O mês que se seguiu foi uma verdadeira loucura. Charlotte pediu para que Elizabeth fosse sua madrinha e ela, é claro, aceitou. Foi uma corrida contra o tempo para elas conseguirem ir atrás de tudo o que estava faltando e por isso, seus horários no hospital tiveram que ser alterados. Várias vezes durante o dia ela precisou sair para acompanhar a amiga a uma prova de vestidos, ou para escolher o bolo ou mesmo para acudi-la com alguma emergência de última hora. Sorte delas que o novo era o chefe de Lizzie, caso contrário, Charlotte teria ficado louca.

A mudança mais brusca no planejamento, foi o local da festa. Collins e Charlotte combinaram de fazer algo extremamente simples e íntimo, mesmo porque, a família da noiva não estaria presente. Charlotte tinha planos de fazer uma grande festa com a sua família gigante em alguns meses, quando tiraria férias e ela e seu marido visitariam o país de origem dela. Só que todos os planos foram por água abaixo quando o casal foi até a casa de Catherine de Bourgh entregar o convite.

A velha senhora, ou bruxa, nas palavras de Charlotte para Elizabeth, disse que era inadmissível uma pessoa com a importância de Collins se rebaixar a algo assim. A cerimônia podia ser íntima, mas seria uma belíssima festa e para isso deveria acontecer ali, em seu grande casarão no campo.

— Converse com o Collins, diga que não é isso que você quer. – Elizabeth sugeriu certa noite, enquanto elas estavam verificando se todos os convites já tinham sido entregues.

— Eu já falei, Lizzie. Disse que essa mudança vai afetar todo o planejamento e que estamos ficando sem tempo. Só que ele está de mãos atadas, Catherine é a maior benfeitora do hospital e ela é muito tradicional.

— Mas esse dia deveria ser de vocês, não entendo o que a benfeitora do hospital tem a ver com tudo.

— Nem me fale. Acontece que aparentemente essa senhora e a mãe do William eram super amigas, e desde que ela morreu, Catherine tem se comportado como se fosse mãe dele e como ele sempre deu muito espaço para ela... Enfim, ela é basicamente minha sogra.

Elizabeth fingiu tremer e fez uma careta.

— É, não se esqueça de que ela é tia do Darcy. Talvez não seja apenas eu que a tenha como sogra.

Lizzie riu e balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Nada a ver, Char. O relacionamento entre nós está mais frio do que um cubo de gelo.

— Porque você não tem tido muito tempo. Espera só essa loucura passar, aliás, espere só o final de semana do casamento. Ele vai estar lá, aí vocês vão poder conversar sobre aquilo que não conversaram até agora.

— Mas a tia malvada dele também vai estar. – Elizabeth brincou enquanto continuava a riscar mais alguns nomes. – E nós já nos vimos algumas vezes. Ele não tocou no assunto, então eu também não vou.

— Mas que seres humanos mais complicados vocês são! – Charlotte suspirou desanimada. – Sabia que esse roteiro de novela já está me cansando?

— Então vamos parar de falar nisso e focar no que estamos fazendo.

Charlotte revirou os olhos. Já estava quase indo falar com o dr. Darcy ela mesma para ver se não conseguia dar um empurrãozinho. Char sempre foi muito prática. Ela simplesmente não conseguia entender aqueles dois. Eles claramente sentiam algo um pelo outro, não precisava ficar muito tempo perto deles para notar. Só que ao invés de darem logo uma chance para a coisa, ficavam nesse chove não molha. Para Charlotte as coisas eram assim: ela tentava e se desse certo, ótimo, se não, ela desencanava. Por que as pessoas complicavam tanto?

Enfim, as semanas foram passando e tudo foi se ajeitando. O casamento iria acontecer na casa de Catherine de Bourgh no primeiro domingo do mês seguinte, mas foi pedido para que alguns convidados já chegassem no sábado. Lady Catherine daria um grande jantar e os últimos detalhes seriam acertados na presença de todos.

Jane, que também seria uma das madrinhas, apareceu no sábado de manhã no apartamento que dividia com Lizzie. Juntas elas arrumaram tudo o que faltava e ficaram um tempo conversando e se preparando.

— E aí, o que acha? – Ela saiu do banheiro com o vestido azul que comprara para a data especial. Até então, Liz só tinha visto ele por fotos, já que as duas fizeram de tudo para comprar vestidos, cujos tons fossem bem parecidos.

— Jane! Você está linda! Nunca te falaram que é feio tentar ficar mais bonita que a noiva?

— Você achou muito extravagante? – Jane ficou um pouco vermelha.

— Eu estou brincando. – Liz riu. – Você está divina, mas tenho certeza que a Charlotte vai estar deslumbrante também.

— Mas está muito chamativo? – Ela perguntou, ainda insegura.

— Não, Jane. É um vestido simples, mas o caimento ficou lindo. Parece que foi feito para você, e não é nem um pouco extravagante. Só combina demais com você. – Lizzie sorriu incentivando a irmã.

— Está bom. Vou acreditar, agora me deixe ver o seu.

Lizzie foi até o quarto e pegou o vestido que estava pendurado em um cabide do lado de fora do armário. Não sem antes admirá-lo. Era o vestido perfeito que ela acabou achando um dia, sem querer, em suas andanças atrás de coisas para o casamento com Charlotte.

Era aquele tom de azul que deixava qualquer uma mais bonita. Ele era bem acinturado, justo até um ponto e depois, finas camadas de tecido caiam até o chão. Depois de colocar ele no corpo, ela ficou dando voltas, sentindo-se uma verdadeira princesa, antes de correr até a sala para mostrá-lo para Jane.

— Lizzie, que vestido mais lindo! – O olhar admirado de Jane não mentia, a irmã estava deslumbrante.

