Ponto de vista de Hazel Laverne, 1999.

Todos os dias quando me levanto, a primeira coisa que faço é verificar a respiração da minha mãe. Eu me esgueiro em seu quarto cheio de cortinas grossas e faço isso da forma mais silenciosa possível. Chego com os ouvidos perto de sua narina e sinto o ar entrar e sair, devagar. Todas as vezes que confirmo que ela aguentou mais um dia, dou um suspiro doloroso.

Porque, vamos ser honestos...até quando?

Mas o que importa é o hoje, sempre foi assim. Quando se vive no lado limítrofe das coisas, surfando em incertezas e à deriva durante toda a sua vida..."mais um dia" é tudo o que se pode esperar.

Nunca checo a respiração do meu pai. Não porque não o ame. Eu o amo. Mas eu o odeio mais do que o amo.

E embora eu devesse me sentir mal por isso, e eu me sinto, sei que ele não corre tanto perigo quanto ela. Ele usa cocaína, tem problemas com bebida e se mete em confusão. E bate na minha mãe.

Principalmente quando quer me punir.

Minha mãe, por outro lado...usa heroína. Só tem um caminho para o qual ela pode ir com esse vício...

Afasto esse pensamento. Não dá para pensar nisso agora. Eu realmente tenho uma prova hoje e nada pode me impedir de me concentrar no que realmente importa, que é tentar ter uma vida sadia. Tomo um banho demorado, na água gelada. Me sinto melhor e mais entorpecida quando faço isso.

Visto uma blusa de manga comprida branca, canelada. Meu jeans apertado nas coxas e mais solto nas canelas e um all star creme. Visto minhas luvas na cor cinza, me sentindo aliviada pelo dia de hoje ter iniciado com uma onda de friagem aparente.

Meus dias são mais fáceis quando são assim. Deixo meus cabelos soltos e resolvo aplicar rímel nos olhos.

Reúno minhas coisas em minha mochila, inclusive a papelada da minha mais nova obsessão. Desde pequena, devido as coisas que eu vi na seita ao qual fui criada com os meus pais, tenho um fascínio por desmascarar pessoas e tentar descobrir mais sobre crimes sem solução ou, na minha opinião, mal encerrados. Encontrei um caso recente em Lawrence, sobre um garoto que supostamente se matou em uma ponte que fica localizada na saída da cidade.

Tenho uma lista de motivos para acreditar que ele não faria isso, porque passei um bom tempo cavando informações sobre isso. Informações o suficiente para entender que ele tinha uma boa cota de inimigos.

Algumas pessoas gostam de escrever e entender sobre a vida. Eu gosto de desvendar a morte.

Confiro se tenho tudo comigo umas duas vezes, e estou pronta para sair de casa. Antes de sair, não que eu devesse estar fazendo isso, dou uma olhada rápida pela janela, mirando na casa da frente. As janelas do quarto dele estão fechadas.

Talvez ele tenha ido mais cedo. Talvez esteja, como ele mesmo disse, "por aí". Melhor assim.

A última coisa que preciso antes das sete da manhã é de mais uma conversa intensa com ele. Desço as escadas e tomo um pouco de chá de mirtilo com leite. Não é mirtilo de verdade, é um chá de sachê...e isso não me dá o mesmo conforto, mas é o melhor que posso fazer. Saio pela porta da frente e me surpreendo quando o Impala 67 sobe pela rua e para bem em frente à casa dos Winchester, e Dean, o irmão mais velho de Sam, sai de dentro dele com um corte enorme na testa, o sangue lhe escorrendo a têmpora.

—Ei, Hazel, não é? - Ele diz com um sorriso no rosto. Deve ter notado meus olhos arregalados para seu machucado, então pisca de maneira charmosa - Isso aqui foi só um arranhão. Nunca pense que um capô de um carro não pode te atingir, não importa o quão bom mecânico você seja!

—Sei... - Digo, sem muita convicção - Tenha um bom dia.

—Você também, garota. - Vejo Dean Winchester desaparecer dentro da porta da frente, e resolvo seguir o meu rumo. Essa família é muito, muito estranha.

