Maya

Acordo devagar. A luz da manhã já atravessava a janela do quarto. Olho para o lado, a cama de Rachel estava toda revirada, uma mensagem clara de "já fui" e o relógio na cabeceira de cama marcava...

"MERDA! ESTOU ATRASADA." Levanto de um pulo e visto correndo uma roupa qualquer. O relógio marcava 9:37, a primeira aula já estava começando, droga. Pego o celular, as chaves e meu material e enfio tudo numa mochila. Saio do apartamento correndo, quase esqueço de trancar a porta. Corro para a garagem do prédio, subo na moto, ponho o capacete e dou a partida.

O campus ficava a 20 min de distância da minha casa, mas vocês vão descobrir algo sobre mim que é: eu não dou a mínima para as leis de transito. Não desacelerei nenhum segundo sequer e, 5 minutos depois, cheguei. O guarda do estacionamento quase teve um treco quando me viu chegar àquela velocidade, mostrei minha identidade e ele me deixou passar. Estacionei a moto ao lado do carro de Rachel que estava nos fundos do prédio, entrei apressada, os corredores estavam vazios. A primeira e a segunda aula, seria a de História para ambos cursos. Corri pelos corredores até que encontrei a sala certa.

O cara que supus ser o professor, copiava algumas anotações no quadro concentrado. "Como eu vou entrar na sala sem que ele me veja?" Penso. Na mesa dele, vejo um par de óculos com lentes absurdamente grossas que sem sombra de dúvidas pertenciam ao professor, ele não os usava. Uma ideia brotou na minha cabeça. Bem lentamente, abro a porta da sala e, de costas, vou de fininho até os assentos. Ouço algumas risadas que ecoam na sala silenciosa, mas não ouso parar, até que o professor se vira para nós e eu faço menção de ir para frente, como se quisesse sair da sala de fininho. O professor cerra os olhos e me localiza no meio da multidão. Ele cruza os braços sobre o peito e inspira pesadamente.

"O que pensa que está fazendo, senhorita?" Ele pergunta.

Suspiro e faço uma cara triste, como uma criança que foi pega fazendo malcriação, concerto minha postura e coço atrás da cabeça sem jeito.

"Desculpe, senhor. É que eu precisava muito usar o banheiro, mas não queria atrapalhar seu trabalho, então..." começo, mas ele me corta no meio da frase.

"Da próxima vez, senhorita, sugiro que segure suas necessidades até o horário de outro professor. Vá se sentar." Ele diz e se volta pata o quadro. Faço uma cara triste e me viro para minha plateia. Quando tenho certeza que o professor não vai olhar, faço uma mesura para a classe com se agradecesse a todos por assistirem o teatro e faço um sinal com os braços apontando para cima e direita, como o Usain Bolt depois de uma corrida.

A sala explode em risos e eu localizo Rachel no meio da multidão. Vou até ela. No caminho, algumas pessoas estendem a mão em Hi-Fives e socos e como a boa doida que sou, retribuo a todos (O que? Tenho que construir uma reputação aqui). Sento-me ao lado de Rachel, ela limpava as lágrimas de tanto rir.

"Essa foi muito boa, Maya." Ela diz recuperando o fôlego. Faço sinal de positivo para ela.

"Eu sou um gênio." Digo e apoio os pés no encosto da cadeira vazia à minha frente. Depois de um tempo, a turma ficou sem fôlego de tanto rir e decidiram que era melhor parar antes que alguém morra. O professor era um cara baixinho, gordinho, calvo com alguns tufos de cabelo branco espalhados pela cabeça, um nariz extremamente grande com algumas verrugas e olhos pretos bem juntos. Usava uma camiseta gola polo listrada em azul e branco, uma calça social bege e sapatos de bico fino. Ele claramente precisava usar óculos, mas, ao que parece, ele se recusava a usá-los. Enxerguei também um aparelho auditivo na orelha direita que estava no volume quase mínimo.

"Então foi por isso que ele não me ouviu entrar e nem reclamou das risadas." Penso alto, alto demais.

"Isso o quê?" Rachel pergunta

"Ah, o aparelho auditivo dele, está no mínimo." Digo sem emoção como se fosse algo óbvio.

"Aparelho auditivo?" Raquel pergunta e estreita os olhos tentando enxergar mais de longe. "Não vejo nada."

