ALEX POV

Os movimentos cessam quando parecemos notar o que aconteceu. Mesmo assim, continuo alerta, com a mão em minha varinha, caso eu tenha que me defender.

– Melhor irmos embora. – sugere Harper, atenta aos arbustos.

Concordo e logo, saímos do Cemitério de Godric’s Rollow e seguimos pela rua coberta de neve, recebendo o vento frio em nossos rostos.

Aconchego-me, mais nos suéteres e caminho mais à frente, como estava fazendo minutos antes. Ninguém conversa muito. Pelo jeito, eles parecem estranhar o modo como estou. Diferente. É a palavra que me define aos olhos deles.

– Alex, tem certeza que tudo está legal? – pergunta Gina, me alcançando.

A encaro. Dou um meio sorriso.

– Sim. Tudo está ótimo. – digo.

Seguimos então, até onde era a Casa dos Potter. Chegamos às ruínas e Harry observa tudo atentamente, como se não quisesse esquecer nada.

Eu posso estar sendo fria, mas não estou sendo má. Quero dizer, me defino como uma vingadora. Estou querendo mostrar para meus irmãos e para os meus amigos, que não sou tão tola.

Assim, acabo sentindo certa pena de Harry. Afinal, seus pais estão mortos. Ele deve sentir falta deles.

Viro-me e noto que alguém nos observa. Estreito os olhos e vejo que se parece com a forma de uma mulher. Encolhida e enrolada em seus vários suéteres caminha lentamente e por segundos, se vira e nos observa.

– Será que aquela é Batilda? – pergunta Hermione, curiosa.

– Não sei. Vamos até ela. – diz Justin.

Seguimos até a senhora. Ela para e nos espera.

– A senhora é Batilda Bagshot? – pergunta Harry.

A senhora assente. Batilda entra em uma casa ao lado da ruína dos Potter e logo, sinto um cheiro de mofo e coisa morta.

Entramos na casa totalmente e Batilda fecha a porta. Logo, Harry começa a conversar com ela e a mesma responde, enquanto está longe o suficiente dos outros. Apenas eu escuto a conversa e entendo o que ela diz.

Hermione, Gina e Harper observam a estante da senhora, enquanto Justin observa cada canto da casa.

Não consigo entender o porque, mas quero sair logo daqui. O mais rápido possível. Uma presença ruim persegue essa casa.

Batilda leva Harry para o andar de cima e fico com os outros, na sala de estar. Meu silêncio permanece. Não me pergunte o porque. Talvez a raiva ainda perdure dentro de mim, ou algo ainda mais sombrio.

“Ah, você está falando besteiras, Alex. Você está com raiva porque seus amigos te menosprezam e te chamam de ridícula pelas costas”, esse pensamento surge e me faz ficar no comando novamente.

Então, ouvimos um barulho. Hermione e Gina que conversavam, em tom de voz baixo, pararam imediatamente.

Justin pegou a varinha. Hermione então, foi até o pé da escada.

– Harry? Está tudo bem? – pergunta ela, ansiosa.

Nenhuma resposta.

– Melhor irmos ver o que está acontecendo. – disse Gina, nervosa.

Resolvi segui-los, quando começaram a subir as escadas que rangiam. Chegamos até a porta do quarto, onde ouvimos os barulhos.

Parece que uma luta há lá dentro. Max chuta a porta e Hermione entra, rapidamente. Nós a seguimos e o que encontro, não é nada, nada legal. Embora não ligue muito para o que Harry está passando (ele não é o Eleito? Defenda-se sozinho!), a cobra aperta o pescoço dele enquanto o pressiona ao chão. Ao nos ver, ela avança sobre nós e Gina faz um feitiço, que joga Nagini longe.

Harry se levanta precariamente, com a mão na cicatriz. Hermione lança mais um feitiço em Nagini, que desvia e me atingi com seu rabo.

Eu caio longe e a cobra avança para mim. Sinto minhas mãos formigarem e as presas próximas ao meu pescoço. Então, uma explosão quebra tudo e Nagini voa para longe. Levanto. O que eu fiz? Eu sei que fui eu que fiz isso.

“Pare de pensar nisso”, diz uma voz, em minha cabeça. “Sinta ódio dos seus amigos. Mate-os agora!”.

Matá-los? Agora?

Não entendo. Não estou entendendo. A confusão em minha mente só causa uma terrível dor de cabeça. O céu escurece de repente e o mal estar vem rapidamente ao meu encontro.

Sinto minhas pernas doerem e fraquejarem. Algo flameja dentro de mim. Ouço gritos e um vento extremamente forte nos atinge.

Então, tudo escurece de vez e sinto como se caísse pela escuridão.

(...)

Acordo gritando, de dor e susto. Olho para os lados. Estou na barraca.

– Calma Alex. – diz Gina, me empurrando para a cama novamente.

– O que...O que aconteceu? – pergunto tremendo.

– Você-Sabe-Quem surgiu na casa. Harry já sabia e nos avisou. Só tivemos tempo de saltar pela janela e aparatarmos, graças a Hermione. – responde Gina.

– E o que foi aquele vento? Tudo aquilo? – pergunto rapidamente.

– Acho que Hermione pode te explicar melhor. – diz Gina, saindo de perto da minha cama e indo até fora da barraca, onde parece haver uma discussão.

