A Gêmea do Professor

Chegada à Finnegan


As notas da guitarra tomavam meus ouvidos, Sweet Child O'Mine, a voz do Axl Rose me acompanhava em todos os momentos cinzas da minha vida nada entediante, mas ultimamente, ele tem se tornado um melhor amigo, sem o próprio ter o conhecimento da minha existência agradável, por, simplesmente, o ranço de mudar de uma escola para outra, me estressou com todos à minha volta, principalmente porque iria estudar na mesma escola onde meus dois irmãos irritantes iriam estar.

Mamãe que aguarde, pois iria ser por pouco tempo.

Sentada no assento de trás do carro, distraída em meu celular, vasculhava o Instagram sem interesse algum ou curiosidade, apenas por puro tédio em passar o tempo, que de social, eu não tinha nada.

Passava o tempo tedioso do lado, ou atrás, dos meus dois irmãos: os dois estavam sentados nos assentos da frente; uma fingindo que não conhecia o outro enquanto passava rímel nos seus cílios com a mão no volante; e outro tinha um olhar e um sorriso idiota no meio do rosto, olhando a floresta do lado da estrada por ir, num dia alegre e feliz, para a nova escola.

Se soubessem o que faria para mandar eles para o planeta mais longe, eles jamais sentariam na minha frente, despreocupados com suas vidas irrelevantes e nada interessantes. Os dois eram um puro tédio, apenas os próprios não tinham se dado conta disso, ainda.

— Primeiro dia na escola, vocês não estão... - Meu gêmeo diz enquanto olhava floresta afora passar pelos seus olhos, mas se virou para nós, parando seu olhar surpreso para nossa irmã, se maquiando enquanto dirigia.

— Não... Não estamos animadas, muito menos eu. - Respondo por nós duas, rispidamente, sem tirar meus olhos da tela do meu celular, agora ouvindo a voz sedutora e grossa do Bon Jovi nos meus ouvidos. Infelizmente, eles não eram altos o suficiente para impedir que ouvisse suas vozes irritantes.

Precisava de fones novos.

— Isso eu já vi, mas… - Ainda tinha seus olhos, agora estáticos, para nossa irmã. - O que você tá fazendo?! - Perguntou, agitado, à Ivy, que olhava para o espelho do retrovisor acima, continuando a passar o rímel, sem prestar atenção na estrada.

— Ah, eu preciso ficar bem bonita, o Hutch Anderson terminou com a namorada! - Explicou, empolgada, tendo um sorriso bobo e animado no rosto, enquanto passava seu rímel se olhando no espelho do retrovisor.

O carro, de repente, derrapou os pneus no asfalto e se balançou para os lados, fazendo com que meu corpo se balançasse no assento, bruscamente, para parar em quase uma freada. Com o balançar, tiro meus olhos da tela e olho para frente, inclinando meu corpo para o lado e encarar incrédula minha irmã, com uma parte do cérebro a menos.

— O que foi isso?! - Adam perguntou em tom preocupado e um olhar desesperado para a estrada, que apenas tinha um carro afastado na nossa frente.

— Relaxa, foi só um pedaço de madeira. - Respondeu minha Irmã, desinteressada. - Ou um gato, talvez um mendigo dormindo.

— Que seja um gato. - Digo sem animação, mas por dentro satisfeita por ter imaginado um gato sendo atropelado. Com esse pensamento, abro um sorriso para rir.

— Como é? - Adam pergunta, abismado com meu comentário e se vira para olhar para mim com medo.

— Eu gosto de ver gatos sendo atropelados. Deveria saber, somos gêmeos, gênio. - Sorriu, brincando com sua genialidade.

— Eu deveria ficar preocupado com essa resposta? - Se pergunta, com receio na voz, se virando para frente.

— Ah. - Ivy movimenta o volante fazendo o carro se mover, novamente, quase saindo do seu controle, pela sua falta de concentração ao dirigir.

— Aaah, será que a gente vai morrer? - Comentou Adam, se reprimindo no seu assento com seu olhar assustado para a rua.

— Eu tô contando com isso. - Comento alto para eles ouvirem, sendo que Ivy mal dá atenção.

— Você não pode ficar se maquiando e ficar dirigindo ao mesmo tempo, sabia?! - - Repreendeu nossa irmã, mal formulada.