"Ah, eu vi quando entrava na sala." Disfarço. A verdade é que meus sentidos são mais apurados que qualquer humano ou semideus então conseguia ver, ouvir e sentir cheiros que a maioria das pessoas só conseguem com muito esforço. Rachel acredita e continuamos a assistir a aula. Eu passei o tempo todo com a cabeça no sonho que tive com Héstia, ela era um dos muito poucos olimpianos que não me odiavam e para ela se arriscar a vir até mim em sonho, a situação estava em um estado assombroso. Não percebi quando a aula acabou e se Rachel não tivesse me empurrado para fora do assento, provavelmente teria ficado lá pelo resto do dia.

A próxima aula para mim era a de Português e a de Rachel era Economia, então combinamos de nos encontrar no jardim no intervalo. Me dirigi até a sala e sentei em uma cadeira ao fundo e à direita para esperar o professor. Pensava como iria "investigar" o que tem acontecido no acampamento quando sinto uma presença a meu lado.

"Desculpe, esse lugar está ocupado?" Um garoto pergunta. Dou de ombros e ele se senta na cadeira ao meu lado esquerdo. Olho pelo canto do olho e quase me assusto ao perceber que Percy (sim, o garoto do beco e dos cães infernais) era quem estava ali. Ele percebe que eu estava olhando e estende a mão em comprimento.

"Sou Perseus, mas todos me chamam de Percy." Ele diz com um sorriso no rosto. Aperto a mão dele e retribuo o sorriso.

"Sou Maya." Digo. Ele acena com a cabeça e se recosta na parede. Pouco tempo depois, uma menina loira com olhos acinzentados entra na sala e segue direto em direção a Percy, ele se levanta da cadeira e abre os braços para receber a garota. Eles se abraçam por um bom tempo e os ouço dizer:

"Senti sua falta, cabeça de Alga." A garota diz.

"Senti a sua também, sabidinha." Percy responde. Ela se senta na frente de Percy e me cumprimenta também. Seu nome é Annabeth. Me apresento também e pouco tempo depois, os outros alunos chegam e uma mulher que aparentava ter 40 anos entra na sala usando um terninho carmesim e os longos cabelos escuros presos em um rabo-de-cavalo. Não presto muita atenção na aula, apenas deito a cabeça e tento pensar um pouco. Ao lado, a conversa de Percy e Annabeth chama minha atenção.

"...e aí, a garota apareceu do nada e matou os cães infernais e as harpias." Percy diz.

"Não acredito que você precisou de ajuda para acabar com algumas harpias e cães infernais." Annabeth diz indignada. Ao que parece, ela também era uma semideusa. Se fosse julgar pela sua aparência, diria que é filha de Atena.

"Pois é, mas mesmo assim, foi incrível Annie. E quanto ao problema no acampamento?"

"Quíron está procurando uma maneira de evitar os desaparecimentos. Os campistas estão fazendo ronda na fronteira, mas volta e meia, alguém desaparece. Ainda não encontraram quem está fazendo isso ou o porquê, se fossem monstros normais, a barreira teria impedido eles de entrarem ou Peleu saberia, mas não foi o caso. A última a desaparecer foi Cynthia do chalé de Hécate." Annabeth suspira preocupada.

"Não se preocupe, vamos dar um jeito nisso." Percy diz. Annabeth se vira e ele deposita um beijo carinhoso em sua testa (ok, isso está ficando meloso demais). Ouço o barulho de asas batendo e vejo uma sombra aparecer na janela. Olho em direção a ela e me deparo com um falcão peregrino me olhando.

"Trago notícias, princesa." A voz de Kye fala em minha cabeça. Olho no relógio, faltava pouco tempo para o intervalo.

"Me espere no jardim do campus daqui a trinta minutos, na forma humana." Respondo. A cabeça do falcão vira de lado e sinto que Kye sorria.

"Você sabe que eu fico pelado quando me transformo em humano, certo?"

"Há uma loja de roupas aqui perto, dê seu jeito."

"Está me pedindo para roubar, princesa? Sabe que isso é crime?"

"Lei da vida: só é crime se te pegam fazendo. Te vejo daqui a meia hora." Respondo. Kye levanta voo e começa a desaparecer entre as nuvens.

