A Grande Busca

O encontro com a ovelha branca da família


Já fazia alguns minutos que eu estava sentada àquela mesa de madeira, sozinha, ouvindo os ruídos de conversas ao meu redor. Esperando minha acompanhante, se é que poderia chamar assim aquela que me chamou para vir até esse Café com um bilhete de quase ameaça. Sem nada para fazer além de bebericar meu chá gelado de lata, olho ao redor, para a tão delicada confeitaria, analisando o espaço. Do lado de dentro, um balcão cheio de maravilhas doces e salgadas ocupa a maior parte do salão, e na sacada onde estou um baixo portãozinho de madeira nos separa da rua movimentada por turistas. Dali eu vejo a areia da praia a apenas meio quarteirão de distância, e mesmo que o som das ondas quebrando vorazmente seja abafado por outros barulhos, consigo sentir o vento gelado que trouxe a maior parte dos que estavam na praia para as ruas. Fugindo de uma tempestade, essas pessoas com biquínis, cangas e shorts e toalhas enroladas ao redor do corpo estavam. Ergo a cabeça e vejo, pelos vãos da cobertura do Café, o céu negro bem acima de mim e desejo que não chova, pelo menos até que eu chegue em casa. Você nem sabe se vai voltar pra casa hoje Alice, lembrei a mim mesma com um calafrio.

Pego o celular do bolso e olho para a tela: cinco minutos para as duas da tarde. Começo a me perguntar onde Nymeria foi se esconder, e se ela poderia chegar a tempo se eu precisasse se ajuda. Ela viera comigo para me proteger, mas não podia ser vista por Bianca, já que esta queria que eu viesse sozinha. Desprotegida, desacompanhada, desprevenida... condições que qualquer predador amaria em uma presa. Mas Nymeria fez questão de ficar por perto, mesmo que Bianca tivesse dito que só queria me ajudar. E eu tinha que admitir que me sentia bem melhor sabendo disso. Aperto o cabo da minha espada em minha cintura, desejando com todas as forças que não precise usá-la. Mas mesmo que seja preciso, você não faz ideia de como se usa isso, e também não teria coragem, digo a mim mesma, concordando comigo. “Se ela vier para cima de você, não hesite”, dissera minha amiga loba, “espete-a nem que seja um pouco, e fuja, porque eu estarei logo atrás”.

Fragmentos de minha conversa com Nymeria voltam-me a mente enquanto aqueles minutos parecem não passar. “O sangue que corre em nossas veias é o mesmo, Alice. O sangue de Lá.” , ela dissera. Então é por isso que eu consigo ver todas essas coisas. Incluindo os lobos que se transformavam na frente dos meus olhos, as espadas, a energia das pedras... tudo isso faz parte de mim, de alguma maneira. Pela primeira vez, desde que meus pais morreram, há alguma espécie de plenitude em mim. Sinto-me quase completa, o que já é mais do que tenho sentido em muito tempo, sabendo que faço parte de algo maior. Faço uma nota mental para acrescentar: “Por que eu tenho sangue de Lá?” em minha lista cada vez maior de dúvidas. Começo a me perguntar quando vou poder saber mais sobre o que está acontecendo quando a tela do meu celular marca o horário tão esperado: duas em ponto. Olho para cima e meu coração para devido ao susto.

Ali está uma garota que seria a personificação perfeita da “Branca de Neve”, e assim que ponho os olhos nela, tenho certeza de quem ela realmente é. Pele mais branca que leite e cabelo pretos volumosos como os de uma modelo emolduram um rosto redondo com lábios carnudos e um sorriso sedutor. Olhos que faíscam cientes do corpo escultural que ela possui, destacado pela calça jeans e a blusa vermelha de manga comprida. Ela não estava de jeito nenhum vestindo algo vulgar, mas sua simples presença fez vários garotos no Café quebrarem seus pescoços para admirá-la. Se você olhasse para o rosto dela, lhe daria quinze anos no máximo, que era praticamente a minha idade. Imagino há quanto tempo ela está ali, esperando que eu a perceba, me observando, e faço questão de forjar uma força de espírito em minha expressão, como que para mostrar que eu também tenho presença. Só que a dela estava humilhando a minha desmedidamente, e nem mesmo se eu me aprumasse na cadeira e ajeitasse a postura faria alguma diferença. Mas eu o faço mesmo assim. Então Bianca abre a boca, interrompendo meus pensamentos e falando com um tom misto de ironia e cortesia:

