A Força De Uma Paixão.

"... dois corações batem por voce!"


Preparei-me como vovó me pediu, e com um nó no estômago nos dirigimos para o hospital. Pedro nos levou e durante todo o caminho olhei pela janela roendo a minha unha. Continuava sem entender o porquê de tanto nervosismo e com a entrada no hospital, me senti ainda mais tensa.

— Bom dia senhoras. Em que posso ajudá-las? - perguntou amavelmente uma enfermeira de meia idade.

— Temos uma consulta para o meio dia com o doutor Bastos a nome de Paulina Bracho. – vovó disse com seu sorriso de sempre.

A enfermeira verificou a informação e nos conduziu para uma sala, deixando-nos lá à espera que o médico viesse.

— Esta gelada minha filha, se acalme. – vovó disse pegando minha mão – Será apenas uma consulta.

— Eu sei vovó, mas por alguma razão me sinto nervosa. – disse respirando profundamente.

Vovó apenas sorriu amavelmente e afagou minhas mãos, e logo um senhor de cabelos brancos e expressões fortes entrou na sala.

— Bom dia senhoras, - nos cumprimentou com um sorriso – marcou uma consulta tão repentinamente dona Piedade, espero que esteja bem.

— Não se preocupe comigo doutor, me sinto tão forte como um touro. – vovó respondeu entre gargalhadas – Hoje vim apenas acompanhar minha neta, ela não tem passado bem esses últimos dias.

— Ah sua neta! – exclamou surpreso – Suponho que seja a esposa de Carlos Daniel?

— Sim, casaram há pouco tempo.

— Meus parabéns, - ele sorriu - dizem que os primeiros meses de casados são os melhores, mas eu discordo, já estou casado há quase 40 anos e cada dia é mais especial do que outro.

— Deve amar muito a sua esposa. – disse sorrindo.

— A cada dia mais. – seus olhos brilharam e seu sorriso alargou -se – Mas o que tem sentindo?

— Bom doutor, creio que não é nada demais, tenho tido alguns enjôos e tonturas, mas deve ser sintoma do clima quente, ou talvez alguma anemia.

— Entendo, - ele sorriu – mas é melhor descobrirmos logo o que pode ser. Vou te passar alguns exames, será bem rápido, e vou providenciar para que fique pronto hoje mesmo.

— Obrigada doutor Bastos, já desconfio do que pode ser esse mal estar da Paulina, mas quero tirar logo essa duvida da cabeça, e também acalmar meu neto.

— Logo trago a sua neta de volta dona Piedade. – ele sorriu se levantando e acenando para que eu o acompanhasse – Vamos?

— Claro, - disse e apertei a mão de vovó – volto logo vovó.

Detestava agulhas, e quando a enfermeira se aproximou com uma para tirar sangue, desviei o olhar e tentei pensar em coisas boas. Não demorou muito, nem doeu tanto assim, mas continuava a não gostar das agulhas. Os exames normalmente estariam prontos para o dia seguinte, mas tratando-se dos Bracho, ele aceleraria o processo e teria os resultados em poucas horas. Vovó voltou a dizer que não me preocupasse, que tudo ia estar bem. Ela falava como se já conhecesse os resultados, mas continuava sem me dizer nada. Acabamos por almoçar em um restaurante próximo ao hospital e depois de algum tempo voltamos para pegar os resultados. O meu coração voltou a disparar, aquele nó se formou de novo no estômago e a minha saliva se tornou mais líquida do que era habitual. Ansiava aqueles resultados como se já esperasse o pior e quando vi o médico entrar com o semblante sério, me alarmei.

— E então, doutor, o que tenho?

— Deixo que veja por si mesma. - nos entregou um papel com as análises e quando li o que lá estava escrito, deixei o papel cair.

Não era possível, não podia ser isso! As lágrimas começaram a cair pelo meu rosto e vovó me fez sentar.

O médico, antes de sair, me mandou voltar dentro de duas semanas para novos exames. Quando saímos do hospital, sai quase em transe, nem me lembrava de ter entrado no carro. A minha mente funcionava a mil por hora e o meu coração batia ainda mais veloz.

