Mostramos o soldado congelado a mãe de Luis, o resultado foi, claro, uma mãe estérica, gritando. Fazer o quê, né?
Fizemos ela sentar e nos ouvir, ela ainda devia estar bem chocada porque só anuia com a cabeça enquanto a gente falava e olhava pro chão. Quando falamos em levar o filho dela, ela olhou pra nós e falou:
– Estão loucos? Meu filho não é um de vocês. Vocês não vão levá-lo. Ele não pode fazer essas esquisitisses que vocês fazem, ele vai ficar mal. De jeito nenhum que eu vou deixá-lo ir.
– Mas mãe, você não ouvi o que eles-
– NÃO, você NÃO vai. Você fica, eles vão. Só.
Ela começou com um tique nervoso que estava ME deixando nervoso.
– Minha senhora, pelo amor de Deus, aquele soldado é um, podem vir mais, eles podem fazer mal ao seu filho. A senhora está livre de perigo portanto não precisa se preocupar, e pode ficar aqui. Mas eles têm acesso ao banco de dados do computador de Luis, eles sabem que ele está extremamente ligado ao Japão.
Então aconteceu algo que eu realmente não esperava que acontecesse.
Uma bomba de gás tranquilizante entrou pela janela. Como otaku, todos nós estávamos preparados para uma situação daquela. Exceto a mãe de Luis e Gurin, a diferença é que Tetsuo rasgou dois pedaços de sua camisa e deu pra Gurin colocar no rosto, Luis não fez o mesmo com a mãe, nem eu.
– Eu pego ele dessa vez. Teruo. - Disse Tetsuo que saiu com Gurin pra onde estava o soldado.
Olhei para a mãe de Luis, nos sonhos dela, ela ainda devia estar gritando comigo, espero que ela seja uma mulher de sono forte e longo.
Troquei um olhar com Luis, ele afirmou com a cabeça e eu ajudei ele a colocar sua mãe na cama.
Quando saímos da casa, vimos o soldado desmaiado, mas ainda em pé, preso por causa do meu gelo.
– Henken, Sanjyuugurin. Hajike, Tobiume.
Mirei e atirei certeiro no meu gelo. Concentrei bastante energia nos tiros, que pelo visto era o que tava substituindo a reiatsu que eu não tinha.
Lancei mais alguns tiros ao redor dos pés do soldado. Ia derreter o gelo, mas só o gelo. Dei ordens ao fogo, e eu nem sabia que podia fazer isso.
– Vamos logo, ainda têm duas casas e isso tá ficando chato. - Falei.
– Sério? Num parece. - Luis retrucou.
Fomos caminhando pro nosso próximo destino. Minha casa.
~.~
O próximo destino na verdade era uns dois amigos otakus que moravam no meu prédio.
Pedi pra Tetsuo ir falar com eles, precisava ao menos dar o aviso à minha mãe.

Sabe eu adoro minha mãe, ela é demais e não é culpa dela ser meio louquinha.

Quando cheguei em casa ela estava fazendo um bolo com fones de ouvido com alguma música que ela tentava acompanhar.

Como era fim de semana ela devia estar fazendo esse tipo de coisa desde de que eu saí pro evento, logo não viu o que estava passando na TV.

Cutuquei ela:

– Mãe. Hey, mãe.

Ela se virou e tirou o fone:

– Ué, já, filho?

– Mãe, a senhora viu o que tá passando na TV?

– Não... Passei o dia arrumando a casa. O que foi?

Fui até a sala, peguei o controle e liguei a TV, era hora de noticiário.

– O país está em guerra com o Japão.

– O que? O país num tem como sustentar uma guerra nem com o Uruguai, quanto mais com o Japão.

– Concordo, mas o pior não é isso. Eles tão perseguindo qualquer um que tenha ligação direta com o Japão.

– Fizeram alguma coisa lá no evento?

Eu ri:

– Mãe, eles mandaram 50 soldados pra nos pegar.

– O quê? - Ela gritou - Mas porquê? Vocês não têm nada haver com o Japão e...

– Mãe, encare a realidade os Otakus são bem capazes de ajudar o Japão, apesar de que não é cabível a ação deles.

Ela já tinha deixado de bater o bolo, estava andando de um lado para o outro com a mão na cabeça.

– Mas tem ainda outra coisa?

– O quê? Têm mais? O que aconteceu?

– Os 50 soldados fracaçaram na missão, por isso eu estou aqui.

