Risa terminou de ouvir a transmissão dominada de surpresa. Dentre todas as possibilidades, nunca achou que uma mulher seria a pessoa que lideraria um negócio daquele tipo. Seu coração estava aquecido com o repúdio, fitando as duas crianças no canto sala enquanto só pensava no tipo de tratamento que faria questão de oferecer aquela mulher.

Duas horas mais tarde, depois de um dia sem ver ninguém além daquelas seis mulheres, um dos homens apareceu abrindo a porta com um estrondo. Era Zara, o parceiro daquele assassino.

— Boa noite meninas, estão apreciando a estadia? – Ele olhou em volta, obviamente sem receber nenhuma resposta. Mas um pouco de sua curiosidade foi atiçada ao perceber que a novata, Risa, era a única que o olhava diretamente. Seus olhos azuis tinham um estranho brilho que ele preferiu evitar – Bom... Parece que chegou a hora de vocês se apresentarem para o trabalho. O próximo lote chegará e vocês precisam desocupar essa sala.

Outros dois homens estranhos apareceram e prenderam todas as mulheres numa longa corrente, obrigando-as a andar em fila. Risa era a segunda, logo atrás de Nishino-san. Abrindo novamente a ferida em sua palma, Risa deixou mais rastros de sangue até chegarem numa sala bem maior, com luz artificial. Então começou a triagem: todas foram separadas em grupos por idade e dirigidas para outras salas.

Risa ficou a sós com as duas meninas mais jovens, ambas tremendo.

— Qual o nome de vocês? – Perguntou Risa em voz baixa, se preocupando em abrir um leve sorriso.

— Loreta... – Respondeu a mais jovem, sem soltar a mão da outra apenas um pouco mais alta.

— Tooru – A mais velha parecia mais calma – Você é... Touka, certo?

— Na verdade não. Meu nome é Terasu Risa-san – Risa estendeu sua mão o máximo que as correntes permitiam, tendo seu cumprimento correspondido pelas duas garotas – Eu sou uma kunoichi e minha missão é libertá-las daqui.

As duas garotinhas se entreolharam.

— Você está dizendo que é uma ninja? Não foi sequestrada? – Tooru perguntou.

Risa balançou a cabeça negativamente, sorrindo.

— Não acredito nisso – Loreta a encarou – Se você fosse forte já teria se libertado dessas correntes.

— E quem disse que eu não posso? Antes disso, preciso que mantenham esse segredo por mim e façam exatamente o que vou lhes pedir agora...

***

Dois homens entraram na saleta, prontos para verificar se nos corpos daquelas três garotas havia alguma marca de doença ou ferida que pudessem diminuir o seu valor, mas o que vinha atrás tromba no colega da frente, irritando-se.

— Que droga! Por que parou de repente?!

— Shh, uma delas desmaiou – Disse simplesmente, vendo a mais velha, Risa-san, caída no chão.

Como as três estavam presas pela mesma corrente, a queda dela obrigou as outras a se agacharem próxima ao corpo desfalecido. O homem de trás soltou um resmungo.

— Anda e acorda ela então. Não podemos começar com essa mulher desse jeito.

As duas meninas se encolheram com a aproximação deles, observando-o esticar os braços, tocando os ombros da jovem ao chão. Tooru apertou a mão de sua companheira, e então o corpo de Risa finalmente foi virado de barriga para cima, revelando os braços soltos.

Uma exclamação fugiu dos lábios do homem.

— Está solta?! – Então passou o olhar para as meninas, mas antes que pudesse tomar alguma atitude Risa abriu seus dois olhos, relevando a mão eu segurava um uma adaga.

Genzai no Hono Jutsu! – Invoca a garota, sentindo seu chakra violta percorrer seu corpo até cobrir a lâmina na sua mão, tornando-a várias vezes mais cortante.

Tooru sabiamente cobre os olhos da sua aliada no momento que a lâmina corta o pescoço de um daqueles capangas. O outro, atônito, demorou até lembrar da faca que tinha na cintura.