– Vossa Alteza, poderia me dar a honra de sentar-me convosco? – e antes que eu me recupere do choque e possa responder ela puxa a cadeira e desaba nela, a feição tediosa, como se não suportasse as próprias maneiras de apresentação. – É claro que pode, afinal quem te chamou aqui fui é, não é? Ai ai... – ela suspira. – Sou Bianca, querida, muito prazer. Esse lugarzinho aqui é adorável não é? - ela olha ao redor com um mero sorriso no rosto.

Então eu me lembro de toda a arrogância que ela mostrara no bilhete e fico confusa por um tempo.

– E eu sou Alice, mas parece que o mundo todo já sabe disso - olho para ela por alguns segundos enquanto ela dirige seu olhar para as mesas ao lado, como que com medo de estar sendo vigiada. Mas ela não diz nada, então continuo. - Enfim, me perdoe por ser grossa, mas preciso ir direto ao ponto.

– Ah tudo bem. Vá em frente. Deve ter milhões de perguntas pra mim - ela diz, agora olhando diretamente para mim, estranhamente atenciosa.

– Por que me chamou aqui? – eu começo, apertando levemente minha lata de chá vazia e tentando agir como se não estivesse imaginando por que ela me chamara de Vossa Alteza. Até porque havia assuntos mais urgentes a tratar.

– Porque eu quero te ajudar, querida. – ela responde, suspirando com uma calma anormal de quem explica quanto é 1 + 1 para uma criança. E os olhares e risadas dos meninos ao nosso redor estão começando a me irritar.

– Por favor, não me chame de querida – eu digo da forma mais educada que consigo, fechando os olhos um instante para manter o foco. – Eu só quero saber o que está acontecendo – e então me lembro de Manoela e sinto meu coração bater muito mais depressa. – Minha irmã. Onde está minha irmã? Você sabe, eu sei que você sabe, afinal foi sua mãe que a pegou não foi? – minha voz sai irritada, com direito a uma dose de sarcasmo.

– Foi. Aquela estúpida – e percebendo minha cara de “não brinque comigo” ela se põe logo a dizer: - Não adianta me olhar com essa cara de cão raivoso. A culpa não foi minha - ela levanta as mãos em sinal de rendição, solta o ar dos pulmões e segura uma mão na outra enquanto espera, mas como não digo nada, ela prossegue. – Eu estou fazendo tudo que eu posso e não posso pra tirar sua irmã do esconderijo onde minha mãe está morando no momento. Sabe, na maioria das famílias os filhos é que fogem de casa, mas no meu caso, quem saiu foi minha mãe.

– Onde ela está agora? Manoela? O que estão fazendo com ela? Por que a pegaram? – eu vomito todas as perguntas de uma vez, e antes que ela tome fôlego para responder, eu acrescento: - Olha, eu não tenho nada a ver com os planos da sua família, tudo bem? Eu não quero saber o que sua mãe quer ou não fazer, eu só quero minha irmã de volta, porque nós não fizemos nada! – sinto que lágrimas quentes estão ameaçando inundar meus olhos, mas respiro fundo e faço-as voltar para dentro, arrumando o cabelo e endireitando as costas para me manter ocupada.

Viro a cabeça para a rua e vejo pessoas correndo com trajes de praia. O vento ficou inda mais gelado e sinto um calafrio percorrer minha espinha. Por algum motivo, sinto que meu tempo está acabando. Tempo para que eu não sei, mas está indo embora...

