Ah! — gritei.

Mãos, de repente, tinham batido de leve em meus ombros, enquanto lia Sonhos de Uma Noite de Verão.

Alguém atrás de mim riu.

— Ei, isso é uma biblioteca. Tenha mais respeito.

— Jason, você me assustou – ele puxou a cadeira e sentou do meu lado.

— Bom dia para você também, Cecy.

— Bom dia, Jason – disse irônica, fechando o livro.

— Pronta para ir?

— Sim, só tenho que guardar esses livros.

— Eu te ajudo.

Guardamos os livros e saímos da biblioteca, indo em direção à algum lugar. Eu e Jason estávamos centrados em uma conversa agradável, quando ele parou, e mostrou um prédio muito alto e bonito em comparação com os outros, do outro lado da rua. Ele parecia levemente familiar para mim...

— Se você é uma habitante de Gotham, agora, precisa saber que esse é o prédio da multinacional do homem mais rico da cidade. Bruce Wayne.

— É, meus pais já falaram algo sobre ele quando chegamos – disse. Agora que eu estava bem perto do mesmo edifício que tinha visto quando cheguei, estava ainda mais claro para mim que esse homem era muito importante. Seu edifício exibia tamanha grandeza e luxo que era bem fácil diferenciá-lo dos demais edifícios.

— Ok, então vamos andando – ele anunciou depois de um tempinho e voltamos à andar.

Seu celular tinha vibrado no meio do caminho, mas ele deu de ombros e continuamos andando. E foi apenas aí, que eu percebi que ele estava mancando ligeiramente. Tinha estranhado porque ele estava caminhando um pouco mais devagar que o seu pique normal, que me deixava para trás facilmente. Fiquei preocupada.

— Está tudo bem com você? Parece que está mancando.

— Está sim... estou bem. Eu só... torci meu pé um pouco ontem à noite. Estava treinando boxe – ele contorceu seu rosto um pouco.

— Ah, entendi. Então era isso o que estava fazendo ontem à noite.

— Era sim – vi um sorriso cruzar sua face, de relance.

— Hm, aonde estamos indo mesmo? – perguntei.

— Ao Robinson Park, é bem agradável. É tipo o Central Park de Gotham.

— É muito longe?

— Não muito, mas vamos ter que pegar um trem para atravessar o rio. Eu iria andando, mas você é sedentária, não é?

— Ha, ha, ha. Engraçadinho.

Achamos uma estação de metrô e pegamos o trem que atravessa o Rio Finger. Lembrei-me de algo que meu pai disse sobre não ir ao lado Norte de Gotham desacompanhada, mas felizmente eu tinha companhia. Se eu confiava nela? Não muito. Jason podia ser um assassino e me matar numa moita no parque.

Mas não acreditava que isso realmente ia acontecer.

Chegamos ao outro lado e paramos em uma estação que ficava no parque, mesmo. Minha primeira impressão era de que estávamos no Central Park, só que bem mais aberto. Ao contrário do Central Park, não haviam tantos prédios ao redor do parque, o que dava a impressão de que estávamos mesmo ao ar livre e não sufocados pelas grandes estruturas de metais.

Em NYC era basicamente assim: mesmo estando em uma área verde, perto da natureza, parecia que você era refém de um monstro de metal gigante.

O Robinson Park, mesmo estando praticamente no meio de uma cidade, dava a sensação de que estávamos em um campo no interior. Até a grama parecia mais verde.

Falei todos os meus pensamentos sobre esse parque e o Central Park ao Jason, que parecia estar me ouvindo com mais atenção do que eu jamais recebi na vida. Ele me ouvia. E eram esses pequenos detalhes que me faziam gostar ainda mais dele.

Depois de um tempo andando, encontramos um coreto, que eu achei muito bonito e também parecia o lugar ideal para passar o dia com uma companhia. Havia algo tão romântico sobre coretos... e foi exatamente isso que fizemos.

Conversamos, conversamos e conversamos.

Rimos, rimos e rimos.

E eu corei, corei e corei.

— Então? Já que você terminou a escola, você tem planos para ir à alguma universidade? – Jason perguntou. Parecia meio desconfortável com esse pergunta.

Respirei.

— Eu queria ir para Yale, eles tem um ótimo programa nas áreas biológicas e laboratoriais.

Apenas não sei se eles irão aceitar uma aluna louca, que quase matou seu único amigo — quase completei.

— Interessante... então você gosta de química, laboratórios e etc?

Fixei meu olhar nas nuvens. Havia uma que parecia um dinossauro.

— Sim, sempre fui apaixonada por essas coisas. Eu costumava assistir vários seriados policiais quando era pequena e a parte que mais me encantava eram os laboratórios, as análises, os equipamentos, e tudo o mais – voltei-me para Jason. – E quanto a você?

Ele se exasperou um pouco, surpreso com a minha pergunta.

