Sonhei que tinha nove anos. Eu segurava a mão de minha mãe. Não me lembrava de seu rosto com tanta clareza para reconhece-lá mas tinha certeza de que era minha mãe.

Ao seu lado, um homem de pele meio acinzentada e de terno preto olhava fixamente para frente. Ele definitivamente não era o meu pai e por algum motivo, eu não gostava dele. Minha mãe estava segurando minha irmã Marcy no colo. Eu não conseguia parar de observa-la, com uma mistura de fascínio e amor. Minha mãe apertou minha mão de leve e caminhou para frente.

Me virei para ver onde estávamos, me deparei com uma enorme universidade. Estávamos na entrada e minha mãe bateu de leve na porta. A porta se abriu e pelo barulho que havia feito, devia ser bem antiga.

A pessoa que abrira a porta era um homem, moreno que usava óculos. Seus olhos eram cansados, mas um pouco mais jovens. Ele era o homem dos sonhos, que andava com a coroa. Ele sorriu ao me ver e se abaixou até que estivesse na mesma altura que eu e disse:

– Olá Saphira! Serei seu instrutor aqui! Vamos nos divertir muito resolvendo contas e atirando com armas - ele sorriu, como se fosse normal ensinar coisas como atirar nas escolas - Sou o Simon, serei como um pai aqui para você. Minha esposa Betty está arrumando um quarto ao lado do nosso para você! Ela também ira te ensinar e cuidar de você - Ele fez um afago de leve em meus cabelos emaranhados depois se voltou a minha mãe e disse - Podem vir visita-lá quando quiserem. Os pais são sempre presentes para observar o processo de crescimento das crianças aqui. E com a Guerra se iniciando, quem sabe se a próxima visita é a ultima! - ele falou em um tom de voz baixo para que eu não pudesse ouvir. Ele não era bom em cochichar.

O homem de terno tossiu e olhou para o relógio. Parecia que estava desperdiçando um tempo importante da sua vida ali e olhou discretamente para a minha mãe, mas de forma feroz. Eu via maldade em seus olhos e não gostava nem um pouco disso. Minha mãe enrigeceu e olhou para mim com o canto dos olhos depois olhou para Simon e falou, nem sequer se importando se eu iria escutar ou não.

– Não voltarei para vê-la. Não me importo com o que fará ou deixará de fazer. Ela não é mais bem vinda na nossa família. - disse em um tom seco e ríspido.

Ela se virou e saiu, acompanhada do homem de terno. Marcy chorava em seus braços. Os observei até que entrassem em um carro preto parado atrás de mim. Eles saíram da universidade sem ao menos olhar para trás.

Ajeitei os óculos e tentei não chorar. Não acreditara que minha mãe dissera isso.

Também não conseguira pensar em nada de tão ruim que eu fizera que a levasse a me abandonar mas Simon apenas sorriu e fez um afago em meus cabelos, fazendo com que ficassem ainda mais emaranhados.

– Não fique triste. Vamos cuidar de você. Você será o tipo de pessoa que conseguirá parar uma guerra! - ele me abraçou e me levantou no colo, com um pouco de dificuldade. Começou a cantarolar alguma coisa mas acabei adormecendo em seus braços.

...

Quando acordei, estava suada e muito nervosa. Me levantei para ver se todos estavam bem. Jake estava em sua forma gigante com Finn deitado sobre sua enorme barriga e com Nathan adormecido ao lado de Jake. Hera ainda estava dormindo profundamente. Fiquei me perguntando se ela também tinha acesso aos meus sonhos, mas parecia que não, já que não havia se movido, e eu também não tinha acesso aos seus sonhos.

