Os raios do sol atravessavam as cortinas, nos mostrando que um novo dia começava lá fora, eu estava deitada com a cabeça recostada sobre o ombro de Carlos Daniel, e ele alisava meus cabelos, eu o sentia diferente, ele olhava para o teto, sério, distante, algo o atormentava.

— Bom dia meu amor. - disse chamando sua atenção, ele me olhou e por um momento toda aquela tensão desapareceu.

— Bom dia minha vida, - ele se inclinou para me beijar - esta acordada faz tempo?

— Tempo suficiente para perceber essa expressão preocupada em seu rosto. - disse acariciando sua face.

— Não é nada meu amor, - ele disfarçou com um sorriso - é impressão sua.

— Se arrependeu de ter me pedido em casamento? - perguntei sentindo uma pontada no peito.

— Claro que nao, - ele me virou na cama e me olhou profundamente - me casar com você é a maior certeza que ja tive na minha vida.

— É que você estava ai todo pensativo e sério, - disse acariciando seu rosto e sentindo um certo temor - e vou entender se quiser adiar um pouco, afinal estamos a pouco tempo juntos…

— Meu amor, - ele me olhou intensamente e disse com sinceridade - eu te amo, e tudo que mais quero é poder passar todos os dias de minha vida assim, ao seu lado.

— Então não se arrependeu mesmo? - perguntei seriamente.

— Sua bobinha, - ele tocou a ponta de meu nariz e me fez sorrir - tudo que mais quero é você pra sempre comigo.

— Pra sempre? - perguntei sorrindo o puxando para um beijo

— Sempre - ele sorriu me beijando.

***

Os dias passaram e o aniversário de Lizete havia chegado, todos na mansão Bracho estavam ocupados com alguma coisa, o jardim estava cheio de balões e diversos brinquedos, Lizete corria pela casa, estava eufórica e todos que a viam notavam o quanto estava feliz.

Aos poucos os convidados foram chegando, alguns amigos de sua escola e os Bracho, além de mim e minha mãe.

Estava tudo perfeito, Lizete corria, brincava e se divertia com seus amigos.

Carlos Daniel estava sempre ao meu lado, com a mão entrelaçada a minha, ou em volta de minha cintura, sempre me tocando de alguma maneira, parecia que precisava sempre me sentir.

Ele estava diferente, por diversas vezes o peguei distraído na fabrica, com o pensamento distante, triste, e algumas vezes ele tentou me contar o que o atormentava, mas sempre travava, parecia ter medo, um medo que eu desconhecia, mas eu estava disposta a estar a seu lado, nada poderia nos separar, disso eu tinha certeza, mas a minha certeza estava absolutamente errada.

No meio do imenso jardim estava montado um pequeno palco onde aconteceria um show de magica, as crianças se sentaram bem próximas ao palco e quando o show começou elas gritaram animadas, estávamos um pouco mais afastados observando o quanto Lizete se divertia.

— Lizete esta adorando a festa. - vovó Piedade comentou quando nos sentamos em umas das muitas cadeiras espalhadas pelo jardim, Carlos Daniel e Rodrigo estavam um pouco mais distantes.

— Esta mesmo vovó Piedade, - Patrícia disse sorrindo e me olhando - Lizete se tornou outra criança desde que você apareceu.

— Finalmente esta feliz, - vovó disse segurando minhas mãos - antes nem amigos a pobrezinha tinha, vivia recuada pelos cantos, tinha pesadelos quase todas as noites...

— Isso é verdade vovó Piedade? - perguntei tentando imaginar aquela menina tão alegre e interativa nessa tristeza que vovó e Patrícia falavam.

— É sim minha filha, - Paula disse triste ao meu lado com os olhos úmidos - Lizete sempre foi uma menina tristonha, mas quando você voltou não trouxe só a mim a felicidade de reencontrar minha filha, trouxe a Lizete uma mãe, ela te vê como uma mãe, mãe que sempre fez falta a ela. E agora que você e Carlos Daniel vão se casar essa relação entre vocês vai se estreitar ainda mais.

— Eu amo Lizete como se ela fosse minha filha, - disse segurando as lagrimas que já ameaçavam cair pelo meu rosto - nem sei como explicar, desde o dia que à vi sinto esse sentimento em meu peito, de querer protege-la, estar sempre com ela, ensina-la a andar no melhor caminho...

— Eu agradeço todos os dias a minha virgenzinha por você ter retornado Paulina, - disse vovó com aquele amável sorriso no rosto - você é um anjo em nossas vidas, imagina se você não esta naquela praça quando encontrou Lizete? Ela poderia ter sido sequestrada ou sei lá... nem quero pensar.

— Sem falar em Carlos Daniel, - Patrícia sorriu - nem parece ser o mesmo homem de antes.

— É verdade Patrícia, - vovó sorriu com cumplicidade para Patrícia - fazia muitos anos que não via meu neto tão feliz como nesse últimos meses, e desde que anunciou que vocês vão se casar essa felicidade aumentou ainda mais.