— Eu, hum... meu pai quer que eu vá para alguma universidade – uma pausa. – Mas, sinceramente, eu não acho que precise freqüentar uma. Não tenho nenhum plano em minha cabeça, quero apenas ser livre e deixar o destino me levar para onde eu tenho que ir.

— Queria eu ter essa opção – perdi meu olhar no horizonte. – Ás vezes eu me sinto tão sufocada pelos meus pais me pressionando para ir à faculdade logo. E há toda essa questão de eu tenho que dar motivos para eles sentirem orgulho de mim, pois senão todo o dinheiro que investiram em mim terá sido em vão e eu serei um fardo para eles se não conseguir dar algum rumo em minha vida.

— Eu sei como você se sente e não se preocupe, eu sei que o seu futuro será muito bom. Até melhor que o meu – ele me olhou de relance.

— Mas pelo menos você é livre para decidir o seu futuro – virei para encará-lo, seu rosto carregava um semblante pacífico. – Eu, pelo contrário já tinha meu futuro decidido desde quando era um bebê.

— Isso não me faz mais livre do que você. Eu também estou preso às minhas escolhas, ao meu passado e à minha vida – ele colocou minha franja atrás de minha orelha, senti seus dedos deslizarem suavemente pela minha pele

— A vida podia ser tão mais fácil – falei.

— Podia mesmo.

Segundos passaram entre nós.

— Bom, minha avó sempre falava que o que realmente importa é encontrar a felicidade – falei, sorrindo.

A ironia era que eu achei que nunca achei que encontraria a felicidade. Agora eu tinha um pouco mais de esperança.

— E você está feliz? – Jason perguntou.

— Estou um pouquinho mais feliz agora que te conheci – eu não estava mentindo. – E você?

— Eu não estou tão feliz ainda – seu olhar estava sereno. – Só preciso fazer uma coisa e serei um homem ainda mais feliz.

— O quê?

Ele diminuiu a distância entre nós, com um passo.

Meu coração à mil por hora.

— Isso.

Então eu também era uma mulher ainda mais feliz, pois ele estava me beijando. Começamos lentamente, saboreando as sensações. Sentia que podia derreter em uma poça à qualquer instante. Uma de suas mãos estava em minhas costas e a outra segurava minha bochecha, ambas tão delicadas. O calor de seu corpo juntava com o meu e por alguns segundos, me senti um vulcão prestes à entrar em erupção.

E eu finalmente explodi.

Aumentamos o beijo de intensidade, nossas mãos subindo e descendo um no outro. Tentávamos extinguir os milímetros que estavam entre nós, cada vez mais, entretanto parecia que não era suficiente, ainda parecia que metros nos separavam.

Então Jason me ergueu com seus braços, sem tirar os lábios dos meus, e me colocou sentada na balaustrada do coreto. Minhas pernas se entrelaçaram nele, instantaneamente, e meus braços se enrolaram em seu pescoço, pressionando ele contra mim, ainda mais. Suas mãos e braços me apertavam como uma cobra sucuri, deixando todo o meu corpo mole e formigando.

Eu já tinha beijado antes.

Mas nunca tinha me sentido assim.

O beijo foi diminuindo de intensidade aos poucos, até que sucumbimos. Nos separamos um do outro lentamente. Quando nossos olhares se encontraram, ele sorriu e eu corei. Era possível sentir o calor por todo meu rosto. Senti mais calor ainda, quando uma de suas mãos acariciou meu rosto gentilmente. Fechei meus olhos e aninhei a cabeça em sua mão, quando ela se aconchegou em minha bochecha. Seu dedão traçava linhas invisíveis nas maçãs de meu rosto.

Depois dos segundos caírem em nossos pés, segurei seu pulso instintivamente e então abri meus olhos. Ele contemplava meu rosto com a maior afetividade que recebi na vida, me analisando como se eu fosse sua obra de arte que acabara de terminar.

— Meu Deus, você não sabe o quanto eu queria fazer isso com você desde que esse olhos me hipnotizaram – ele finalmente quebrou o silêncio.

— Sério?

— Você é tão adorável, tão doce, tão linda – ele falou, enfeitiçado.

Eu sorri mil sorrisos.

— Ninguém nunca falou algo assim para mim antes – infelizmente, isso era verdade.

— Não acredito nisso – ele balançou a cabeça, a testa franzida.

— Eu não tenho amigos.

— Eu também não.

Jason deslizou a mão por uma mecha de cabelo minha, antes de colocá-la atrás de minha orelha. Meus pelos se arrepiaram todos.

— E quanto à nós? Nós somos amigos? – eu perguntei.

— Amigos não se beijam – ele sorriu.

Pensei um pouco.

— Então somos mais que amigos?

— Mais que amigos, então – ele concordou.

Nunca tive um mais que um amigo.