— Maldita! – Exclamou, empunhando-a assim que a lâmina de Risa ameaçava cortar seu peito. As duas lâminas tiniram, os olhos de Risa faiscando em direção aos olhos arregalados daquele homem – Quem é você?!

— Não te interessa – Sorriu Risa, provocando o aumento da chama de chakra em sua lâmina, partindo o metal comum da espada do oponente até que pudesse atravessar o peito dele com a adaga.

O corpo pesado tombou ao chão, a mão de Risa manchada de sangue. Sabia que aquela cena não fora agradável às meninas, mas procurou ignorar isso. Era mais importante tirá-las dali.

Finalmente do lado de fora da sala, Risa procurou a trilha que sangue que espalhara. Identificando-a perto da porta, agachou-se com as duas palmas viradas para o chão.

Hakunetsu Torakku! (Trilha incandescente) – Então a cor violeta espalhou-se ferozmente por toda a trilha até a saída. Da porta, Risa olhou para as duas garotas sentadas ao chão – Só saiam daqui a dez minutos, quando eu limpar o caminho.

— M-Mas e se nos pegarem...?! – Pergunta Tooru, soltando as correntes soltas dos braços.

— Não irão, cuidarei deles – Então a imagem de seu pai surgiu em sua mente, aquecendo seu espírito com coragem. Eu não deixo meus camaradas morrerem, certo?

Os pensamentos de Risa se interrompem com o barulho de várias vozes alarmadas.

— Que merda de fogo estranho é esse ?! – Ouviu, vendo um grupo daqueles caras surgir na curva do fim daquele túnel.

Todos encararam a mulher agachada onde a trilha começava, mas em seu rosto um estranho sorriso gentil era dirigido a eles. Então, rapidamente, outra adaga foi retirada com a mão de Risa, envolvida pelas chamas de seu chakra.

— Uma kunoichi?! – Exclamou um deles, sentindo um arrepio passar por sua pele – O que faz aqui?!

— Não interessa, peguem aquela mulher antes que ela continue! – Ordenou o maior deles.

Risa ergueu seu corpo, vendo vários daqueles homens correndo em sua direção. Colocando um pé a sua frente pegou impulso, jogando seu corpo contra eles. Cruzou os braços segurando as lâminas e girou velozmente entre os homens de maneira que a maioria deles foi cortado em várias regiões do corpo. Com elegância, Risa interrompe o giro numa posição que lhe permitiu ver o último homem de pé – o que ordenara o ataque – então dá um salto de maneira a acertar seu joelho em seu maxilar, encerrando com um chute no meio do peito que o fez bater as costas contra a parede do túnel atrás dele.

Ainda acordado, mesmo que atordoado, Risa abaixou a cabeça na mesma altura que ele, observando-o.

— Você precisa me dizer onde estão o restante delas – Pediu, a voz baixa o suficiente para que só ele ouvisse.

— V-Você devia deixar disso... Mesmo que as solte, não sairá viva....

— Mesmo? – O calor da lâmina viva tocou o pescoço do homem, arrancando suor de seu rosto – Se continuar teimando não estará vivo para confirmar sua hipótese.

Com seu refém dominado, ele caminhou a frente dela por todas as salas onde estavam as moças, liberando uma por uma, derrubando homem por homem. Quando pareciam ter percorrido todas as salas – felizmente os túneis não eram muitos – Risa executou o homem, sabendo que um vivo poderia causar problemas futuros. Estava preocupada com o lado de fora, avisara a situação ao Uchiha antes de ataca-los, mas não sabia se ainda assim todas as meninas estavam seguras. Seguiu a trilha que ela mesma fizera até o lado de fora sem as chamas violetas, mas interrompe seus passos ao sentir a presença de algo se aproximando. Assumiu uma postura defensiva e esperou, mas nada havia surgido.

Estranho... Seja quem for, era para estar na minha frente agora.

— Está me esperando, kunoichi-san?

O corpo de Risa se afastou dois metros da voz suave em seu ouvido instintivamente, os pelos de seus braços eriçados e coração retumbante. A sua frente, a mulher misteriosa estava coberta com nada mais que um vestido de tecido transparente o suficiente para ver as roupas íntimas que estavam por baixo. No seu rosto, uma máscara impedia Risa de ver a cor de seus olhos, percebendo apenas os cabelos extremamente escuros que caiam até os joelhos numa elaborada trança.