Eu contei-lhe toda a história, e depois de provar a verdade com a minha zampakutou, apesar da expressão de perplexidade, ela acenava a cabeça mostrando que tinha entendido.

– Mãe, eu acho que Tetsuo e Luis já terminaram com os gêmeos. Eu vou pegar umas coisas importantes, e alguma comida. Se qualquer oficial do governo passar diga que eu fui do evento pra casa de um amigo, ok? Invente um número, ou crie uma desculpa. Por favor, não se meta em nada, ok?

– Mas...

Minha mãe parecia aquelas crianças pidonas doidas por um brinquedo.

– Desculpa, mãe, vai ser assim. Mas vai acabar logo.

Eu estranhei o que eu mesmo falei parecia que eu era o pai e ela era a criança. Fui no meu quarto, peguei uma bolsa e coloquei algumas roupas, meu computador, meu celular. Fui à cozinha e peguei uns biscoitos e comida simples de comer.

Quando fui sair, minha mãe estava na porta da cozinha.

– Eu- Eu não sei se o que você está fazendo é certo ou errado, mas meu instinto diz pra deixar você ir, apesar da vontade de te amarrar na mesa da sala. - Ela riu. - Eu não entendo, mas espero que você saiba que vai poder contar com minha ajuda no que precisar.

Eu abracei-a. Ela me beijou na cabeça.

Saí do meu apartamento, apreensivo por deixar minha mãe naquele estado, mas ainda assim saí.

Encontrei cinco pessoas me esperando no saguão do meu bloco.

– Eles acharam melhor deixar você falar com sua mãe a sós. - Disse Tetsuo apontando pra Felipe e Gabriel, os gêmeos.

– E aí, Naoki? - Eles falaram em uníssono, coisa que só os gêmeos fazem.

– Soubemos da parada... - Falou Gabriel.

– E estamos do seu lado. - Completou Felipe, outra coisa que só gêmeos fazem.

– Ótimo. - Sorri, eu estava com o humor bem melhor.

– Vamos ainda temos uma casa para ir.

Fomos andando, o outro cara eu não conhecia, era um conhecido de alguma outra pessoa, mas fomos encarregados porque estava perto da casa de Luis e do meu prédio.

Estava tudo bem demais para ser verdade, né? E é aquela velha história. Vida de otaku num pode ser fácil.

Estávamos chegando perto quando ouvimos gritos.

Um soldado segurava uma mulher desesperada enquanto dois outros levavam uma garota desmaiado até um carro. O soldado com a mulher bateu no pescoço dela e num último grito ela caiu, ele a colocou para dentro da casa e se juntou aos colegas.

Acho que as duas palavras que narram aquele momento são "surpresa"... E o mais profundo, inconsiente, instintivo e amargurado ódio (foram mais de duas, mas tudo bem).

Tentamos alcançar o caminhão, mas ele já tinha dado partida e estava saindo. O vimos distanciar, cada vez mais e mais.

Eu precisava perseguir aquele caminhão e salvar aquela menina. Ela não estava só desmaiada, tinha sangue no rosto dela, eu já não podia perdoar aqueles malditos bastardos. O ódio queimava dentro de mim.

Mas consegui pensar racionalmente. 5 pessoas andando por aí, chamariam atenção o que era totalmente o contrário do que eu queria. Então disse:

– Tetsuo, eu vou achar aquela garota, eu vou salvá-la. Mas não tem como nos 5 fazermos isso, leve-os para o QG, avise-os do que aconteceu e veja se eles conseguem armá-los. - Apontei pra os três otakus sem poderes. - Ah, e tome isso. - Entreguei-lhe a minha bolsa. Dê pra Yue e mande ela guardar, ok?

– Certo, certo.

Eu podia não ser líder, mas agia como.

Me virei e ia embora quando, Gurin segurou na minha mão e puxou.

– Você é um líder nato. Portanto, vá, salve aquela nakama e volte vivo.

As palavra dele pareceram mais sábias do que você pode pensar.

Virei-me e instintivavemente usei o shunpo. Parece que meus poderes de shinigami não se resumiam apenas à minha zampakutou. A sensação era maravilhosa apesar deu não ter prestado tanta atenção nela.

Subi nas casas e de casa em casa ia pulando até rastrar aquele carro com o símbolo do exército.

Persegi ele com uma coragem que vinha de algum lugar desconhecido. Tudo para salvar aquela menina. Tudo para salvar uma estranha. Tudo para salvar um de nós.