POV por Lina

Anos atrás fiz um acordo com meu pai para ajudar o meu melhor amigo Seth Clearwater quando eu o transformei. 10 anos e depois estaria livre para ir embora. Sinceramente, nem sei se esse acordo ainda é válido, porque conheci minha verdadeira família, minha verdadeira história, meu verdadeiro pai. E eu achei que não seria possível, mas eu os amei. Eu o amei.

Amei Klaus Mikaelson de uma forma pura e única. E para minha surpresa esse amor é compartilhado pelo meu irmão, o irmão que eu nunca soube de sua existência, mas que em pouco tempo pude ama-lo. E o amei verdadeiramente e daria a minha vida para salva-lo.

E eu estava disposta a dar minha vida, e falhei.

Miseravelmente.

Falhei com meu irmão, falhei com minha família, falhei com meus amigos.

A morte estava na minha frente e eu não conseguia encara-la, me escondia com olhos fechados tendo a visão da minha família insanamente perfeita sorrindo pra mim, do meu irmão sorrindo pra mim e eu não podia fazer nada.

— Eu. Amo. Você.— Com muita dificuldade disse e pude me despedir.

Nunca fui tão sincera em minha palavras, era como se eu tivesse o perdoado de algo que meu irmão não fez. Porque ele tentou e confiou em mim para salvar sua vida e eu não consegui salva-lo. Se essa situação fosse ao contrário, ele com certeza teria conseguido.

Henrik conseguiria fazer isso em um piscar de olhos!

Mas agora acabou o meu tempo, eu fiz o que eu podia, sei que poderia ter tentado mais... E agora eu vou morrer por suas mãos.

Tipo, agora...

Espera aí..

Meus pés estão tocando o chão? Por que não sinto mais sua mão em meu pescoço. Devo abrir meus olhos? Já estou morta? Estou no outro lado? Outra vez? Merda! Meus híbridos estarão comigo também, por que liguei eles á mim? Idiota. Eles poderiam ter uma chance!

Ouvi gritos aterrorizantes, algo se rasgando, jugulares? O que é esse cheiro? Que sede...

—Eu desisto!— Alguém gritou.

—Não quero mais!

—Por favor! Não me mate!—Alguém disse desesperadamente.

Preciso abrir meus olhos, preciso saber o que está acontecendo! Mas não consigo, estou com medo.

Então senti suas mãos sobre mim, sobre meus cabelos, sua respiração ofegante atrás de mim. Não me movo. Não tremo. Não faço nada.

—Kahilah...— Ouço sua voz rouca e grave atrás de mim.

Ele acha que eu sou ela?

É claro que sim! É a vantagem que eles me disseram! Ele não me matou (ainda) porque acha que sou Kahilah! É isso!

Respirei fundo e decidi que devo encara-lo, vou abrir meus olhos.

Não consigo.

Caramba você é Lina Mikaelson! Não tema á ele, ele deve temer á você.

Abri meus olhos devagar e havia uma poça de sangue nos meus pés, sangue escorrendo por todos os lados e nas paredes, corpos mutilados, rasgados, ensanguentados e em pedaços por todo lugar, aquele lugar estava horripilante.

E estava tudo silencioso.

—Takan?— Com muito custo o chamei. Mas não obtive respostas.

Soltei um ar de alivio, ainda havia chances de consertar tudo aquilo. E eu gritei. Mas foi com susto do meu celular tocando.

—Uau! O sinal aqui é ótimo. Alô?— Não verifiquei o identificador de chamada— Pai?

—Sweetheart, fique onde está estou indo te buscar.

Meu coração se acalmou ao ouvir a voz do meu pai, mas depois explodi.

—Nem se eu quisesse eu conseguiria me mexer! Foi horrível pai! Ele ia me matar! E eu...E eu... disse que o amava, e de repente.... eu acho que ele pensou que eu fosse Kahilah! E agora ele não está mais aqui! E todos estão mortos! — Comecei contar tudo quando me dei conta do que aquilo significava— E... e...Oh! Meu Deus, onde você está? Pai! Você precisa ir pra longe! Agora!

—Sweet...

— Não, Pai! Por favor, me escuta! Olhei para o estrago em minha volta Henrik não é mais ele! Você precisa buscar o Stefan, nossa família e ir o mais longe possível!

—Lina, mantenha a calma, preciso saber exatamente onde você está.

—Não, você precisa se proteger!— Gritei com ele no telefone— Faz o que eu estou te pedindo! Se proteja, protege eles, eu te imploro!

