Nossa 8ª série. Aquela deveria ser mais uma segunda-feira morta pós-aula de artes. Meu irmão não dava a mínima para o trabalho e dormia tranquilamente sobre a nossa bancada. Eu, enquanto representante de turma e da bancada, tentava coordenar o pessoal para montar o projeto no pátio. Mas logo eu parei, porque a vi. E vê-la foi o raio de luz que reacendeu a minha segunda-feira. Puxei a blusa de frio que o Ace fazia de travesseiro, incomodando-o até acordar:

[Ace]-Eu não vou fazer. Já passei nessa matéria.

[Sabo]-Protocolo 77, Ace. Protocolo 77. FINALMENTE O PROTOCOLO 77.

[Ace]-Argh...-ele resmungou- Qual deles é o 77 mesmo?

Apontei através do pátio para um grupinho onde estavam 3 meninas e ela, a mais linda de todas:

[Sabo]-Lá, pelo vale.

[Ace]-Cê me acordou pra falar de cocotinha? Eu poderia continuar minha soneca muito feliz agora...

Estapeei a nuca do meu irmão:

[Sabo]-Não se atreva a falar mal da futura Sra. Sabo.

[Ace]-Aaaaaah, eu não tenho tempo pra isso. Devolve minha blusa logo.

Joguei a blusa metros à frente, só para fazê-lo levantar. Emburrado, Ace saiu da mesa, pegou a blusa do chão e foi caminhar com ela na cabeça pelas laterais da quadra. Continuei fitando a garota, que sorria para algo que lhe diziam. Seu sorriso era belo e contido. De repente, ela virou o rosto e começou a me olhar. Tentei disfarçar coordenando o pessoal do grupo:

[Ace]-Toma aí teu salgado. Está me devendo 300 berries.

[Sabo]-Mas eu nem pedi...

[Ace]-É pra ver se para de passar vergonha olhando pra garota feito um dois de paus. Pelo menos finge que tá comendo e olha mais discreto.

Encarei me irmão, incrédulo:

[Sabo]-Desde quando Portgas D. Ace sabe dar conselhos amorosos pra alguém?

[Ace]-Isso não é um conselho amoroso. É pra você parar de passar vergonha publicamente.

[Sabo]-Ah, então você se importa com seu irmão?

[Ace]-Se você passa vergonha, eu passo vergonha. É simples. -ele me olhou irônico- Quer saber? Eu vou lá falar com ela.

[Sabo]-NÃO! -sem querer gritei, o que atraiu a atenção dela

Ace me olhava balançando a cabeça para os lados. Ele se virou e foi na direção dela. Tentei impedi-lo, mas já era tarde demais. O sinal tocou. Falei para o grupo guardar o trabalho no nosso escaninho da sala de artes e para irmos para a sala. Me levantei e tentei passar distante dos dois.

Assim que cheguei à sala, me sentei e esperei meu irmão aparecer:

[Sabo]-E então?

[Ace]-Ela é legal. Mas, não é pra você.

[Sabo]-Mas que diabos?! Como pode dizer uma coisa dessas?

[Ace]-Hmm... É como se você quisesse mover uma praia de lugar usando um caminhão de brinquedo. Entendeu?

[Sabo]-Isso é bem possível. -sorri - Mesmo que leve uns anos pra fazer isso... Uns bons anos... -enfatizei

[Ace]-Nhé... Você que sabe. Ela gosta de falar sobre literatura. De nada.

Encarei meu irmão até perceber o que ele estava tentando fazer. Virei de volta e a vi entrar na sala:

[Ace]-Ah, antes que eu durma: Ela é da nossa sala.

Arregalei os olhos:

[Sabo]-Como quer que eu me concentre com ela lá na frente?

[Ace]-Oe, cidadã! Aqui! -ele balançava os braços

A garota foi se aproximando, e quanto mais ela chegava perto mais meu coração acelerava:

[Ace]-Ah, esse é o meu irmão idiota. Sabo.

