Parei minha bicicleta rapidamente e a joguei no chão, depois de desmontar nela, corri até a porta, sentindo meu rosto se aquecer aos poucos, e bati na porta, mordendo meu lábio inferior. Já estávamos no inverno. Véspera de natal, na verdade. Eu não havia conseguido falar com Rachel em todos esses dias que se passaram, por Shelby sempre estar por perto, mas naquele momento me sentia com coragem para enfrentar Shelby e ver Rachel. A porta se abriu e vi Quinn usando um suéter verde, combinando com seus olhos, e uma touca vermelha, com uma bolinha fofa na ponta.

– Santana? – Quinn parecia surpresa. – O que você está fazendo aqui?

– Preciso falar com Rachel. – respondi, colocando uma das minhas mãos no bolso do casaco que eu usava. – Preciso ver ela, Quinn.

– Ficou louca em vir aqui? Se Shelby descobre isso, ela...

– Não tenho medo de Shelby. Minha saudade é tanta, que não penso no risco que posso cometer. Eu preciso dela, Quinn.

Quinn sorriu, mordeu os lábios pensando um pouco e suspirou.

– Faça o seguinte. – ela saiu da casa e fechou a porta, ficando próxima à mim. – Entre pelo lado esquerdo da casa, abra o portão azul que há lá e corra para a casa na árvore. Despistarei Shelby, pedindo para ela fazer mais um chocolate quente para mim, e mandarei Rachel ir até lá. Por favor, não faça nenhum barulho!

– Obrigada, Quinn.

Novamente ela sorriu e deu de ombros. Rapidamente fiz o que ela mandou, me sentei em um canto da casa na árvore e suspirei, me sentindo ansiosa por ver Rachel novamente. Menos de um minuto, ouvi o som de alguém subindo as escadas rapidamente, Rachel apareceu com os olhos um pouco arregalados e a boca entreaberta, respirando com um pouco de dificuldade.

– S-Santana? – ela murmurou, entrando na casa.

Rachel vestia um suéter cinza com o desenho da Hello Kitty no meio, um short xadrez vermelho e meia calça preta, com uma sapatilha em seus pés. Ela não usava a touca que Quinn usava, mas estava linda e fofa.

– Oi, Rachel. – sussurrei, não sabendo o porquê de ter feito isso.

– O que você está fazendo aqui? – ela também sussurrou, se aproximando. – Mamãe vai surtar, se descobrir que você está aqui.

– Eu estou com saudade. – me levantei, ficando de frente para Rachel. – E eu trouxe isso.

Tirei o lírio branco de trás de mim e coloquei em frente ao seu rosto, Rachel olhou para a flor e sorriu, a pegando em seguida.

– Lindo...

– Não é rosa, mas...

– É lindo. – ela repetiu, desviando seus olhos para os meus. – Obrigada.

Coloquei minhas mãos em sua cintura, vendo a intensidade de seu olhar no meu, agarrei seu suéter e dei um passo à frente, vendo o olhar de Rachel desviar para o lírio novamente.

– Você é linda. – sussurrei mais baixo, vendo ela corar. – E fica mais ainda, quando está corada.

Rachel abaixou um pouco o lírio de nossos rostos, molhei meus lábios com a língua, me perguntando se eu deveria ou não. Olhei para os lábios de Rachel, ela os mordia com um pouco de força. Aproximei meu rosto um pouco ao dela e vi sua respiração acelerar mais, junto com a minha. Molhei meus lábios novamente e me aproximei mais, já sentindo seu nariz tocar o meu.

– Você sabia que a pulga é o animal que pula mais alto? – ela sussurrou, fazendo seu bafo quente tocar meu rosto. - Este inseto pode saltar mais de trezentas vezes a altura do seu próprio corpo. Se você pudesse fazer isso, você poderia saltar do início ao fim de um campo de futebol americano em um único pulo.

– Mesmo?

– Mesmo.

Puxei seu corpo um pouco mais para o meu, ouvindo sua respiração parar, toquei meus lábios nos seus lentamente, sentindo as mãos de Rachel segurarem meus ombros. Abri um pouco minha boca e toquei minha língua em seus lábios, já pedindo passagem, mas Rachel se afastou rapidamente.

– Não, não, não, não, não... – ela murmurou, se encostando na parede de madeira.

– Rachel. – a chamei, com medo dela gritar. – Rachel, olhe para mim.

– Não. – ela respondeu, tampando sua boca com sua mão livre. – Não.

– Não grite, está bem? – ela afirmou com a cabeça, olhando fixamente para o chão de madeira. – Você pode controlar isso. Controle isso por mim.