– Vocês não fizeram nada, é verdade. – Bianca diz quebrando o silêncio e interrompendo meus pensamentos. Olho para ela e sinto o ar reprimido sair de meus pulmões ao encontrar algo inesperado em sua expressão: compaixão. – Mas minha mãe está colocando todos no meio da história e eu só estou tentando consertar isso. Ninguém tem a ver com seu plano maluco. Peço que nos perdoe.

E o pedido é tão sincero, tão genuíno, que me espanto, ficando sem reação. Mãe e filha, tão parecidas como o são o preto e o branco. Então era verdade, quando ela dissera que queria me ajudar. Que está tentando reverter os erros da mãe. Mas parar seu plano? Disso não tenho certeza.

– Onde ela está? – insisto, a voz firme depois de um minuto de silencio.

– Não tenho certeza – e eu sei que é verdade.

– O que vão fazer com ela? – pergunto, sabendo que ela vai entender que estou falando de Manoela e não de Cersei.

– Nada demais, honestamente. Os homens de minha mãe a pegaram para tentar conseguir algum crédito com a patroa. Eles queriam mesmo os colares. Mas nem isso eles conseguiram fazer direito. – ela responde, com um quê de deboche na voz, mas sua afirmação só me confunde ainda mais.

– Como assim não conseguiram fazer direito? Tanto o meu colar quanto o de Manoela foram levados no sequestro. Agora já estão com Cersei, com toda a certeza – eu digo, com o cenho franzido, na dúvida, e vejo que ela ergue as sobrancelhas em descrença quando digo o nome “Cersei”. Por quê?

– Não, querida – ela diz, ignorando meu pedido para não me chamar assim. – O único colar que chegou às mãos da minha mãe foi o azul. E disso eu tenho certeza, porque estava em casa para receber os homens quando chegaram, e perto o suficiente para ouvir minha mãe berrando de raiva quando percebeu que faltava o colar roxo.

O colar roxo. O de ametista. O meu. Ah céus. Então quer dizer que meu colar não está com Cersei, nem comigo. Não sei se fico feliz por ele estar fora das garras dela, ou triste por não saber do seu paradeiro. Mesmo assim sinto uma pontada de triunfo por seus planos não terem se realizado. Bom, pelo menos não completamente. Ou ainda...

– O roxo é o meu. E também não está comigo – digo. – Tem alguma ideia de com quem possa estar?

– Nenhuma – ela responde sinceramente.

Como eu sei que a resposta é sincera? Porque ela não teria motivo algum para mentir, ainda mais estando ali desafiando sua mãe para me por a par do que está acontecendo. Então analiso o que ela dissera antes e pergunto:

– Você disse que estava em casa quando eles trouxeram minha irmã e o colar de safira. Como Manoela estava? Eles a machucaram?

– Não que eu tenha visto – e então eu desabo na cadeira, minha esperança tão ínfima quando ela acrescenta: - Mas eu tenho certeza de que não vão. Como eu disse, eles só querem os colares.

– Então por que não a deixam ir? Por quê? – só consigo perceber que estou gritando quando vejo as cabeças das pessoas ao redor se virarem para a nossa mesa, desta vez com olhares dirigidos a mim. Respiro fundo e sinto meu rosto queimar. Droga. Daqui a pouco estarei chorando de novo. Pego fôlego novamente e tento me acalmar, encarando Bianca nos olhos, tentando fazer com que ela veja minha dor. Ela fixa seus olhos nos meus por um momento, sobrancelhas juntas, pesando o que vai dizer e como vai dizer. Ai, eu penso, lá vem bomba.

– No começo, ela foi levada só para render uns “pontos extras” no conceito da minha mãe, mas agora que ela não tem seu colar... vai usar sua irmã de isca – essa última parte foi dita com voz baixa, como se Bianca estivesse com medo da minha reação... como se eu fosse quebrar.