[Sabo]-M-muito prazer. -estendi a mão

[Ace]-Idiota, essa é a Koala.

[Koala]-O prazer é meu. -ela pousou a mão sobre a minha

Nossas mãos ficaram juntas por um tempo. Eu não tinha a menor ideia do que fazer, então a soltei:

[Ace]-Sente-se conosco.

[Koala]-Mas eu não sou uma garota do fundão.

[Ace]-Que pena... Há uma primeira vez pra tudo na vida.

Ela riu. Eu encarei o Ace com olhar de: "Será que esse é o máximo de educação que você pode ter?". Assim que ela voltou com a mochila nos braços, sentou-se ao meu lado:

[Koala]-Bem... Sabo, né?

[Sabo]-Sim.

[Koala]-Se importa se eu sentar aqui?

[Sabo]-Sim. Qu-quero dizer, não! Pode se sentar.

Meu irmão resmungou alguma coisa e virou a cabeça para a janela. Respirei fundo e soltei devagar:

[Sabo]-Koala... Você gosta de poesias?

Ela me olhou:

[Koala]-É nítido assim? -ela sorriu

[Sabo]-Bom, não... É que... Foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

[Koala]-Bom... Eu gosto sim, se é o que quer saber. Mas você não me parece do tipo de quem viaja para achar a inspiração certa e escrever uma poesia.

[Sabo]-Bom... Eu realmente não tenho essa criatividade toda. Mas eu gosto sim.

Ela mais uma vez sorriu e me entregou um caderninho vermelho:

[Koala]-Bom, sr. poeta, ficarei feliz então se você ler um dos meus.

Folheei o caderninho. Ela escrevia muito bem, por sinal:

[Sabo]-Uau... Que incrível!

[Koala]-Não é lá a melhor obra da literatura, mas obrigada.

Assim que o sinal de saída bateu, joguei minhas coisas na mochila e joguei a mochila do Ace em sua cabeça:

[Ace]-Nah... O que que é?

[Sabo]-Casa. A Dadan já deve ter buscado o Luffy e está fazendo o almoço.

[Ace]-Finalmente a luz da esperança! -ele rapidamente levantou e pegou a mochila da mesa - Aí garota, não esquece de sentar aqui atrás com a gente. Sua companhia é bem legal.

[Koala]-Obrigada por isso. Tchauzinho!

[Sabo]-Bom... Tchau. A gente se... vê amanhã?

[Koala]-Claro. Até mais. -ela estendeu a mão

Mais uma vez, eu não tinha ideia do que fazer. Ao azar, segurei sua mão e passei meu dedo indicador em seu dorso. Depois, me virei e saí. Já na rua:

[Ace]-Você é um fracassado mesmo.

[Sabo]-Você esteve ouvindo?

[Ace]-É lógico! Eu preciso te zoar por alguma coisa ou corrigir. E cara... Não tente ser tão inseguro.

[Sabo]-Eu continuo incrédulo... Você insiste em me dar conselhos amorosos. Justo você, Ace.

[Ace]-Tsh, e eu não posso entender disso?

[Sabo]-Não quando você nunca esteve com uma garota em público.

[Ace]-Ahá! Exatamente. Em público, não.

[Sabo]-E quem garante que você já teve uma garota antes?

[Ace]-Eu mesmo!

Bufei e balancei a cabeça negativamente. Pegamos o ônibus na avenida e 20 minutos depois, chegamos em casa:

[Ace]-Chegamos! Cadê a comida?

[Dadan]-Boa tarde, Ace. Eu vou bem, obrigada.

[Ace]-Eu não perguntei isso. Perguntei da comida.

[Dadan]-Vou me lembrar disso quando for servir seu prato.

[Sabo]-Deixa ele, Dadan. É o Ace, lembra? E cadê o Luffy?

[Dadan]-Disse que tinha dever de casa. Está lá em cima "fazendo".

