bufou.

Os alunos estavam empolgados hoje e isso ajudou a melhorar meu humor. A fogueira era enorme e tomava todo o campus da faculdade. Tinha bastante gente, música alta, jovens com emoções a flor da pele, e muita bebida.

Jake sumiu por uns minutos e reapareceu com uma garrafa de vodca e um sorriso que dava para ver até de costas.

—Saudades de ver você beber - ele riu - Aceita?

—Você não presta Black.

Jacob me deu a garrafa e nos dois a bebemos sozinhos. Entre uma conversa e outra meu coração acelerou. Lucy estava vindo em nossa direção acompanhada de seu irmão Nícolas.

Eu ainda estava processando o dia de hoje, o ocorrido de manhã no refeitório e meu encontro não planejado com o Roller agora a noite.

Vê-lo de novo e relembrar nossa breve conversa me deixou estranha.

Renesmee percebeu meu coração disparado e me encarou desconfiada.

—Liza - Lucy se aproximou- Está melhor? Renesmee disse que não se sentiu bem depois do café da manhã.

Olhei para minha irmã e Nessie deu de ombros. Deve ter sido a única desculpa que conseguiu para justificar minha ausência nas aulas.

—Estou melhor sim, obrigada.

—Ótimo, vocês já viram o barril ao lado da fogueira? - Perguntou puxando assunto - Alguém quer ir comigo pegar algumas bebidas?

—Vamos lá - Jacob se animou.

Ele saiu junto com Lucy, Nícolas me encarou nos olhos e sem dizer uma palavra se juntou a eles, me deixando sozinha com Renesmee.

Ela estava me encarando com um sorrisinho bobo que eu queria quebrar no soco.

—O que?

—Está com algum problema cardíaco? O que há de errado com seu coração? – Perguntou ela.

Era uma pergunta interessante. O que estava havendo com meu coração? Eu não a respondi, pois não sabia a resposta, tocar no assunto fazia meu coração acelerar mais, não queria dar esse gostinho a ela.

Nessie se colocou ao meu lado, e seguiu meu olhar para os 3 que pegavam bebidas ao lado da fogueira. Então ela suspirou chamando minha atenção.

—Gato o Nícolas, não é? - Provocou e eu encarei o céu querendo não ouvir o que ela dizia. - É diferente dos vampiros que conhecemos, aposto que ele é quente. - soltou um riso e eu comecei a cantar o hino nacional da China na minha cabeça. - Incrível como ele olha para você, tipo o jeito que está fazendo agora.

Inevitavelmente eu abaixei a cabeça e meu olhar deu de cara com o dele. Nícolas estava de pé, enquanto Jacob e Lucy trocavam algumas palavras, mas ele ainda olhava para mim. Sem poder controlar, meu coração bagunçou algumas batidas e acelerou.

Inferno.

—Ah, então esse é o seu problema cardíaco? - Ela perguntou empolgada e riu me fazendo ruborizar.

—Cala a boca Renesmee - disse entre dentes e ela cobriu a mão com a boca parecendo uma criança arteira. - Sai de perto de mim.

Nesse saiu saltitando toda feliz, e eu pude respirar em paz. Isso não era algo novo só para ela, mas pra mim também.

Eu não sabia o que estava acontecendo, nem o que eu estava sentindo, e não ter privacidade no meio dessa loucura era horrível.

— Jacob disse que você iria gostar – ouvi sua voz baixa surgir ao meu lado, dessa vez eu não me assustei. Eu só virei a cabeça e ele já estava lá, me olhando intenso e cheio de significados. – Me pediu para te trazer.

Nícolas estava com uma garrafa de Vodca nas mãos o que me fez sorrir. Olhei em volta e Jake e Ness tinham sumido, assim como Lucy.

—Se perdeu na volta pra casa? - Nícolas perguntou.

Eu bebi metade da garrafa antes de responde-lo.

—Tropecei em uma pedra e outra, mas nada de muito perigoso no caminho. Nenhum assassino a solta nem nada do tipo.

Disse me lembrando do que ele disse mais cedo sobre ser perigoso andar sozinha. Ele sorriu, mas com o olhar distante.

—Nunca se sabe onde vai dar de cara com alguém querendo te matar - ele retrucou.

—Diz isso porque? – Perguntei – Sabe de alguma coisa que eu não sei?

—Só modo de falar – respondeu desviando o olhar.