Tiro meus olhos da foto de um desenho de um panda com corações e flores ao redor, o que me deu um enjoou pela purpurina que voou no meu rosto, para colocá-los na direção da minha irmã mais velha. Nervosa, eu me controlava para não pular para o assento da frente e a empurrar para fora desse carro.

— Tá, segurem o volante. - Soltou o volante para fechar seu rímel.

— O quê?! - Eu e meu gêmeo exclamamos unissonamente, mas foi ele quem foi para cima do volante e o dirigiu, me segurei para fazer o mesmo, pelo impulso que meu corpo teve.

— Mas eu não tenho idade pra dirigir!! - No desespero, falou ele enquanto comandava controladamente o volante.

Vendo minha chance de fazer o que eu tanto aguardava fazer, vou com tudo para frente: - Fale por você mesmo! - O empurro para o lado, para conseguir segurar o volante e controlar o carro.

— Gêmeos, servem para qualquer coisa. - Comentou minha irmã, entre suspiros e risos, satisfeita.

Mal pude ficar dirigindo com a minha mente sádica, por ele segurar o meu braço e, com sua outra mão, segurar o volante; trocamos olhares mortais como os irmãos competitivos que éramos, enquanto nossa irmã arrumava seu cabelo com um pente. Sentia sua mão apertar meu braço com a força que tinha, ou seja, nenhuma, para puxar meu braço para trás, e ao puxar, seu sorriso se desfaz pelo meu braço continuar no mesmo lugar pela pouca força que tinha.

Tiro meu semblante competitivo para abrir um sorriso sarcástico e olhá-lo com cinismo, então, ele usou sua tática para me fazer recuar, que usava muito quando éramos crianças: abre sua boca, com um olhar ameaçador, e se aproximou bruscamente do meu braço para mordê-lo.

— Faça isso e vai acabar numa cama de hospital, no final precisando de mais de uma cirurgia para consertar o que já não tem conserto. - O ameaço com a voz calma e um olhar sereno, gargalhando por dentro ao ver seu olhar amedrontado e seus lábios tremendo. A contragosto, solto o volante e volto a me sentar no assento de trás, voltando a atenção para meu celular.

— Depois desse pesadelo, acho que vou trancar a porta do meu quarto todas as noites quando for dormir. - Comenta com a voz fraca e olhava para frente, sem se dar conta de que estava dirigindo.

— É melhor mesmo, irmãozinho. - Comento.

— Uhum… - Assentiu, e depois de segundos, virou seu rosto bruscamente para nossa irmã, que digitava no seu celular, mas se apressou para continuar sua maquiagem em seus olhos. Ele voltou a olhar para frente e depois para ela. - Me dá esse estojo de maquiagem! - Soltou o volante para pegar a bolsa de maquiagem das mãos dela, deixando ela voltar no controle. - Esse Hutch, é melhor ele valer a pena. - Arqueei minha sobrancelha vendo a cena que me dava estranheza, principalmente olhando para ele. - Faz biquinho. - Formou um biquinho com seus lábios, levando o pincel até as pálpebras dela ao se inclinar na direção.

— O que você tá fazendo? - Indagou Ivy.

— Eu tô misturando, e você tem que comprar uma sombra mais sedutora se quiser ressaltar seus olhos de verdade.

— Acho que vou vomitar. - Comento, com o olhar estático para ele fazendo a maquiagem dela. Ponho meus fones para voltar a ouvir a voz do meu Bon Jovi e volto a olhar para a tela, mas estranho ao perceber o carro parando logo após. Franzi e volto a olhar para frente, mal tínhamos chegado em frente da escola.

Desconfiada, tiro um dos fones da minha orelha, pronta para perguntar porque paramos, mas ao ver o rosto dela por se virar para trás, a visão que tive tirou toda a concentração que tinha; espremi meus lábios um no outro para não começar a gargalhar.

— Mas porquê você parou numa floresta? - Perguntou ele, confuso, já abrindo a porta do carro para olhar para fora.

— Eu não vou chegar na escola com os irmãos gêmeos anormais que tenho. - Respondeu, pegando a bolsa dele do meu lado, também pegando a minha mochila e a colocando no meu colo, colocando sua mão no meu braço para me empurrar contra a porta fechada do carro, fazendo bater minha cabeça no vidro.

