Aquele dia de inverno abrira com sol, finalmente. Mas, claro, se tratando de inverno não se podia esperar muito do sol. Ele apenas brilhava inutilmente, cegando os olhos de quem ousasse olhar para a neve do chão, sem efeito algum na temperatura.

Por essa razão que Yukiyo saiu do hospital com os olhos semi-abertos, sentindo todo aquele reflexo dolorido atacar sua pele clara – talvez clara demais.

— Eu vou morrer... – Murmurou, tateando os objetos da calçada para não trombar com nada.

Are, are... Esse é o nosso chefe do Clã? Parece mais um velho cegueta – Murmurou uma voz risonha de algum lugar atrás de Yukiyo.

O garoto apoiado num poste virou lenta e cuidadosamente para trás a fim de tentar superar a maldita claridade, mas do seu esforço os resultados foram apenas a visão embaçada de uma pessoa pequena e de cabelos curtos.

— Q-Quem é?

A jovem tocou o meio da testa, balançando o rosto para os lados.

— Yukiyo-sama, sou apenas a melhor amiga de Risa-chan há mais ou menos... dez anos – Saori fez um bico de chateação que Yuki não enxergou – Será que todos esses anos não bastaram para você reconhecer a minha voz?

Yuki piscou duas vezes, abrindo um sorriso de leve.

— Ah! Por que não disse antes? – Estendeu a mão – Bom dia, Saori-san.

— Bom dia... – Respondeu ela, apertando sua mão enquanto o observava, dessa vez mais cuidadosamente – Yukiyo-sama, sei que não posso mais falar de qualquer maneira perto de você...

Disse a garota que me chamou de velho cegueta. Pensou Yukiyo.

—... Mas seu rosto está péssimo. Parece que foi esmurrado e deixado pros cães comerem.

A mão que segurava a de Saori se enrijeceu um pouco, surpreendido tanto pela sinceridade quanto por sua fisionomia estar entregando seu estado mental tão óbviamente. Soltou a mão da garota, limpando a garganta.

— Eu não dormi muito hoje a noite. Deve ser isso.

— Hmm... – Saori cruzou os braços, olhando para o hospital, Yuki e o caminho iluminado a sua frente – Soube do ocorrido ontem. Deve estar cansado das buscas e tudo mais. As crianças estão bem?

— Estão, felizmente. Elas não comeram frutas o bastante para tererm alguma sequela, apenas o suficiente para dormirem por várias horas seguidas. O lado ruim é que tiveram algumas queimaduras de neve, mas só isso. – Yuki tocou a ponte do nariz um instante – Isso me deixou extremamente aliviado, tivemos muita sorte de encontrá-las bem.

Saori não pode evitar sorrir um pouco. Yukiyo realmente parecia um velho com as costas curvadas e com os olhos espremidos daquele jeito, mas mesmo com essa aparência vergonhosa de agora Saori via que ele era apenas um jovem de dezoito anos precocemente amadurecido e com a aparência mais peculiar que ela vira – principalmente naquele Clã. Ele parecia estar dando o seu melhor para ser um líder responsável.

Deu outra risadinha

— O que mais esperar vindo dos descendentes de Mitsue-sama – Murmurou.

- O que disse?

— Perguntei se quer ajuda para chegar ao seu escritório.

— Ah, sim... Quero sim. Tenho que revisar toda nossa legislação sobre uso de materiais tóxicos e tudo que for relacionado, agora que isso aconteceu...

— Isso parece... Exaustivo – Saori limpou a garganta, estendendo uma das mãos – Segure minha mão, vamos correr um pouco.

Yukiyo obedientemente segurou sua mão, sendo guiado por Saori enquanto corriam pela calçada e saltavam suavemente nas maiores edificações – Não havia melhor atalho que os telhados, isso para os shinobis.

Após algum tempo sendo levado por aquela jovem, Yuki começou a refletir melhor a razão de Saori o ter encontrado em momento tão oportuno. Arriscou abrir um pouco mais os olhos, enxergando a nuca clara de Saori entre o balançar de seus cabelos curtos.

— Saori-san...

— Hm?

— Posso saber o que fazia perto do hospital do Clã?

Ela pensou alguns momentos, saltando em mais dois telhados antes de responder.

— Fui ver as crianças.

— Conhece alguma delas?

— Mais ou menos – Respondeu, virando o rosto em direção ao líder do Clã com um sorriso amistoso – Eu também me senti responsável por elas quando soube da notícia. Até estive num dos grupos de resgate, sabia?

