No dia seguinte, Lizzie acordou cedo, abriu as cortinas com animação e deixou a luz do sol penetrar o aposento. Até a natureza parecia refletir seu humor. Como eram raros aqueles dias ensolarados por ali, mas bem naquele dia, em que Elizabeth queria sair pela mansão dançando e rodopiando como uma bailarina, até o sol havia aparecido para festejar junto dela.

— Uau. – Jane murmurou debaixo das cobertas, mal conseguindo abrir os olhos. – Mas que sol! A Charlotte deu sorte, vai ser o casamento perfeito.

— Verdade! O dia não poderia estar mais lindo! – Liz sorriu de orelha a orelha, jamais imaginou que aquele final de semana pudesse ser tão perfeito.

— E você também parece estar muito feliz, Lizzie.

— E eu estou, Jane! Como estou! – Ela sentou na beirada da cama da irmã. – Muito feliz!

— Eu sabia! – Jane gritou animada, sentando-se rapidamente. – Conta tudo! Onde vocês foram? O que ele disse? E você precisava ver a cara da tia dele quando ela percebeu que nem você, nem Darcy estavam na sala. Não sei como ela não saiu pelo jardim atrás de vocês, sério!

— Não adianta, nem o mal humor dessa mulher vai abalar meu ânimo. – Liz deu uma risada e relembrou alguns momentos da noite anterior enquanto contava tudo para sua irmã.

— Que encontro mais romântico! – O olhar de Jane estava brilhando, só de imaginar. – Parece aquelas histórias de livros antigos.

— Eu nunca imaginei que ele pudesse ser assim, sabe? No hospital eu só conseguia ver aquele lado frio e orgulhoso dele, mas existe muito, muito mais nele do que isso e agora que eu o conheci melhor, percebo que o julguei mal.

— Na verdade você não deu muita chance para ele. – Jane respondeu depois de se levantar e ir em direção à mala para escolher uma roupa. – Para mim, ele sempre pareceu um cara legal, só um pouco mais reservado.

Lizzie aproveitou a chance para encontrar algo para vestir também. O café da manhã só seria servido até as nove da manhã. Catherine havia deixado bem claro que quem não aparecesse antes disso iria ficar sem comer porque depois os funcionários iam começar a preparar as coisas para o almoço do casamento, que só aconteceria após a cerimônia.

Enquanto se arrumavam, Liz e Jane conversaram mais um pouco sobre tudo o que havia acontecido na noite anterior. Estavam muito animadas, mas Lizzie chegou a conclusão de que seria discreta em relação a Darcy porque não queria que nada desse errado no grande dia de sua amiga Charlotte. E era bem capaz da tia megera dele fazer uma cena, sem palavrões claro, aquela mulher tinha cara de que até para fazer cena, ela manteria a classe. Jane riu e concordou.

— Mas vocês vão fingir que não está rolando nada?

— Eu pedi isso a ele ontem, ele também achou melhor. Só até voltarmos para a cidade, onde teremos nosso primeiro encontro oficial!

— Vocês podem até tentar fingir, mas qualquer um consegue ver o jeito que vocês se olham. – Jane não acreditava muito que Lady Catherine pudesse fazer um escândalo, mas concordou que aquela era a melhor decisão porque aquele dia, afinal, era de Charlotte e todas as atenções deveriam ser dela e de Collins.

— Vamos descer? – Elizabeth perguntou, estava faminta.

— Sim, já estou pronta. – Ao dizer isso, Jane abriu a porta do quarto e deu de cara com a última pessoa da face da terra que ela imaginou encontrar ali, Charles Bingley.

Ele ficou vermelho como um pimentão. Estava parecendo que ele estava ali fazia um tempo, tentando decidir se ia bater na porta ou não.

— Ah, oi. – Ele disse todo atrapalhado.

O olhar de surpresa de Jane foi visível apenas por um segundo. Depois disso, ela conseguiu disfarçar muito bem sua expressão.