— Ai! - Gemo de dor, virando meu rosto, expressando a dor, para ela.

— Que bom que doeu, porque eu vou fazer doer ainda mais se você não sair. - Diz a loira, tentando fazer seu olhar ameaçador com aquela pintura maravilhosa que Adam fez.

Somente me fez querer rir, mas, de alguma forma, olhar para o seu rosto todo pintado era perturbador. Eu preferia mesmo sair do que ficar mais dez minutos com ela, dentro de um carro, prendendo minha vontade de jogar ela porta a fora.

Reviro meus olhos e seguro a tranca do carro, para puxá-lo, empurrando a porta para frente, saindo logo depois para dar de cara com a floresta, onde era palco da cantoria dos grilos e uivos de coiotes. Encaro as árvores com os cascos cinzas e as folhas ainda crescendo pelo final do inverno, enquanto enrolava meus fones ao redor do meu celular para guardá-lo numa bolsa pequena da minha mochila.

— Isso foi um coiote? - Perguntou ele, amedrontado.

— Claro que foi. - Respondeu ela.

— Eu mereço. - Comento, puta da vida, enquanto encarava a floresta com meu olhar entediante, me apressando para voltar a abrir a porta e entrar. Ao virar, vejo meu gêmeo fechando a porta do carro, se levantando do chão, com o próprio carro indo para frente e nos deixando para trás.

Com o momento confuso, fico estática no lugar, apenas processando o que ela havia feito comigo. - Como fui burra. Minha própria consciência me traiu. - Firmei meus olhos no carro que se distanciava na estrada, cruzando os meus braços e xingando minha querida irmã mais velha de todos os nomes possíveis, ao fundo ouvindo, novamente, o uivo do coiote. - Eu não acredito que aquela filha da mãe fez isso? - Falo com a raiva impregnada nas minhas veias, colocando a alça da mochila por cima do meu ombro para começar a caminhar pelo canto da estrada, logo mais adiante lendo a placa escrita: Colégio Finnegan High: a três milhas de distância.

— É, como ela pôde fazer isso com a gente! - Ele com seu tom indignado.

— Não, como ela pôde me deixar aqui com você! - Corrijo em resposta, ainda caminhando. - Sozinha, tudo bem, mas com você, é outra coisa! Mas pelo menos você fez um belo trabalho no rosto dela. - Abro um sorriso no meio da minha fúria, por me lembrar do rosto de palhaço dela.

— Eu sei. - Respondeu, se gabando.

Escutamos mais uivos de coiotes ecoando da floresta, do nosso lado, os que não me assustavam, mas que deixavam a atmosfera mais sombria pelo tempo que estava fechado desde ontem, foi por aí que comecei a escutar os gritos de menininha do Adam atrás de mim.

Me viro para ele e o vejo correndo na minha direção, com seus olhos arregalados e sua boca aberta que mostrava todos os seus dentes se espremendo um contra o outro; atrás dele, eu vi um grupo de cinco coiotes correndo atrás dele.

Aquela visão apenas não me fez gargalhar, pelo simples fato de que estavam vindo, também, na minha direção.

— AMY!! - Gritou, desesperado.

— FICA LONGE DE MIM!! - Grito de volta, tomando o passo apressado para correr pela estrada, o mais rápido que conseguia. O fôlego me fazia falta nessas horas.

Atravesso a rua, ouvindo os gritos de socorro do meu irmão, mas não paro, pulando um tronco de uma árvore ao entrar nas ruas povoadas pelos carros, casas e pessoas. Viro a esquina da rua e me deparo com a entrada dos fundos da escola mais à frente, a qual estava cheia de alunos.

Suspirava descontroladamente, sentindo meu coração batendo contra meu peito que subia e descia, ardendo pelo cansaço e falta de ar. Diminuo os passos apressados, pelas minhas pernas estarem tremendo pela fraqueza do cansaço.

— Eu deveria fazer academia. - Digo para mim mesma, entre os suspiros pesados. Seguro a barra da minha jaqueta de couro e a puxo para baixo, deixando o meu ombro e uma parte do meu braço exposto, para ajudar o ar, pouco gelado do dia, entrar e abaixar a temperatura do meu corpo.