(···)

Ouço o sinal anunciando o intervalo e me dirijo para o jardim. Rachel me esperava sentada embaixo de uma árvore comendo um sanduíche. Sento-me a seu lado e recosto a cabeça na árvore, ela me oferece outro sanduíche que trazia consigo, mas eu dispenso com um gesto.

"Pera aí, quem é você e o que fez com Maya?" Ela me questiona com um ar de divertimento. "A Maya que eu conheço nunca recusaria comida."

Dou um meio sorriso.

"Nunca recusaria comida, comer é quase sagrado para mim, mas somente quando estou com fome. Posso passar meses sem comer, mas isso não vem ao caso agora." Respondo pensativa. Levanto-me e escalo a árvore sentando-me num galho baixo o suficiente para que conversasse com Rachel e conseguisse enxergar todo o jardim ao mesmo tempo. "Digamos que eu simplesmente me acostumei a comer muito porque gasto muita energia durante o dia, não significa que eu não adore comer, mas se precisar, posso ficar meses sem por uma uva na boca."

"Você me surpreende cada vez mais." Rachel diz. Ouço o pio estridente de um falcão ao longe, que se aproximava lentamente. Pulo da árvore e aterrisso ao lado de Rachel.

"Tenho que conversar com uma pessoa." Digo, mas quando me viro para ir procurar por Kye, esbarro em alguém que se aproximava por trás de mim. Dou um passo para trás para me equilibrar e vejo Percy em minha frente (esse cara só pode estar me seguindo) e Annabeth a seu lado, com as mãos entrelaçadas ás dele.

"Desculpe." Ele diz e dá um sorriso sem graça.

"Ah, Maya, deixe eu te apresentar. Esses são Percy e Annabeth, amigos meus de longa data." Rachel diz.

"Já nos conhecemos da sala." Annabeth diz. Ela e Percy abraçam Rachel e depois se soltam. Penso se Rachel sabe que eles são semideuses quando sinto alguma coisa em alta velocidade vindo em minha direção.

"O qu.…" digo me virando, mas uma montanha de músculos me atinge e me levanta, pressionando meu corpo contra o seu e quase quebrando algumas costelas nesse "abraço de grifo". Ah Kye, delicado igual um coice. Ele me aperta contra seu peito e sinto minha respiração falhar.

"Kye...respirar" digo em sua mente. Ele ri e afrouxa seu abraço. Me desenvencilho de seus braços e começo a arfar em busca de oxigênio, apoiando-me nos joelhos. Ele ri um bocado e bagunça meu cabelo com a mão direita. Sem pensar, direciono um soco na boca de seu estômago. Ele se dobra de dor e, quando se recupera e ergue o corpo novamente, toco o peito dele.

"Nunca. Mais. Faça. Isso. Entendeu?" A cada palavra eu tocava em seu peito. Ele acenou positivamente com um imenso sorriso no rosto, exibindo caninos um pouquinho mais pontudos que o normal e olhos cor caramelo quase brilhando. Suspiro e me viro para Percy, Annabeth e Rachel que já estavam vermelhos de tanto esforço para segurar o riso.

"Pessoal, esse e Kye, um amigo meu de longa data. Kye, estes são Rachel, Percy e Annabeth." Kye aperta a mão de todos e logo após, me abraça por trás e se curva apoiando seu queixo em minha cabeça.

Na forma humana, Kye tinha quase 1.90 altura, cabelos curtos numa cor castanho-claro um pouco ruivos, orelhas levemente pontudas, nariz e boca finos e seu físico era de causar inveja em qualquer adulto que dedicasse muito tempo a academia. Seu tórax super definido, era grande o suficiente para que eu ficasse escondida sobre ele. Seus braços e pernas eram fortes e ele tinha a pele morena um pouco bronzeada. Usava uma calça jeans preta, botas de couro, uma camiseta branca colada que deixava transparecer seus músculos e uma jaqueta azul com capuz que tinha o emblema dos Yankees no lado esquerdo.

"É um prazer conhecer vocês." Ele diz.

"Maya, porque não me disse que tinha um namorado?" Rachel diz cruzando os braços mas percebo que ela fazia muita força para não rir.

"Kye não é meu...” começo, mas sou cortada por Kye.

"Caramba princesa, não acredito que não contou a eles sobre mim." Ele diz e me beija rapidamente na bochecha fazendo meu rosto corar.