– Eu dou o colar, ela dá minha irmã – sussurro, encarando o cabo de Defensora de Almas em minha cintura, e posso ver pelo canto do olho que Bianca confirma com a cabeça. – Impossível. – digo agora olhando para ela. – Isso é impossível, porque eu não tenho o colar.

– Eu sei. Mas ela não quis me ouvir. A gente teve uma briga feia na noite em que trouxeram Manoela pra casa. Eu tentei convencê-la a desistir do plano, e quando vi que não ia dar certo, pedi para que pelo menos soltasse Manoela, a garota não tinha nada a ver com suas ideias perigosas. Mas ela negou, disse que precisava dos colares, de todos os sete, e que faria de tudo para consegui-los. Nessa noite ela saiu de casa com seus homens, estes que eu mal conheço, e levou sua irmã junto. Eu tentei segui-los, mas fui trazida de volta pra casa. Minha mãe me trancou lá e disse que eu não era mais sua filha. Que se eu não ia colaborar com seu plano, então não iria atrapalhá-lo – nesse ponto ela sorri um sorriso cheio de ironia e satisfação. – Ela não poderia estar mais enganada.

– E você não sabe para onde eles foram? – pergunto, tentando incentivar a história.

– Não - ela responde. – Mas sei que ela esqueceu um detalhe muito importante antes de sair de casa – ela puxa uma corrente para fora da blusa e eu a vejo: uma pedra vermelha bruta, brilhante e faiscante como as outras, presa a uma corrente de ouro. O nome escrito em dourado: Bianca.

– Seu colar – eu digo, extasiada. Então ela realmente quer impedir sua mãe de abrir o portal. Eu só preciso descobrir por que. – Você não deixou que ela levasse?

– Não. Ela esqueceu, na verdade. Eu a deixei tão irritada e enlouquecida de desgosto por tentar pará-la que ela foi embora sem levá-lo. E é por isso que eu vim aqui hoje – ela tira a corrente do pescoço e dirige um olhar longo e duradouro à pedra cor de sangue. Então levanta a cabeça e olha diretamente pra mim com um sorriso enigmático no rosto. - Pra dá-lo pra você.

– O quê?! – eu digo, novamente alto demais.

Enquanto diversas pessoas voltam a me olhar com ar de “meninas estranhas essas”, eu fico ali, pasma com os olhos arregalados e queixo caído. Por que ela simplesmente não guardava seu colar em segurança? Por que dá-lo pra mim?

– Por quê? – pergunto.

– Porque você precisa ter todos. Todos os sete. Com você. Longe dela. Para o bem de todos nós – ela fala devagar, como se quisesse ter certeza de que eu não ia perder nenhum detalhe. E eu realmente não queria perder.

– Por que eu? – e só naquele momento, dita em voz alta, é que eu percebo que essa é a pergunta que eu venho me fazendo desde o momento em que acordei na casa de Hugo. Não, desde que meus pais morreram. Desde então eu venho questionando o universo sobre isso. Por que eu? Por que perdi meus pais, meus avós, minha irmã? Por quê? Mas dessa vez é diferente, e isso é óbvio. Agora eu não me pergunto por que eu tenho que perder tantos que amo, mas sim por que sou a que todos acreditam ser a adequada para realizar uma tarefa grandiosa, sobre a qual não sei quase nada.

Ela não responde de imediato. Olha para mim com seus olhos azuis elétricos, inclina a cabeça, me vendo de ângulos diferentes, como se pensasse por qual deles eu entenderia melhor. Por nenhum, querida, penso comigo mesma. Então ela dá um sorrisinho de compreensão para mim, como se pudesse ver o enorme ponto de interrogação na minha testa e a batalha interior pela qual eu passava. E quando isso acontece, sinto admiração por ela, e pela coragem de estar ali, nadando contra a maré.

– Acho que eu não sou a pessoa mais adequada para te dizer isso, querida. Mas posso te dizer que na manhã seguinte a que a minha mãe me deixou sozinha em casa, eu fugi de lá. E sabe para onde eu fui? Para a sua casa, deixar um amigável bilhete para você – ela sorri, e percebo que o colar continua bem preso em suas mãos.