Em instantes, pisava nos gramados que eram usados pelos grupos de amigos que conversavam, em pé ou sentados nas mesas ao redor, já sentindo os tecidos da minha blusa de baixo, e o próprio couro, gelados, me fazendo soltar um suspiro aliviado ao sentir eles tocarem minha pele e me refrescar, mesmo com a quentura estando pouco baixa.

Continuava minha caminhada, entrando na trilha de concreto liso feito entre os gramados, passando pelas várias mesas usadas, com o nariz empinado e o olhar erguido para frente, ignorando os olhares alheios que me encaravam ao me verem passar. Sorriu de canto, já imaginando o inferno que iria fazer naquela escola.

Todos pareciam certinhos demais.

Já em frente ao prédio, faço a curva da trilha para ir diretamente até a escadaria em frente a entrada, mas sou parada por alguém esbarrar nas minhas costas.

— Essa é a última vez que uso desodorante de aumisk!!

Reconhecendo sua voz, reviro meus olhos e bufo irritada. Me viro para encará-lo, o vendo tirar seu casaco todo cheio de rasgos violentos.

— E essa é a última vez que eu ando com você! - Digo e me viro para continuar meu caminho e fingir que não o conhecia.

— Me espera! - Gritou.

— Não mesmo!

— Zíper no olho!! Zíper no olho!! - Um grito de outro garoto ecoou atrás de mim, me fazendo parar por reconhecê-lo de algum lugar. Tombo minha cabeça para o lado, curiosa, e me viro para trás, como o Adam, os curiosos, nos assustando ao perceber que vinha de dentro da lata de lixo do nosso lado.

Sem demora, um garoto desesperado se levanta de dentro da lata, cheio de embalagens espalhadas pela sua roupa; entre suas mãos atrapalhadas, a jaqueta rasgada do Adam estava enrolada. Jogou ela para o chão e colocou sua mão no seu olho, numa expressão de dor. O tal garoto era bem familiar.

— Derby? - Adam diz, reconhecendo aquele garoto.

Continuou encarando aquele garoto com estranheza e desprezo, e seu jeito esquisito e atrapalhado, até mesmo suas roupas coloridas, me lembravam alguém na infância… Um alguém que, com meus seis anos, colocou uma bola explosiva, com cheiro de merda, dentro do meu lanche.

— Derby... - Confirmo o meu pensamento, lembrando da época que nós dois estudamos juntos quando éramos mais novos.

O tempo realmente passou rápido, pensei.

Passo meus olhares, nada interessados, por ele. - Ainda é inútil pra mim!

— Adam e... - Desviou o olhar animado do meu irmão, para mim. - Amy Young? A quanto tempo?! - Adam se aproximou e o abraçou, como o próprio o abraçou, tirando sua expressão de dor, depois meu gêmeo o soltou por ter uma casca de banana caída no seu ombro. Logo tratou de tirá-la e a jogar no chão.

Já prevejo alguém pisar e escorregar.

Derby desviou seu olhar para mim, abrindo seus braços, entre seu sorriso, para vir me abraçar.

— Fica longe de mim! - Aviso, bruscamente, antes que saísse da lata para pular em cima de mim.

— É, você não mudou nadinha. - Comentou, alargando mais seu sorriso bobo, que mostrava todos os seus dentes perfeitamente alinhados, mas que demonstrava, nitidamente, seu nervosismo.

— Nem você. - Compartilho do mesmo pensamento repassando meus olhares repulsivos, sobre metade do seu corpo, pela outra estar dentro da lata de lixo. - Tá morando aí agora?

— Não, o Slab me colocou aqui. - Respondeu, segurando na borda do lixo para se levantar e pular para fora.

— Slab? Quem é Slab? - Adam pergunta.

— Imaginem, se o Godzilla e o Pé Grande, tivessem um bebê. - Diz, revelando seu raciocínio que não mudou nada, desde a época que estudávamos na mesma sala. Ele nos olhava com atenção, levantando suas mãos para gesticular e montar seu pensamento.

— Eu nem sabia que eles namoravam. - Adam responde com seu humor raro, e animação descontraída.

Abaixou suas mãos, pensativo. - Agora, eu nem quero saber o que pode acontecer se ele e você, Amy, se encontrarem. - Comentou ele, num olhar amedrontado para mim. Ainda piorou por permanecer olhando para ele com minha feição zen e meu olhar vazio, que deixava a todos apreensivos, paralisados no lugar.