— Bom dia, Bingley. – Jane respondeu com seu tom de voz normal, Charles só pode perceber a frieza porque ela chamou-o pelo sobrenome. – Não sabia que os outros convidados chegariam tão cedo.

— É que Lady Catherine é muito amiga da família e ela nos convidou para o café da manhã. – Ele ainda parecia sem jeito.

Ao ouvir o que Charles tinha dito, o estômago de Elizabeth se revirou. Aquele “nós” com certeza significava que Caroline estava ali, pendurada em seu Darcy. Só aquele pensamento fez seu humor balançar, mas por outro lado, talvez sua irmã, Jane, tivesse a chance de se acertar com Bingley. Não era culpa dele ter uma irmã intragável e inconveniente.

— Que legal. – Jane sorriu com sinceridade. – Bom te ver, mas agora minha irmã e eu estamos descendo para o café. Com licença.

Jane puxou Elizabeth, que foi sem reclamar. Demorou alguns segundos para que Bingley finalmente decidisse dizer algo.

— Jane! – Ele chamou-a a alguns passos de distância.

— Oi? – Ela respondeu, com certo desinteresse. Jane estava com uma aparência tão calma que nem mesmo Elizabeth estava conseguindo perceber se aquilo era só atuação ou não.

— Será que eu posso conversar com você?

Jane pareceu considerar por alguns segundos antes de responder. Talvez para tortura-lo.

— Sinto muito, mas Charlotte está nos esperando. E você sabe, hoje o dia é dela. – Dito isso, Jane voltou a andar ao lado da irmã, sem olhar para trás.

— Jane, você está bem? – Liz sussurrou baixinho.

— Quer saber? Estou sim. – Sua resposta parecia realmente sincera. – Fiquei com medo desse momento, tinha certeza de que iria vê-lo aqui, mas isso realmente não me afetou.

— Está certo! – Lizzie disse animada. – Ele foi um idiota, agora te quer de volta? Tem que sofrer um pouco!

— Não, Liz. Não estou interessada em nenhum tipo de vingança. – Jane sorriu com sinceridade. – Isso não me traria nada de bom. Eu apenas fui sincera, hoje o dia é da Char e eu quero me concentrar nisso, ela precisa de nós! Por mais que ela esteja animada, tenho certeza de que ela também está assustada e vai querer que nós estejamos lá, apoiando ela, confiantes de que tudo vai dar certo.

— É, não tinha parado para pensar nisso.

— Não tenho rancor do Charles. Ele me machucou, e isso matou o amor que eu sentia por ele. – Ela parou e suspirou. – Acho que matou é uma palavra muito forte, mas diminuiu muito e se ele quiser, vamos ter que começar do zero. Ele vai ter que me reconquistar, mas agora não é o momento.

— Nossa, Jane. Quando crescer eu quero ser como você. – Brincou, Lizzie, enquanto elas estavam descendo as escadas. – Acho que eu não conseguiria ser assim, sou muito rancorosa.

— E eu não sei? – Jane cutucou a irmã. – Mas não é bom viver assim, Liz.

— Você tem razão. – Elizabeth respondeu pensativa. As vezes achava que Jane era muito boazinha e algumas pessoas acabavam se aproveitando disso, mas no final do dia, pensou, sua irmã conseguia ter uma noite tranquila de sono. Quando o mundo a machucava, ela simplesmente dava a outra face. Era uma pessoa admirável, um exemplo a ser seguido.

Quando chegaram ao hall de entrada, perceberam que o salão onde serviram o jantar na noite anterior estava vazio.

— Mas são oito e meia! – Elizabeth se desesperou. – Ela falou até as nove, não foi? Você também ouviu! Será que aquela bruxa nos enganou?

Bem naquela hora, uma funcionária apareceu e antes de seguir apressada para cozinha, explicou o que estava acontecendo.

— Senhoritas, bom dia. O dia hoje estava tão agradável que Lady Catherine pediu para que nós servíssemos o café da manhã lá no jardim.

— Que bom. – Jane respondeu com um sorriso. – Obrigada.

— Nossa, que susto! Eu já ia chorar.