Mas quem sou eu para julgar, não é verdade?

XXX

—Oi! - Dou um pulo quando Sam Winchester se desencosta da árvore que fica bem na esquina da nossa rua, me surpreendendo. Olho para ele meio irritada e meio com vontade de rir. Ele tem esse efeito em mim.

—Que droga, Sam! - Exclamo. Queria dar a ele um sermão sobre me assustar logo cedo, mas é difícil quando paro para encará-lo. Seus cabelos castanhos estão bagunçados hoje, lhe caindo nos olhos e cobrindo um pedaço da nuca. Ele veste uma camiseta preta por cima de uma blusa branca com mangas longas, jeans gastos e all star negros. E tem os olhos.

Eu não quero comentar sobre os olhos dele. Não quero tentar entender os motivos pelos quais seu olhar me deixa nervosa.

—Você se assusta fácil porque está sempre concentrada em alguma outra coisa que não seja o mundo ao seu redor, sabia? - Ele diz isso chegando perto de mim, caminhando ao meu lado - Você faz isso quando lê, também. Na verdade, é pior quando lê.

Franzo o cenho.

—E quando foi que você me viu lendo? - Ele dá uma risadinha e fica vermelho de leve nas bochechas, enquanto coça a nuca.

—E quando foi que não te vi lendo? Estudamos na mesma escola, lembra? - Assinto, ajeitando a mochila nas costas, nervosamente. Olho para trás, para a minha casa. Ele cerra os olhos e me fita.

—Ele não nos viu... - Seus lábios dizem. Ele lê mentes agora? — Por isso te esperei aqui. Não queria te assustar de verdade, Hazel. Mas você estava com a cabeça nas nuvens e eu não resisti.

—Estava com a cabeça na prova de hoje, e você também devia estar. - Rebato, irritada por ele insinuar que eu seja distraída. Não sou distraída, não mesmo. Eu presto atenção em tudo, até demais.

—E quem disse que não estou? - Ele dá um suspiro e viramos a rua - A Srta. Watson dá as provas mais difíceis.

—É, nem me fale. Tem sido muito complicado acompanhar o ritmo dela... - Falo isso de maneira preocupada.

—Não sabia que ela ensinava no seu ano...- Ele diz isso pensativo. Dou uma risadinha nervosa - Você não é um pouco mais nova que eu?

—Hm...eu pulei dois anos. - Ele arregala os olhos, impressionado.

Dois anos? Você pulou os dois primeiros anos do ensino médio? – Concordo com a cabeça e dou de ombros.

—Estudei em casa durante a maior parte da minha vida, porque vivíamos nos mudando por aí, sabe? Quando finalmente nos estabelecemos aqui eu fiz uma prova de aptidão, e o governo do estado do Kansas autorizou meu adiantamento. Seria perda de tempo me prender no primeiro ano, então...cá estou eu, sofrendo por culpa do meu cérebro brilhante. - Falo com ironia, meio nervosa. Não quero que ele pense que sou uma pessoa que é obcecada por validação acadêmica. Porque eu sou. E isso não é muito legal.

— Estou impressionado. E me sentindo com o ego ferido, mas só um pouquinho. - Ele faz um sinal de pouco com o polegar e o indicador, e depois ri - Mas eu vou sobreviver. Só preciso tirar um A+ na prova de hoje e colar minha nota no seu armário depois, só para mostrar que também tenho um cérebro brilhante.

—E quem te garante que eu não vou tirar um A+? - Ergo a sobrancelha, o desafiando. Ele sorri para o chão.

—Ah, você vai sim. Mas vai ter que aturar o fato de que vamos estar no mesmo nível. - Ele dá uma piscadela para mim e eu sacudo a cabeça de leve – Algo me diz que você não está acostumada com competição.

—Já te disseram que você é insuportável? - Ele dá um sorrisinho satisfeito. Porque mais uma vez, ele está coberto de razão.

—Já, sim. Mas vindo de você é mais especial - Dou um soquinho no seu ombro, rindo com ele.

