P.O.V. Príncipe Maxon.

Eu vou ter a minha seleção este ano. Sou o Príncipe herdeiro do Trono de Iléa e preciso de uma rainha para me dar herdeiros e ser minha parceira. Espero encontrar um amor como o dos meus pais.

Estava sem ter o que fazer e decidi caminhar. Ouvi o característico clack, clack de sapatos de salto batendo no chão de mármore. Mas, esses faziam um barulho um pouco diferente.

Eu vi a garota passando, mas ela não me viu. Passou correndo.

Então, se jogou numa das poltronas e colocou a cabeça entre as mãos.

—Ai, porque esse lugar tem que ser gigantesco e tão... igual?

Ela tinha lindos cabelos ruivos como eu nunca vi antes. O cabelo dela era como se fosse feito de fogo. Estava usando calças e os saltos dela não eram como os que eu já vi. Minha mãe tem um closet cheio deles.

Ela respirou fundo, se levantou e começou a olhar em volta.

P.O.V. America.

Vasos de porcelana pintados á mão, quadros com moldura de madeira trabalhada pintada literalmente de ouro, bustos esculpidos em mármore é claro.

—Misericórdia. É realmente como estar num outro universo.

—De um jeito bom?

O garoto saiu do meio do nada! Me pregou um puta susto.

P.O.V. Príncipe Maxon.

Ela se assustou, colocou até a mão sob o peito na tentativa de desacelerar o coração. E então... da boca dela saiu a pergunta mais inesperada possível:

—Quem diabos é você?

Quem diabos eu sou?

—Não sabe quem eu sou?

—Se eu soubesse eu não perguntaria, certo? E... estou sendo rude. Foi mal.

—Não se preocupe quanto a isso.

—É claro que eu tenho que me preocupar. Você é uma pessoa, tem sentimentos e eu fui uma vadia com você. Sinto muito. Eu só... tenho um temperamento meio ruim, não que isso seja desculpa.

Ela não parava. Não ficava parada, não estava andando, mas estava se movendo, balançando sob os pés para frente e pra trás, ficando levemente nas pontas dos pés e com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans. Então começou a andar e foi até o busto de Gregory Iléa.

—Ih, eu conheço ele. Gregory Iléa. O Fundador do nosso amado País, ganhou a guerra contra a Rússia, expulsou os chineses, casou com um membro da realeza e... dai pra frente a família Schreave atingiu a estratosfera!

Disse em tom de piada.

—Nunca tinha ouvido essa história contada deste jeito.

—É claro que não. Nos livros de história o povo gosta de florear.

—Então é uma rebelde?

—Não. Pelo menos eu acho que não. Mas, aprendi a minha lição nunca vai existir paz de verdade. A paz é uma ilusão, a única coisa que realmente existe é a guerra. Os antigos americanos, os chineses, os Schreave, não importa é tudo igual. Os fracos sempre estarão á mercê de quem esteja no comando. Quer seja um Rei, um Presidente ou a Resistência.

—Resistência?

Ela riu.

—Como você é inocente. O Rei Clarkson é um tolo, ele pensa que está mantendo as coisas sob controle, que vai ficar no Poder pra sempre, que vai se safar de deixar o povo de Iléa morrer de fome enquanto ele e a família estão montados na grana. Quer dizer, olha em volta. Mármore, ouro, comida saindo pelo ladrão. Enquanto isso o povo do lado de fora trabalha até a morte e morre de fome. A Rainha Amberly o povo fala que ela é gente boa.

—Então, gosta da Rainha?

—Nunca a conheci. Mas, ela tem uma fama boa. Esses ricaço quando adoece vão pro melhor hospital e no outro dia o nome deles sai no noticiário dizendo que eles já não estão mais passando mal. O povo lá fora quando adoece é feliz quando escapa, se gemer muito de noite o café que vem é tapa.

Eu ri.

—Você ri. Tá rindo porque? É pra não chorar né? A mulher do homem rico se vai parir vai pra maternidade, dá a luz de um menino e falo com sinceridade quando nasce a criança ganha milhões de presentes da alta sociedade. Agora o povo lá em Honduragua é uma coisa, a mulherada pare filho com reza e chá. Sem brincadeira. Não tem a menor estrutura, nem o básico. Não recebe anestesia, antibiótico, nem um hospital aquilo não era.

—Como você sabe?

Ela estalou a língua.

—Fui voluntária lá no... hospital. Aquilo não era um hospital, era um bando de barracos de taipa, com panos quentes em baldes velhos e sujos.

Ela chacoalhou a cabeça para espantar o pensamento.

—Bem, basta dizer que é ruim. Muito ruim. Bem, eu tenho que ir antes que acabe acidentalmente quebrando algum destes vasos que vale um tesouro. Tchau, desconhecido.

—Até logo, desconhecida.

A garota realmente parecia nem ter ideia de quem eu era. Acho que é uma rebelde, mas o jeito que ela falou dos rebeldes... ela não chamou de rebeldes. Chamou de Resistência. Isso implica que são muitos e que tem organização, certo?

Minha mãe veio de Honduragua ela foi escolhida através duma seleção, mas nunca fala do que tem lá na Província de onde ela veio.

