Shelby parou o carro em frente à uma casa rosa, não era muito grande, mas o suficiente para Rachel e sua mãe. Rachel saiu do carro, eu saí em seguida e olhei para a casa novamente. Tinha dois andares, provavelmente o andar de cima era onde ficavam os quartos.

– Não fique acanhada. – Shelby disse, passando por mim. – Fique à vontade, está bem?

Eu sorri e sabia que corava um pouco. Shelby entrou em casa com algumas sacolas, provavelmente algumas compras que havia feito antes de buscar Rachel, eu olhei para o lado, mas Rachel não estava mais ali, na verdade, Rachel havia sumido, sem fazer barulho. Olhei em volta, a rua onde a casa ficava era calma, sem indícios de crianças, alisei a saia do meu uniforme e entrei na casa. Shelby estava guardando alguns alimentos na geladeira, eu parei na porta da cozinha e cruzei meus braços, até vê-la me encarar.

– Precisa de alguma coisa, querida? – ela perguntou, pegando algumas frutas de uma sacola.

– Hum... Não. Eu...

– Rachel sumiu?

– Sim.

– Ela deve estar no esconderijo dela.

Afirmei com a cabeça e entrei na cozinha, me aproximando do balcão onde estavam as sacolas.

– Precisa de ajuda?

– Não precisa. – ela pegou uma última sacola e colocou algumas coisas no armário de cima. – Rachel costuma se esconder quando tem vizitas, mesmo que ela mesma tenha as convidado.

– Sabe se ela vai demorar à aperecer?

– Normalmente dura duas à três horas, até ela se sentir segura e aparecer.

Eu bufei e olhei para a janela, parecia querer chover. Eu não queria ficar ali sem fazer nada por duas ou três horas.

– Atrás da casa tem uma árvore grande, que é dividida com a casa da vizinha. – Shelby continuou, chamando minha atenção. – Cuidei de Rachel sozinha durante toda a sua vida, então eu não tinha muita ajuda. Quando a vizinha se mudou para a casa ao lado, Rachel tinha 12 anos, e foi difícil a vizinha se aproximar dela. Para conseguir uma confiança com Rachel, a vizinha pediu ao primo dela para construir uma casa na árvore para Rachel.

– Isso é legal. – comentei.

– Sim. Rachel passou à morar naquela casinha, tive que estabelecer uma regra. Ela só podia ficar na casinha quando ela realmente precisasse, ou se já tiver feito o dever de casa.

– Então ela passa muito tempo lá?

– A maior parte do tempo sim.

– Santana. – Rachel chamou, me fazendo virar. – Vem comigo.

Ela se virou e correu escada à cima, eu pedi licença à Shelby e segui Rachel, me aproximei da segunda porta do pequeno corredor e vi Rachel mexer em seu armário.

– Precisa de ajuda? – perguntei.

– Não.

Entrei no quarto e olhei em volta, era como um quarto normal de uma garota. Havia uma escrivaninha com dois cadernos em cima, um deles era rosa, o armário ficava ao lado e, ao lado do mesmo, havia um baú rosa, com algumas flores pintadas, também tinha a cama de madeira branca, com lençóis de cor rosa, um criado mudo em um dos lados da cama, já que o outro estava encostado na parede, uma penteadeira ao lado da cama e algumas fotos e pôsteres pendurados nas paredes.

– O que tem no baú? – perguntei, um pouco curiosa.

– Bonecas.

Rachel pegou algo no armário, parecia ser uma caixa pequena, era da cor azul. Ela se aproximou de mim, ficando de frente para mim, entrelaçou seu dedo indicador da mão desocupada com o meu e me puxou para fora do quarto. Descemos as escadas correndo, Rachel correu para a porta de trás da casa e correu pelo jardim até a grande árvore, me deixando para trás. Rachel colocou a caixa dentro do sua camiseta e começou a subir as escadas de madeira, eu tentei virar meu rosto, mas meus olhos grudaram naquelas pernas cobertas apenas por uma saia até a metade de sua coxa. Assim que ela olhou para mim, virei meu rosto, tentando disfarçar.