Depois da risada, vem aquele suspiro gostoso. O tipo de suspiro que traz consigo uma boa dose de dopamina. De repente, isso me deixa nervosa.

Eu nunca fiz um amigo de verdade antes. Minha família nunca ficou muito tempo no mesmo lugar, e nunca tive muito contato com pessoas da minha idade. E todas as poucas pessoas que vieram falar comigo, não vieram exatamente “falar comigo”. Sempre querem um autógrafo dos meus pais, ou coisa do tipo. Então eu não sei bem como tocar essa coisa de amizade. Sam parece notar minha estranheza repentina, e o vinco em sua testa se forma expressando uma preocupação.

—Eu te deixo nervosa? - Ele para de andar, a mãos nos bolsos. Paro também, e o encaro meio sem jeito. Troco o peso de um pé para o outro, hesitante.

—Não. Não me deixa nervosa. - Minto, a voz meio vacilante e o rosto com certeza tingido de pelo menos três tons distintos de vermelho - Por que a pergunta?

—Você me disse ontem que lê bem as pessoas, lembra? - Ele chega mais perto de mim, e abaixa a voz em um tom suave - Eu também. E para mim, eu te deixo nervosa.

Prendo a respiração involuntariamente, perdendo meu controle interno por um segundo ou dois. Uma coisa é o fato de ele mexer com toda a química do meu cérebro, outra coisa completamente diferente é ele se dar conta disso com facilidade.

—Então você lê muito mal as pessoas... – Rebato, as mãos apertando mais o livro contra o meu peito. Continuo a caminhada com os olhos fixos no horizonte, e Sam fica em silêncio por um tempo, mas esse silêncio não dura muito quando ele para de repente e me encara com seriedade.

—Eu preciso entender algumas coisas Hazel, e eu quero que você me diga a verdade. – Ele molha os lábios e seus olhos ficam frios de repente. Fico estática, apenas ouvindo suas palavras sem mover um músculo. Quando ele fala assim, não mexeria nada no meu corpo, nem se eu quisesse – Eu sei que as pessoas falam coisas sobre mim por aí. Sobre meu pai, sobre o estilo de vida estranha que a gente leva...enfim. – Ele dá de ombros e suspira – Eu só quero saber se está nervosa pelos motivos certos.

Franzo o cenho para ele.

—Nervosa pelos motivos certos? – Questiono, sem entender onde ele quer chegar. Seu olhar frio fica leve de repente, graças a um sorriso que se forma em seus lábios. A dualidade dele é tão extrema e tão volátil. Nunca vi uma pessoa mudar de expressão ou de tom de voz com tanta naturalidade e destreza. E não consigo entender os motivos pelos quais isso me deixa um pouco fascinada.

—Quero saber se acredita no que as pessoas dizem, e por isso fica nervosa comigo... – Ele passa as mãos pelo cabelo, o ajeitando por conta da lufada de ar frio que nos envolve por um momento – Ou se fica nervosa perto de mim porque é inevitável para você. Fisicamente inevitável.

Paro de andar por um momento e o encaro. Eu não consigo decifrar nada sobre ele.

Estou completamente no escuro quanto ao que diz respeito a ele.

—Você me deixa inevitavelmente e fisicamente nervosa. – Minha boca acaba sendo mais rápida que o esperado e mais sincera do que o planejado – Você fala as coisas impulsivamente, mas só que você realmente quer dizer as coisas que diz. Você literalmente salvou a minha vida, arriscando a sua própria. E por algum motivo que eu não consigo entender, quer me conhecer. De verdade. Ninguém nunca quis me conhecer de verdade, Sam. E eu acho as pessoas pateticamente previsíveis, mas não você.

—Eu gosto quando você admite que eu estou certo. – Ele sorri vitorioso, e continua – E só para você saber, esse lance de se aproximar das pessoas também é novidade para mim. Você me deixa inevitavelmente e fisicamente nervoso, Hazel.

Meu rosto queima imediatamente.

XXX

Nunca fiz uma prova com tanta expectativa antes. Só a ideia de tirar uma nota que não seja um A+ começa a me aterrorizar, porque se ele tirar uma nota máxima e eu não....