Meus punhos se fecham, prontos para lhe dar outro soco e eu sabia que meus olhos estavam numa cor vermelho-vivo, era isso o que acontecia quando eu ficava irritada. Ele me aperta um pouco e seu peito treme quando ele ronrona. Isso me acalma um pouco e meus olhos voltam ao tom normal. (Tenho que perguntar como Kye faz isso. Até onde eu sei, grifos não ronronam.)

"Vou precisar roubar essa princesinha de vocês por alguns minutos. Prometo devolve-la sã e salva, ou quase..." ele diz e pega minhas pernas colocando-me em seu colo.

"O que quer dizer com QUASE?" Pergunto.

"Você vai descobrir." Ele diz e começa a me carregar para longe.

"Não demore!" Ouço Rachel gritar, cair na gargalhada com Percy e Annabeth e depois começaram a conversar sobre um assunto o qual não consegui ouvir pois já estávamos longe.

(···)

Kye me carrega para uma área mais afastada, atrás do prédio. Me coloca no chão, tira seu casaco e o entrega a mim.

"Vista." Ele diz.

"Porque?" Pergunto encarando a jaqueta três números maior que eu.

"Suas costas, estão descobertas. Suas cicatrizes estão aparecendo." Ele diz. Kye, sempre cuidando de mim. Não havia percebido que a blusa que usava deixava as costas à mostra, vesti qualquer uma na correria. Nunca deixei minhas cicatrizes à mostra por causa na suspeita que elas levantavam, mas hoje isso havia passado despercebido. Visto sua jaqueta e arregaço as mangas até o cotovelo, ela tem o cheiro de roupa nova e essência de eucalipto, o cheiro de Kye.

"Obrigado." Digo. Ele dispensa o agradecimento e se senta de pernas cruzadas com as costas na parede. Deito-me à sua frente e apoio minha cabeça em seu colo, ele começa a fazer carinho nela. "Então, o que descobriu?"

Ele inspira profundamente e começa.

"É uma alcateia de quase quarenta lobos, há filhotes e mulheres. Pelo que ouvi de suas conversas, estão aqui a aproximadamente duas semanas. Estão procurando alguma coisa aqui em Nova York e parece que só vão embora quando encontrarem. Estão hospedados em uma casa abandonada no Queens, perto de uma mata densa. É um casarão de quatro andares de madeira. Havia um quarto lá que era vigiado por dois deles, não consegui ver o que tinha lá dentro, mas coisa boa não era. O Alfa deles estava fazendo o reconhecimento da área quando fui lá, então não deu para ver quem era." Ele diz.

"Há mais alguma coisa?" Pergunto. Ele pensa um pouco e responde:

"Eles pareciam inquietos quando alguém falava sobre voltar ao território deles, como se isso os assustasse." Um silêncio aconchegante acompanha sua resposta. Inspiro pesadamente várias vezes antes de voltar a falar.

"Hestia apareceu para mim na noite passada."

"O que ela queria?" Ele pergunta preocupado.

"Há algo acontecendo no acampamento, algo que tem a ver com uma memória que meu pai tomou de mim quando nasci, ela falou que eu preciso investigar."

"Você sabe ao menos o que está acontecendo?" Ele puxa meu corpo para mais perto do seu, de modo que eu ficasse recostada em seu peito e minha cabeça em seu ombro. Me abraça de forma protetora e sinto quando seu peito sobe e desce numa respiração calma. Ele estava com receio de me deixar ir nessa busca, mas ele sabia que não se nega um pedido de um deus (ainda mais quando esse em questão não tentou me matar). Aceno positivamente em resposta a sua pergunta.

"Ouvi uma conversa entre Percy e Annabeth. Você deve ter sentido o cheiro deles, eles são semideuses também." Ele acena positivamente. "Disseram que alguns campistas começaram a desaparecer misteriosamente, mesmo depois de eles montarem guarda na fronteira, o que significa que vou ter que tomar cuidado com o que quer que esteja sequestrando-os e com os semideuses na vigília."

"Quer que eu vá com você?" Aconchego-me no peito de Kye, os olhos começavam a pesar, ele tinha esse efeito sobre mim.

"Não quero te meter nisso, já fez muito por mim investigando os lobisomens." Seu peito treme e ele rosna. Suspiro e fecho os olhos. "Você vai de qualquer jeito, não é?"

"Me conhece tão bem, princesa." Reviro os olhos e me sento em frente a ele cruzando minhas pernas ao redor de sua cintura. Ele abriu um sorriso travesso.