Seria ela...?

— Você é... Mochizuki? – Perguntou, tentando manter a voz estável.

— Ora, você já me conhece? – Ela deu uma risada semelhante a pequenos sinos tocando. Delicada demais para uma mulher que representava tanta violência – Creio que deveria se apresentar, kunoichi-san.

— Não estou a fim de ter sua amizade – Respondeu, apertando os olhos – O que quero é saber como uma mulher é capaz de sequestrar, prostituir e violentar mulheres e crianças. Você não sente nada?

— Sinto, claro que sinto. Mas faço isso pensando no futuro delas, a prostituição é só um disfarce, sabe. É algo maior que isso. – Os olhos de Risa cresceram.

— Um disfarce? Para o que?

Ela afastou uma mecha dos cabelos do rosto, parecendo deliciar-se da sua curiosidade.

— Sabe, eu não estou a fim de compartilhar minhas ambições com alguém que eu sequer sei o nome. Então acho melhor encerrarmos por aqui, certo?

— Não, não está – Risa arrumou-se, posicionando as duas lâminas a frente do seu corpo numa postura ofensiva – Não vou deixar você sair daqui sem eu ter respostas.

A atenção daquela mulher se prendeu nas duas lâminas a frente dela, observando o tom peculiar daquele chakra. Seus lábios se separaram, formando um enorme sorriso.

— Não pode ser...! – Ela juntou as mãos na frente do corpo – Você é uma Terasu?! Ah! – Bateu palmas, animadíssima. Aquilo desconcertou um pouco Risa – Então você é de Konoha! Ótimo, ótimo! Me diga uma coisa... Mitsue-san, ela ainda vive?

A respiração de Risa foi cortada, arruinando sua postura sem que se desse conta daquilo.

— Você... Conhecia minha mãe?

Aquele foi o último estímulo para que o rosto daquela mulher se distorcesse em pura felicidade, uma felicidade completamente perturbadora.

— Isso só pode ser um presente enviado até nós! A filha daquela mulher, aqui, no meu território - Ela lambeu os lábios, parecendo segurar algo que tentava sair – Você, ah, minha querida Terasu-san! Por ter falado dela no passado e sua reação, vejo que sua preciosa mãe está morta. Lamento... – Sua voz e sua expressão contradiziam toda sua piedade, mas continuou – Mas não fique triste, eu te mostrarei a alguém muito especial. E então poderemos relembrar dela juntos, que tal?

Desta vez não ouve espera. Risa tinha mais que certeza que aquela mulher representava um perigo muito maior que ela e Kazuto jamais pensaram. Então avançou, lançando uma das adagas em direção a um ponto que causaria suficiente estrago para que ela não pudesse se erguer, mas sem que morresse. Contudo, a mulher facilmente se esquiva, saltando para trás rapidamente. Essa distração fora mais que o suficiente para que Risa fizesse rapidamente os selos, pousando no chão e colocando as mãos sobrepostas a frente da boca.

Fuuton: Fuujin no jutsu!

Rapidamente uma corrente de vento vertical atravessa todo o espaço do túnel na direção de Mochizuki em alta velocidade. O corpo da mulher foi jogado para cima na direção da corrente de ar, atravessando a superfície do túnel e depois uma construção, por fim alçando o ar da noite na direção da enorme lua que brilhava.

Ironicamente, Mochizuki significava “Lua cheia”.

Risa interrompeu o ninjutsu, passando pelo túnel que acabara de abrir antes que o prédio acima de si desabasse. Risa se apoiou numa viga exposta e pousou num telhado ao lado, ouvindo a construção a desabar no lado contrário ao seu. Mochizuki cai em outro telhado, olhando em direção a Terasu com o vestido em frangalhos a balançar atrás de si, sem máscara.

Risa então tem outro choque, desta vez com a aparição dos olhos dela. O corpo da oponente era totalmente coberto pela sombra da lua, apenas suas costas iluminadas. Mas ao deixar ereta as costas, a luz refletiu apenas a região da testa e olhos, estes tão brancos como a própria lua.