Jogamos nossas mochilas num canto e eu fui lavar as mãos. Logo depois, a velha serviu nossos pratos:

[Dadan]-Vá lavar as mãos, Ace.

[Ace]-Nem. Elas estão limpinhas. Não tirei do bolso pra nada.

[Dadan]-Eu mandei lavar as mãos, garoto. Daqui eu posso ver a imundície.

[Ace]-Que imundície? Já falei que estão limpas, sua bruxa cega.

Com um movimento rápido, Dadan sacou uma concha de feijão e acertou a orelha esquerda do Ace:

[Dadan]-Repita.

[Ace]-Já vou lavar as mãos. -ele zuniu e logo voltou

Almoçamos e fomos para o quarto. Lá, Luffy encarava seu caderno como se fitasse uma presa:

[Ace]-E ai, irmãozinho.

[Luffy]-Oi gente.

[Sabo]-O que tá fazendo, Luffy?

[Luffy]-Nada.

[Sabo]-Então por que está encarando o caderno?

[Luffy]-Tô esperando ele me ensinar.

[Ace]-Hã? Moleque, você precisa ler o que está escrito.

[Luffy]-Mas eu já li! Agora é a vez do caderno.

Eu e Ace rimos:

[Luffy]-Que é?!

[Ace]-Luffy, você é a loira que nós nunca tivemos.

Joguei o pé esquerdo do chinelo sobre meu irmão estirado na parte baixa da beliche:

[Sabo]-Mais respeito.

[Ace]-Ergh! Sabo, quando foi a última vez que você lavou isso aqui?

[Sabo]-Do que está falando?

[Ace]-Esse chinelo está podre!

[Sabo]-Ele não é meu. -mostrei os meus chinelos calçados- Eles são do Luffy.

O chinelo foi atirado para fora da janela:

[Ace]-Muito obrigado, agora eu vou ter que adiantar o banho da semana.

[Sabo]-Disponha.

Irritado, ele largou a regata do uniforme sobre a cama e saiu:

[Sabo]-Luffy, você já pensou em lavar o chinelo?

[Luffy]-Hmm? Ah... Já.

[Sabo]-Esquece.

Deitei em minha cama e saquei meu caderno de desenhos da gaveta do criado-mudo. Me perdi tentando reproduzir o rosto da Koala. Quando finalmente consegui acertar o traço, uma toalha foi atirada no meu colo:

[Ace]-Sua vez.

[Sabo]-De ir tomar banho?

[Ace]-Não, de candidatar à Presidência. É claro que é tomar banho!

[Sabo]-Ah não... Eu acabei de almoçar. Me deixa.

[Ace]-Tsh. Imagina se a Koala souber que você não toma banho quando chega em casa.

Meu rosto ficou vermelho. Tentei formular a melhor resposta que podia:

[Sabo]-Bom, pelo menos eu tomo banho com frequência. Você toma banho de desodorante todo dia, e uma vez na semana joga água no corpo. Acho que a proporção é desigual.

[Ace]-Mas não sou eu que fico parecendo um totó segurando a mão de uma menina bonita que eu fiquei afim só de olhar pra ela.

[Luffy]-Uuuuuuuh, eu não deixava.

[Sabo]-Luffy, fica quieto. Você venceu dessa vez, mas é só porque eu entendi o que você tá tentando fazer.

[Ace]-Fazer? Eu não tô fazendo nada.

[Sabo]-Aham, claro claro.

Desci para tomar banho. Assim que terminei, voltei ao desenho, enquanto o Ace roncava em sua cama e o Luffy insistia em encarar o livro ainda esperando que ele "o ensinasse". Comecei a imaginar mil situações que nunca aconteceriam. Bom... Nunca é uma palavra forte demais. Talvez "dificilmente" seja melhor para definir. Quem sabe ela goste de mim um dia, ou me chute como um cão de rua por ter interesse em outra pessoa...

Acabei dormindo apoiado na parede, imerso aos pensamentos.