– Você não vem?

Subi as escadas rapidamente, entrei na casa da árvore e Rachel fechou a porta. A casa não era tão grande, era mediana para cinco crianças. Rachel se ajoelhou no chão, perto à uma mesinha no centro, colocou a caixa em cima da mesinha e olhou para mim, assim eu me aproximei.

– Sabe o que tem dentro da caixa? – ela perguntou, parecendo divertida.

– Não...

– O primeiro presente que meu pai me deu.

Me ajoelhei de frente para ela, Rachel abriu a caixa lentamente e sorriu, seus olhos pareciam brilhar.

– Você não o vê mais?

– Não. Mamãe disse que ele não sabia cuidar de mim, então foi embora.

– Eu sinto muito. – murmurei.

– Por quê?

– Bem, seu pai foi embora e...

– E daí? – ela parecia confusa, eu também estava. – Enfim... Ele me deu esse anel quando eu tinha seis anos.

Ela virou a caixa para mim, havia um anel de prata com três pedrinhas rosas.

– Ele é lindo...

– Sim. Eu não o vi, ele apenas mandou o anel.

– Apenas o anel?

– Não. Papai me deu algumas bonecas de pano e me deu dinheiro, mas eu dou à mamãe.

– Por quê?

– Eu não preciso de dinheiro. – ela respondeu, dando de ombros. – Mas eu acho que mamãe usa o dinheiro para comprar minhas roupas.

– Provavelmente.

Rachel pegou o anel da caixa, engatinhou até mim e parou ao meu lado, me fazendo virar para ficar de frente para ela. Seu rosto estava um pouco próximo ao meu, ela levantou o anel até o espaço que separava nossos rostos e sorriu.

– Eu gosto desse anel, ele me dá sorte.

– Por que não o coloca?

– Ele não cabe mais no meu dedo.

– Talvez ainda caiba no seu mindinho.

Peguei o anel do seu dedo rapidamente, segurei seu dedo mindinho e coloquei o anel no mesmo, havia encaixado perfeitamente. Ao olhar novamente para Rachel, percebi seus olhos arregalados, soltei seu dedo e abaixei minha cabeça.

– Me desculpe, eu fiz sem pensar.

– Me toque.

– O que?

– Me toque...

Eu fique confusa, Rachel lentamente levantou sua mão e tocou as pontas dos dedos em meu rosto, me fazendo fechar os olhos. Minha respiração começou a ficar rápida, meu coração batia cada vez mais forte.

– Me toque. – ela pediu novamente, em sussurro.

Abri meus olhos lentamente, ainda sentindo seus dedos em meu rosto, levantei minha mão e toquei sua bochecha com meu dedão. Rachel fechou os olhos rapidamente, parecia com medo. Comecei a acariciar seu rosto lentamente, mordi meu lábio inferior e me aproximei lentamente, Rachel abriu os olhos lentamente começando a sorrir, eu sorri de volta e percebi o quão perto eu estava.

– Quer que eu pare? – sussurrei.

Ela negou com a cabeça, desci minha mão até seu queixo e me aproximei mais, Rachel sorriu mais ainda, enquanto não parava de olhar para minha boca. Meu nariz começou a tocar o seu lentamente, eu fechei meus olhos, desci minha mão até seu pescoço e o acariciei lentamente.

– O que você está fazendo? – ela perguntou, me assustando.

Abri meus olhos rapidamente e me afastei, pude ver seu sorriso divertido.

– C-como assim?

– Você fechou os olhos e fez assim. – ela fez um biquinho.

– A-ah... e-eu...

– Você ficou parecida com meu tio Omar, quando ele faz isso com a mulher dele.

– Hum... bem...

– Isso é nojento, na verdade.

Meu corpo gelou, Rachel soltou uma pequena risada e olhou para o anel do seu dedo, em seguida voltou a me encarar.

– Meninas, almoço! – Shelby gritou de baixo, me assustando.

Rachel se levantou rapidamente e correu para fora, eu bufei e me levantei, sentindo meu corpo tremer.