Olhei para o espelho retrovisor e retoquei meu batom vermelho, saí do carro e ajeitei meu terno preto e branco, escolhido com a ajuda da Brittany. Fui até a porta com uma caixinha de plástico transparente nas mãos e toquei a campainha, suspirando em seguida. Eu estava ansiosa, meu estômago embrulhava à cada passo que eu dava, me lembrando que aquela noite deveria ser perfeita. Nosso ano letivo estava no fim, já estávamos no baile de formatura, o que me deixava mais ansiosa. Depois de uma luta interna sobre prender ou não os meus cabelos, que até então estavam soltos, vi a porta sendo aberta, e Shelby elevar suas sobrancelhas, me olhando inteiramente.

– Senhorita Lopez. - ela disse, dando passagem para que eu entrasse.

Depois de entrar, me sentei no sofá já oferecido por ela, molhei meus lábios com minha língua pela milésima vez naquele dia e respirei fundo, vendo Shelby sentar em uma cadeira de frente para mim.

– Como ela está? - perguntei, quase sussurrando.

– Muito bem. - Shelby olhou para a caixinha em minhas mãos, sorrindo um pouco. - Está nervosa?

– Demais!

Ela riu e se levantou, sentando ao meu lado em seguida, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e suspirou, parecendo mais nervosa do que eu.

– Eu preciso lhe pedir uma coisa. - ela começou, suspirando novamente. - Eu sei o quanto você gosta de Rachel, e eu sei que ela gosta de você, porque... Rachel nunca se abriu tanto para uma pessoa, nem mesmo para mim. Eu vejo como ela é feliz quando está ao seu lado, fala sobre você constantemente, desde que a conheceu, e... Todos sabemos que Rachel melhorou bastante desde então. Seus ataques diminuíram, minha menina parece mais livre, ela aprendeu coisas novas e... Rachel está agindo como toda adolescente de sua idade.

– Rachel é normal, Shelby. - respondi, vendo seus olhos cheios de lágrimas. - Ela é e sempre será normal.

– Eu amo tanto minha filha, que sou capaz de fazer algo errado, para protegê-la. Sou capaz de mudar de cidade, de país, de planeta, só para proteger ela e vê-la feliz. Eu sei que sua vida será melhor à partir de agora, depois que ela se formar. Creio que ela irá querer ser mais independente, será uma mulher, não mais uma criança, e isso me assusta. - suas lágrimas já desciam, e as minhas já teimavam em descer. - Eu só quero lhe pedir para cuidar dela. Cuide da minha menina, pois eu não poderei fazer isso para sempre.

– Rachel não precisa ser dependente de alguém, ela sabe se cuidar.

– Eu sei que sabe, mas... Uma hora, ou um dia, ela se verá perdida, sem saber o que fazer e, quero que você seja a pessoa à quem ela se apoiará, a quem ela acreditará que cuidará dela.

– Você não precisa pedir isso, eu farei com todo meu amor por ela. - uma lágrima desceu de um de meus olhos. - Eu também amo sua filha, e cuidarei dela, por toda a eternidade. Mesmo que ela não goste mais de mim, mesmo que ela se canse de mim, ou encontre alguém melhor do que eu, um homem, talvez. Eu cuidarei dela, porque é isso o que eu quero fazer, desde que descobri que ela é autista, desde que percebi que ela podia amar, mesmo que do jeito dela.

Shelby se preparou para falar algo, mas o som de alguém pigarreando nos assustou, fazendo com que nós duas olhássemos para a pessoa.

– Me desculpem atrapalhar esse momento lindo entre vocês. - Quinn disse, corando um pouco. - Mas Rachel está pronta, e é capaz de gritar com o primeiro que aparecer na frente, se ela não ver Santana logo.

Me levantei rapidamente, secando minhas lágrimas teimosas, Quinn olhou para Shelby, que também secava suas lágrimas, antes de se levantar.

– Você está bem? - perguntei para Shelby, que afirmou com a cabeça.

– Bem... - Quinn colocou suas mãos para trás, sorrindo para nós duas. - Com vocês, apresento a nova Rachel Berry.