– Nós duas temos opiniões bem diferentes sobre o que é amigável – comento com um meio sorriso, relembrando as ameaças e palavras sarcásticas usadas no tal bilhete.

– Tem razão – ela comenta, como que rindo de sua própria desgraça, e suspira. – Mas era o único jeito de conseguir sua atenção, você sabe disso – ela mexe o brilhante cabelo e balança a cabeça para ajeitá-lo e mais garotos tem seus neurônios derretidos. - Se eu não deixasse claro que tinha sua irmã ali, ao alcance das minhas ações, você não viria. Eu sabia que as Guardiãs estavam com você, pelo menos algumas delas, afinal não deixariam uma portadora como você de lado. E também não deixariam que você saísse para um passeio divertido com a filha da mulher que está nos fazendo de bobos, não é mesmo? Precisava de algo forte para atrair você pra cá, para fazer você passar por cima de ordens. E não é que funcionou?

Eu estou chocada. Como ela sabia que bastava colocar a palavra “Manoela” e “perigo” na mesma frase para que eu viesse correndo, de qualquer lugar a qualquer hora? Continuo ali, imaginando o que mais ela sabia, até que um detalhe importante me veio à mente.

– Você disse que foi até minha casa um dia depois do sequestro. Mas eu só acordei dois dias depois, dia 15, ou seja: o amanhã escrito no bilhete poderia ser tanto dia 14, como dia 15 ou 16. Como sabia que deveria aparecer aqui hoje e não ontem, ou antes de ontem? – às vezes eu me perguntava como podia prestar atenção em coisas tão ridículas e imperceptíveis e não dar a mínima para as coisas mais importantes.

– Você é uma garota sagaz – ela sorri para mim, mas eu não retribuo. – Poucas pessoas perceberiam que estavam sendo vigiadas, querida. Mas você percebeu. Eu fiquei sabendo o dia em que você chegou em casa, e tinha certeza que ia verificar a caixa do colar. Até pareceu que fui eu que peguei seu colar não é? Então, dizer que o tinha era mais um artifício para te atrair – ela deve ter percebido o olhar de espanto em meu rosto quando eu associei a suposta vigilância dela com as tentativas de arrombamento mais cedo, mas não demonstrou. Talvez ela não saiba, penso.

– Como você soube o dia em que cheguei em casa? – insisto.

– Eu mesma visitava sua casa todos os dias, para saber o que estava acontecendo. E no dia 15, vi você e Hugo... chegando juntos, e soube que você estava bem – ao dizer o nome de Hugo, sua voz se alterou, e eu percebi que havia uma relação muito mais forte entre eles do que eu suspeitava. Lembrei-me da reação dele quando perguntei quem era Bianca, quando ele quase teve um colapso e não soube responder direito. Ou ainda a nota deixada ao lado do endereço do encontro no bilhete de Bianca: “Seu amigo sabe onde fica”. Não havia certo rancor naquela expressão? E eu tive certeza que essa não era uma frase feita para me atrair, e sim para mostrar profundo desprezo por nossa relação. Por menor que fosse.

Silêncio. Mesmo depois de todo esse tempo de conversa, ainda não entendera muitas coisas. Sinto o vento forte aumentar ainda mais de intensidade, e as nuvens negras ficarem ainda mais escuras quando a voz de Bianca soa, mais uma vez interpretando o ponto de interrogação em minha testa.

– Você ao menos sabe por que minha mãe quer os colares? Por que abrir o portal ou não abrir? O porquê do dilema que move o século? – essa última frase foi totalmente irônica, mas não serviu para aplacar o sentimento de completa ignorância da minha parte. Faço que não com a cabeça, sentindo uma pontada de esperança. Ela fica em silêncio por alguns segundos, encarando a mesa, mas sinto seu olhar azul me perfurando quando ela diz: – Para trazer meu pai de volta, querida. É por isso que ela está tão obcecada em abrir esse portal.