Ela tinha cabelos cor-de-rosa brilhantes como chiclete. Eu até achei estranho no começo, lá quando nós nos conhecemos, mas acabei me acostumando tanto que não consigo mais imaginá-la de outro jeito. Agora, aquela cor radiante era a única coisa que eu conseguia ver no meio de tanta escuridão.

Onde estávamos? Como fomos parar ali? Se eu gritasse, será que alguém viria nos ajudar? Meu coração disparou assim que isso se passou pela minha cabeça; a única coisa mais assustadora do que estarmos sozinhas no meio do escuro e do nada era a possibilidade de haver alguém ali, escondido entre as trevas só esperando pelo momento certo. Senti meu coração bater cada vez mais rápido e eu quase não conseguia puxar o ar para respirar.

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Era possível que os meus batimentos cardíacos estivessem naquele ritmo frenético sem que eu estivesse enfartando? Pensei ter ouvido um ruído, mas logo dispensei a ideia. Não. Não, não, não. Tentei respirar fundo e o ar ainda não vinha, ou eu sentia como se não houvesse ar, não sei dizer. Era uma sensação estranha demais.

Ela riu. E ainda era aquela risada alegre e cativante que eu não ouvia há muito tempo, que me fazia mais falta do que eu poderia ter imaginado algum dia…

Os ruídos se tornaram passos, baques secos e abafados que vinham na minha direção. Os cabelos cor de chiclete se aproximavam cada vez mais, assim como a presença dela. Eu podia sentir a energia intensa que ela emanava como se nunca tivesse acontecido nada, como se tudo tivesse sido apenas um sonho muito ruim.

— Você está aí?

O som do meu próprio sussurro me deu arrepios, mas eu não conseguia falar mais alto. Na verdade, eu não queria dizer nada. Apenas escapou sem que eu me desse conta porque, afinal, o que eu poderia dizer a ela? Não houve resposta e os passos se apressarem.

— Olá?

Droga! Por que eu sempre piorava a situação para mim mesma quando ficava nervosa? E, ainda assim, eu continuei sem receber nenhuma réplica, nem nenhum sinal de que as minhas palavras estavam chegando a alguém. Apesar de todas as minhas tentativas, eu simplesmente nunca era ouvida e sabia que a culpa disso era apenas minha. Eu precisava ter mais coragem se quisesse chega a algum lugar e sabia disso. Esse pensamento tomou conta de mim quando ouvi uma risada debochada bem atrás do meu ouvido.

Isso não se parecia com nada do que eu me lembrava.

— Pare de me ignorar! Por que você está aqui?

O grito foi tão alto que a fez a minha garganta arder e, ainda assim, eu não entendia exatamente o porquê de ter feito aquilo.

Antes que eu pudesse pensar muito, finalmente ouvi uma resposta:

— E não é que você consegue fazer barulho quando quer? Estou impressionada.

Aquela voz suave também veio carregada com um deboche que eu não conhecia e eu não sabia exatamente o que entender daquilo. Ou, de certa forma, eu até sabia… mas por que ela se preocupava com isso? Era essa parte que eu não conseguia entender.

Os passos recomeçaram. Pude sentir quando ela passou pelo meu lado. E, quando se colocou de pé bem à minha frente, eu finalmente pude vê-la.

Apesar de todas as minhas angústias, as lembranças e as dúvidas, nada poderia ter me preparado para olhar para a pessoa que estava me encarando.

Ela era idêntica a mim. Eu conhecia bem aquele rosto, mesmo que estivesse envolto em cabelos cor de chiclete, porque ele era meu. E, ao mesmo tempo… ela era completamente diferente em quase todos os jeitos possíveis. Ela era mais alta, seus traços pareciam ser mais definidos e a sua postura ereta me passava a imagem de alguém completamente segura de si, algo que eu, definitivamente, sempre estive longe de ser. Eu nunca conseguiria manter aquela expressão firme por tanto tempo.

Onde eu estava? Para onde ela tinha ido? O que estava acontecendo?

— Não tenha medo — a pessoa à minha frente voltou a falar comigo sem nem tentar esconder a frieza na voz. — Chegou a hora de escolher entre a realidade e sua ilusão. Eu vou te ajudar.

Quando ela estendeu a mão para mim, abri os olhos e levantei assustada. Meu despertador estava tocando e os bipes faziam meus ouvidos doerem.

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