Eu não tinha nem ideia de como estava minha expressão, sentia um martelar agitado em meu peito enquanto encarava Carlos Daniel com os olhos ligeiramente arregalados.

— O que foi meu amor? - ele perguntou sorrindo enquanto deslizava suavemente os dedos por minha face – Não é tão difícil dizer que aceita.

Sorri ainda sem desviar o alhar do dele.

— Como pode saber se vou aceitar? - perguntei erguendo uma sobrancelha.

— É simples, - ele sorriu mais uma vez se virando na cama e ficando sobre mim – você não consegui viver sem mim, sem meus beijos, minhas carícias.

— Não mesmo, - admiti sorrindo – você me deixou dependente de você. - mal acabei de dizer e Carlos Daniel cobriu sua boca com a minha.

— Então? - ele perguntou assim que cessamos o beijo com a testa colada a minha – Aceita se casar comigo senhorita Martins?

O olhei por algum momento, não buscando uma resposta, pois essa já estava formada, mas admirando o homem que tinha a minha frente e que eu passaria o resto da minha vida ao lado.

— Claro que aceito. - respondi com os olhos marejados.

Carlos Daniel sorriu e me beijou novamente, ele ajeitou o corpo sobre o meu me pressionando contra a cama, nossos lábios saboreavam um ao outro intensamente. Embora ele já houvesse me feito aquele pedido uma vez e eu já estivesse aceitado, dessa vez era diferente, havíamos acabado de nos acertar, e eu não deixaria que nada e nem ninguém nos separasse novamente, não renunciaria meu amor por nada no mundo.

***

Foram dois longos meses que se passaram para o nosso casamento, e eu contava as horas e os minutos para me tornar esposa de Carlos Daniel.

Paola, quando soube de nosso casamento, foi ate meu apartamento, e quando a vi em minha frente senti todo meu corpo gelar, mas foram suas palavras que me fizeram temer a minha felicidade.

— Eu nunca vou deixar você ser feliz Paulina, nunca.

Apesar de tentar afastar aquelas palavras de minha mente e me focar apenas em meu casamento que aconteceria em poucos dias, eu não conseguia, de certa forma eu sentia que Paola havia me ameaçado com aquelas palavras, e mesmo quando soube que ela havia saído do país, eu não me sentia segura.

Naquela última semana antes do casamento eu não iria mais a fábrica, não porque eu quisesse, mas porque segundo vovó Piedade, eu e Carlos Daniel estávamos passando tempo demais juntos, e naqueles últimos dias ficaríamos sem ver um ao outro, só nos encontrando novamente no altar.

Confesso que não gostei nem um pouco da ideia de vovó Piedade, e muito menos Carlos Daniel, mas nos vimos obrigados a aceitar quando ela começou a nos dar sermões dizendo que não iriamos aproveitar a nossa primeira noite de casados como se deve, já que Carlos Daniel dormia constantemente em meu apartamento. Vovó Piedade conseguiu me deixar bem envergonhada naquele dia, e depois de muito insistir eu e Carlos Daniel nos rendemos a seu “pedido.”

— Vocês vão me agradecer por isso. - ela disse sorrindo convencida com um ar malicioso na voz.

— Acho difícil vovó, - Carlos Daniel respondeu irritado – não entendo o porque de nos separar logo agora que falta tão pouco para nosso casamento.

— Não estou separando vocês. - ela disse ainda sorrindo – É apenas uma semana, e vocês não vão se arrepender. - ela continuou dando gargalhadas enquanto nos deixava sozinhos.

Carlos Daniel e eu nos despedimos, trocamos um beijo intenso e apaixonado e quando nos separamos meus olhos umedeceram.

— Te espero no altar vida minha. - ele sorriu ternamente - Vou morrer de saudades.

— Estarei lá na hora marcada. - afirmei sorrindo - Espero que essa semana passe depressa.

Naquela última semana teria a prova final de meu vestido, Patrícia estava me ajudando com os últimos preparativos, e quando faltava dois dias para o casamento Célia chegou, me senti muito feliz em saber que ela estaria presente, de alguma forma Célia era a única pessoa que me restara de meu passado, e ela estando presente era como se parte de minha antiga vida estivesse ali também.