Quem será que vai embora dessa vez? Suspiro por pensar assim. Sinto que tem algo errado comigo. Mas o que?

Será que estou com sobrecarga de poderes, como no ano anterior, que quase morri? Não. Parece ser algo...Estranho. Jamais senti isso antes.

Raiva. Será que a razão da minha raiva é por isso? Quero dizer, eu sempre estive acostumada a ser meio...Não. O que Justin fez não tem desculpas. Ele...Poxa, ele se tornou um falso? Fala de mim pelas costas?

Então, Hermione surge e se senta no chão. Ela parece pálida e nervosa.

– O que aconteceu? – pergunto, me sentando na cama e a encarando.

– Eu...Quebrei a varinha de Harry acidentalmente. Ontem. – completa Hermione, tristonha. – Me sinto culpada por isso.

Fico em silêncio e Hermione me encara.

– Então, o que você quer me perguntar?

– Você sabe. – digo, rispidamente. – O que eu fiz ontem. Aquele vento...A explosão...

Hermione me interrompe, o que me deixa nervosa e angustiada com sua resposta.

– Alex, você está com raiva, não é?

– Como...

– Eu sei o que aconteceu. – diz Hermione, suspirando. – Preste atenção. Não ignore o que vou lhe dizer. Certo?

Assinto, embora não sei se vou conseguir cumprir esse pedido.

– Alex, o Justin está muito estranho mesmo. – diz Hermione, ansiosa. – Mas eu sei que não é por causa do medalhão ou por conta de que ele te ache mesmo uma inútil. Ele te ama.

– Eu...Eu não...

– Alex, Justin é completamente apaixonado pela Harper. Mas você é a irmã dele, certo? Ele...Jamais ele pensaria aquilo de você, naturalmente.

– Então, por que ele disse aquilo? Por que? – pergunto, nervosa e seguro as lágrimas.

Hermione suspira mais uma vez.

– Bom Alex, eu estive lendo muito sobre conjuração de poderes.

– Eu já ouvi falar sobre isso. – comento, esquecendo por um instante minha raiva.

Hermione assente.

– Sim. Você deve ter ouvido falar disso na sua infância, certo?

– Doze anos para ser mais precisa. – respondo.

– Algumas famílias do mundo bruxo, foram amaldiçoadas. Em especial, famílias francesas. Hoje em dia, nenhuma família tem essa maldição. Mas...

– As famílias de total sangue-puro, não persistiram com a maldição. Tiveram sorte. Mas quando Voldemort começou com seu reinado, as famílias mestiças, recomeçaram a ter a maldição. – completo, pensativa.

– Exatamente. Mas por conta de Voldemort ter sido derrotado por Harry, quando ele ainda era pequeno, Voldemort só teve de tempo de amaldiçoar uma família...

– Justamente por essa não ter lhe entregado de boa vontade, os segredos da magia. – minha voz treme. Como não tinha me lembrado disso antes.

– A lenda diz que apenas uma família continuou com a maldição. Até que ela sumiu e não foram registrados casos. – Hermione balança a cabeça. – Você sabe, qual é a família, não é?

– A minha. – digo, encarando Hermione.

– Sim. – Hermione concorda. – E apenas as mulheres eram atingidas pela maldição. Os homens não.

– A partir dos dezoito anos, as coisas vão acontecer. – digo.

– A partir dos dezoito anos, as bruxas mestiças da família Russo, sofriam a conjuração. Os poderes eram divididos entre a luz ou entre as trevas. E as trevas sempre venciam.

– Se eu sou uma conjuradora de poderes...

– Teremos sérios problemas. Se as trevas tomarem conta de você, suponho que você se tornará mais forte que Voldemort, que Morgana e mais forte que o Harry.

– Eu destruirei tudo o que existe. – completo.

– Sim. – Hermione parece tão assustada quando eu. – Me escute. As trevas estão começando a comandá-la. Estão querendo que você sinta raiva e ódio. As trevas estão comandando Justin, fazendo com que ele se torne horrível. Então, tente evitar o pior. Suporte isso.

Encaro Hermione. Ela não é má. Ela está tentando me ajudar. Como uma amiga.

– E o Max...A Gina e o Harry? Acham-me inútil? – pergunto.

Hermione balança a cabeça.

– As trevas são piores que uma horcrux. Causam mais estragos e mais raiva. Acho que Harry foi um dos poucos que suportou ficar calado e não disse nada contra você. – Hermione dá um meio sorriso.

Eu tento sorrir de volta. Consigo transmitir algo bom. Eu não quero ser má. Não quero e não vou.

Mas daqui alguns meses, vou completar dezoito anos. E tudo o que você conhece, vai acabar. Eu não quero ser a pessoa que vai causar isso. Imagino uma grande explosão, matando bruxos e trouxas inocentes. Então, tudo será reconstruído, só que pelas trevas. Um mundo sem a luz.

Saio da barraca querendo pensar. Vejo Harry lendo um livro. Gina, Max, Harper e Justin estão do outro lado, arrumando as coisas, fazendo a vigia e descansando.

Caminho até minha barraca e largo-me na cama, olhando para o teto. O que dizer de tudo isso? Uma maldição sobre mim. Uma maldição que vai me fazer ser odiada verdadeiramente.