Os de Risa se recusaram a crer na ideia que passou por sua mente.

— Parece que não está mentindo, Terasu-san – Falou Mochi, fitando a garota ao longe – Seu chakra realmente é forte. Se eu também não tivesse um parecido, eu provavelmente estaria morta agora.

— Não tem como seu chakra ser parecido... – Murmurou Risa, tremendo – São poucas as opções para isso ser possível – Ela sequer estava com alguma coisa que protegesse a pele adequadamente.

— Vamos deixar essa conversa para depois... Você logo compreenderá tudo.

Bastou um piscar para que Mochi atravessasse a longa distância entre elas, acertando mais que certeiramente um soco no meio do rosto de Risa. O corpo da jovem atravessou inúmeros metros, estatelando as costas firmemente contra o chão abaixo das duas de maneira a deixar uma pequena cratera. Então, gradativamente, o disfarce de Risa começou a se desfazer até voltarem suas características originais.

— Shunshin no Jutsu – Murmurou Mochi, usando o mesmo jutsu de agora a pouco de maneira a surgir imediatamente em cima de Risa, na cratera.

Risa tentou mexer os braços, pronta para alcançar uma kunai e atingi-la. Mas estava muito instável para que seu corpo respondesse adequadamente. Aquele fora o soco mais forte que recebera nessa vida e talvez nas próximas que seguissem. E havia explicação: um brilho percorria os dois braços daquela mulher, fortalecendo-os.

Talvez um jutsu Raiton...?

Mochi ergueu um dos braços, pronta para enterrá-lo em algum ponto do corpo de Risa quando no momento exato é retirada do chão. A Terasu fica por um segundo desorientada até perceber a trança escura tremulando ao vento e o símbolo familiar da chama na manga de seu uniforme.

— Kentaro! – Risa abriu um sorriso que foi retribuído com certa preocupação.

— Depois você me agradece. Agora precisamos despistar essa mulher.

Risa olhou por trás das costas dele, percebendo que ela os perseguia logo atrás. E com aquele sorriso que perturbava os pensamentos de Risa.

— Isso não será possível, Ken-san – Ela está obstinada demais. - Precisamos lutar. Juntos teremos mais chance.

— Como quer fazer isso?

Risa abriu a palma da mão na frente de seu rosto, os olhos mais vivos que antes.

— Vamos usar nosso trunfo!

***

Yuuto atravessava a floresta a caminho da vila onde sua sobrinha fora. O Hokage entendeu imediatamente a situação quando apareceu pedindo essa informação, partindo com a localização o mais rápido que pôde. Contudo, ele percebeu que a situação não era simples graças ao barulho de batalha que podia ser ouvido mesmo daquela distância.

Parou o mais próximo possível da vila, assimilando o que acontecia ali. Reparou rapidamente Kazuto junto de sua equipe derrubando o que pareciam homens com habilidades shinobi e outros mais abaixo disso. Em outro canto uma pilha de destroços chamava atenção ainda com alguma poeira em volta, mas não pôde visualizar quem estava ali. Decidiu descer em direção a um grupo composto majoritariamente de mulheres e crianças, todos se acumulando num campo aberto mais afastado da zona de briga. Talvez estivessem sendo resgatadas, logo confirmando sua hipótese ao reconhecer Reiji, um Jounin conhecido na vila.

— Reiji-san – O homem se virou em sua direção, identificando Yuuto. Reiji falou alguma coisa para o grupo de mulheres a sua frente e então voltou-se para o Terasu.

— Yuuto... O que está fazendo aqui?

— Vim atrás de minha sobrinha – Respondeu, observando os rostos amedrontados ao redor. Além deles, identificou dois ninjas misturados entre eles, Nana e Makoto. Uma elevação de terra formava um semicírculo que impedia que quem estivesse dentro da vila chegasse ali facilmente – Estou vendo que estão numa situação delicada aqui. Quem levantou isso tudo?