— Na verdade não... – Respondeu, um tanto embaraçado por admitir não saber de uma coisa daquelas.

— Não se preocupe com isso – Tranquilizou-o, apertando de leve sua mão. - Haviam muitas pessoas ontem. De qualquer forma, fiquei feliz de saber delas por você, isso vai melhorar o meu sono.

— O meu também.

— Poder ajudar nas buscas foi o lado bom de não ter ido na missão de ontem.

Yuki precisou pensar um pouco.

— Fala da missão que Risa e Kentaro foram?

— Uhum – Saori deu um longo salto que fez Yukiyo perder o chão por mais tempo que esperava, mas voltou a ficar calmo ao sentir as telhas sólidas sobre seus pés novamente – Geralmente quando um de nós é convocado os outros dois vão junto. Natural, já que nunca deixamos de completar uma missão desde começamos a formar equipe.

— Existem algumas missões que precisam de habilidades mais específicas, por isso os times usuais se separam vez ou outra. Isso é perfeitamente normal.

— Sim, eu sei mas... – Saori pressionou os lábios um pouco, desacelerando o passo até que parassem completamente. Yuki abriu mais os olhos, percebendo o familiar prédio de onde ele e uma grande equipe administrava o Clã. E o melhor de tudo era que uma grande nuvem cobrira o sol, amenizando aquele castigo o suficiente para conseguir enxergar os olhos acinzentados de Saori com clareza.

— Mas o que? – Perguntou, vendo seu rosto pensativo se perder em outra dimensão.

— Yukiyo-sama, na verdade eu queria te pedir um favor – Declarou, seu bom humor aterior trocado por um estranho ar de seriedade.

— Diga.

Ela respirou fundo o ar frio, curvando veementemente seu corpo em direção ao irmão de sua amiga de infância de modo que ele deu um passo para trás, surpreso.

— Por favor, me dê um trabalho!

— Trabalho? – Ele umedeceu os lábios – Isso é por causa da missão que você perdeu? Por enquanto não temos mais pedidos de missão, mas esse tipo de coisa vive aparecendo...

— Eu aceito qualquer coisa! Por favor! – Ela levantou-se de volta, olhando diretamente para os olhos dele – Ultimamente eu tenho percebido o progresso de meus colegas ao servir a um objetivo maior, mas nesses ultimos meses não recebo nada além de pequenas obrigações que qualquer pessoa seria capaz de fazer. Estou começando a achar que sou uma ninja inferior, mesmo sendo uma Terasu genuína!

Yuki diminuiu sua surpresa, analisando a pessoa a sua frente com um misto de apreciação e empatia.

— Quero mostrar que sou digna de confiança. Por favor, me dê uma oportunidade.

— Saori-san... – Yukiyo quase voltou a repetir que não havia mais missões ou tarefas onde já não houvessem pessoas se dedicando, mas a energia enviada até ele por aquele par de olhos o impediu de falar por alguns segundos. Principalmente quando percebeu que a cor cinzenta da íris começou a clarear, sinalizando que seu chakra estava acordando.

Ela está verdadeiramente determinada.

Por fim, não restou escolha a não ser soltar um pesado suspiro e aceitar aquele pequeno pacote de boa-vontade parado de frente para si.

— Muito bem então... – Coçou a nuca de leve, igual seu pai fazia quando estava encurralado ou envergonhado – No momento, só há uma coisa que poderia te satisfazer adequadamente. Me refiro à vaga destinada àquele shinobi que será meu... parceiro. Ou seja, alguém que me acompanhará em todos os momentos, arriscados ou não, e trabalhará ao meu lado para guardar nosso Clã, nem que seja preciso perder a vida para tal.

Os olhos dela começaram a brilhar, mas Yukiyo ergueu rapidamente a palma de sua mão antes que brilhassem mais.

— Contudo...! Isso não é algo que posso apenas te oferecer. Minha irmã te conhece, mas eu sei nada sobre você ou suas competências.

— Então... O que eu posso fazer?

— Neste momento? Nada pode ser feito por você – Saori petrificou em sua posição, sobrando apenas o barulho do vento frio e a expectativa palpável. Yuki então completou, calmamente – Mas daqui a uma semana inciremos uma seleção dos shinobis que pareçam mais apropriados e enviaremos a eles cartas de convocação. Vou tirar um dia para ver sua ficha e conhecê-la realmente. Se eu e minha equipe acharmos que é boa, receberá também uma carta de convocação para a seleção.