"Não deixaria você se meter em problemas sem mim, sabe que eu te culparia se algo emocionante acontecesse e eu não estivesse lá para participar ou salvar seu bumbum e você não se perdoaria por me deixar nesse estado."

Abro um sorriso.

"Me conhece tão bem, cérebro de passarinho." Ele alarga o sorriso e me dá um beijo na testa.

"Acho melhor voltarmos ou Rachel vai vir atrás de nós." Digo e faço menção de me levantar, mas Kye é mais rápido. Ele se levanta de um pulo e me levanta junto, jogando meu corpo sobre seu ombro esquerdo com minhas pernas às suas costas e meu tórax a frente, deixando-me de cara com seu abdome super-sarado. Ele abraça minha cintura prendendo meu corpo e começa a ir em direção ao jardim.

"KYE! ME COLOCA NO CHÃO SUA GALINHA SOBRENATURAL!" Grito, socando inutilmente seu peito e esperneando tentando me livrar de seu agarre.

"Oh, me ofende assim, princesa. Eles vão pensar que não sou um bom namorado." Ele diz e não para de andar.

"VOCÊ NÃO É A PORRA DO MEU..."

"Não é o que eles pensam." Ele me corta.

"O que quer dizer com.…" Começo, mas paro assim que apoio meu cotovelo em seu tórax sustentando minha cabeça e tenho uma visão dos alunos jardim em frente ao prédio. As conversas haviam cessado e todos no jardim olhavam para nós com um olhar curioso. Engulo o resto da frase e sinto meu rosto ficar quente. O peito de Kye sobe e desse rapidamente em uma risada. Localizo Percy e Annabeth com um olhar de diversão direcionado a mim, e depois Rachel que segurava o celular à sua frente apontando para mim e Kye. (Se ela postar essa foto, vai se ver comigo.) Suspiro e deixo meu corpo pender em rendição no ombro de Kye, ele começa a andar em direção ao trio. Á nossa volta, as conversas voltaram animadas, mas eu não ousava levantar o rosto para saber que todos nos olhavam de canto de olho. Quando Kye para de andar, ouço Rachel falar:

"Cara, você está tão ferrada." Ainda de cabeça baixa e presa no ombro do brutamonte de penas, ergo meu dedo em direção a ela.

"Se você postar essa foto, vou te atormentar até a sua quarta geração." Digo com a voz abafada. Rachel ri e sei que ela já havia postado a foto.

"Isso será trabalho para outra hora, princesa. Preciso resolver aquele nosso assunto." Kye diz. Ele me solta de seu ombro e traz meu corpo para frente do seu, depositando um beijo fraterno em minha cabeça. "Te vejo de noite, não se atrase." Ele diz e vai em direção a uma HORNET azul no estacionamento.

"Kye, não me diga que você também roubou essa moto?!" Digo em sua mente.

"Lei da vida, princesa: Só é crime se te pegam fazendo." Ele repete em minha mente as palavras que eu disse a ele. Kye dá a partida e sai do estacionamento do campus em alta velocidade, deixando um rastro de poeira por onde passava.

Rachel

(Tudo bem, vamos voltar para a parte que um gigante ruivo quase quebra minha amiga no meio." Maya se virou bem na hora que o homem a pegou no colo e a abraçou. Ela ficou vermelha e pude jurar que ouvi um crack de suas costas estralando. O homem a solte e bagunça seus cabelos enquanto ela respirava pesadamente recuperando o fôlego. Quando pensei que não podia melhorar, Maya acerta-lhe um soco que o faz dobrar-se de dor e quando ele se levanta, ela tocava em seu peito dizendo:

"Nunca. Mais. Faça. Isso. Entendeu?" Ela dizia cutucando o peito do homem. Ele acena positivamente e abre um sorriso. Eu, Percy e Annabeth fazíamos muito esforço para não rir. Ela inspira fundo e diz:

"Pessoal, esse é Kye, um amigo meu de longa data. Kye, estes são Rachel, Percy e Annabeth." Ela nos apresenta. Ele aperta nossas mãos (pelos deuses, ele é forte) e diz:

"É um prazer conhecer vocês." Depois abraça Maya por trás, curva-se e apoia seu queixo na cabeça dela, que não parece se importar. Uma ideia surge em minha cabeça. Cruzo os braços.