Caramba, isso é patético. Tão patético quanto a detenção que estou prestes a cumprir. Estou guardando as minhas coisas no armário, quando Sam Winchester vem na minha direção com um olhar preocupado.

—Eu preciso falar com você. – Fico confusa por um momento, mas aquiesço com a cabeça para que ele fale, e ele o faz – Queria te perguntar se você avisou o seu pai sobre a detenção.

Ele parece nervoso demais, mas eu o tranquilizo:

—Sam, fique tranquilo. Eu vou lidar com isso...- Mas seu olhar sugere que algo aconteceu, e minhas palavras mudam de curso – O que aconteceu?

—É que acabei de ficar sabendo que o diretor entrou em contato com os nossos responsáveis. – Fecho os olhos imediatamente e sinto um frio enorme na barriga. Reabro os olhos e começo a pensar em mil soluções para o problema que eu vou enfrentar mais tarde, e então volto a encarar Sam.

—Eu vou dar um jeito de falar com ele depois. – Embora eu tente fingir que está tudo bem, ele nota que não está. Especialmente quando meu corpo me trai e eu começo a empalidecer e sentir a visão turva.

Porque eu sei muito bem o que meu pai deve estar fazendo com a minha mãe agora, descontando sua raiva. E eu sei bem o que vai fazer comigo assim que eu chegar em casa.

—Hazel...você está passando mal? – Sam me pergunta, me trazendo de volta ao presente. Faço que não com a cabeça e desvio do seu olhar.

—Não. Por que estaria? – Bato a porta do armário – Onde fica a sala de detenção, Winchester? – Ele não está satisfeito com isso. De alguma forma, sabe que eu estou mentindo. Mas não vai me pressionar agora. Ele suspira contrariado e aponta:

—É por ali. – Assinto e seguimos juntos e em silêncio para a sala de número 39.

XXX

Sam se senta perto de mim, mesmo com tantas carteiras vazias. Ficamos em silêncio e eu finjo que não noto seu olhar de preocupação. Meu coração está acelerado e meu estômago parece se contorcer todas as vezes que eu penso no que deve estar acontecendo na minha casa agora. Minha boca parece secar só de lembrar da última surra que eu tomei. Dizem que o corpo da gente tem memória...

Queria muito que meu corpo se esquecesse de tudo. Mas as minhas mãos tremem só para me provar que não, meu corpo não vai esquecer.

Gary entra pela porta com seu olhar recaindo em mim, e se senta ao meu lado. Vejo pelo canto dos olhos os punhos de Sam se fecharem com mais intensidade. O Sr. Riggs entra na sala já bufando de exaustão, e se senta na mesa do professor.

—Eu vou explicar como isso aqui funciona. – Diz ele, abrindo uma revista de esportes – Eu vou ler em paz, enquanto vocês ficam olhando para o nada e pensando nas suas atitudes e blá blá blá. Em quarenta minutos estaremos todos livres por hoje, entendido? – Seu olhar é cínico.

Ninguém diz nada. Ele sorri.

—Que bom que estamos entendidos! – E então coloca seus pés sobre a mesa enquanto começa a sua leitura. Eu me encolho na carteira, como se o meu pai fosse aparecer aqui a qualquer momento, gritando e me arrastando para longe. Estou tão estática e preocupada com isso que ignoro o fato de Gary estar me encarando. Se passam alguns minutos, até que ele me passa um papel dobrado. Vejo Sam Winchester se remexer na carteira, endireitando a postura quando me vê com o bilhete em mãos. Não sei se quero abrir, não estou afim de ver que tipo de insulto criativo Gary pode ter escrito nesse papel, mas não consigo evitar. Desdobro o papel e leio, em uma caligrafia muito desleixada:

Me desculpe

Um vinco se forma em minha testa. De todas as possibilidades, um pedido de desculpas nunca sequer passou pela minha mente. Não sei muito bem como reagir a isso, me parece falta de educação dizer que não o desculpo, mas também não sinto verdade em dizer que sim. Fico segurando o papel completamente transtornada, e decido o caminho mais fácil: Olho para ele e faço um aceno, como se quisesse dizer “Ok”. É um aceno seco e breve, que espero ter enviado também a mensagem de que não desejo que ele fale comigo. Olho então para Sam, e ele parece se acalmar um pouco ao perceber que não aconteceu nada demais.