—Calma, tudo bem. Farei isso, vou leva-los para um local seguro. E os híbridos? O plano continua?

—Claro! Enquanto eu estiver viva eles também estarão, vou encontrar um outro jeito de leva-lo até lá.

—Sweet?

—Oi, pai?—Ele ficou em silêncio por um minuto e acho que pude sentir sua preocupação.

—Eu amo você.

—Essa frase salvou a minha vida hoje. E sabe, eu amo tanto você. Nós vemos em breve.

Desliguei.

[...]

Não demorei muito para sair, aquele labirinto não existia era uma ilusão de ótica de alguma bruxa, e já que agora ela estava morta essa ilusão se foi.

Assim que cheguei a superfície, ainda havia rastros de sangue pois tinha alguns vampiros da Strix de guarda. Comecei a rastrear pelo sangue derramado porque sabia que dessa forma eu o acharia, só gostaria de pensar que na próxima vez que o encontrar, ele ainda ache que eu sou a sua amada e poupe minha vida, pois eu não sei se conseguiria lutar contra ele.

Para minha surpresa seu rastro me levou até a cidade e era o que eu mais temia, queria proteger os civis e agora tudo saiu fora do meu controle. Me lembrei do que Agnes me disse sobre trazer o inferno na terra. E realmente fiz isso.

Sabia que Takan havia passado por ali. Alguns corpos estavam jogados pelos becos, outros jogados no meio da rua. New Orleans é conhecida por suas festas e sempre está cheia, claro que não daria tempo dele matar todos e algo em mim despertou felicidade de saber que houve tempo de algumas pessoas fugirem. Porém acho que tiveram alguma ajuda, talvez meu pai tenha avisado seus homens e recolheram as pessoas que conseguiram e os levaram para um local seguro.

Quando cheguei ao centro da cidade, meu coração se cortou ao ver alguns rostos familiares, como o de Josh na praça central. Olhei em volta e não queria acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Tudo aquilo poderia ter sido evitado se eu tivesse prestado a atenção na minha visão, poderia ter evitado tudo aquilo antes mesmo de acontecer. E agora eu estou sozinha, sem meus pais, sem Stefan, Sem Seth...Sem Henrik.

Eu estou sozinha e...

Respira Lina.

Ah... de novo não.

Senti novamente aquela tontura e dessa vez eu tive que me sentar no banco da praça, tudo estava dobrado. Me sentia assim quando Henrik estava prestes a se tornar Takan, mas agora ele já era Takan. Por que sentiria isso? Será que Henrik está tentando voltar? Preciso encontra-lo.

Me levantei com um medo de ainda sentir a tontura, mas pelo contrário respirei fundo e me senti melhor, me senti mais segura e mais forte, como se algo me desse essa força.

Fechei meus olhos e tentei me concentrar. Ele está perto não iria pra longe, afinal essa cidade tem mais seres sobrenaturais do que qualquer lugar do mundo inteiro.

—Rousseau's.— Disse para mim mesma.

Fui em direção ao meu bar preferido e com toda certeza do mundo ele estava lá. Tomei folego e entrei. Acertei em cheio. Ele estava se alimentando de uma garçonete, uma bruxa.

—Takan.— Disse e no mesmo instante ele parou de se alimentar e a largou no chão se virando para mim, ele estava com o aspecto tenebroso.

Ele limpou sua boca e caminhou devagar até mim. Me concentrei em não ter medo o que é super difícil quando seu irmão está parecendo um demônio.

Chegou perto de mim e não disse nada, meu coração começou a se acelerar e ele passou a me cheirar pelo pescoço, rosto, braços e quando chegou na minha barriga, parou e voltou o seu olhar á mim. Não consegui decifrar sua expressão e nem tive tempo pra isso. Em um movimento tão rápido dele com sua mão, senti uma tremenda dor e fui arrastada violentamente para fora do meu bar predileto.

Parei no meio da praça e senti que cactos de vidros se cravarem por todo o meu rosto e corpo.

Havia muito sangue escorrendo e era o meu. Não tinha forças para se levantar, o que deu nele? Acho que ele descobriu que eu não sou ela...Olhei em volta pra me certificar de que não havia ninguém por ali, porque vai ser uma briga daquelas, ele é muito forte e isso não vai acabar bem.

Ele saiu do Rousseau's e começou a caminhar, seus olhos estavam furiosos, mas ele não olhava para mim. Não exatamente para o meu rosto. Coloquei as mãos no chão e dei um impulso para ao menos ficar sentada e encostar em uma das estatuas que ficavam ali, passei a mão no meu rosto e estava sangrando.