— Fui eu, Terasu-san – Disse Nana, aproximando-se. Assim como a maioria das pessoas bem informadas, sabia que aquele homem era um Jounin muito experiente, ex-membro da ANBU, irmão de Terasu Mitsue e um dos herdeiros da liderança daquele poderoso Clã.

— Justus Doton são uma especialidade de Nana, na verdade – Comentou Makoto-san observando Yuuto de soslaio. Estava de guarda.

Quando Nana percebeu a atenção dele sobre si, não teve como evitar um leve estremecimento. Estava sendo notada por ele, coisa que nunca pensou que ocorreria ali, em ação.

Yuuto abriu-lhe um sorriso de genuína apreciação.

— Bom trabalho – Elogiou.

O rosto de Nana aqueceu involuntariamente, ficando próximo da cor de seus cabelos.

— O-Obrigada!

Uma gota de suor desceu pelo rosto de Makoto, observando a membro de sua equipe desconcertada de maneira tão boba e por tão pouco. Bufou.

Mulheres...

— Então... Sabe me dizer onde Risa está?

— Creio que ainda esteja à noroeste daqui, perto de um monte de destroços. Estava lutando contra Mochizuki, a líder desses homens com quem lutamos. Aparentemente está sendo uma luta difícil.

— É uma kunoichi?

— Ou então foi treinada como uma.

Yuuto assentiu, olhando na direção onde visualizara os tais destroços.

— Obrigado pela informação, Reiji. Vou ali dar uma mãozinha a ela.

— Tudo bem, tome – Reiji estendeu uma pequena caixa – É um de nossos rádios, use-o caso precisem de algo.

Yuuto colocou o aparelho no ouvido, partindo em seguida. Nana se aproximou mais de Reiji, observando com ele o homem desaparecer.

— Deve ter acontecido algo de relevante para ele vir até aqui – Observou Nana.

— Com certeza – Concordou, mas logo voltou a dar atenção as mulheres ainda assustadas – De qualquer modo, precisamos cuidar dessas moças até termos condições de tirá-las daqui.

— Sim...

***

Risa e Kentaro, não sem esforço, conseguiram se esconder de Mochizuki. Mas não no propósito de fugirem, mas para se preparem para a melhor chance de a derrotar. A dupla, de pé um para o outro, tiraram as luvas que cobriam suas mãos – item obrigatório entre os Terasu. Os dois respiraram por alguns instantes, as mãos abertas, mas sem se tocarem.

— Está pronto? – Perguntou Risa, nervosa e inutilmente tentando disfarçar.

Kentaro apenas sorriu para ela, sentindo o mesmo.

— Estou, e você?

— Estou.

Kentaro aproximou as suas mãos das dela, entrelaçando os dedos e apertando-os com força. Risa e Ken soltaram o ar da boca, sentindo o forte formigamento passar pelas peles dos dois – os chakras similares se comunicando, conectando. Risa lentamente fechou seus dedos também, sentindo vivamente tanto o seu chakra quanto o dele passarem rapidamente por todo o corpo, preenchendo-os de calor e energia.

Tocar um outro Terasu diretamente não era apenas... contato. Era estabelecer uma conexão intima entre as duas energias, entre os dois corpos. Depois de se tocarem, eram capazes de saber quase tudo sobre o outro: seus sentimentos e intenções, a força do seu chakra, sua quantidade, a extensão do corpo do outro como se fosse o seu próprio.

Por isso que o rosto de Risa, apesar de concentrado, estava tão quente que poderia incendiar-se.

— Acho que já conseguimos – Disse Ken, um tanto sem fôlego. Risa possuía um chakra evidentemente superior ao seu, pressionando tudo onde passava como que clamando espaço.

— Vamos!

Os dois, segurando as mãos um do outro, saltaram em direção ao ponto mais alto dali, facilmente sendo vistos por Mochi assim que se revelaram – ambos os corpos emanando chakra como tochas humanas.

Mochi deu um passo para trás.

— Eles... – Um chiado escapou por seus lábios – Qualquer jutsu que eles usarem agora estará muito amplificado!

— Kanashibari no Jutsu! (Técnica de Paralisia Temporária) Exclamaram juntos, e o jutsu imediatamente caíra sobre a mulher antes que pudesse reagir.

