Já se passava das três da manha quando o doutor entrou na sala de espera.

— Senhorita Martins, sua mãe acordou. - disse tocando levemente meu ombro, olhei para ele e me levantei, Marco dormia profundamente sentado no sofá, já Carlos Daniel me olhava incansavelmente.

— E como ela esta doutor? - perguntei sentindo certo alivio, mas também um medo de como a encontraria.

— Esta bem, na medida do possível, - disse me olhando com compaixão - só peço que não a canse demais.

Acenei em concordância e lancei um olhar para Carlos Daniel, ele se levantou e se aproximou de mim.

— Quer que te acompanhe Paulina? - perguntou olhando-me diretamente em meus olhos.

— Não Carlos Daniel, - menti com o coração apertado, eu precisava dele naquele momento, precisava de seu abraço, mas não devia me aproximar dele - prefiro ir sozinha.

— Estarei te esperando. - ele disse com ternura, me lançando um sorriso triste – Seja forte Paulina.

— Tentarei. – disse e segui em direção ao quarto de Paula.

Abri a porta lentamente, não queria assustá-la. Quando a vi deitada na cama senti um buraco se abrindo embaixo de mim, não conseguia afastar o pensamento que ela iria morrer, e que sofreu durante anos por minha culpa.

Ela estava com os olhos fechados, respirava devagar, seu rosto estava cansado, sua pele tão clara que parecia papel. Senti meus olhos umedecerem, me ajoelhei ao seu lado na cama e segurei delicadamente sua mão.

— Paulina... – sua voz soou fraca, cansada. Ela abriu os olhos e se virou para me olhar – minha filha.

— Mamãe... – disse deixando as lagrimas escaparem de meus olhos.

— Me chamou de mamãe? – perguntou levantando a mão e acariciando meu rosto, seus lábios se moveram formando um sorriso.

Acenei em concordância e a abracei, chorando feito criança em seus braços.

— Shh... – ela sussurrou deslizando as mãos pelo meu cabelo – vai ficar tudo bem meu amor, vai ficar tudo bem

— Não quero te perder, - disse entre soluços, eu deveria ser forte e consolá-la, mas estava sendo o contrario – por favor, mamãe, não morra, não morra.

— Não fique assim meu bem, - ela disse baixinho levantando minha cabeça e me olhando nos olhos – hoje é o dia mais feliz de minha vida.

— Como pode dizer isso? – perguntei incrédula, ela estava morrendo, sofrendo com fortes dores, e ainda tinha a coragem de dizer que estava feliz.

— Não sabe como desejei ouvir você me chamar de mamãe outra vez. – ela sorriu, e foi o sorriso mais puro e sincero que existiu.

— Me desculpa. – disse voltando a deixar as lagrimas rolarem por minha face.

— Te desculpar meu anjo? – ela perguntou ainda sorrindo – Mas por quê?

— Por ter desaparecido quando era criança, por ter feito você sofrer durante todo esse tempo, por não ter te dado o carinho que mereceu, por ter te abandonado outra vez... – dizia engasgada pelo choro.

— Paulina, - ela deslizou as pontas dos dedos por minha face, enxugando minhas lagrimas – você não tem culpa de nada, acredite, não tem porque se sentir assim, se estou viva ate hoje é graças a você, não morreria sem antes de reencontrar.

— Não, - disse soluçando – sua obsessão em me encontrar te fez ficar ainda mais doente, o medico me disse que parou os tratamentos para me procurar, por minha causa você foi se matando.

— Não, não meu bem, - ela segurou meu rosto com as duas mãos – não havia muito o que fazer por mim, se continuasse esses tratamentos talvez me desse mais alguns dias, meses e na melhor das hipóteses poucos anos a mais de vida, mas não impediria a minha morte,apenas adiaria. – ela suspirou profundamente – E todos aqueles tratamentos me deixavam cansada, sem forças, não queria que me encontrasse assim. O medico me disse pra tentar ter uma vida normal, foi o que fiz.

— Não quero te perder, eu preciso de você. – disse a abraçando mais uma vez.

— Nunca vai me perder meu amor, sou sua mãe e vou estar sempre olhando por você e Paola. – ela disse com carinho.

— Eu te amo mamãe. – disse abraçando-a forte.

— Também te amo minha filha. – disse com sinceridade.

— Você precisa descansar. – disse me afastando e a olhando mais uma vez.

— Você também minha filha, - ela sorriu acariciando meu rosto – vá pra casa e descanse.

— Não, eu quero ficar aqui com você. – disse tirando suas mãos de meu rosto e segurando-as entre as minhas.

— Eu vou ficar bem, - ela sorriu – você precisa descansar, vou estar aqui quando voltar.

— Promete? – perguntei segurando o choro.

— Claro que sim Paulina, vá pra casa e descanse.

— Vou estar aqui antes de você acordar. – disse olhando-a.

— Estarei te esperando minha filha. – ela sorriu cansada.

Beijei sua bochecha e me levantei, soltei suas mãos levemente, ela sorriu e sussurrou um "eu te amo" sai de seu quarto e me deparei com Carlos Daniel encostado na parede.

Ele me olhou com expectativa, e por mais que tentasse não conseguia desviar meu olhar do dele, sem dizer nenhuma palavra se aproximou de mim e me puxou para seus braços, me envolvendo em um abraço cheio de carinho, cuidado, proteção e preocupação. Afundei meu rosto em seu peito e deixei que me transpassasse tudo o que queria e que eu precisava naquele abraço, meus olhos derramaram lagrimas silenciosas em seu peito, e estando ali, novamente em seus braços, percebi que precisava dele.

— Me leve pra casa Carlos Daniel? – perguntei com um fio de voz.

— Claro Paulina, - ele afagou minhas costas e sussurrou baixinho – você precisa descansar.

Fiz um leve aceno em sinal de confirmação com a cabeça, e ainda com os braços ao redor de minha cintura me guiou ate o estacionamento.

O caminho ate meu apartamento foi feito em completo silencio, a imagem de Paula tão debilitada na cama do hospital não saia de minha mente.

Quando finalmente chegamos, e entramos em meu apartamento, percebi que tudo estava bem limpo e organizado, com certeza Filó estava cuidando de tudo.

— Eu vou tomar um banho e me deitar um pouco. – disse olhando para Carlos Daniel que estava parado ao lado da porta.

— Quer que fique aqui com você? – perguntou bagunçando os cabelos em sinal de nervosismo.

— Não... – respondi apressada – não precisa Carlos Daniel, você também precisa descansar.

— Você vai ficar bem? – perguntou preocupado.

— Vou sim, - disse e abaixei a cabeça – obrigada.

— Não precisa agradecer, - ele deu um passo em minha direção mas parou ao ver minha reprovação – sabe que te amo, e sempre cuidarei de você.

— Por favor Carlos Daniel, - disse sentindo um nó se formar em minha garganta – acho melhor você ir agora.

— Tudo bem Paulina, - ele caminhou em direção a porta e antes de sair me olhou mais uma vez – descanse meu amor.

A porta se fechou lentamente, e quando me vi sozinha chorei com o coração apertado, parecia que estava condenada a perder todos os que amo. Naquele momento a única certeza que tinha é que jamais seria feliz. Mesmo amando Carlos Daniel com toda a minha alma e coração tinha a convicção que jamais estaríamos juntos novamente.