– Eu não... V-você...

Um som de trovão soou alto, Rachel deu um pulo e correu até mim, me abraçando.

– Está tudo bem. – sussurrei em seu ouvido, segurando sua cintura novamente. – Não precisa ter medo. É apenas... o Papai Noel.

Rachel se afastou um pouco, parecendo confusa.

– Papai Noel?

– Sim. – acariciei seu rosto com minha mão e a puxei um pouco mais para perto. – Ele está estacionando o trenó no teto de sua casa, para colocar seu presente debaixo da árvore.

– Mas... mamãe não comprou a árvore esse ano, porque... – sua cabeça abaixou um pouco. – Mamãe disse que eu fui uma menina má esse ano.

– Você não...

– Ela disse que eu fiz errado, quando beijei você.

– Você achou errado?

– Eu não... eu não sei. – levantei seu rosto pelo queixo e sorri. – Quinn disse que não.

– Acredite em Quinn.

Me aproximei mais, querendo novamente beijá-la, mas não fiz, ao ouvir alguém pigarrear. Rachel se afastou de mim rapidamente e olhou para Brittany, a mesma estava sorrindo, de braços cruzados.

– Me desculpem interrompê-las, mas já é quase meia noite, e Shelby está procurando por Rachel.

– Eu não quero voltar para lá. – Rachel murmurou, se escondendo atrás de mim. – Não quero ver Santana ir embora novamente.

Arregalei meus olhos com as palavras de Rachel, me virei e a vi corar.

– Rachel... – me segurei para não beijá-la novamente. – É melhor você voltar, ou sua mãe estranhará e virá aqui.

– Mas... – ela suspirou e afirmou com a cabeça. – Obrigada.

– Pelo que?

– Por ter vindo aqui. – ela aproximou seu rosto do meu, me fazendo arrepiar. – Eu senti sua falta. – ela sussurrou em meu ouvido.

Rapidamente, Rachel correu para fora, me virei e vi Brittany secar uma lágrima.

– Me desculpe por vocês terem que passar por isso. – ela murmurou, ficando de lado. – Eu sou idiota demais.

– Brittany, você não...

– Eu disse à Shelby sobre o beijo de vocês. – ouvi um soluço saindo dela, e dei um passo em sua direção. – Eu pedi desculpas à Rachel, mas ela não entendeu, sabe? “Você é minha melhor amiga, não teria motivos para te odiar.”

– Ela nunca irá te odiar, mesmo que entenda o motivo de suas desculpas.

– Quinn me odeia.

Me aproximei mais dela e toquei seu braço. Essa foi a chave para Brittany começar a chorar forte e me abraçar, escondendo seu rosto em meu pescoço.

– Hey... – afaguei suas costas e suspirei. – Não fique assim. Eu te perdoo e tenho certeza que Quinn não está lhe odiando.

– Ela não quer falar comigo, Sant... – corei um pouco com o apelido, por sorte ela não estava vendo. – Quinn me ignora desde que eu disse à Shelby sobre o beijo.

– Quinn não me parece ser uma menina que guarda rancor, e...

– Rachel é como uma irmã para Quinn, sabe? – ela se afastou, ainda chorando. – Saber que Rachel ficaria pior se não estiver perto de você, fez Quinn ficar brava. E para piorar, ela está brava comigo!

– Eu darei um jeito nisso. Nós daremos.

– M-mas... eu não quero ser ignorada por Quinn por muito tempo. Isso dói. Eu tento falar com ela, tento abraçar ela, tento beijar ela, mas...

– O que? – perguntei, surpresa.

Brittany arregalou seus olhos e tampou sua boca com as mãos, ficando cada vez mais vermlha.

– Oh, Deus... – ela se afastou de mim, quase caindo da casa na árvore, mas eu a segurei.

– Brittany!

– Santana... você não ouviu o que eu disse. Por favor!

– Está bem. – sorri e a abracei. – Eu não ouvi, e também não contarei.

– Obrigada...

– Nós daremos um jeito nisso.

Brittany se afastou de mim e sorriu, secando suas lágrimas. Sons de sinos começaram a tocar, Brittany fechou seus olhos e sorriu mais, me fazendo sorrir.

– Feliz Natal, Sant.

– Feliz Natal, Britt.

Ela riu e saiu, esperei alguns minutos e saí, corri até minha bicicleta e olhei para a casa, vendo Rachel aparecer na janela.

– Feliz Natal. – ela gesticulou, me fazendo sorrir.

– Feliz Natal.