A Força De Uma Paixão.

Capítulo 2 Recomeço


A chegada àquela cidade não foi tão estranha como imaginei que seria, na verdade tinha a sensação de que a conhecesse, como se já houvesse estado ali.

No caminho ate o hotel eu olhava cada detalhe de seus prédios, suas ruas, suas casas, seria um começo difícil, um país diferente, e eu não tinha ninguém, estava sozinha.

Assim que cheguei ao hotel subi ate o meu quarto e desfiz minhas malas, era um quarto bastante aconchegante, mas não pretendia ficar ali por muito tempo, assim que estivesse preparada iria ate a casa que meus pais tinham aqui na capital, só torcia para que não fosse tão grande como a nossa casa de Espanha, eu necessitava encontrar forças para seguir minha jornada, e não tinha razão para ficar em um hotel quando tinha uma casa vazia.

Era quase cinco da tarde, o céu estava de um cinza escuro, provavelmente meu primeiro dia no México seria com muita chuva e já estava bastante frio, mas eu ate que gostei da idéia, o que mais queria era poder me desligar do mundo e dormir por muitas e muitas horas.

Depois de tomar um banho bem quente, eu me enfiei embaixo dos cobertores, os raios e trovões já marcavam presença lá fora, logo depois eu apaguei em um sono profundo e sem sonhos, quando acordei já se passava das duas da madrugada e meu estomago reclamava pela falta de comida, abri minha bagagem de mão e encontrei minha nutella e meu cheetos, por sorte havia me lembrado de colocá-los na minha bolsa, sempre que viajava com meus pais mamãe colocava o pote de nutella e o saco de cheetos, eu sempre ficava com fome no caminho, e confesso que aquelas bolinhas de queijo assadas e aquele creme de cacau com avelã era o melhor lanche para a estrada.

Eu comi quase todo o saquinho de cheetos, e uma boa parte do pote de nutella, abri o frigobar que havia no quarto e peguei uma garrafinha de água, a chuva já havia passado e o céu estava limpo e repleto de estrelas, abri a porta que dava acesso a sacada do quarto e olhei aquela cidade, era uma linda cidade e assim iluminada pela luz das estrelas dava um ar de magia a ela, a lua no céu estava mágica, um globo florescente enorme, não pude não deixar de pensar em meus pais e em Luciano... Um vento gelado tirou de meus pensamentos me fazendo voltar à realidade de minha solidão, eu estava firme e forte ate aquele momento, acreditava que encontraria um recomeço naquela cidade, mas eu estava sozinha, sozinha em um país diferente, não tinha nenhum amigo, ninguém para me abraçar quando me sentisse triste, e isso fez com aquela ferida no meu peito sangrasse, o único apoio que consegui encontrar foi o chão frio do quarto, deixei minhas lagrimas escorrerem pelo meu rosto, e não me lembro por quanto tempo fiquei chorando ali ate cair novamente na inconsciência do sono.

Despertei com os raios do sol tocando minha face, meu corpo doía e meu braço direito estava dormente, senti meus olhos arderem, resultado do choro da madrugada, me levantei daquele chão duro e frio que foi meu único companheiro durante a noite, a cidade vista de dia não era tão fascinante como a noite, talvez a falta de esperança e a pouca vontade de continuar a seguir meu caminho me fez perder o encanto por ela.

O relógio ao lado da cama marcava 7:30, decide tomar um banho e sair para explorar a cidade, não era o que eu queria, mas sabia que se ficasse trancada naquele quarto iria acabar em uma depressão profunda, e o que eu menos precisava naquela hora era de uma doença.

Tomei um café da manha leve, e depois entrei em um taxi, o taxista era um senhor de aproximadamente 55 anos e muito simpático.

— O senhor conhece bem a cidade? – perguntei ao taxista assim que ele colocou o carro em movimento.

— Claro que sim senhorita, - ele me respondeu com um sorriso enquanto me olhava pelo retrovisor – é a primeira vez aqui?

— É sim, - tentei forçar um sorriso pra ele mas creio que foi em vão, pois a reação que ele teve foi como se eu estivesse feito uma careta – é... Podemos ir ate a Basílica de Guadalupe?

Tentei tirar a má impressão que aquele senhor teve de mim.

— Como quiser senhorita. – ele respondeu seco, já tinha seis meses que eu não sorria, e aquela tentativa com certeza foi um fracasso.

Assim que chegamos a Basílica ele parou o carro, eu apenas observei aquela imensa igreja do lado de fora, não queria me arriscar em ter que enfrentar toda aquela multidão que estava ali, antes precisava me preparar para começar a me aproximar novamente das pessoas.

Depois seguimos pela cidade, deixei que ele seguisse pelas ruas para me mostrar os principais pontos da cidade, eu precisava conheça-la, ele dirigiu a palavra a mim umas poucas vezes, apenas dizendo algo sobre alguma construção antiga, ou sobre os pontos turísticos da cidade, eu não prestava muita atenção, apenas olhava a cidade pelo retrovisor do carro.

Algum tempo depois eu notei uma praça, havia poucas pessoas nela, e a maior parte era crianças, resolvi ficar ali e tentar me distrair.

— Muito obrigada. – disse assim que paguei a corrida ao taxista, e dei um sorriso sincero, porem tímido, ao qual ele retribui – O senhor é um ótimo guia turístico.

— Foi um prazer mostrar a cidade a uma moça tão bonita. – ele disse sorrindo e eu notei que não havia passado tanta má impressão assim.

Andei ate um banco que havia próximo ao parquinho onde algumas crianças brincavam, elas se divertiam perdidas naquele mundo cheio de fantasias. Notei uma garotinha chorando um pouco afastada das outras crianças sentada na areia, era uma menina linda, seus olhos de um azul incrível, não tinha mais que quatro anos, a observei por algum tempo esperando alguma mãe ou babá se aproximar, mas ninguém pareceu se importar. Me levantei e fui em direção a ela.

— Esta sozinha aqui? – perguntei me abaixando para ficar mais próxima a ela.

Assim que ela levantou os olhinhos para encontrar os meus vi uma expressão de alivio invadir seu pequeno rostinho molhado por lágrimas.

— Tia Paola, que bom que me achou. – ela disse me abraçando forte quase derrubando nós duas.