Se fosse lançado em condições normais ela esquivaria, mas com a amplitude daquele chakra, era quase impossível. Mas ainda não era o fim, Risa fez os selos com uma das mãos e sentiu o vento começar a dançar ao seu redor. Ao mesmo tempo, Ken também fez seus selos.

Os dois, se olhando por um segundo, exclamaram:

Fuuton: Atsugai! (Força sangrenta) – Disse Risa

Katon: Zukokku (Trabalho Duro Inteligente) – Disse Ken.

E então um grande tufão de vento foi criado ao mesmo tempo que uma tempestade de fogo é engolida por ele, ambos se lançando em direção a mulher paralisada numa enorme explosão que iluminou a vila e os arredores por alguns segundos. Todos, inclusive Kazuto e Yuuto (que chegara a tempo de ver os dois lançarem o jutsu) olharam a enorme bola que explodiu, chocados.

Ela era assim tão forte?! Aquilo é um jutsu de no mínimo Rank A! Refletiu Kazuto, quase esquecendo que ainda faltavam alguns homens para combater.

Risa e Ken soltaram suas mãos assim que a luminosidade cessa e os dois caem exaustos onde estavam, respirando lufadas de ar seguidas da outra. Kentaro olhou para onde miraram, vendo nada além de um espaço chamuscado, contudo, sem que tivesse incendiado a área além de onde o tufão acertara.

— A-Acho que conseguimos... acerta-la – Declarou, sorrindo.

Risa olhou para a mesma direção, mas desviou sua atenção ao perceber algo além daquela cena: seu tio, no alto de uma construção observando-a.

O que ele faz aqui?

Puxou ar, prestes a gritar por ele.

— Yuu...!

— RISA-CHAN!

O que?!

Não pode reagir, não pode ao menos visualizar alguma coisa. Risa apenas sentiu seu corpo despencar do alto de onde estava, o corpo virando lentamente até poder estar de frente para Ken e vê-lo exatamente onde ela estava antes, segurando um dos braços de Mochi. Na ponta dos dedos dela, agulhas.

Ela pretendia imobilizar Risa e leva-la.

Mas como ela fugira daquele ataque?! Ela havia sido engolida completamente por ele! Mas Risa precisou de um pouco de reflexão para pensar o tamanho do erro que haviam cometido.

— Ela.. Era um clone dela – Murmurou, atônita.

Ela sabia que a atacariam de surpresa! Que idiota!

Entretanto antes que sua queda fosse parada pelos braços protetores de Yuuto que a tudo observara, Risa viu o momento em que Mochi retirou uma faca e, desvencilhando de Ken, a enterrou em seu peito. Kentaro cuspiu sangue, a expressão aos poucos se distorcendo de dor.

Risa então foi imediatamente pega por seu tio, desaparecendo para longe dos dois.

NÃO!

— KENTARO-KUN! – Gritou em plenos pulmões, desesperada ao vê-lo desaparecer, levada por seu tio na maior velocidade que era capaz de usar.

Yuuto apertou os ombros de sua sobrinha, obrigando-a a encará-lo.

— Risa, controle-se!

— Mas o Kentaro...! Ele vai morrer!

— Confie em mim! Ou melhor, confie em sua equipe. Kazuto está a caminho de lá.

— Mas por que me retirou de lá! Eu poderia fazer alguma coisa por ele!

— Risa, você não percebeu? Não é seguro – Então os dois finalmente param, agora muito distantes do local da luta, na floresta. Contudo, Yuuto não a soltou, olhando-a diretamente em seus olhos, enérgico – Não sei ainda quem é aquela mulher, mas ela evidentemente pretendia te levar com ela. Ficar lá só vai por sua equipe em mais risco na tentativa de te proteger! Entendeu agora?!

Risa fechou os lábios. A cena de agora a pouco se repetia em seu cérebro de novo e de novo.

— Risa-chan.... Durma um pouco, sobrinha – E Yuuto passou uma das mãos pelo seu rosto, imediatamente sentindo o corpo da jovem amolecer em seus braços – Vamos para casa.