P.O.V. America.

Felizmente encontrei o caminho de volta para a ala das concorrentes, mas não foi só o que eu encontrei. Trombei num quadro gigantesco e imagine quem tava retratado lá? O rapaz em quem eu trombei. Li a inscrição embaixo e quase que eu caio dura.

—Príncipe Maxon Calix Schreave?! Lasquei-me.

Eu falei mal da monarquia para o Príncipe! Vou ser considerada uma rebelde e queimada na fogueira!

—Ave Maria! Lasquei-me.

Comecei a suar frio.

—Ai, America... sua boca grande vai te levar á morte.

No aeroporto eu conheci a Celeste Newsome, e outras duas garotas. Ela sim é que é boa pretendente para o Príncipe. Casta Dois, modelo, linda de bonita, mas por dentro ela é muito feia. Não que o tal Príncipe também seja. Na verdade ele é muito lindo, é alto, com o cabelo loiro bem penteado, a pele pálida, tem um porte atlético, as costas dele ficam tão retas que parece uma tábua. Ele tem mesmo porte de Príncipe.

P.O.V. Príncipe Maxon.

Eu ri. Ela tinha falado exatamente o que pensava da monarquia para o Príncipe herdeiro sem saber. E foi brutalmente honesta.

A ruivinha encrenqueira estava usando calças. A maioria dos homens implicaria com uma garota usando calças. Não importando a qual casta ela pertença.

E daqui a um mês, as concorrentes vão me conhecer.

P.O.V. America.

Prova de vestido, aula de dança, de etiqueta, é um concurso de beleza. A Celeste parece totalmente á vontade neste ambiente.

A parte da aula de dança eu tirei de letra, sou da Casta Quatro. A Casta dos artistas. Eu tive aulas. Danço, canto, toco piano, violino entre outros instrumentos antes mesmo de sair das fraldas, mas o resto? Inferno. Sei lá quantas vezes eu tropecei na barra daqueles vestidos.

Peguei o meu violão, meu caderno de músicas e comecei a escrever, a tocar. É engraçado que eu sei lutar, vários estilos de luta, meu pai me ensinou não só para eu aprender a me defender sozinha, mas para aprender a diferença entre direita e esquerda.

E até hoje que eu me enrolo com isso. Localização não é meu forte.

Hoje vamos ter outra aula de dança. Esse é o terceiro dia da competição, ainda estamos na primeira fase. Me deram instruções de como chegar e quando estava quase lá, eu fui empurrada pra dentro duma sala e trancaram a porta. Bem, a Celeste trancou a porta.

—Me deixa sair!

Fiquei algum tempo esmurrando a porta, mas isso não vai ajudar. Olhei em volta e...

—Bingo!

A Celeste trancou a porta, mas esqueceu a janela. E é um baita dum janelão com uma sacada. Dá pra sair e escalar até o chão. O problema mesmo é este vestido enorme que parece um bolo. É feito daquele tecido que parece pétalas de rosas. E pra ajudar o diabo do vestido é branco. Quer cor que aparece sujeira mais que branco?

Abri aquele janelão e sai no balcão. Respirei fundo. E coloquei um pé pra fora. Consegui ficar na beirada, mas eu tinha que pular para o outro quarto.

—Lasquei-me.

Respirei fundo, calculei a distância e pulei. Fiquei pendurada no parapeito da janela. Nas grades da sacada.

—E tudo isso por causa de um cara.

Disse fazendo força pra cima e graças á Deus eu consegui pular para dentro da sacada, mas cai no chão. Respirei fundo e me levantei, entrei no quarto vizinho e... era um quarto masculino. Esse parecia mais luxuoso do que os outros. A cabeceira da cama entalhada em mogno, ouro pra todo lado, a cama impecavelmente arrumada com uma colcha vermelha e dourada e tinha...

—O brasão da família Real? Bem, é o Palácio da Família Real.

Eu sai pela porta e fui andando. Mas, esse lugar parecia diferente.

Tinham guardas para todos os lados, felizmente um deles era...

—Aspen?

—America? O que está fazendo aqui?

—A Seleção.

—Oh! Pensei que não se importasse com isso.

—Eu não me importo. Fiz um trato com a minha mãe. Onde estamos?

—Na ala dos aposentos privativos da Família Real.

—O que?!

—Shh!

Ele tapou a minha boca. Quando destampou falou:

—Vem comigo.

Graças á Deus e ao Aspen, eu consegui me esgueirar para fora daquele lugar sem ser pega.

—Obrigado. Salvou minha vida.

P.O.V. Maxon.

Pensei ter ouvido um barulho, mas quando saí do chuveiro o quarto estava igual. Ou quase.

—Um cordão?

Peguei o cordão do chão e era um pedaço de seda branca com um penduricalho que era...

—Uma fênix?

A Fênix era feita de cristal, não... de outro material. Âmbar talvez? Eu nunca vi um material igual a este. Parecia um cristal, mas era alaranjado e tinha um brilho diferente. Iridescente.

—Talvez seja radioativo?

Vou levar para os cientistas verem.