Saori permaneceu na mesma posição petrificada, sem ter certeza se aquilo era um voto de confiança ou uma ameaça. De qualquer maneira, queria acreditar na primeira opção.

Queria mostrrar que era útil de verdade.

— Entendi – Disse ela, finalmente. Voltou a fitar o rosto do Yuki, dessa vez injetando mais bom ânimo em sua compleição – Vou aguardar ansiosamente.

— Okay então – Yuki revelou a palma da mão, uma suave linha de sorriso no rosto – Ja nee.

E desapareceu prédio a dentro. Só quando a porta fechou completamente que Saori deixou que suas pernas tremessem livremente, bambeada de emoção, mas inexplicavelmente mais confiante.

Agora era a hora de provar a si mesma que não era inferior a ninguém.

Que ela era uma Terasu de verdade.

***

Kakashi estava com um pequeno grupo composto apenas de Terasus, todos especialmente selecionado pelo Hokage. Há muito tempo ele já havia abandonado suas obrigações na ANBU (mais tarde, Yuuto também fizera o mesmo), mas aquilo era muito familiar ao tipo de situação que enfrentava junto dos shinobis de elite.

Era noite, e Kakashi e os dois shinobis estavam sentados na mesa cumprida de uma sala sem janelas ou outros móveis. Mas era de se esperar, aquela não era uma mera visita. Estava cumprindo seus deveres para com a vila e o Clã – Coisa que já havia se habituado, na verdade.

O grisalho levou a cabeça para trás de leve, os olhos fechados.

Espero que as notícias não sejam ruins, dessa vez.

Mal encerrara seus pensamentos quando a porta foi aberta, entrando cinco homens cobertos em túnicas. Um deles, o Chefe da segunda vila principal do País do Fogo, epecializados em cuidar e investigar qualquer assunto delicado que pudesse... Arricar o país.

Kakashi ajeitou sua postura enquanto o líder se sentava de frente para ele, fitando os outros dois.

— Vejo que a maioria dos rostos conhecidos estão aqui – Começou, juntando as mãos envelhecidas sobre a mesa – Mas fazia muito tempo que não te via, Hatake-san.

— Sim... Realmente.

— Onde está a líder de seu Clã, Terasu Mitsue-san?

Os emissários do Clã baixaram suas cabeças. A mulher mais velha, Terasu Minase, tomou a vez.

— Lamentamos a demora do anúncio, Osaki-sama, mas Mitsue-sama faleceu há menos de dois meses atrás. Daqui em diante será Hatake Kakashi que ocupará seu lugar em nossas periódicas visitas.

Apesar da infeliz notícia, Osaki apenas assentiu com a cabeça.

— É uma enorme perda, com certeza. Lamento que tenha acontecido isso à sua esposa, Hatake-san – O grisalho assentiu, calmo como sempre – Contudo, já estávamos cientes pela própria líder de vocês desse infeliz destino. Só não esperávamos que viesse tão cedo – Osaki fez um sinal com uma das mãos, pedindo em voz baixa para um de seus subordinados um bule de chá quente.

Hatake esperou a saída deste subordinado antes de tomar sua vez.

— Creio que possamos dar início a nossa reunião, Osaki-sama.

O velho retirou uma pasta parda debaixo de suas vestimentas, colocando-a sobre a mesa.

— Aqui está reunido tudo que nossa equipe conseguiu coletar sobre os suspeitos fora da vila – Começou, observando Kakashi retirar as folhas cheias de conteúdo da pasta – Em nosso ultimo encontro a Terasu-san mostrou sua preocupação quanto as crescentes ameaças fora da vila. Alguns grupos, possivelmente Terasus e outros indivíduos ligados ao nosso antigo inimigo, Lance, estão se multiplicando e causando verdadeiro alvoroço em algumas pequenas vilas. Não chegaram a fazer grandes estragos, pelo menos não até a última visita de vocês. Mas agora encontramos algo verdadeiramente pertubador.

O homem se calou, esperando Kakashi e sua equipe terminarem de analisar os documentos e fotos em mãos. O rosto de todos, principalmente do grisalho, demonstravam uma pertubação crescente conforme liam mais. Por fim, Hatake soltou uma das fotos em cima da mesa: uma imagem de uma série de mulheres e homens empilhados por cima do outro, mortos.

— Eles estão assassinando pessoas? – Perguntou Kakashi, agitado.