Não, eu não vou morrer hoje. Eu sou uma Mikaelson!

—Takan! — Gritei levantando uma de minhas mãos para ele parar e ele parou. Fiquei sem saber o que fazer depois disso.—Sou eu, Kahilah! O seu amor, pare com isso, por favor...

Ele não se moveu ficou estagnado e eu respirei aliviada pela mentira. Deu certo. Ótimo, agora se levante direito Lina. Passei as mãos pela minha perna e retirei um pedaço de vidro que estava cravado, segurei me apoiando na estatua e no momento que passei em minha barriga para me limpar na camiseta ele rugiu e se moveu rápido em minha direção.

Ah merda.

Ele estava chegando perto e eu ia usar magia, porque força eu sabia que não iria ter contra ele. De repente, algo passou tão rápido perto de mim e o socou no meio da cara. A batida foi como se fosse um trovão, Takan voou para dentro do Rousseau's. E o idiota se virou pra mim com um sorrisinho na cara.

—Lobinha, você está bem?

Só pode ser brincadeira.

—Mas que merda você tá fazendo aqui!— Gritei com ele.

—Adoraria ouvir um "obrigado Seth" ou "você voltou por mim!", mas tudo bem. — Ele veio segurar em minhas mãos para me ajudar a levantar, mas de repente ele levou um choque ao encostar em mim— Ai! Que p** é essa?

—Talvez seja uma forma do meu corpo dizer que eu não queria você aqui! —Comecei a ficar desesperada com a presença dele ali—Por que você não me ouve? A teimosa sou eu! Você é a parte certa dessa amizade! Seth! Que merda, você me prometeu! Vai embora agora.

Olhei para os lados com muito medo do Takan voltar a aparecer e dar um fim em nós dois.

—Bruxinha, calma, dei um jeito nele caso você não tenha visto, vamos aproveitar e ir até o local do ritual. E aliás, ajudei evacuar metade de New Orleans, eu mereço uma medalha.

—Qual parte do "Seth você vai ser pai e eu quero que fique com sua família" você não entendeu?

—Da mesma parte que eu disse que você seria madrinha dos meus filhos e que eu preciso de você. Viva.

Comecei a tremer. Aquilo não estava acontecendo. Eu implorei, fiz ele prometer que estaria com a Larissa fora de tudo isso. E ele prometeu! E eu estou com tanta raiva dele agora que estou feliz dele ter voltado por mim. Eu não posso negar que faria o mesmo por ele. Afinal, tudo começou com Seth, eu só estou aqui por ele. Eu só queria salva-lo. 10 anos. Era o tempo que eu teria para salva-lo. De mim. Ele só está aqui por minha causa. E podemos morrer.

—Seth, desculpe. Me desculpe por ter falhado com você, desculpe por ter te colocado em tantos problemas, você não merece isso, você merece uma vida melhor e feliz, por isso queria que você estivesse longe daqui, queria garantir que ao menos alguma parte da minha vida estaria feliz.

Ele abriu o seu mais lindo sorriso e limpou uma parte do meu rosto machucada.

—Lina, eu vou ter que dizer toda vez que você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida? Bom, só perde para os meus filhos agora, mas você é a melhor, eu te amo e eu jamais deixaria...— E ele parou de falar e ficou me olhando.

—Seth?— Ele continuava me olhando impassível até que caísse nos meus braços e eu segurei sem entender.

Quando olhei para frente Takan estava sedento segurando em suas mãos o meu coração.

O coração de Seth.

De alguma forma tentei gritar, mas nenhum som saía da minha boca, senti como se uma parte do meu corpo fosse arrancada de mim. E essa parte era o meu coração, pois pertencia ao meu melhor amigo Seth.

Era como se fossemos um só e eu podia me ver ficando cinza da mesma forma que ele estava ficando e que pra mim fora uma eternidade. Jamais poderia prever isso, jamais poderia estar preparada para isso.

E então algo em mim se quebrou, se destruiu completamente. Ainda o segurando eu caí de joelhos e gritei.

Como nunca havia gritado antes.

Foi como se minha dor se transformasse em som e estava saindo entre minhas cordas vocais.

E houve uma explosão de energia.

Uma tão grande que Takan foi levado para longe, outra vez. E eu também fui arrastada até que eu batesse a cabeça em algum lugar e não pude enxergar absolutamente mais nada.