As duas seguiram para o jardim e não demoraram muito para ver uma grande mesa com vários tipos de pães, bolos, chás e sucos e algumas pessoas sentadas conversando.

O olhar de Liz não demorou para encontrar sua amiga Charlotte ao lado do noivo, o sr. Collins e depois, o sr. Darcy, conversando com Caroline. Sua vontade foi de ir até lá e fazer a irmã de Bingley engolir aquela risadinha afetada dela. Elizabeth não costumava ser uma pessoa ciumenta, mas aquela garota a tirava do sério, ela dava em cima do médico de maneira descarada e a julgar pelo olhar de desdém de Catherine em sua direção, Caroline era a candidata perfeita para o sobrinho.

— Vamos. – Lizzie puxou Jane para a direção aposta da mesa. – Você tem razão, hoje eu não estou nem aí para ele, só quero que tudo dê certo no casamento da Char.

— É, dá para ver mesmo que você não está nem aí. – Jane achou graça da situação. – Ele está olhando para você.

— Ótimo, deixe olhar. Não estou nem aí.

— Lembra que você disse que queria ser igual a mim?

— Querer não é poder. – Elizabeth respondeu com uma careta.

Lizzie sentou na mesa e mesmo sem olhar ao redor, sabia que Lady Catherine estava mais do que satisfeita. Mas ela não ia dar aquele gostinho para a megera, então tratou de bloquear seus pensamentos em qualquer outra coisa e começou uma conversa com Charlotte que ela tentou fazer parecer mais animada do que realmente estava.

— Acho que a ficha só está começando a cair agora! – Char sussurrou baixinho quando o sr. Collins se retirou, deixando-a com as amigas. Era como se ele entendesse exatamente do que ela estava precisando.

— Você não vai surtar agora, vai? – Liz perguntou de brincadeira.

— Ai meu Deus! – Char exclamou, aparentemente tendo um ataque de ansiedade. – Acho que eu vou! Eu vou me casar, como isso aconteceu?

— Sim, você vai e vai ser a cerimônia mais linda de todas e depois você vai sair em lua de mel e quando voltar, vocês vão se mudar para uma casa nova e linda, no subúrbio e com um jardim enorme, do jeito que você sempre sonhou. – Jane falou de forma fluída na tentativa de acalmar a amiga.

— Casa com jardim, vou focar nisso. – Por alguns segundos ela pareceu se tranquilizar. – Mas nós vamos morar juntos, isso é tão estranho!

— Deixa disso, Char! Vocês estão praticamente morando juntos desde que começaram o noivado.

— Eu sei, Liz! Mas é diferente!

— Diferente como?

— Quando eu queria, tinha um espaço meu para fugir, para me esconder e descansar e agora eu não vou ter! E se eu quiser ficar um tempo sozinha, e se...

— Nada de e se. – Jane respondeu. – Char, você sabe que sempre terá um lugar para você se esconder lá em casa.

— Eu não poderia ter arrumado amigas melhores do que vocês! – Charlotte puxou as duas Bennet para um abraço coletivo. – Amo vocês!

— E nós também te amamos. – Jane respondeu com a voz emocionada, alheia ao fato de todos ali estarem admirando aquele gesto de amizade.

— E temos certeza de que será o casamento perfeito. No começo eu achei estranho, mas hoje não imagino você sem o Collins. Vocês foram feitos um para o outro.

— Obrigada. – Char sussurrou com os olhos cheios de lágrimas.

Bem naquele momento, o sr. Bingley chegou e se juntou a sua irmã, que olhava para as garotas com uma expressão muito parecida com a de Lady Catherine, e ao seu amigo, o dr. Darcy, que não pode disfarçar seu olhar apaixonado em direção a Elizabeth. Foi aí que ele percebeu a besteira que fizera quando deixou Jane, mas agora ela já parecia ter seguido em frente, enquanto ele, estava ali, com o mesmo olhar bobo do amigo, só que em direção a versão mais velha das Bennet. Aquelas garotas realmente mexeram com eles.