Darcy não havia tratado Elizabeth de maneira indiferente de propósito e o olhar triste que ele vislumbrou no rosto dela pouco antes de sair da sala, quase deixou-o em dúvida quanto a firmeza das palavras dela no dia anterior. Só que Liz havia sido bem clara, estava brava e muito magoada. Disse que não queria mais vê-lo e ele ficou com receio de perdê-la de vez caso não desse a ela o espaço que precisava. Ela era como um pássaro que amava voar, se sentisse que estava prestes a ser colocada em uma gaiola, voaria para nunca mais voltar, então ele seria extremamente cauteloso. Desistir dela? Nunca. Apenas deixaria que ela baixasse novamente todas as armas antes de seguir em direção ao campo de batalha. Ama-la era como um jogo incerto e talvez por isso ele estivesse tão irremediavelmente viciado.

Só que Darcy era também um ótimo jogador. Paciente, sabia quando era a hora certa de agir quando finalmente decidia que valia a pena jogar, e conhecia sua oponente muito melhor do que julgou ser possível. Elizabeth Bennet escondia todos os seus medos atrás de uma teimosia frustrante. Não demorou muito para que ele percebesse que estava se apaixonando por aquele espécime raro. No início, ainda mais depois de conhecer a mãe dela, ele ficou com medo de que ela fosse apenas uma garota interesseira, mas quando viu-a com Wickham, justamente a pessoa que ele mais odiava, percebeu que se não aceitasse logo o que sentia e agisse de vez, talvez perdesse a garota, sua garota.

Agora estava muito irritado. Sentado sozinho em uma mesa bem escondida no refeitório, ele repassava em sua cabeça cada palavra que Elizabeth havia dito. Estava bravo porque tinha uma ideia do que realmente havia acontecido para as coisas chegarem naquele ponto. Não queria acreditar, mas infelizmente, ele não via outra explicação para tudo. E a culpa talvez fosse dele por incentivar, mesmo que sem querer, o amor de outra mulher.

A irmã de seu melhor amigo era como parte da família para ele, jamais se interessaria por ela de outra maneira, e achou de verdade, que logo Caroline perceberia que aquela paixonite que ela desenvonvera por ele não era real. Teve medo de magoar os sentimentos dela sendo franco e direto e acreditou que ignorando todas as demonstrações de afeto dela, faria com que a jovem desencanasse de vez. Mas o tiro saiu pela culatra, aparentemente, quanto mais ele a ignorava, mais ela se apaixonava. E todos sabem que no amor e na guerra vale tudo, certo? Para Caroline, então, que não estava acostumada a ouvir um não, essa frase era perigosamente verdadeira.

— Darcy! Posso sentar aqui com você? – A voz infantil e melodiosa de Caroline o irritou um pouco. Isso nunca havia acontecido antes, ela era como uma irmã para ele, mas mesmo assim, eram raras as vezes em que brigavam.

— Claro. – Ele respondeu ainda carrancudo.

Por alguns segundos, ela só observou, não disse uma palavra. Típico de quem havia feito algo muito grave e não tinha certeza de como agir. No fundo, ela era só uma garota mimada que estava acostumada a ter tudo o que quer.

— Você está bem? Está parecendo um pouco sério demais para o meu gosto. – Ela brincou na tentativa de descontrair um pouco o clima, mas isso deixou Darcy ainda mais impaciente. Ela pode perceber pela expressão dele.

— E como você queria que eu estivesse? – Darcy não respondeu de forma grosseira. Não, ele ainda tinha muita consideração pela garota. Só estava realmente curioso, seu questionamento fora honesto.

— Não entendi sua pergunta. – Caroline respondeu na defensiva. Nem por um segundo ela tinha parado para pensar que Darcy saberia que ela era a responsável pelo seu rompimento com Elizabeth. Ela ingenuamente achou que nunca seria descoberta quando arquitetou todo o plano.

— Carol, – Ele começou tentando manter seu tom de voz neutro, sem acusações. – Tem algo que você queira me dizer? Porque se tiver, prefiro que me diga agora. Sem joguinhos e manipulações, estou cansado.

Caroline engoliu em seco. Sabia que Darcy era cavalheiro demais para fazer um barraco, mas podia ver em seus olhos que ele estava com raiva e o pior, muito decepcionado.

— Darcy, eu não sei do que você está falando. – Ela tentou, mas sua voz estava tão tremida que uma pessoas a quilômetros de distância poderia dizer que ela estava mentindo.

Caroline começou a comer sua salada e não disse mais nada. O clima estava péssimo, nenhum dos dois conversava. Foi assim por mais uns dez minutos até Darcy se levantar com a elegância de sempre.

— Ótimo. – Ele disse antes de começar a se afastar. – Acho que já tirei qualquer dúvida que ainda me restava.

— Darcy... – Caroline ainda tentou dizer baixinho, mas ele não olhou para trás.

Ela sabia que só com sua expressão e sua tentativa frustrada de negar o óbvio, ela tinha se entregado. Darcy era assim, não precisava de muito para conseguir as respostas que queria e ela o conhecia a tempo suficiente para saber o que se passava naquela cabeça. Ele era inteligente e não demorou para encontrar a ligação entre a briga de Elizabeth com ele e ela. Ficou devastada e se sentindo minúscula. Ela o amava tanto, pelo menos achava que sim, desde sempre, mas um minuto de sanidade a fez perceber o quanto ela estava se parecendo com uma vilã daqueles filmes água com açucar de que tanto gostava. A mulher cujo papel era só atormentar a vida da protagonista tentando ganhar o coração do mocinho jogando sujo. Ela queria mesmo que seu papel naquela história se resumisse a isso?

Um sorriso teimoso escapou de seus lábios antes que ela pudesse contê-lo. Darcy havia feito com que ela se sentisse a pior pessoa do mundo quase sem palavras. As vezes mostrar-se decepcionado funcionava melhor do que os gritos mais altos que alguém pudesse dar. E Darcy sabia, é claro que sabia, afinal, ele era perfeito. Triste e extremamente arrependida, ela se levantou e foi se arrastando até o banheiro feminino. E lá ela chorou como há muito tempo não chorava. Sentiu-se muito mais jovem do que realmente era, uma adolescente perdida. Queria culpar Darcy, mas não podia, ela que o havia feito sofrer, se gostasse realmente dele, teria feito tudo aquilo? Depois tentou culpar Elizabeth, depois o primo de Darcy por metê-la naquela roubada, mas enfim percebeu, a culpa era única e exclusivamente dela e por causa de um capricho corria o risco de perder para sempre aquele que a amava como irmã. Burra, burra, burra, burra! Como ela havia deixado as coisas chegarem nesse ponto?