— Não propositalmente, ao que parece – Desta vez quem falava era o único homem na sala que não estava encapuzado e que Deus sabe de onde apareceu. Vestido com uniforme shinobi, o homem de preto se aproximou da mesa sem sentar – Permita minha apresentação: Sou Andreas, o líder das equipes que investigam esse caso.

Hatake e ele apertaram as mãos rapidamente.

— Indo direto ao ponto: Faz cinco meses que nos deparamos com cenas como essas. A maioria delas são com aldeões comuns, mas em todos os corpos achamos vestígios do Chakra de vocês – Ele fez uma breve pausa – dentro dos corpos.

Kakashi voltou a encarar a foto, várias coisas se passando em sua cabeça. Andreas continuou, com calma.

— Acreditamos que fosse um evento ocasionado durante os ataques às vilas, na busca de aumentarem seu grupo... A causa da morte e explicação dos vestígios provavelmente seria o uso do Kinjutsu mais conhecido por vocês, Hokai – Ou seja, desintegração.

Um kinjutsu onde um Terasu poderia, contra a vontade o receptor, forçar seu chakra para dentro do corpo de alguém em muita quantidade, invadido todas as células do corpo. A agressividade do chakra causaria a desaglutinação destas células e a morte imediata do oponente. Se o chakra fosse forçado em quantidade suficiente, desintegraria completamente o corpo do indivíduo.

—... Mas conforme as mortes aconteciam, percebemos que a quantidade de corpos era menor, contudo, com o mesmo vestígio deixado para trás. Então chegamos a uma nova hipótese: Eles não estariam assassinando as pessoas desregradamente, na verdade isso seria a consequência de experimentos que...

—... Tentam transferir o chakra violeta para o corpo dos aldeões, substituindo o chakra azul – Cortou Kakashi, a voz pesada – tornando-os hospedeiros vivos de um chakra igual o deles... Criando um novo exército capaz de carregar as mesmas características dos Terasu.

— Exatamente – Concordou Osaki-san – E a diminuição dos corpos deixados para trás só indica que estão aperfeiçoando seus métodos, matando menos gente no processo.

— Eles estão crescendo – Completou Andreas, evidentemente preocupado – E estão mais espertos. Além dessas mortes, percebemos um numero crescente de gangues violentas em mais vilas, mas com pessoas não associadas a vocês. Não estou afirmando que isso tenha algo a ver com esses indivíduos, mas estamos atentos a qualquer possibilidade.

— Isso... Isso é terrível – Um dos emissários, um homem, exclamou – Nosso Clã já foi suficientemente temido e julgado depois e antes daquela tragédia na vila há dezoito anos! Se souberem que nosso chakra está causando tantos estragos, vão nos abominar de uma vez por todas!

— Hiro, acalme-se – Pediu Minase, apesar de tudo tão preocupada quanto ele – Precisamos pensar calmamente. Nos precipitar só fará que chamemos mais atenção para nós!

— Isso é verdade – Disse Kakashi, os olhos pensativos sobre a mesa de madeira com fotos e folhas espalhados – Apesar de eu compartilhar o mesmo medo que você, Hiro-san, precisamos ter calma – O grisalho levantou o olhar para Andreas, que permanecia em seu lugar obedientemente, aguardando – E você tem ideia de quantos são?

— Não sabemos, mas com certeza devem ter aumentado no máximo uma centena desde que sabemos das mortes. Mesmo que tenham conseguido transferir seu chakra para algumas pessoas, a chance delas terem colapsado depois é muito alta. O chakra de vocês não cabe em qualquer um, as consequências disso podem ser muito altas.

— Eu sei muito bem – Murmurou Hatake, desviando o olhar rapidamente ao lembrar que quase morrera depois que entrou em contado com aquele chakra. Tinha sentido coisas que preferia manter no esquecimento.

— De qualquer forma... tenho um pedido difícil para fazer, mas necessário – Começou Osaki – Diante da situação que temos em mãos, é melhor selecionarem meticulosamente quem sairá do clã de vocês.

— Sugerimos que se limitem a um pequeno grupo, enviando o restante para tarefas mais internas – Continuou Andreas – E mais importante: mantenham os descendentes de Mitsue-sama fora de perigo. Sabemos da qualidade do chakra dela: sua líder era a mais forte do Clã. Provavelmente esses inimigos estão muito interessados em por a mão nele.

Kakashi se remexeu em sua cadeira, lembrando-se de Risa, sua filha.

