Elizabeth não conseguia parar de pensar nas últimas palavras que havia dito a Lydia antes de sair. De como ela perdeu a paciência e até de como se sentiu aliviada ao deixa-la sob os cuidados de Jane. Ela tremia no banco do carona e rezava para que a irmã ligasse dando mais notícias. O celular vibrou na mão dela tirando-a de seu torpor, era uma mensagem de Jane.

Estamos no Hopkins, ela está sendo atendida na emergência. Qualquer novidade, eu aviso.

Darcy, que dirigia a quase mil por hora, olhou para Elizabeth pelo canto do olho, fazendo uma pergunta silenciosa.

— Lydia foi levada para o Hopkins. Está na emergência, mas por enquanto Jane ainda não sabe de mais nada. – Elizabeth disse alto para que os tios, que estavam no banco de trás, pudessem ouvir.

— Ai, meu Deus. – A sra. Gardiner estava com a voz embargada. – A nossa menina, a nossa Lydia... Que Deus a proteja.

Elizabeth engoliu um soluço, ainda chateada por não ter se esforçado mais e batido o pé quando o sr. Bennet concordou em deixá-la ir para a festa. Se não tivesse a caminho daquela festa estúpida tudo estaria bem, ela pensava sem parar. Seu coração estava acelerado e ela só queria descobrir que tudo aquilo não passava de um pesadelo.

— Vai ficar tudo bem. – Darcy disse com uma voz séria sem tirar os olhos da direção. Era quase uma garantia, mas as lágrimas arderam nos olhos de Elizabeth, pois ela sabia que apesar da boa vontade do amado, aquela era uma promessa que ele não podia fazer.

— Eu espero. – A voz de Elizabeth saiu tão esganiçada que era quase incompreensível.

Ainda faltava uma boa parte do caminho. Quando estavam a quase uma hora da cidade, Jane ligou e disse que Lydia tinha acabado de entrar em cirurgia. O estado dela era grave e Elizabeth pensou em sua pobre irmã, Jane, ali no hospital sozinha e desconsolada esperando notícias. Queria chegar lá mais do que tudo para apoiá-la, Jane não merecia passar por aquela situação sozinha.

Quando Darcy parou na frente do hospital, Elizabeth saltou para fora do carro junto aos tios enquanto ele foi estacionar. Mais depressa do que poderia imaginar, ela já estava na sala de espera da emergência.

— Jane! – A sra. Gardiner soltou um grito ao ver a sobrinha. – Como está Lydia, como está nossa Lydia?

Jane, que estava sentada ao lado de um médico que Liz logo reconheceu, o Dr. Bingley, deu um pulo e correu em direção a família para abraça-los. Ela estava chorando e não conseguia dizer nada, o que deixou Elizabeth em desespero.

— Jane? – Ela perguntou com a voz estrangulada.

— Ela está em cirurgia. – Foi Bingley quem falou. – Ainda não temos notícias.

— Mas já faz tanto tempo. – Jane disse em um sussurro. – Estou com medo.

— Essas coisas são demoradas mesmo, não se preocupe. – Bingley tocou de leve o ombro de Jane. – Vou ver se consigo informações.

Não fazia muito tempo desde que Bingley foi em busca de novidades, quando Darcy chegou, apressado.

— E aí? – Ele perguntou exaltado. – Já sabem de alguma coisa?

— Bingley foi ver se descobria algo. – Jane respondeu. – Vejam, ele está voltando.

Todos se viraram em direção ao médico e o fitaram com olhos repletos de ansiedade.

— Ela ainda está em cirurgia.

— Quem é o médico responsável? – Darcy perguntou, sério.

Bingley hesitou um pouco antes de responder.

— Wickham.

Os olhos de Elizabeth, cheio de pânico, alcançaram os de Darcy.

— Droga! – Darcy praticamente urrou.

— Darcy, ele não pode...

— Eu não vou deixar que nada aconteça a sua irmã. – Ele disse olhando no fundo dos olhos de Elizabeth. Era uma promessa. – Não se preocupe.

Dito isso, Darcy beijou-a na testa e saiu correndo para dentro da área restrita.

— Darcy, não! – Bingley foi atrás dele, apressado. – Você não pode!

Mas era tarde demais. Em sua fúria, Darcy não pensou duas vezes. Sabia exatamente pelo que Elizabeth estava passando, há alguns anos era ele quem estava no lugar dela e ele faria de tudo para protegê-la de qualquer dor. Salvaria Lydia e traria ela inteira para a família, nem que isso custasse seu emprego ou sua licença médica.

— Darcy, não! – Bingley o alcançou no corredor, enquanto ele estava tentando descobrir em qual sala estava acontecendo a cirurgia. – Está maluco? Você não pode simplesmente invadir uma sala de operações!

— Bingley, você não entende! – Darcy gritou de volta, assustando o amigo. – Aquele maldito quase matou minha irmã! Não posso deixá-lo fazer isso com Elizabeth. Você sabe tão bem quanto eu que ele não é um bom médico.

— Mas você vai se encrencar.

— Eu sei, mas esse é um risco que eu quero correr. – Darcy respondeu, resignado. – Por favor, volte para Elizabeth e tente acalmar ela e a família. Peça para confiarem em mim.