Me sentei sobre a grama e comecei a cantarolar a musica que Simon estava cantarolando no sonho. Era tão boa e confortável. Em tinha tantas perguntas sobre o sonho mas tentei não pensar muito nele. Apenas fiquei observando o sol começar a nascer. De repente sinto que alguém está bem atrás de mim. Será que ira me atacar? Se isso acontecer, não tenho muitas chances de me defender o que significa atacar antes de ser atacada. Um segundo depois estou me virando para trás e dando uma rasteira na pessoa que esta atrás de mim. Ela cai sem tentar lutar e me jogo em cima dela. Pego uma pedra que estava do meu lado e a seguro, preparando para um golpe certeiro na sua cara quando paro e reparo que a pessoa é Finn. Ele parece assustado. O seu capuz estava caído ao seu lado, mostrando seus cabelos loiros que iam até os ombros. Fiquei o olhando até que me lembrei que estava em cima dele. Corei e me afastei dele, o ajudando a se sentar.

– Me desculpe... Por te atacar... É que eu achei... Que ia ser atacada então... Desculpe... - minha voz soara mais baixa do que eu gostaria.

Ele apenas me observava, em choque. De repente, abriu um enorme sorriso e seus olhos brilhavam de empolgação.

– Uau! Isso foi brilhante! Foi uma bela rasteira! - Talvez ele houvesse batido a cabeça no chão. Como podia estar impressionado? Eu acabara de o derrubar no chão! - O que esta fazendo acordada? Não devia estar descansando? Só vamos partir depois do almoço! - disse ele.

– Perdi o sono... - eu murmurei. Não iria contar para ele sobre o sonho. Era mais pessoal do que eu gostaria. - O que você faz acordado?

Ele sorriu e olhou para o sol. Seus olhos tinham um brilho de tristeza. Ele olhou pra mim e eu ficara toda arrepiada. Pensei em quantas vezes eu havia falado com um garoto tão bonito. Eu não conseguia me lembrar de nenhum possível namorado no passado então a resposta poderia ser nunca.

– Tive um pesadelo com o meu pai. - Ele olhou de relance para seu braço direito, que estava intacto, sem nenhum arranhão. - Ele arrancou esse braço meu.

– Ahn... Como ele pode ter arrancado esse braço seu se... Se ele continua ai? - Perguntei. Aquilo não fazia sentido.

Ele sorriu de novo. Seus olhos já não mostravam mais tristeza, agora ele parecia estar se divertindo. Ele chegou mais perto de mim, tocando de leve seu ombro esquerdo no meu. Eu fiquei toda tensa com o seu toque. Da parte que sua pele encostava na minha eu sentia uma energia que estava se espalhando por todo o meu corpo.

– Meu braço cresceu de novo. - ele disse. Ele estaca tão perto que conseguia sentir seu hálito, quente e com um aroma de suco de uva.

Dei uma risada. Era impossível que um braço crescesse de novo. Ele ficou me observando por um tempo enquanto eu ria.

Então minha risada se tornou em um riso nervoso. Olhei para ele, mas não consegui sustentar seu olhar e virei o rosto para o nascer do sol. Ele fez o mesmo e ficamos ali, apreciando o céu, agora já claro.

Escutei Nathan e Jake acordando. Me virei e vi que Hera já estava acordada. Ela olhava para mim, e para Finn de um jeito que eu não precisaria ler sua mente para entender o que ela estava sugerindo. Preparamos o café da manhã e checamos nossos suprimentos. Jake e Hera estavam prontos para partir e eu estava apenas colocando os tênis e perguntei para Nathan se ele tinha certeza de que estaria tudo bem em vir conosco e ele disse que precisava me proteger. Ele era muito fofo, parecia um irmão mais novo tentando proteger sua irmã mais velha. Lê dei um leve empurrão dizendo:

– Então vamos logo pequeno!

Ele sorriu e saiu correndo em direção a Jake, que o ajudou a subir em suas costas. Finn também montou em Jake e estava apenas esperando que eu montasse em Hera.

Quando a montei ela me disse:

"Eu vi 'aquilo' lá, ok?!" e soltou uma risada.

Eu estava meio nervosa e espero que eu não tenha ficado vermelha.

"Não sei do que você esta falando. O que você quer dizer com 'aquilo'?"

Ela apenas riu mais uma vez e se aprontou para voar. Eu adorava voar em suas costas. Era como se eu pudesse fazer tudo e estivesse livre.

Eu perguntei para Finn onde estávamos indo. Ele fez uma expressão séria e murmurou.

– Estamos indo visitar minha ex namorada...