Eu ia questiona-lo, mas não sabia se devia. Eu virei o resto da garrafa pra dentro e uma brisa bateu forte em meu rosto, com ela o cheiro de sangue humano veio junto e minha mente mudou o foco no mesmo segundo.

Foi como um soco no meu rosto, aquele cheiro me tonteou e meu rosto virou no lugar exato onde um garoto estava caído com a perna sangrando.

—Ah não. - Murmurei jogando a garrafa no chão. Nícolas seguiu meu olhar e viu o garoto sangrando.

Eu estava entre correr até o garoto ou correr dele, demorei uma fração de segundos para decidir. Felizmente eu escolhi a segunda opção.

Dei as costas a Nícolas e corri sentindo cada músculo meu, me pedindo para voltar lá e sugar cada gota de sangue daquele garoto. Minha garganta queimava e o cheiro ainda estava forte. Minhas presas estavam saindo sozinhas como instinto, eu não podia fazer aquilo.

—Elizabeth! - Nícolas estava correndo atrás de mim na floresta. Eu estava desnorteada, minhas prezas saindo, lutando contra um instinto e aposto que meus olhos já estavam vermelhos nessa altura do meu descontrole – Já o levaram para a enfermaria.

Eu me segurei em uma árvore imaginado o sangue dele escorrendo pela perna. Prendi a respiração.

—Eu ainda sinto o cheiro dele – murmurei tremendo enquanto me agarrava a aquela arvore e tentava não respirar.

Eu estava no meu momento mais vulnerável e animal agora. Senti Nícolas pousar sua mão em meu ombro e eu me afastei bruscamente olhando para ele.

—Não faça isso, vou acabar matando você! – disse me afastando.

Ele soltou um riso alto e relaxado, o que me fez encara-lo. Seu cabelo caindo em um dos olhos e o sorriso tranquilo me deixaram hipnotizada e confusa.

—Não – disse se aproximando de volta. – Eu sei que não vai.

—Sabe? – Então o foco da minha mente mudou de novo e agora eu estava novamente curiosa e furiosa. – Da onde eu te conheço?

Seu rosto manteve a mesma expressão, com um sorriso claro e tranquilo quando ele me respondeu:

—De hoje de manhã, no refeitório, ou de quando você invadiu minha propriedade e te encontrei na frente da minha casa.

Eu o analisei e absorvi cada palavra que ele disse e não senti nada. Nem uma ponta da mentira, nem uma ponta da verdade.

Era como se ele fosse vazio, nenhum sentimento vinha dele e eu não sabia se ele estava mentindo ou não, porém algo me dizia que tinha alguma coisa errada ali.

—Já nos vimos antes?

—Não sei – deu de ombros despreocupado.

—Quantos anos você tem?

—Você faz perguntas demais senhorita Cullen – ele fechou o sorriso e seu rosto agora estava sério.

—E você não responde nenhuma delas.

—Porque são perguntas sem sentido, você é sem sentido. - eu o encarei com ódio quando ele disse isso, mas isso não o intimidou - Estamos na mata porque segundos atrás, você queria matar um garoto, e agora me interroga sobre dá onde nós conhecemos se você já sabe a resposta.

Agora foi minha vez de rir mesmo estando irritada por ele ter me chamado de sem sentido.

—Se eu soubesse a resposta não estava te perguntando - disse direcionando minha raiva pra ele - Tenho a leve impressão de que você quer me deixar confusa.

—Pense o que quiser - disse dando de ombros como se não ligasse. - Não me importo com o que você acha.

Eu o fiquei encarando com raiva, acho que ninguém nunca falou assim comigo antes.

Tentei achar palavras para debater com ele, mas não saiu mais nada, ele também não disse mais nada, e o que recebi foi ver minha irmã chegar toda esbaforida ao nosso encontro.

—Elizabeth! – Ela correu até mim e trocou olhares entre mim e Nícolas – Tudo bem? Eu vi o garoto sangrando e pensei que...

—Estou bem, não fiz nada. – A interrompi irritada.

—Está em boas mãos agora Cullen. – Nícolas disse sem olhar para mim, nem para Nessie. Agora ele é quem parecia irritado. – Não fiquem sozinhas na floresta, é perigoso.

E com isso ele sumiu da nossa vista, me deixando furiosa e sem respostas, e com um enorme ponto de interrogação na minha cabeça.

Renesmee me encarava toda curiosa e confusa e eu só queria deitar e dormir para sempre.

Talvez vir para Hanover não tenha sido uma boa ideia.