— Não é? E eu o encontrei totalmente sem querer. – Ela disse dando mais algumas voltas e fazendo a irmã sorrir.

— Nosso primeiro casamento aqui. – Jane suspirou. E quem diria que seria o da Charlotte?

— Achou que seria o seu? – Lizzie brincou.

— Não estou falando de quem seria a primeira de nós. É só que eu ainda não tinha ido a um casamento aqui.

— Tem razão. Esse negócio de lista de mesas e chegar um dia antes é tão estranho, mas deve ser bem bonito, pelo menos a Char se esforçou muito para tudo sair perfeito.

— E tenho certeza que tudo será perfeito. – Jane sorriu animada. – Agora vamos trocar de roupa e comer algo. Acho bom sairmos mais cedo porque se a gente se atrasar para o tal jantar dessa Catherine, estamos ferradas.

Lizzie concordou e não demorou muito para elas estarem levando as malas para o carro e trancando a casa.

— Acho que estamos levando mais coisa para o final de semana do que eu levei para passar meses na casa da tia. – Jane exclamou cansada, depois que ela, com a ajuda de Liz colocou tudo na mala do carro.

— Melhor prevenir, não é? Não sei bem como esse pessoal chique daqui se comporta.

Foram poucas horas de estrada e logo as irmãs Bennet chegaram à casa de Catherine de Bourgh. Lizzie achou que aquilo estava mais para um castelo, pois elas ainda demoraram vários minutos para chegar até a casa depois de cruzarem os portões da propriedade. O sol ainda não havia se posto quando elas pararam o carro no recuo da casa. Charlotte havia mandado uma mensagem dizendo que Catherine havia contratado manobristas para os convidados não precisarem se preocupar.

— Agora eu estou definitivamente assustada. – Liz sussurrou para Jane antes delas saírem do carro.

Logo na entrada havia um cordão de gente, a maioria não parecia muito feliz, recepcionando os convidados. Liz imaginou como seria então amanhã. Na ponta estava uma senhora com aparência distinta, que a olhou de cima a baixo. Liz amaldiçoou a hora em que disse para Jane que iria de jeans por ser mais confortável durante a viagem. A boca da mulher se contraiu ao vê-la, mas mesmo assim, ela cumprimentou as irmãs com um excesso de cortesia.

— Sejam bem-vindas à minha residência.

— Essa são as minhas amigas do... – Charlotte, que estava na outra ponta, começou a dizer, mas logo se calou, pois recebeu um olhar extremamente severo da senhora.

— Sim, Charlotte, eu imagino que sejam as srtas. Bennet, estou correta?

— Sim, senhora. – Jane respondeu com humildade.

— Eu sou Catherine de Bourgh, este é meu sobrinho, Darcy. – Lizzie quase engasgou, estava se sentindo tão desconfortável com aquela situação que mal tinha se dado conta de quem era o cavaleiro de aparência distinta ao lado da mulher.

— Elizabeth. – Ele cumprimentou e Liz sentiu um frio na espinha.

Catherine lançou um olhar assustador ao sobrinho. Provavelmente não tinha gostado nada do fato dele tê-la chamado pelo primeiro nome.

— Nós já nos conhecemos. – Elizabeth tentou explicar, ainda assustada.

— Ótimo. – O olhar de Catherine agora estava analisando tudo em Elizabeth. – E o jovem casal, você claro, já conhece.

Liz e Jane sorriram nervosamente para todos e logo um homem já estava ao lado delas com todos os seus pertences.

— Ele as acompanhará aos aposentos de vocês. O jantar será servido pontualmente às sete. Até lá, não tenham receio de se aventurar pela propriedade, se assim vocês desejarem. – Lady Catherine anunciou com um sorriso não muito convincente.

Liz e Jane deram um sorriso sem graça para Charlotte e Collins e seguiram o funcionário que estava carregando a bagagem delas. A casa, por dentro, era majestosa. Apesar de antiga, era muito bem conservada e por todos os cantos haviam quadros e candelabros. Lembrava muito aqueles castelos que elas viam nos filmes. Uma vez que se instalaram no grande quarto com varanda e uma bela vista para os jardins, a postura delas conseguiu relaxar um pouco.

— O que foi isso? – Lizzie foi a primeira a falar.

— Não faço ideia, mas foi estranho. – Jane se jogou em uma das camas.

— Imagina como não vai ser o jantar.

Jane fez uma careta, elas precisavam mesmo descer para jantar?

— Se pudesse eu nem iria. – Lizie disse, quase como se tivesse lido os pensamentos da irmã. – Aguentar essa doida que aparentemente odeia jeans e o dr. Darcy não vai ser fácil.

— Deixa disso, eu vi sua cara quando viu o Darcy, você gostou. – Jane respondeu em tom de brincadeira. – Assim você poderá conhece-lo em seu habitat natural.

— Se ele for tão chato quanto a tia, eu passo.

— Ele estava perto dela, não pode culpa-lo, ela parece assustadora. Se fosse minha tia eu ia obedecer tudo também.

— Eu fico com dó da Char. – Lizzie disse enquanto tirava o casaco. – Ela não parecia feliz.

— Não mesmo. – Jane murmurou triste. – Espero que amanhã seja um pouco mais descontraído.

— Também espero. Agora, lady Jane, se você me der licença eu vou me aprontar para o jantar. – Lizzie fez uma reverência de brincadeira ao que Jane gargalhou.

— Vai lá, teremos uma longa noite. Melhor a gente se preparar, acho que vou ler um pouco de Jane Austen.

Lizzie riu e fechou a porta do banheiro. Precisava muito de um bom e relaxante banho antes de enfrentar o tal jantar de Catherine de Bourgh.