Ouvi o som dos saltos soando na escada, mordi meu lábio inferior com força e respirei fundo. Assim que Rachel terminou de descer a escada, ela se virou para mim, com um lindo sorriso no rosto, me fazendo paralisar. Rachel usava um vestido longo, da cor pérola, o mesmo continha uma abertura acima da metade de sua coxa na perna esquerda, assim deixando toda sua perna à mostra, seus saltos eram prateados e bege, e seus cabelos estavam soltos, sua franja se perdia entre todos os outros fios, deixando sua testa à mostra. Sua maquiagem era básica, mas lhe deixava incrível, como todo seu figurino. Eu não sabia se a noite estava quente, se a casa diminuía de tamanho rapidamente, ou se todo o ar à volta não existia mais, mas eu não conseguia sentir ar em meus pulmões, me sentia presa, e meu corpo se esquentava cada vez mais, me fazendo soar.

– Santana? - ouvi Rachel murmurar, franzindo sua testa. - Você está bem?

Senti alguém tocar em meu ombro, virei meu rosto com o susto e vi Shelby sorrir para mim, tentando me acalmar.

– Vá até lá, querida.

Voltei a olhar para Rachel, dei meu primeiro passo e senti minhas pernas amolecerem, mas me mantive firme. Depois de me aproximar de Rachel, molhei meus lábios e sorri, ainda sem ar.

– Oi... - sussurrei, aproximando meu rosto ao dela. - Você está linda.

– Obrigada. - ela sorriu mais, encarando meus olhos. - Você também está linda. Gostei do terno.

Soltei uma pequena risada, acariciei seu rosto com cuidado e me aproximei para lhe beijar, mas Rachel se afastou, corando um pouco, ao perceber três olhares em nós duas.

– Elas são tão lindas juntas. - Brittany comentou.

– Fique quieta. - Quinn reclamou.

Rachel abaixou seu olhar para a caixinha em minha mão, segui seu olhar e rapidamente tentei abri-la, me atrapalhando um pouco.

– Ah! I-isso é... Eu comprei para você. - tirei o buquê de mão da caixinha e sorri, olhando para a flor.

– Uma gardênia... - ela disse, sorrindo para mim. - Rosa.

– Como a primeira que lhe dei, lembra?

– Sim... Você me deu em troca se eu parasse de me machucar.

Amarrei a fita branca em seu pulso, Rachel aproximou a flor de seu rosto e a cheirou, ainda sorrindo.

– Vocês estão prontas para irem? - Quinn perguntou, chamando nossa atenção.

– Oh! Sim... - murmurei, me virando para as outras. - Obrigada por tudo, meninas.

– Nós que agradecemos. - Brittany disse, sorrindo.

– Não voltem muito tarde. - Shelby disse, cruzando seus braços. - Se algo acontecer, não exitem em me ligar, está bem?

– Com certeza. - Rachel segurou minha mão, parecendo me puxar. - Até mais, Shelby.

Me virei novamente e segui até a porta com Rachel, a mesma segurava meu braço com sua outra mão.

– Esperem! - Brittany gritou, nos assustando. - Precisamos tirar uma foto das duas.

– Foto? - Rachel perguntou, corando. - Precisa mesmo?

– Claro! - a loira mais alta pegou uma câmera fotográfica e sorriu para nós duas. - Se posicionem.

Rachel abaixou um pouco sua cabeça, passei uma mão em sua cintura e coloquei minha mão em seu quadril, a puxando para mais perto. Vi seu rosto se levantar, seus olhos pararam em meus lábios, assim como os meus fizeram com os seus, uma de suas mãos subiu para o meu rosto, me fazendo fechar os olhos, sentindo seu nariz tocar o meu.

– Eu te amo, Rachel. - sussurrei, a puxando mais. - Eu quero passar o resto da minha vida com você.

Ela sorriu e me beijou, se virando totalmente para mim e me puxando para mais perto, pelo rosto. Acariciei sua cintura, parei de beijá-la e olhei em seus olhos, vendo a sorrir, enquanto limpava minha boca, pelo batom manchado.

– Podemos ir? - Rachel perguntou, virando seu rosto para Brittany.

– Estão liberadas. - ela respondeu, se apoiando em Quinn. - Divirtam-se.

Me afastei de Rachel, abri a porta para ela e a esperei passar, para depois a seguir até o carro. Novamente, abri a porta do carro para ela, corri até o lado do volante e entrei, vendo Rachel retocar seu gloss, pelo espelho retrovisor.