Mas só um pouco. Ainda vejo a maneira nada amigável em que ele encara Gary, como se pudesse fazê-lo se arrepender a qualquer momento só por estar ali, do meu lado, depois do que ele fez comigo no outro dia.

Sinto-me estranhamente feliz por saber que alguém se importa.

XXX

O sol está começando a pintar o céu de rosa quando a tardezinha se pronuncia por toda Lawrence, como se a cidade fosse uma criatura viva. De certa forma...ela é.

Todas as cidades são.

Somos dispensados por Sr. Riggs, e eu saio mais apressada do que consigo me conter pela porta.

—Ei! Espera! – A voz de Sam se faz presente. Não queria que ele me acompanhasse para a casa hoje. E se o meu pai estivesse bem ali, na saída da escola, me esperando? Ele disse para que eu ficasse longe de Sam e eu desobedeci.

—Sam, eu preciso ir embora... – Me viro para Sam, mas estou sempre com os olhos na porta de saída da escola, esperando pelo pior – Preciso mesmo.

—Eu sei. — Ele diz pesaroso. Não devia encará-lo, não agora, porque sei que isso tem um efeito estranho sobre mim, mas não consigo evitar. Droga.

Seu olhar é como o de um cachorrinho abandonado.

—Você não quer mesmo que eu fale com o seu pai? Eu não quero que nada ruim aconteça a você... – Suas palavras são verdadeiras. E eu tenho vontade de gritar, de dizer a ele o que acontece lá em casa e pedir que chame a polícia para que eu nunca mais precise testemunhar nada daquilo, mas não posso. Essas coisas não acontecem na vida real; As pessoas sofrem quietas em suas casas e esse é o fim da história.

Quando vou abrir a boca para responder, vejo o olhar de Sam se erguendo para alguém atrás de mim, e sinto as mãos do meu pai no meu ombro.

Tenho vontade de vomitar. Seguro a respiração por um breve momento, mas entro no que eu gosto de chamar de piloto automático, e dou um sorriso fraco para o meu pai.

—Pai! Você veio me buscar! Está tudo bem? Aconteceu algo? – Tento soar descontraída. Mas os olhos de Harvey estão ocupados demais fitando com frieza a Sam Winchester, que continua parado do meu lado. E Sam o olha de volta, com um olhar desafiador. Alguns alunos passam pela gente, e é perceptível como tentam disfarçar o interesse na cena que se desenrola e isso me deixa extremamente desconfortável.

—Sua mãe não está muito bem. – Harvey diz, ainda olhando para Sam, quase sem piscar – E precisamos conversar, você e eu. Estarei te esperando no carro...

Quando meu pai vai nos dar as costas, Sam dá um passo à frente:

—A culpa da detenção não foi dela, Sr. Talbot – Prendo a respiração por um segundo quando meu pai o encara – Foi minha.

—Você tem sido culpado por muitas coisas ultimamente, não é, Winchester? Deve achar essa sua atitude nobre, não é? – Harvey dá um sorriso irônico – Sabe o que seria nobre? Você ficar longe da minha filha como eu te avisei desde o começo.

Ele se retira sem dar espaço para respostas, ainda olhando para Sam Winchester antes de se virar por completo e entrar no Mustang branco recém concertado.

—Hazel, não vai com ele...- Sam pede isso como se sentisse dor. Quase como se ele soubesse. Forço um sorriso, e finjo não sentir a gota de suor frio que desce pela minha espinha.

—Está tudo bem, e a minha mãe precisa de mim. Te vejo amanhã? – Sussurro.

Ele abre a boca para falar algo, para protestar, mas eu dou as costas para ele o mais rápido que consigo e vou em direção ao carro. Mesmo que o meu corpo me diga para não fazer isso.

Mesmo que minha garganta queira gritar por socorro.