Aquilo sempre acontecia, desde que eu era menor, então usava esse tipo de “ poder ” para colocar medo em todos que quisesse e mantê-los longe de mim.

— Eu arrasto a cara dele num asfalto apedrejado, que estivesse sendo torrado pela luz do sol num dia de calor intenso, para melhorar a desconfiguração da carne da face dele, se despedaçando por completo… A mesma coisa que vou fazer com você… - Termino em dizer entre palavras lentas, num olhar e sorriso carinhoso para sua expressão estática. - Caro amiguinho…

— Ainda me odeia? - Perguntou para Adam, com a voz presa na garganta.

— Sim. - Assentiu ao responder, mantendo seu olhar preso no meu.

Derby apenas tirou seus olhos de mim para os pôr sobre alguém que passou atrás de mim, tirando aquele ar amedrontado para colocar no lugar, uma expressão de bobo e encantando.

Curiosa, por também ver meu irmão olhando na direção, abrindo um sorriso no rosto, me virei para frente e vi que seria Ivy quem chamava a atenção dos dois; ainda tinha seu rosto pintado, caracterizando um palhaço, perfeitamente como a própria era vista por mim.

Solto um riso nasal, cruzando meus braços ao acompanhar ela caminhar apressadamente até um bad boy que também usava uma jaqueta de couro.

— Oi, Hutch! - O cumprimentou com sua voz enjoada e açucarada, entre seus sorrisos de boa garota - Barbie, como a chamo -, que sempre me dava um embrulho no estômago, por ouvi-la falar nesse tom quando se tratava de um cara.

O bad boy virou para cumprimentá-la, mas parou ao vê-la, estreitando suas sobrancelhas, numa feição confusa, por ver a bela obra que meu gêmeo fez. - Hã... Oi...

— Eu achei que você gostaria de saber que eu tô livre no sábado. - Diz ela por fim, colocando suas mãos na cintura entre seus sorrisos astutos.

— Sério? Não marcou nenhuma festa de aniversário? - Perguntou com ironia, prendendo seu sorriso numa forçada feição séria.

— Uma festa? Claro que quero ir com você! Você vai me buscar? - Responde, entre suas frases animadas, na mais pura ingenuidade arrogante.

— Por que? O ônibus do circo tá quebrando? - Brincou, abrindo sua boca para começar a rir. A deixou sozinha, se virando para caminhar até a entrada que estava atrás de mim.

Ria com discrição, balançando meus ombros e a encarando ficar imóvel no lugar, enquanto o bad boy se aproximava.

— Gatinha nova. Oi. - Comentou o bad boy ao passar por mim, me secando da cabeça aos pés.

O foco que tinha sobre minha irmã se foi ao ouvi-lo, colocando meus olhos para a rua, incomodada com seu comentário.

— Ele pode ser um bad boy, mas não tem a menor liberdade para falar assim comigo. - Emburrada, me virei para trás e encaro as costas dele passando pela porta e seu rosto distraído pela janela de vidro, logo depois a sombra da minha irmã passou por mim, para também entrar.

— Nossa, o palhaço é uma gata! - Derby diz, " encantado ".

Franzi e me viro para ele - “ outro palhaço ” -, pensei.

— O palhaço é nossa irmã, você sabe, né? - Adam diz, enquanto mantinha meu olhar fixo no seu amigo.

— Eu só tô falando que ela desperta o bicho dentro de mim, o bichinho do circo, mas, mesmo assim. Mrriaaauu. - Gesticulou garras com suas mãos pelo ar, levando seu olhar tarado para trás de mim, imitando um gato.

— Eu poderia estar na minha antiga escola, mas não... Eu estou aqui! - Bruscamente me viro, indo na direção dos degraus, que as subo rapidamente até a porta, a abrindo com irritação e entrando no corredor movimentado pelos coadjuvantes da minha vida, os quais me lembravam muito daqueles que estudavam na minha ex-escola. Caminhava por ele, tranquilamente, chamando as suas atenções pela minha marra de andar, ou pela minha presença rebelde, sem querer me gabar, mas eu era um monumento a ser apreciado.