Durante todo o tempo que antecedeu meu casamento senti a falta de meus pais. Meu pai que sempre falava que me conduziria ate meu futuro marido, e minha mãe que sonhava comigo vestida de noiva. E tinha Paula, minha mãe biológica, ainda era tão recente sua morte que eu sentia sua presença constantemente, eu tinha certeza que ela estaria me ajudando com tudo, que estaria ao meu lado em todos os momentos, que estaria feliz com minha felicidade.

Era tanta coisa em minha cabeça que minha ansiedade só aumentava, e junto com ela a saudade que eu sentia de Carlos Daniel, parecia que o tempo não passava...

***

Abri os olhos...

Fiquei deitada em minha cama por alguns minutos, o céu estava tão azul e a manha tão calma que senti uma paz enorme invadir meu peito e me acalmar.

Sim, eu estava bastante nervosa, nervosa e ansiosa, em poucas horas eu entraria na igreja indo de encontro ao homem de minha vida, o homem que me ensinou a amar, que me deu forças, que me fez renascer.

Tomei um banho longo, tentando relaxar a tensão de meus músculos, me vesti e fui ate a cozinha, Filó estava acabando de preparar o café, e naquele momento era tudo o que eu precisava, um café puro.

Minha mente estava absorta demais, Filó falava comigo sobre eu estar com olheiras e outras coisas, eu não havia dormido direito a noite, mas não consegui me concentrar em nada, apenas na ansiedade que aumentava com cada tic tac do relógio.

As horas pareceram passar ainda mais devagar naquele dia, respirei aliviada quando vovó Piedade e Patrícia chegaram com meu vestido, e minutos depois Célia chegou carregando uma maleta enorme. Célia era quase uma profissional na arte de maquiar e como se não bastasse, fazia penteados incríveis.

Tentei comer alguma coisa durante o almoço, mas foi em vão, e depois fiquei o tempo todo nas mãos de Célia. Ela começou por meus cabelos, suas mãos pareciam dançar enquanto ela moldava meu cabelo da maneira que queria.

Depois partiu para meu rosto, e quando terminou de me maquiar chamou vovó e Patrícia para me ajudar a me vestir, elas deslizaram o vestido por meu corpo tendo cuidado para não bagunçar meu cabelo. Minhas pernas ficaram bambas quando finalmente me vi no espelho.

— Paulina! - a exclamação na voz de vovó fez meu rosto corar instantaneamente - Você está linda minha filha, linda.

— Realmente Paulina, nunca vi noiva mais linda. - Patrícia disse sorrindo ternamente.

— Fiz um bom trabalho não foi? - Célia disse divertida – Claro que a modelo aqui ajuda bastante, Paulina é linda de qualquer jeito.

— Meu neto tirou a sorte grande. - vovó disse entre uma gargalhada.

— E como dona Piedade! O corpo dessa mulher é uma escultura de tão perfeito. - Célia disse olhando para vovó e sorrindo.

Senti meu rosto esquentar mais uma vez.

— Vamos parar de falar sobre isso Célia, estamos deixando Paulina envergonhada. - vovó disse sorrindo.

— Mas só porque hoje o dia é dela vovó. - Célia sorriu.

— Tente se acalmar, respire fundo Paulina. - Patrícia disse com um sorriso segurando minhas mãos

— Estou ansiosa. - admite tentando fazer o que Patrícia me pediu.

— Eu sei, - ela sorriu – todas as noivas ficam assim.

O som da campainha tocou fazendo meu coração galopar em meu peito.

— Deve ser Rodrigo, já está na hora de te levar para a igreja. - Patrícia disse enquanto saia do quarto.

Respirei profundamente e me olhei mais uma vez no espelho, sem dúvidas Célia havia feito um trabalho incrível, ela prendeu meus cabelos em um coque alto e luxuoso, e meu vestido era realmente lindo, gracioso, elegante, moldava-se ao meu corpo perfeitamente, ele era justo ate minha cintura e se abria sutilmente, quase como um copo de leite invertido.

— Paulina! - Rodrigo exclamou – Você esta linda. Imagino quando Carlos Daniel te ver assim. - ele brincou.

— Obrigada Rodrigo. - disse com a voz um pouco trêmula.

— Mamãe! - Lizete gritou surpresa quando entrou no quarto e me viu – Esta tão linda.

Ela correu ate mim e me abraçou.