Osaki percebeu a leve mudança de estado, acrescentando:

— Se algum deles já estiver fora da vila, sinta-se livre para usar uma de nossas aves para enviar um telegrama o mais rápido possível.

— Só Risa está fora da vila, mas não sei onde ela possa estar.

Osaki deu um leve sorriso.

— Não se preocupe, nossas aves são especiais: encontram qualquer pessoa em qualquer lugar que esteja. Andreas vai te auxiliar na maneira correta de proceder.

Então a porta da sala voltou a se abrir, atraindo todos os olhares na sua direção.

O chá havia chegado.

***

Chegara o momento tão planejado.

Risa estava bem afastada da vila, agora com roupas novas, uma carroça lotada de produtos diversos e usando um jutsu muito conhecido em seu clã que mudava a cor dos olhos e cabelos – uma medida protetiva, já que era uma Terasu e muitos sabiam de seu potencial. Agora era uma jovem de cabelos castanho claros e olhos azuis, passando com os produtos de sua fazenda atrás de um pouco de dinheiro nas vilas próximas.

Estava em cima de sua carroça, muito bem agasalhada e com um micro-comunicador numa das orelhas. A trilha que percorria estava bem coberta de neve e o unico cavalo fazia um pouco mais de esforço a fim de atravessá-la.

Informe a situação – ouviu em seu comunicador. Era Kazuto.

— Está tudo bem, nenhuma presença ainda – Falou em voz baixa, a boca coberta por um grosso cachecol.

— Certo. Coloquei Makoto para te acompanhar. A partir de agora não nos falaremos mais a não ser em último caso — Caso esse que os dois procurariam evitar ao máximo – Mas antes de encerrar, espero que tenha ficado claro as nossas condições.

Risa soltou um suspiro que levantou uma nuvem espessa de umidade. Essa falta de confiança do Uchiha a incomodava um pouco, mas o unico jeito de mudar isso era mantendo o foco.

E era isso que ela faria, com certeza.

— Estou ciente das condições, Uchiha-san. Confie em mim.

Isso só dependerá de você. Boa sorte. — E a comunicação foi cortada, sobrando apenas Risa, sua carroça e a imensidão daquela floresta coberta por neve.

Suas mãos automaticamente apertaram as rédeas com mais força.

Fechou os olhos.

Acalme-se. Tudo dará certo. Você só tem um objetivo: Salvar essas mulheres e crianças.

— Eu consigo – Sussurrou, reabrindo os olhos.

O silêncio prosseguiu o restante do percurso, só deixando Risa mais alerta. Se ela e sua equipe estavam certos, era questão de tempo até algum deles encurralá-la. Contudo, a unica coisa que aconteceu desde que partira fora um estranho movimento numa das rodas, seguido de um alto barulho de um dos lados da carroça ao tombar no chão.

Risa olhou para trás, vendo uma roda de madeira caída a alguns metros de onde estava.

— Não acredito que isso quebrou agora – Reclamou, se vendo obrigada a descer da carroça.

Pelo que observou do veículo o encaixe daquela roda havia se deslocado, com a peça em questão caída perto da roda. Andou até elas e as pegou do chão, não sem certo esforço. A roda era mais da metade do seu tamanho e pesada.

Levou uma eternidade levantar o peso daquela carroça, tendo que desamarrar o cavalo e usar uma espécie de macaco para isso. Tudo para enfim encaixar a roda com a ajuda de uma marreta. Conferiu seu trabalho um momento, puxando a roda algumas vezes para ver se não saia.

Yoshi! Agora o teste final – Falou, indo em direção ao lugar onde prendera o cavalo para puxar a carroça e testar de uma vez o seu trabalho.

Se dirigindo ao lugar certo, seu corpo parou de se mover instintivamente.

— O cavalo... – Murmurou, sua respiração acelerando mais e mais.

Seu pesado corpo antes de pé agora estava caído sobre a neve, colorindo-a ao seu redor com um líquido quente e rubro. O ar escapou pelos seus lábios, seu cérebro funcionando a mil por hora enquanto todo seu corpo dizia apenas uma coisa:

Corra!

E foi isso que fez, pisando a neve funda e dura com todas as forças que tinha. E então finalmente sentiu várias presenças espalhadas atrás de si.

Ela podia correr o quanto quisesse...

Gritou. Um forte puxão em suas roupas fez que seu corpo tombasse pesadamente. Então pode ver várias silhuetas escuras se aproximarem, tapando toda a claridade ao redor.

... Mas não conseguiria escapar.