Subo os degraus ouvindo eles atrás de mim, o que me fez soltar um resmungo e revirar meus olhos. Cheguei no andar, olhando para o bilhete que estava escrito os meus horários e as aulas; a primeira, era de ciências. Quase vomitava pelo tédio que eram essas aulas, por mais que eu usava a química dela para fazer… coisinhas com os outros.

— Então, onde vocês estudaram? Foram embora de repente. - Ficou do meu lado, perguntando entre seus sorrisos animados e estonteantes. - Principalmente você, foi embora um ano depois que esse daqui desapareceu.

— Eu fui para uma escola insuportável, cheia de pessoas insuportáveis, com hábitos irritantes, na qual a virei de cabeça para baixo depois de um mês da minha chegada.

— E isso foi quando tinha dez anos. - Comentou meu gêmeo. - E depois foi expulsa.

— A primeira expulsão nós nunca esquecemos. - Levo minha mão para o peito, dando leves batidas na região, ficando na nostalgia dos meus melhores anos do começo do meu trabalho nas escolas nas quais fui expulsa.

— Foi expulsa para vir pro Finnegan?

— Não, pela primeira vez, fui transferida, com o consentimento da minha mãe! - Ponho a minha raiva e indignação na voz. - Achei ruim, irritante, mas agora que eu vejo que todo mundo aqui são uns bundões como meus ex-amiguinhos… - Fico num silêncio dramático, aumentando meu riso de canto.

— Ah... - Gemeu em amedrontamento, puxando o braço do meu irmão para o deixar do meu lado e se colocar do lado dele.

— Cagão. - Comento.

— Calma, Derby, ela não é tão má assim. - Adam tenta acalmá-lo, mas meu olhar de poucos amigos também o reprime, o fazendo repetir o mesmo que Derby: puxou seu amigo para se pôr ao lado do mesmo.

— Ah! - Gritou Derby ao ficar do meu lado, se reprimindo com receio de ficar do meu lado.

— Vocês dois são tão idiotas! - Reviro meus olhos, segurando a alça da mochila, virando a curva do corredor para entrar em outro e dar de cara com aqueles que ainda circulavam pelo espaço. - Se eu quisesse fazer coisas com vocês, já teria feito... Vocês mal conseguiriam andar depois. - Digo simplesmente.

Seguimos reto, entre meus olhares para as escritas pelas portas daquele corredor, tentando encontrar a sala de ciências, mas minhas dúvidas se foram ao ver escrito, na porta dianteira: Sala de ciências. A mesma sala onde iria ter aulas com meu " querido " irmão e seu amigo pateta.

Ali encontro uma ótima oportunidade para ficar sem eles, pelo menos por alguns segundos. Ótimos seria esses segundos se tornarem uma vida inteira.

Diminuo meu passo, deixando eles passarem na frente e virarem a curva do corredor, para poder ir na direção da porta ao meu lado. Seguro e viro a maçaneta, puxando a porta para frente e entrando logo depois; paro no momento que entrei por ser apedrejada por todos os olhares curiosos sobre mim. Reparo num grandalhão que parecia ser mais velho que todos ali - algum repetente talvez -, sentado na última fileira, na cadeira em frente da entrada da porta dos fundos da sala.

Desvio meus olhos para frente, fechando a porta atrás de mim, mas a da frente da sala se abriu e dela passou meu gêmeo e seu amigo. Suspiro, mal-humorada, retomando os passos pesados pelo espaço entre as mesas, procurando onde sentar.

— Tá até na minha classe. - Derby diz, deixando o outro fechar a porta e ir até a mesa.

Paro em frente da sala, encarando meu irmão colocando sua bolsa em cima da mesa e se virar para a lousa. - Reveja teus conceitos, Derby, e olhe para frente. - Digo, encarando o Adam que escrevia " Sr. Young ", na lousa, com Derby parando ao meu lado, tendo um olhar surpreso e estático.

— Não. - Negou.

— Por mais que eu estivesse estudando na mesma escola que meu querido irmão vai dar aula, eu poderia, pelo menos, estudar numa sala que você não desse aula! - Digo com revolta.

— Sim. - Ele diz, se virando de frente para a sala e se encostando na lousa, abrindo um sorriso inocente. - Vocês dois estão na minha classe.

( Continua… )