— E você também esta Lizete. - disse sentindo meus olhos arderem, Lizete parecia uma princesinha com seu vestido de dama de honra.

— Não vai chorar agora Paulina. - Célia advertiu seria.

Sorri nervosa e respirei fundo.

Carlinhos teve quase a mesma reação que Lizete, ele vestia um terno branco e parecia um homenzinho.

Partimos para a igreja numa limusine que parecia ter saído de algum filme. Patrícia, vovó e Célia foram na nossa frente, vovó entraria com Carlos Daniel e já estava quase na hora da cerimonia, a noite já começava a chegar.

Lizete e Carlinhos estavam eufóricos em poder entrar na igreja. Quando viramos a esquina que dava acesso à igreja percebi a grande quantidade de carros, me senti ainda mais nervosa em saber que havia tanta gente.

Assim que o carro parou, Rodrigo desceu da luxuosa limusine e abriu a porta me estendendo a mão e me ajudando a sair, novamente meu coração disparou.

Observei encantada, e um pouco assustada, a enorme catedral a minha frente, lá dentro, me esperando no altar, estava Carlos Daniel, e eu estava ansiosa em vê-lo.

Subimos as escadas que davam acesso à entrada da igreja, Carlinhos e Lizete se posicionaram a nossa frente, Lizete com uma pequena almofada onde continha as alianças em uma das mãos, e com a outra ele passou entre o braço de Carlinhos.

Ouvi o som da marcha nupcial ecoar dentro da igreja, Rodrigo me olhou e sorriu, passei meu braço pelo seu, Lizete olhou para trás e me lançou um beijo ao qual retribui, e de repente as enormes portas da catedral se abriram e aquela multidão de rostos se concentraram em mim fazendo meu rosto corar.

Lizete e Carlinhos começaram a marchar adentrando a igreja, e logo depois eu e Rodrigo. Meus olhos buscaram Carlos Daniel, e quando o vi parado no altar com um sorriso exultante no rosto esqueci de todos ao meu redor.

A marcha parecia lenta demais, Carlos Daniel me olhava intensamente, e eu não via a hora de chegar ao meu destino, ele parecia longe demais. Não vi nenhum dos convidados, só conseguia enxergar Carlos Daniel, apenas ele.

Quando finalmente chegamos ao altar Carlos Daniel me estendeu a mão. Rodrigo pegou a minha mão e colocou-a sobre a de Carlos Daniel, o toque de nossa pele me fez sentir em casa.

— Cuide dela Carlos Daniel. - Rodrigo disse antes de se afastar.

Sorrimos um para o outro e nos concentramos a ouvir os votos que o padre começou a falar. A todo instante nossos olhares se encontram, Carlos Daniel exalava uma mirada triunfante, e eu tinha a plena certeza que nada mais importava do que nosso amor.

Quando chegou a hora de dizermos as palavras definitivas foi que percebi que eu estava chorando.

— Sim. - disse com a voz um pouco sufocada, e pisquei rapidamente tentando conter as lágrimas que caiam por meu rosto.

— Sim. - Carlos Daniel prometeu quase que de forma vitoriosa.

Lizete se aproximou com as alianças entregando-as a Carlos Daniel, ele a deslizou suavemente pelo meu dedo, e logo depois foi a minha vez, selando assim nossa união.

O padre disse as palavras finais, nos declarando marido e mulher. Logo depois as mãos de Carlos Daniel tocaram suavemente meu rosto, ele secou delicadamente as lágrimas que ainda me escapavam, e vi que em seus olhos também haviam lágrimas, sorrimos um para o outro, e como se fosse em câmera lenta, ele inclinou o rosto na direção do meu e logo meus braços envolveram seu pescoço.

Carlos Daniel me beijou com carinho, ternura, paixão, adoração. Esqueci completamente da multidão que nos assistia, e só nos separamos quando o som dos aplausos e risos ecoaram ate nós.

Voltamos o olhar para os convidados a nossa frente, todos estavam de pé nos aplaudindo, e na primeira fila minha nova família, vovó Piedade também tinha lágrimas nos olhos.

As mãos de Carlos Daniel seguravam firmemente a minha, caminhamos ate a saída da igreja, e lá fora, a pedido dos convidados, trocamos outro beijo, um beijo que demoramos cessar e que fez meu mundo se estreitar somente a ele.