— Vovó...

— Sim, minha filha, eu sei. - disse afagando as minhas mãos – Estou aqui com você.

Continuei em transe por algum tempo, e antes de irmos para casa, paramos em uma loja para comprar algo que eu iria precisar para aquela noite e depois seguimos o nosso caminho. O dia ia ser longo, e apenas estava começando.

Carlos Daniel me ligou, tive que disfarçar bem minha voz, mas ele notou algo diferente, e me encheu de perguntas sobre a consulta com o medico, me segurei ao máximo para não contar tudo a ele. Eu queria que ele soubesse, que ele me abraçasse, que compartilhasse comigo, mas vovó havia me aconselhado a planejar algo mais especial e com mais privacidade.

O dia passou devagar, cada segundo parecia uma eternidade, e enquanto esperava que Carlos Daniel chegasse, me distraia com Lizete, ajudando-a em suas tarefas, já se passava das sete da noite quando Carlos Daniel chegou, ele havia ficado preso em uma reunião com os acionistas da fabrica, outra vez ele me encheu de perguntas, estava preocupado comigo, e so se acalmou quando conversou com vovó, jantamos e depois subi ate nosso quarto enquanto vovó o distraia com perguntas sobre a reunião, ela sabia o que eu faria, e mostrou o quanto eu podia contar com ela.

Depois de pegar o pequeno embrulho que havia comprado, o coloquei delicadamente dentro de uma caixa e em um cartão escrevi o que meu coração mandou, meus olhos já enchiam de lagrimas novamente, meu peito batia veloz, fui ate a cama esperando por Carlos Daniel e por sua reação ao descobrir. Não demorou muito e logo ele entrou no quarto passando as mãos pelo cabelo, estava visivelmente cansado.

— Meu amor, o que você tem? – perguntou ao ver meus olhos marejados – Esta sentindo alguma coisa?

— Não, eu estou bem. – disse engolindo seco, tentando controlar as lagrimas que insistiam em cair.

— Como foi no medico? Você não me explicou direito o que ele te disse. – ele perguntou preocupado se sentando ao meu lado na cama e segurando minhas mãos, Carlos Daniel nem percebeu a caixa azul marinho ao seu lado.

— Eu estou bem meu amor, - disse e afaguei suas mãos – eu só... só preciso de alguns cuidados e...

— Cuidados? – outra vez ele se mostrou preocupado – Se precisa de cuidados é por que alguma coisa esta errada, - seus olhos se estreitaram me avaliando – o que esta me escondendo Paulina?

— Meu amor... eu... eu... – meus olhos umedeceram e não consegui continuar, então estiquei meu braço pegando a caixa que estava ao nosso lado e o entreguei.

— Lina! – ele disse quase em advertência enquanto pegava a caixa e me olhava confuso – O que é isso? Você saiu com vovó para fazer compras?

— Não, é que... só abra meu amor.

Carlos Daniel me olhou confuso e se aproximou beijando ternamente meus lábios, e depois sua atenção se fixou naquela caixa em suas mãos, meu peito palpitava e sentia minhas mãos suarem. Eu sentia medo, alegria, ansiedade.

Com cuidado ele desfez o laço e a abriu, me olhou ainda sem entender, e então pegou o cartão que eu havia escrito. Observei atenta sua reação, ele leu e releu algumas vezes antes de voltar o olhar para mim, só então percebi que seus olhos estavam cheios de água.

“Agora dentro de mim, dois corações batem por você!”

Ele sussurrou olhando-me intensamente, fazendo com que eu desabasse em lagrimas e esperasse por sua reação, um pequeno sorriso se formou em seus lábios e ele balançou levemente a cabeça como se tentasse acordar de algum sonho ou delírio, com cuidado ele pegou o ultimo item daquela caixa e deixou que seus olhos expressassem o que ele sentia, eu não imaginava que seria algo tão intenso assim para ele.

— Paulina... Lina, minha vida... – ele disse com as lágrimas escorrendo por seu rosto e então me puxou para seus braços.