"Maya, porque não me disse que tinha um namorado?" Digo tentando fazer cara de séria mas fazia muita força para não rir.

"Kye não é meu..." ela começa, mas é interrompida.

"Caramba princesa, não acredito que não contou a eles sobre mim." Ele diz e a beija rapidamente na bochecha fazendo seu rosto corar.

Maya abaixa a cabeça e fecha os punhos fazendo seu corpo tremer com a força. Bingo! Consegui irrita-la, mas não dura muito tempo. Kye a aperta um pouco e isso parece acalma-la.

"Vou precisar roubar essa princesinha de vocês por alguns minutos. Prometo devolve-la sã e salva, ou quase..." ele diz e pega as pernas dela colocando-a em seu colo.

"O que quer dizer com QUASE?" Ela pergunta com uma cara estranha.

"Você vai descobrir." Ele diz e começa a carregar Maya para longe.

"Não demore!" Grito e começo a gargalhar com Percy e Annabeth enquanto eles se afastavam.

"Vocês se conhecem a quanto tempo?" Annie pergunta já se acalmando da crise de risos.

"Conheci ela poucos meses depois da batalha de Manhattan, há uns dois anos." Respondo. Nos sentamos à sombra da árvore. "Vocês têm alguma pista sobre o desaparecimento dos campistas?" Pergunto mudando o rumo da conversa.

"Não." Percy responde. "Até agora foram quatro desaparecidos, um campista de Hermes, dois de Afrodite e uma de Hécate, Cynthia."

"E não seguem nenhum padrão, eles simplesmente desaparecem do nada." Annie completa. "Estou preocupada Rachel, isso nunca aconteceu antes. Você não teve nenhum sonho? Premonição?"

"Não. Desde que Apolo foi transformado em mortal, quase não tive sonhos. Isso está estranho demais." Respondo. Penso um pouco. "Quando foi o último desaparecimento?"

"Três dias atrás. Porquê?" Percy pergunta curioso.

"Maya. Ela teve uma espécie de ataque noturno três dias atrás. Começou a gritar PARE no meio da noite, acho que mentiu quando perguntei sobre com o que ela sonhando." Digo pensativa

"E o que isso tem a ver com a história?" Annie pergunta.

"Depois disso, quando saímos para o shopping, acho que a vi usando uma pulseira de prata com um pingente de foice, igual ao de Silena Beauregard." Respondo. Eles pareceram se interessar mais na história.

"O bracelete que Luke usava para se comunicar com o exército?" Aceno positivamente quando Annie me questiona. "Não, deve ter sido só impressão sua." Ela diz.

"Não foi só isso. Anteontem, quando cheguei no apartamento, havia uma empousa sobre ela na cama, ela havia envenenado Maya. Liguei pra Nico e ele apareceu um tempo depois com Will, que tirou o veneno. Ele falou que fôssemos a um hospital para não levantar suspeitas."

"Um mortal não sobreviveria a veneno de empousa, ou sobreviveria?" Percy pergunta.

"O veneno delas só paralisa, tanto nós quanto os mortais, mas se ficar por muito tempo, pode matar sim." Annie responde. "Mas qual foi o problema?"

"Inventei uma história para o médico, falando que ela tinha parado de respirar do nada e não acordava de jeito nenhum. Ele disse que isso era uma tal Paralisia do sono. Ela acordou algumas horas depois, gritando também. Quando fomos almoçar, contei sobre a paralisia e perguntei o que ela tinha visto, e ela descreveu a empousa perfeitamente." Respondo.

"A Névoa não a disfarçou, mas há mortais que também enxergam através da Névoa, como você." Percy diz, mas parecia querer convencer mais a si mesmo que a Rachel. "Foi só isso?"

"Não." Eles me olham com os olhos arregalados. "Hoje de manhã, antes de vir para a faculdade, ouvi ela falando enquanto dormia. Ela sempre faz isso, mas hoje ela disse uma coisa que só fez minhas suspeitas aumentarem."

"O quê?"

"O quê?" Percy e Annabeth perguntam ao mesmo tempo.

" -Sinto muito, Quíron. Eu não tive escolha. - Ela disse exatamente essas palavras." Digo. Faz-se silêncio por alguns segundos.