— Eu ainda não me acostumei com a ideia de que minha filhinha vai se casar, - Paula disse com um sorriso - ainda te vejo como vejo Lizete, uma garotinha de cinco anos.

Abracei fortemente minha mãe, mãe que eu ainda não conseguia chamar de mãe, mesmo a amando, eu simplesmente não conseguia.

— Eu queria poder descobrir o que aconteceu comigo, - disse me afastando e olhando em seus olhos - como que desapareci, como fui parar na Espanha, como meus pais me adotaram...

— O que importa agora é que você esta aqui minha filha, - ela disse acariciando meu rosto - não sabe o quanto sonhei em poder de ver novamente.

— Paula tem toda razão, - vovó disse - o que importa é que você esta aqui, com sua mãe, com nós os Bracho...

— Só falta minha irmã Paola. - disse sorrindo.

Notei que todos se olharam, um clima diferente entre eles surgiu, que só foi quebrado pela chegada de Carlos Daniel com Lizete nos braços.

— Acho que já esta na hora de cantar parabéns e cortar o bolo. - ele disse sorrindo e me olhando.

— Vamos mamãe? - Lizete sorriu me estendendo a mãozinha.

Me levantei e a peguei nos braços, Carlos Daniel me beijou suavemente e caminhamos em direção ao bolo.

— Quem vai ganhar o primeiro pedaço do bolo Lizete? - Carlos Daniel perguntou olhando amavelmente para Lizete que segurava o pratinho de bolo nas mãos e sorria com travessura.

Eu estava ao lado direito de Lizete assim como Carlos Daniel, do outro lado estava vovó Piedade e Paula. Lizete estava em pé na cadeira.

— O primeiro pedaço... Eu sempre dei o primeiro pedaço do bolo para meu paizinho, mas dessa vez vou dar a outra pessoa... - ela fez suspense olhando para cada um que estava ao redor da mesa - Vou dar o primeiro pedaço do bolo para minha mãezinha, que finalmente nos encontrou e fes meu pai, a mim e a minha avó Paula mais feliz. Te amo mãezinha.

Ela me estendeu o pratinho com o bolo com um sorriso puro, inocente e radiante no rosto, meus olhos ja estavam embaçados pelas lágrimas, eu peguei o pratinho de suas maos e a abracei fortemente, deixando que aquelas lagrimas caissem pela minha face.

— Tambem te amo meu amor, minha filhinha, - disse olhando em seus olhinhos azuis e beijando cada uma de sua bochecha - obrigada por me aceitar como sua mae.

— Mamae, voce sempre foi minha mae. - ela disse com naturalidade me dando um forte abraço.

Parecia que Lizete sempre havia me esperado, como se soubesse que um dia estaríamos juntos, eu, ela e seu pai.

Algumas horas depois só restavam os Bracho, todos os outros convidados já haviam se despedido.

Estávamos sentados na sala, Carlos Daniel ao meu lado e Lizete em meu colo, vovó Piedade a nossa frente junto com Paula, Patrícia, Rodrigo e Carlinhos.

— Eu adorei minha festa mamãe, - Lizete disse me abraçando - foi meu primeiro aniversario que você participou.

— E de agora pra frente prometo que estarei em todos. - sorri e afaguei seus cabelos.

Carlos Daniel envolveu os braços ao nosso redor abraçando nós duas.

— Vocês duas são minha vida. - ele disse beijando minha testa e a bochecha de Lizete.

— Vocês formam uma família linda. - Rodrigo disse nos observando.

— Agora que Paulina vai se casar com o tio Carlos Daniel, posso chama-la de tia. - Carlinhos disse alegre, parecia que nosso casamento havia agradado a todos, ate mesmo Paula estava feliz.

— Claro que pode Carlinhos. - sorri para ele que alargou ainda mais seu sorriso.

Estávamos todos intertidos entre conversas e risos, eu dava mais atenção a Lizete e Carlinhos, que estava sentado ao meu lado contando como havia feito o gol que garantiu a vitória de seu time na escola, Carlos Daniel continuava ali abraçado a mim e a Lizete ouvindo atentamente Carlinhos narrar seu belíssimo gol.

Aquele momento tranquilo foi interrompido pelo som de uma voz ecoando pela sala, fazendo todos, sem exceção, ficar em absoluto silencio.

Aquela voz tão parecida e ao mesmo tempo tão diferente, meu coração bateu forte em meu peito.

— Boa noite queridinhos. - levantei meu rosto e olhei em direção aquele som, meu coração pareceu explodir dentro de mim, eu estava me vendo parada em nossa frente, o mesmo rosto, os mesmos olhos, o mesmo cabelo, era como se eu estivesse olhando meu reflexo em um espelho, tudo nela era igual a mim, tudo! Se não fosse pela sua maquiagem mais marcante e por sua postura que exalava poder, eu juraria que era eu.

— Paola... - disse como um sussurro me levantando rapidamente e colocando Lizete no chão, minha face já não tinha mais cor, eu estava frente a frente com ela, a minha irmã, Paola.