Bingley deu um sorriso frustrado e desejou sorte ao amigo. Não podia fazer nada além de alertá-lo para o perigo que estava correndo, mas no fundo invejou-o. Darcy corria riscos pelo amor, algo que ele não tinha sido capaz de fazer.

Darcy, após finalmente descobrir em qual sala estava ocorrendo a cirurgia de Lydia, fez todo o procedimento esterilizante, vestiu a roupa adequada e adentrou o local. Lydia estava desacordada, seu rosto estava com alguns hematomas e ela estava ligada a vários aparelhos e com uma equipe de médicos realizando a cirurgia em seu abdômen.

No princípio, Darcy apenas observou. Ninguém havia notado sua presença na sala, mas assim que ele viu o primeiro descuido de Wickham, decidiu agir.

— Estou no comando agora! – Gritou e assim que chegou perto de Wickham, afastou-o de Lydia.

— Ei! – Wickham estava surpreso e sua expressão raivosa. – O que você pensa que está fazendo?

— Já disse. – Darcy respondeu sem tirar os olhos do que estava fazendo. – Estou no comando agora. Pode se retirar.

A equipe observou os dois com cautela quando Darcy deu as ordens. Estavam confusos, o que estaria acontecendo?

— Vocês ouviram o doutor. – Uma voz conhecida pareceu tirar os outros do transe. – Vamos, façam o que ele está pedindo!

Era Caroline, uma das enfermeiras que estavam auxiliando na cirurgia. Darcy agradeçeu-a com o olhar, se ela não tivesse chamado a atenção da equipe, talvez ele não tivesse conseguido se livrar de Wickham tão facilmente.

— Não pense que eu vou deixar isso barato. Você cavou a própria cova. – Wickham ameaçou antes de sair bufando.

— Depois eu resolvo isso. – Darcy disse baixinho mais para si mesmo do que para alguém em específico. – Agora eu tenho uma paciente para salvar.

Foram algumas horas de procedimento. No final, Lydia acabou perdendo uma parte do fígado, que se regeneraria com o tempo, e ganhado uma bela cicatriz. Também teria que ficar na UTI por vinte e quatro horas para garantir que não teria nenhuma recaída antes de ir para o quarto.

— Obrigada! – Elizabeth se jogou nos braços de Darcy assim que ele deu todas as notícias.

Darcy deu um sorriso cansado e beijou-a com carinho na bochecha. Estava exausto e um pouco assustado agora que todas as consequências por suas ações começavam a surgir em sua mente.

— Podemos vê-la? – Foi Jane quem perguntou.

— Claro, mas não podem ficar muito. – Darcy respondeu.

— Vou ver isso para vocês. – Bingley disse e se retirou.

Darcy sentou-se um pouco e puxou Elizabeth para junto dele. Ela encostou a cabeça em seu peito e ele passou o braço ao redor dela.

— Vai ficar tudo bem? – Ela perguntou, receosa. Observando seus tios e Jane aguardando a volta de Bingley.

— Não se preocupe, ela só precisa ficar na UTI porque acabou de passar por uma cirurgia complicada.

— Não é sobre Lydia que eu estou falando.

— É sobre o que, então? – Darcy ergueu a sobrancelha, intrigado.

— Wickham passou por aqui e não parecia nada feliz. – Liz admitiu. – Isso não vai dar problema para você?

Darcy olhou para o teto com a testa franzida. Parecia mais exausto do que preocupado, embora soubesse que aquilo provavelmente daria um belo problema para ele.

— O que importa. – Ele beijou-a na testa. – É que Lydia está bem e vai se recuperar.

— E eu devo isso a você. – Liz disse baixinho. – Obrigada.

Os dois permaneceram lá abraçados até que ouviram a voz de Jane chamando Elizabeth.

— Liz, você não vem?

— Claro.

Elizabeth correu em direção à família. Eles entraram de dois em dois para visitar Lydia. Primeiro foram Elizabeth e Jane, elas foram autorizadas a ficar apenas 5 minutos e observaram a irmã através de um vidro. O coração de Liz se apertou ao vê-la inconsciente, dormindo tranquilamente, naquele quarto de paredes e lençóis claros. Seu rosto estava um pouco roxo, Darcy havia dito que ela estava sem cinto de segurança e que teve muita sorte de ter sobrevivido ao acidente. O mais irônico de tudo é que ela e a amiga nem tinham conseguido chegar a festa, elas perderam o controle do carro e bateram em uma árvore no caminho. A motorista estava de cinto e só quebrou o braço, Lydia não teve a mesma sorte, mas poderia ter sido muito pior.

Jane encostou a cabeça no ombro de Elizabeth.

— Eu fiquei com tanto medo. – Ela sussurrou.

— Eu também. – Liz respondeu séria. – Mas está tudo bem, ela vai ficar bem.

— Certo, o pior já passou.

— Ou não. – Liz respondeu, séria.

Jane levantou a cabeça assustada e olhou para Lydia a procura de algum sinal de piora.

— Como assim? – Perguntou quando não conseguiu identificar nada que pudesse representar uma ameaça.

— Temos que contar para mamãe.

Jane engoliu em seco e depois deu um sorriso cumplice.

— Ai droga, tinha até esquecido disso.

As duas riram e se abraçaram, foram muitas emoções para um só dia.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.