"Bracelete de Cronos, enxerga através da Névoa e sabe sobre Quíron. Isso não está me cheirando bem." Annie diz. Ela coloca a mão no queixo de forma pensativa e quase é possível ver as engrenagens girando em sua mente. "Se ela for uma meio-sangue e sobreviveu tanto tempo no mundo mortal, pode ser seja filha de um deus menor ou não muito forte. Se só uma empousa a encontrou até hoje, não ficar sabendo pode ser melhor para ela." Ela diz.

"Ela também já passou da idade de ser reclamada, se já está na faculdade. Mas talvez você deva levá-la até a barreira e ver se ela atravessa." Percy diz. Annie revira os olhos e retruca:

"Se ela sabe sobre Quíron, já deve ter tido algum tipo de contato com ele, cabeça-de-alga. Talvez já até tenha ido ao acampamento, e talvez tenha achado tudo aquilo loucura e preferiu não acreditar. Você acha que ela sabe alguma coisa sobre os desaparecimentos?" Annie diz. Podia jurar que vi uma fumacinha saindo de seus ouvidos enquanto ela pensava. "Só vamos ter certeza se perguntarmos a ela ou se a levarmos ao acampamento." Respondo.

"Acho que a levas ao acampamento seria a melhor e... Ei, Rachel?" Percy para no meio da frase e me chama, abrindo um imenso sorriso.

"O que foi?" Pergunto.

"Você está com seu celular?" Ele diz começando a dar pequenas risadinhas

"Estou, porque?" Digo pegando o aparelho no bolso e mostrando a ele.

"Acho que essa e uma ótima oportunidade para usá-lo." Ele diz e aponta para um canto escuro da universidade, de onde um Kye sorridente saia carregando no ombro em uma posição nada apresentável, uma Maya que esmurrava seu peito e esperneava de uma forma nada madura. Todas as conversas que rolavam entre os alunos cessaram e eles se tornaram o "Espetáculo principal" da manhã. Abro um sorriso ainda maior que o de Percy e tiro uma foto da cena. Kye diz alguma coisa que faz Maya parar de gritar e erguer o rosto para encarar a cena. A cara que ela faz quando percebe a plateia indesejada que arrumaram seria digna do Oscar de Melhor Expressão de Vergonha do Ano e, como a boa amiga que sou, o que faço? Isso mesmo! Tiro outra foto e as posto na internet. Maya suspira e abaixa a cabeça devagar, deixando-a pender entre braços, como uma boneca de pano. Kye vem em nossa direção e eu me abaixo para falar com ela.

"Cara, você está tão ferrada."

Ainda de cabeça baixa e presa no ombro do ruivo mega-musculoso, ela ergue seu dedo apontando para mim.

"Se você postar essa foto, vou te atormentar até a sua quarta geração." Ela diz com a voz abafada. Rio alto, coitada, parece até que ela não me conhece.

"Isso será trabalho para outra hora, princesa. Preciso resolver aquele nosso assunto." Kye diz. Ele a solta de seu ombro leva o corpo de Maya para frente do seu, depositando um beijo carinhoso em sua cabeça. "Te vejo de noite, não se atrase." Ele diz e vai em direção a uma HORNET azul no estacionamento. Ele dá a partida e sai em alta velocidade.

Vou até Maya, que agora estava com a jaqueta de Kye e com a cara um pouco vermelha.

"Tem certeza que vocês não namoram?" Pergunto no ouvido de Maya, que dá um pulo em seguida. Acho que a assustei.

"Caramba Rachel...não, nós não namoramos. Seria ridículo eu namorar com Kye." Ela diz um pouco dispersa.

"Porquê? Ele é um gato." Pergunto.

"Porque ele é.…é.…" ela gagueja um pouco tentando encontrar a expressão certa. "Ele é quase como um irmão para mim. Um irmão lindo, carinhoso, divertido, superprotetor e muito, muito ciumento." Ela diz. Ela fecha arregaça as mangas da jaqueta que teimavam em permanecer dobradas. A jaqueta era quase um sobretudo em Maya, mas ela insistia em usar.

"Por que não tira a jaqueta?" Pergunto enquanto voltávamos eu, Maya, Percy e Annabeth para o prédio.

"Prefiro usar a jaqueta por agora, estou com um pouco de frio." Ela responde, mas pude ver que mentia. Ela suava bastante, mas insistia em permanecer com a jaqueta, e foi assim até que as aulas do dia terminassem. Ela estava escondendo alguma coisa.